22/03/2009

Um pequeno fait divers: o número de manifestantes

Não é nada de importante, mas de repente retomou-se o tema do número de pessoas que participam nas manifestações. O Expresso, em artigo destacado, fala que os números de manifestantes são menos do que aqueles que os organizadores das manifestações normalmente afirmam e para isso recorre à simples matemática: se por m2 só cabem no máximo quatro pessoas, se a área abrangida pela manifestação é tanto então o número de manifestantes, consoante se considerem quatro, três ou dois por m2, seria igual à multiplicação dessa área pelo número que se considere para cada m2. Isto é simples matemática e quem sou eu para discordar desta regra. Só que me parece ser difícil delimitar a área abrangida e conseguir que em determinado momento todos os manifestantes estejam concentrados nela.
Mas não são estas contas do Expresso que me interessa abordar neste post. É o desejo gritado pelos meios de comunicação de que a polícia lhes forneça um número.
Até há bem pouco tempo era normal o número de manifestantes ser dado pelos organizadores da manifestação, que poderiam ser contestados por algum artigo mais crítico, ou até por aqueles que se sentiam lesados pelos protestos da rua. A polícia, ao contrário do que sucedia lá fora, nunca era chamada para desempatar. Era uma tradição nacional que eu achava bem, porque nunca considerei aquela estrutura como isenta e desvinculada do Poder, por isso era normal os números apresentados pela polícia serem sempre inferiores aos fornecidos pelos manifestantes.
Até que um dia, não sei se neste Governo se no anterior, o ministro da Administração Interna permitiu que a polícia passasse a indicar o número de manifestantes segundo a sua perspectiva. Então lá tivemos a guerra dos números, coisa tão grata aos meios de comunicação social. Se os manifestantes diziam que eram tantos, contrapunham-lhe os dados fornecidos pela polícia, que indicavam outros valores. E assim fomos durante algum tempo, não sei se anos, confrontados com as informações prestadas pela polícia.
Até que o actual Ministro da Administração Interna resolveu acabar com isso, a polícia deixa de fornecer um número. Eu penso que isso sucedeu quando se verificaram as manifestações dos professores. O Governo não queria a polícia a avalizar as gigantescas manifestações que aquela classe profissional realizou. E assim se acabaram as avaliações da polícia. Grande coro dos meios de comunicação social, que já não era possível ter uma estrutura independente a dar os números, ou seja, acabou-se-lhes o circo. Já não podem, de microfone em riste, vir com ar inquisitorial perguntar ao Carvalho da Silva como é que ele justificava que em vez dos 200 mil manifestantes que ele garantia que eram, afinal a polícia dizia que eram só 100 mil.
No fundo já perceberam o meu ponto de vista. Acho que a polícia não é um órgão independente do Governo para avalizar o número de manifestantes e que esse trabalho deve ser deixado aos promotores das manifestações e àqueles que quiserem discuti-los.
Deixemos esses maus hábitos lá para fora, conservemos uma boa tradição caseira.
Por indicação bastante útil de um leitor corrigi um erro grave de matemática que tinha na anterior redacção. Assim, para determinar o número de manifestantes não devia utilizar uma divisão, como afirmava, mas sim uma multiplicação (o total da área vezes o número de manifestantes por m2), como de facto é simples de perceber. Obrigado pela correcção.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se a densidade é x/m2 e a área ocupada é y m2, então o número total de pessoas é x.y e não x/y.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Já foi feita a correcção devida no texto e em nota de rodapé. Mais uma vez obrigada