28/01/2012

História de uma censura na RDP e de um delator

Já venho um pouco atrasado em relação aos casos da censura na Antena I. No entanto, não quero deixar de chamar a atenção para este facto e fazer a comparação com uma campanha eleitoral que se baseou principalmente na denúncia de factos semelhantes praticados pelo PS. Por outro lado, quero igualmente sublinhar o papel desempenhado por um pequeno delator, o Sr. José Manuel Fernandes.

Comecemos pelos factos. Primeiro foi a crónica, transmitida no dia 18 de Janeiro, naquela estação radiofónica, do jornalista Pedro Rosa Mendes, criticando o programa de Fátima Campos Ferreira, Reencontro, da RTP, transmitido directamente de Angola, para maior glória do Governo de José Eduardo dos Santos e do nosso Ministro da Propaganda, Miguel Relvas. Foi dito ao jornalista “que a próxima seria a última porque a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola” (ver aqui e aqui). Depois foi a cineasta Raquel Freire que, na sua crónica de terça-feira, do dia 24 de Janeiro, informou em directo os ouvintes que aquela também seria a última e referiu-se à falta de liberdade, dando como exemplo o filme Good Night and Good Luck, sobre os anos negros do mccarthismo, nos EUA,

Para não acusarem a RDP de fazer censura directa a duas pessoas incómodas, a administração resolveu acabar com o programa, que se chamava Neste Tempo, em que havia uma crónica assinada cada dia da semana, de segunda a sexta, por uma pessoa diferente. Como também era previsível, foi dito que há muito o programa estava para acabar. O que parece não ser verdade visto já terem sido encetados contactos com Pedro Rosa Mendes sobre o modo como se iria processar a sua renovação do contrato.

Rosa Mendes ainda teve possibilidades de fazer a sua última crónica deste mês, no dia 25, também sobre o problema da liberdade referindo-se ao livro do cineasta cambojano Rithy Panh, L'élimination, recentemente editado em França.

A propósito deste acto de censura, em que de certeza participou o Ministro da Propaganda, Miguel Relvas, gostaria de lembrar a campanha eleitoral de 2009 em que o PSD atacou o PS por ser responsável pela  “asfixia democrática”, que então parecia envolver o país. Esta campanha, segundo rumores que circularam na época, tinha sido bichanada por Pacheco Pereira a Manuela Ferreira Leite. Já se sabe que falhou, porque naquela altura não era aquilo que começava a preocupar as pessoas, no entanto, como se viu mais tarde, Sócrates tentou controlar os órgãos de informação – veja-se o caso da TVI e até o do Luís Figo, como exemplo bem cuidado de propaganda. Com Sócrates o que sucedia é que ele tentava comprar os órgãos de informação que não lhe eram afectos, este Governo pura e simplesmente elimina as pessoas incómodas.

É engraçado que Pacheco Pereira, na última Quadratura do Círculo, incentivado por António Costa, tivesse respondido que em relação ao caso de Rosa Mendes, a culpa era de se ter deixado entrar os angolanos nos meios de comunicação social do nosso país. Esquecendo-se que, tirando alguns caso de acções em tribunal posta pelo governo angolano e de que o próprio Rosa Mendes foi vítima, quem cortou o programa da RDP foi a direcção da estação, com certeza por ordens do Governo, e não dos angolanos. A "asfixia democrática" é da responsabilidade deste Governo e não de terceiros.

Quanto ao pequeno delator gostava que consultassem este post onde são exibidas as declarações de José Manuel Fernandes, no Facebook, que considera que “uma tal” “realizadora”, entre aspas, Raquel Freire “faz propaganda incendiária de extrema-esquerda” na Antena I.

Aqui temos, como este senhor denuncia ao Governo quem faz na rádio pública propaganda de extrema-esquerda. Depois de identificados os alvos, é simples atirar a matar. É isso que o Governo faz com grande deleite, ajudado por este delator que lhe corrige a pontaria.

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