18/01/2012

Os moços de fretes do patronato

A primeira vez que este título me veio à memória foi quando ouvi Mário Crespo a entrevistar Arménio Carlos, da CGTP, na SIC Notícias, no Jornal das 9, aquele noticiário em que os entrevistados são escolhidos a dedo, o que não significa que por vezes, como por milagre, não apareça alguém da esquerda. Nesta entrevista Mário Crespo recorreu a todas as ideias feitas que os economistas e comentadores de direita espalham para pôr em causa a actuação de CGTP e do movimento sindical, mas, mais do que isso, resolveu discutir conceitos com Arménio Carlos, tal como o de exploração. Sempre que este o referia, aquele dizia que era demasiado forte e que hoje já não fazia sentido falar assim. Fiquei mais uma vez com a ideia de que Mário Crespo era o marçano, sem desrespeito para estes, do patronato.

Mas nessa noite, quando o acordo de concertação social já estava apalavrado, mas não assinado, também ouvi na RTP Informação um sujeito, que eu não consegui perceber quem era, se era deputado do PSD ou simples perito em direito do trabalho, a discutir com António Filipe, do PCP, afirmando, em tom provocador, CGTP barra PCP, e sublinhando o termo barra. O deputado do PCP lá o foi ouvindo com enorme paciência, mas o discurso era tão agressivo e tão louvaninho para o Governo que eu não consegui seguir o debate até ao fim. Tínhamos mais um moço de fretes ao serviço do patronato.

Por último, ouvi hoje, na SIC Notícias, D. Manuel Clemente, em nome da Conferência Episcopal, a falar da retirada de feriados e exigir, em termos mansos, como costumam ser os da Igreja, que se o Governo reduzisse só um feriado civil a Igreja faria o mesmo. Se fossem dois é que ela abdicaria de outros dois. Mas isso foi o menos importante, a parte mais grave do discurso foi o apoio dado ao acordo obtido na concertação social e à pergunta da jornalista se este acordo não iria diminuir ou prejudicar a vida em família, aquele ter respondido que os trabalhadores teriam que arranjar novas forma de dar assistência à mesma. Ou seja, os trabalhadores teriam que ser criativos, mesmo se as suas horas de trabalho fossem desreguladas.

Deixo para o fim o papel da UGT. Há tempos, quando a UGT participou numa Greve Geral ao lado da CGTP, houve logo alguns homens de esquerda que se apressaram a louvar esta política de unidade. Falsa esperança, pensei logo que seria sol de pouca dura e que, ao virar da esquina, esta abandonaria a unidade para a trocar por qualquer coisa que ainda hoje não sei o que foi. A UGT comportou-se aqui como o PS na Assembleia da República (AR) ao falar de abstenção violenta ao votar o Orçamento de Estado. Estamos ainda para ver qual vai ser a posição deste partido face às propostas de lei que serão apresentadas na AR e que traduzem a transposição para a legislação laboral do documento rubricado na Concertação Social. Hoje, em declarações feitas no Parlamento o representante do PS só disse mal do Governo, mas não foi capaz de declarar qual será o sentido de voto do Partido em relação aos diversos itens aprovados na Concertação Social. Estamos cá para ver.

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