21/01/2012

Um mentiroso compulsivo

Já quase tudo se disse sobre as declarações de Cavaco Silva de que "a sua reforma mal dava para as despesas". Por isso, pouco mais me resta do que apoiar a indignação geral que vai por essa blogosfera. No entanto, gostaria de acrescentar o ponto de vista de um reformado da função pública, que é o meu caso.

Trabalhei cerca de 35 anos na função pública, contando, como também quase de certeza Cavaco Silva, com o tempo em que cumpri o serviço militar obrigatório. Fui reformado como assessor principal, por motivos de doença, mas com um pequeno desconto resultante de estar quase a chegar aos 36 anos de trabalho necessários para se obter uma reforma completa, na altura em que aquelas ainda eram pagas na sua totalidade. Provavelmente, o mesmo se passou como Cavaco Silva e recebo francamente mais do que S. Ex.ª, que foi professor universitário, com um ordenado de certeza superior ao meu, e ainda investigador da Fundação Gulbenkian, aqui provavelmente mantendo os descontos e o ordenado anterior, ou servindo-se dessa passagem por um organismo privado para ter o tempo necessário para a reforma. Facto que sucedeu muito frequentemente, quando os governos permitiram que se comprasse tempo à Segurança Social para o acrescentar ao da função pública Como é possível alguém nestas circunstâncias receber só 1300 € de reforma. A história não está de certeza bem contada. Provavelmente ele não descontou os 40 anos que diz, e que eram desnecessários, mas sim uns tantos anos, menos o tempo que esteve no Banco de Portugal, de onde recebe uma pensão separada, muito mais avultada, e cujo montante não quis revelar.

Portanto, uma aldrabice pegada, que não engana quem sabe como se passam as coisas na função pública.

Já a história da mulher é também uma outra aldrabice, como é que uma senhora professora recebe só uma pensão, disse Cavaco, de 800 €. É que durante muitos anos não trabalhou e não descontou. Provavelmente reformou-se com penalização. Se tivesse exercido as suas funções como professora durante toda a vida nunca teria de certeza um valor tão baixo, isto é elementar. Tudo mais é atirar areia para os olhos de um povoléu, que Cavaco Silva pensa que é tão bronco que não percebe minimamente o que se está a passar. Triste figura anda a fazer.


PS.: há também outro elemento que me esqueci de mencionar, que foi os 10 anos em que esteve como primeiro-ministro. Como é que este tempo entra na sua reforma? Isto é outro mistério que ele não elucidou.

PS. (22/01/12): outro mentiroso compulsivo, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou na TVI que se Cavaco ganhava só 1300 € na sua reforma como professor era que os professores ganham pouco, comparado com o que recebem noutros países. Não quero enveredar por esta comparação, mas se Marcelo diz isto é porque não sabe o que um professor universitário ganha a tempo inteiro. O que deve suceder é que Cavaco não estava a tempo inteiro, devia fazer só umas horas, as outras talvez estivesse na Gulbenkian ou no Banco de Portugal, seja como for descontou em função daquilo que recebia. Mas esta história continua a ser muito mal contada e Marcelo tentou desvalorizá-la, considerando que aquelas declarações tinham corrido mal a Cavaco.

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