Tenho andado ultimamente enredado em pequenas quezílias pessoais ou confissões um pouco auto-punitivas, por isso não me tenho referido a alguns dos assuntos que marcam a actualidade.
Um certo “operário desempregado” acusou-me de não falar da manifestação da CGTP. Como já deve ter reparado o blog dedica-se mais à luta política-ideológica do que às agendas reivindicativas, por muito sérias que sejam. Por isso, não vejo qualquer razão para noticiar ou propagandear a manifestação e o seu indiscutível êxito, que foi por todos os media reconhecido.
Houve depois um outro assunto, provavelmente por não conseguir encontrar o tom certo, que ainda não abordei. Foi a visita de José Eduardo dos Santos a Portugal e a posição do Bloco de Esquerda, com que eu não estou de acordo.
Irei agora falar dos recentes desenvolvimentos daquilo que eu chamaria a novela Manuel Alegre.
Fui dos que saudei a sua candidatura às presidenciais. Ela prefigurava uma velha aspiração do PCP que era dividir o PS, daí o seu apoio ao PRD, do general Ramalho Eanes. É evidente que o apoio à criação daquele partido consistia unicamente em instrumentalizar a divisão do campo socialista, possibilitando até uma possível maioria de esquerda, no caso de Manuel Alegre as razões são mais profundas e nem sequer envolvem o PCP. Se as propostas presidenciais daquele político nem sempre me agradaram, a personagem, a sua entourage e aquilo que podiam significar tinham um peso político bastante diferente do que tinha a sido a criação do PRD, que no fundo acabou por resultar na passagem directa de eleitorado comunista e socialista para o PSD de Cavaco.
Tivemos depois os episódios da Trindade e da Aula Magna, com comícios em que participaram a título individual o Bloco de Esquerda e, no primeiro claramente, a Renovação Comunista. Quer se quisesse quer não, estes encontros, os discursos pronunciados e os temas abordados podiam deixar antever um ruptura de Manuel Alegre com o PS, o aparecimento de um novo partido e até a possibilidade, para já, do aparecimento de listas conjuntas Alegre-Bloco de Esquerda e, no futuro, a formação de um novo partido semelhante ao Die Linke alemão, que juntou socialistas de esquerda e comunistas pós-Muro.
Nada disto aconteceu, muito se especulou sobre de quem era a culpa, mas a verdade é que Alegre não rompe com o PS, não forma nenhum novo partido e o Bloco de Esquerda fala de Convergências à Esquerda, que se referem só a ele e a alguns independentes, como, por exemplo, para as europeias, o Rui Tavares.
Ontem Manuel Alegre, em declarações à Antena 1, já afirma: se a direcção do partido não dá um sinal da demarcação em relação à afirmação de um dirigente (José Lello) que diz que eu não tenho carácter, então não pode querer contar comigo como candidato a deputado nas próximas eleições. Ou seja, aquele político já admite participar nas listas do PS se este se demarcar do José Lello, coisa que não é difícil, se para conquistar uma maioria absoluta isso for necessário. E António Costa, na Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, fala mesmo em coligação entre o PS oficial e Manuel Alegre. Proposta que hoje leva ao rubro Pacheco Pereira na sua crónica no Público, Uma coligação do PS-1 (Sócrates) com um PS-2 (Alegre) (ver aqui).
Sem saber como é que tudo isto irá acabar, parece-me, e espero que me engane, que findará numa coligação eleitoral um pouco original entre Alegre e o PS, em que este garante uns lugares na Assembleia e até, provavelmente, no Governo, como neste momento já tem a Ministra da Saúde, Ana Jorge, e acaba tudo com Manuel Alegre e Sócrates nos comícios eleitorais a darem vivas ao PS. Espero que este pesadelo não se concretize e que haja um pouco mais de dignidade na política.
Estamos todos cá para ver, é o meu desejo.
14/03/2009
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2 comentários:
Ainda te admiras de este teu amigo ser céptico em relação a certas festas/comício ?
Este meu post não pretendia justificar a desilusão depois da esperança. Tinha unicamente a finalidade de pôr os pontos nos i em relação a um caminho com que não concordo. As festas/comício de que falas tiveram a sua importância e fizeram o seu percurso. Provavelmente reforçaram o Bloco, facto que apoio e acho positivo para a vida partidária portuguesa. Também o Manuel Alegre reforçou a sua posição. Se é para negociar com o PS, penso que é mau, se vier a resultar agora ou no futuro na fragilização do PS de Sócrates também penso que valeu a pena. Eu não vejo a vida política como uma sucessão de ilusões e de esperanças que se vão desfazendo no ar, mas sim uma luta constante, que quando se fecha uma porta tentamos forçar a abertura de outra.
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