29/10/2010

As extravagantes ideias de António Costa para resolver a crise política nacional


Desde que na Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, se tem falado em revisão constitucional que António Costa, Presidente da Câmara de Lisboa e comentador residente naquele programa, vem defendendo, cada vez com mais clareza, algumas ideias extravagantes para resolução da crise política nacional, ou seja, a eterna perpetuação de governos minoritários. Hoje, mais uma vez voltou ao assunto.
Em que consistem aquelas ideias? Primeiro, em sede revisão constitucional introduzir o conceito de moção de censura construtiva, que impede a oposição de apresentar uma moção de censura ao governo, sem ter simultaneamente que indicar o chefe de um futuro governo alternativo. Este aditamento, que visa mais uma vez a perpetuação de governos minoritários, tem sido há muito defendido pelo PS e parece que existe em algumas Constituições de países europeus. Não sei, no entanto, se nesses países é possível empossar um Governo sem haver qualquer votação no Parlamento. Juntando estas duas situações, um Governo minoritário quase que podia permanecer eternamente no poder. Mas António Costa não defende só isto. Acha que deve haver um consenso entre os dois partidos maioritários de modo que em questões de orçamento e de programa nenhum dos dois, PS e PSD, pusesse qualquer obstáculo à sua aprovação.
Haveria pois um acordo de cavalheiros entre os dois partidos do bloco central que permitia, naquelas questões que podem provocar a queda dos Governos, o partido que fosse em dado momento minoritário nada faria para derrubar o seu comparsa deste acordo, podendo assim quem tivesse mais votos governar minoritariamente com toda a segurança.
Esta proposta é espantosa. É a defesa do rotativismo absoluto: agora governas tu, agora governo eu, dispensando por isso qualquer dos outros partidos existentes na Assembleia da República. O PSD podia governar sem necessidade do CDS, e aqui a piscadela de olho àquele partido, e o PS poderia, com grande alegria da direita, dispensar os partidos à sua esquerda, pois quando lhe coubesse a vez poderia tranquilamente governar em minoria. O PSD lá estava para se abster na aprovação dos orçamentos e programa.
Esta pouca-vergonha defendida por um homem que ainda há bem pouco tempo propugnava uma maioria de esquerda para a Câmara de Lisboa, não foi severamente criticada pelos seus adversários no Programa, que aceitaram sem grandes protestos esta ideia.
Para mim esta é a resposta mais cabal a todos aqueles que pensam que este senhor faria melhor papel que José Sócrates à frente dos destinos do PS. Com propostas destas, que pretendem pura e simplesmente, sem o dizer expressamente, acabar com os pequenos partidos na Assembleia da República, chegaríamos ao pior rotativismo e eliminaríamos de um penada a possibilidade de alguma vez haver um governo decente a dirigir os destinos deste país.

PS.: hoje é impossível fazer link para o programa Quadratura do Círculo. Se me lembrar, fá-lo-ei quando for possível. Mas se vocês estiverem interessados é só estarem atentos ao site do programa na SIC, pois rapidamente estará disponível a conversa que aqui resumi.

28/10/2010

Alguns temas delicados, as atribuições dos prémios Sakharov e Nobel da Paz. II – Nobel da Paz


Este ano o Nobel da Paz foi atribuído ao activista político chinês, Liu Xiaobo. Segundo a Wikipedia foi condenado a 11 anos de prisão e dois de perda de direitos políticos por “divulgar uma mensagem de subversão do país e da autoridade”. O Nobel foi-lhe atribuído “pela sua longa e não violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China”.
Logo aqui há alguma diferença entre esta personalidade e a do “dissidente” cubano, já referida no post anterior, a quem foi atribuído o Prémio Sakharov. O activista político chinês encontra-se preso, de acordo com a Wikipedia, por ter promovido um abaixo-assinado denominado Carta 08 que exigia “a reforma política e a democratização na República Popular da China”. O “dissidente” cubano, Guillermo Fariñas, encontra-se em liberdade e tinha recentemente promovido uma greve da fome para libertação de presos políticos cubanos doentes, o que de facto, com a intermediação da Igreja Católica, veio a suceder. Sem desmerecer a luta deste, parece-me ser muito mais grave alguém estar preso por promover um abaixo-assinado, mesmo que ele defendesse a queda do regime na China Popular. Não foi isso que durante tantos anos andámos a fazer em Portugal? No entanto, reconheço que esta hierarquia de valores poderá ser discutível. Ela é unicamente referida porque mais adiante irei falar da nota do PCP.
Já a atribuição do Nobel a este activista político continua-me a parecer influenciada pela agenda política das forças dominantes à escala mundial, se quisermos, e utilizando, um termo antigo que nunca perdeu actualidade, do imperialismo. No ano anterior, a atribuição do Nobel a Obama, que, apesar da muito boa vontade que mostra, pouco tem feito pela Paz e pelos direitos humanos – Guatánamo continua aberta –, foi na continuação de outros anteriores - como ao Dalai Lama -, uma clara cedência às forças dominantes, do mainstream. Nesse sentido, acho que a nota do PCP tem razão no que diz, apesar de não utilizar esta terminologia. Simplesmente, esquece-se a seguir de lamentar que na República Popular da China alguém esteja preso por exercer o seu direito à luta política contra um regime que considera injusto. É por isto que o PCP não percebe porque é que todo o mundo lhe cai em cima. Eu sei que para alguns, um Nobel é um Nobel, e não se discute se foi bem ou mal atribuído, principalmente a alguém que luta contra um regime comunista, que por sinal já é capitalista. Mas omitir esta situação, da existência de prisioneiros pelas suas actividades políticas, é dar razão a todos aqueles que exultam com a atribuição de prémios a lutadores contra os regimes socialistas.
Por último, referir a Crónica Internacional sobre este assunto de Albano Nunes, no Avante! da semana passada, que é um mimo de sectarismo e de isolamento perante da realidade. Numa mesma penada confunde a crítica justa que é feita à nota do PCP e à sua luta contra as medidas espoliadoras do Governo. Exalta o desenvolvimento colossal da China, mas ao mesmo tempo fala da crise profunda do capitalismo, como se este país já não fizesse parte do sistema capitalista mundial. E espanto dos espantos, fala de pressões para que a China “escancare às multinacionais o seu mercado interno”, quando elas já lá estão todas a aproveitar e a explorara a sua mão-de-obra barata para colocar no mercado internacional os seus produtos mais baratos. A falta de uma posição clara sobre o problema chinês leva estes dirigentes a escreverem os maiores dislates. Se para mim a atribuição deste Prémio Nobel não é inocente, é igualmente de uma grande perversidade a incapacidade de reflexão justa sobre a situação política da China e sobre o chamado “socialismo chinês”.

26/10/2010

Alguns temas delicados, as atribuições dos prémios Sakharov e Nobel da Paz. I - Prémio Sakharov


Tinha-me até à data recusado a comentar a atribuição destes dois prémios. Mas como quem cala consente, dir-se-ia que eu estava entre aqueles que achava bem o que se tinha passado e nada tinha dizer sobre o assunto. Não é assim, queria estar de bem com Deus e o diabo. Ora isto não é possível. Não há inocentes na luta ideológica e política à escala internacional.
Comecemos pelo mais simples, pelo Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento atribuído ao “dissidente” cubano Guillermo Fariñas. A proposta de prémio foi apresentada pelo grupo Popular Europeu, que agrupa os partidos conservadores do Parlamento Europeu. Mário David, que fez afirmações "bonitas" a propósito de Saramago – queria que ele renunciasse à cidadania portuguesa a propósito das declarações sobre a Bíblia –, e é vice-presidente daquele grupo, congratulando-se com o prémio disse "o regime cubano aproxima-se inexoravelmente do seu fim". Diz ainda a notícia que venho citando: “Questionado sobre o facto de o Prémio Sakharov de direitos humanos ser atribuído pela terceira vez nos últimos dez anos a um indivíduo ou organização que se distingue na luta contra o regime cubano, Mário David sustentou que "é porque se calhar é um daqueles regimes que mais tem violado os direitos humanos e a liberdade de expressão". Acreditam nisto?
Mais ainda, este Prémio foi, segundo noticia o Público, atribuído numa altura significativa: “A decisão do Parlamento Europeu acontece a quatro dias de os Vinte e Sete reunirem no Luxemburgo para reverem a posição comum da União Europeia em relação a Cuba, que desde 1996 restringe os contactos dos Estados-membros com o Havana às questões dos direitos humanos e democratização. O Partido Popular Europeu (PPE) opõe frontalmente à alteração dessa posição comum.
Quem, no Parlamento Português propôs o voto de saudação, foi o CDS-PP (ver declarações e resultado da votação aqui). É interessante que em relação ao Prémio Nobel da Paz atribuído ao “dissidente” chinês ninguém no Parlamento português tenha proposto um voto de saudação. Respeitinho é muito bonito.
É por todo este enquadramento, que eu não acho que seja inocente, que considero que a atribuição deste Prémio é uma forma de pressão contra regimes que em determinado momento não interessam às forças dominantes. Por isso, temos que manter uma certa distância crítica em relação ao sucedido e não embandeirara em arco com a personalidade e o regime escolhido.
È verdade que há problemas reais de liberdade de expressão e de direitos humanos em Cuba, simplesmente há certos amigos dessa liberdade que não me convencem com a sua súbita conversão à sua defesa. Sobre Cuba, numa outra altura em que ainda os problemas reais da economia que agora atravessa não tinham sido discutidos pela Direcção comunista, já dei aqui a minha opinião. Sobre a atribuição deste prémio tenho pois sérias dúvidas sobre os objectivos que se propõe alcançar.

PS.: escrevo "dissidente" entre aspas, porque não considero que seja a expressão mais correcta. Parece-me bem melhor a de opositor ao regime ou a de activista político, já que a sua actividade consiste em fazer política. Nunca ninguém em Portugal chamou a Cunhal dissidente, mas sim opositor político a Salazar.

Há alternativa à austeridade?


Há alternativa à austeridade?
Com o Professor José Reis, 30 de Outubro, às 21h00, na Ler Devagar, LX factory.
Organização Manifesto.

20/10/2010

Como o abaixo-assinado a favor do pluralismo na informação já teve efeitos


O Expresso da Meia Noite, da SIC Notícias, provavelmente envergonhado por escolher sempre gente com o mesmo pensamento económico, resolveu nos dois últimos debates que realizou convidar, no anterior, Francisco Louçã e, neste último, fartura das farturas, José Reis, professor de economia em Coimbra, que parece que é da área do PS, mas que tem dado colaboração a muitas iniciativas da esquerda, à esquerda do PS, e o Ladrão de Bicicletas José Maria Castro Caldas. Os outros eram os do costume, de quem já nem me recordo o nome.
José Reis insurgiu-se contra a atitude da Nova Europa dominada pela Alemanha da Sr.ª Angela Merkel, que, num egoísmo extremo, impede o Banco Central Europeu de resolver as dificuldades económicas dos Estados aflitos. Ou seja, empresta aos bancos e não empresta aos Estados e estes, para se financiarem, têm que pagar os juros que aqueles lhes exigem. Um verdadeiro regabofe. Primeira verdade que neste arrazoado de mentiras e desinformação coloca a UE, e o tratado de Lisboa, como os principais responsáveis pela situação deplorável a que chegaram os Estados mais frágeis do Sul da Europa.
José Maria Castro Caldas, mais incisivo ainda, adiantou que o que se estava a passar correspondia a situações anteriores em que os Estados para baixar os salários e facilitar as exportações, em vez de desvalorizar a moeda, que presentemente não é possível porque estamos no Euro, impõe um orçamento extremamente recessivo, que na prática diminui os salários. Em qualquer dos casos rouba os trabalhadores, diminuindo o seu poder de compra e não garantindo o aumento das exportações.
Em segundo lugar atacou, e bem, as parcerias público privadas, considerando que os contratos estabelecidos com as empresas eram sempre ruinosos para o Estado, na medida em que depois de ter corrido com o pessoal especializado na elaboração destes contratos, atribuía a gabinetes de advogados a sua redacção, que de um modo geral também trabalhavam para a parte contrária. Todos lucravam, menos um, que é o Estado.
Aqui temos pois que quando se permite que opiniões diferentes cheguem aos ecrãs da televisão algumas verdades vêm ao de cima. No entanto, é bom chamarmos a atenção para isto: primeiro, este programa foi interrompido permanentemente com reportagens da Assembleia da República onde todo o momento estava para chegar a pen com o orçamento, o que perturbou imenso a fluência do debate. Segundo, Ricardo Costa estava constantemente a interromper Castro Caldas, com aquelas perguntas que a ideologia dominante utiliza sempre nestas circunstâncias, quebrando a fluidez do discurso daquele economista.
Mas não era passado um dia sobre esta pequena conquista na televisão, quando é anunciado que a TV do Estado, a RTP2, tinha contratado para seus comentadores os economistas Daniel Bessa e Victor Bento. Dois figurões do bloco central que lá irão reproduzir o pensamento económico dominante.

19/10/2010

The best of Socrates (2009-2010)

Retirado de um blog de direita (31 da Armada), mas mas tem bastante graça.

Novo Slogan do Ministério das Finanças


Em tempos de crise, porque não brincar com ela?
PS.:
Se quiser ampliar a imagem clique sobre ela.

10/10/2010

Quem é o inimigo principal do PCP?


Existe uma rubrica no jornal Avante!, chamada Actual, que, não constando dos estatuto nem das resoluções dos Congressos, traduz muito bem a idiossincrasia que em cada momento atravessa aquele partido.
No último número, dos três artigos assinados que compõem aquela rubrica dois eram dedicados ao Manuel Alegre e, como se prevê, não eram nada meigos para ele.
O primeiro, de Margarida Botelho, em tom de gozo, falava da posição do candidato em relação às recentes medidas tomadas pelo Governo. É fácil fazer ironia quando o candidato, apesar de se distanciar delas, é apoiado por um dos partidos que as toma. Já se sabe que Francisco Lopes, que não tem qualquer responsabilidade nelas e que se candidata para as denunciar, é o preferido da autora. Simplesmente, o PCP, já o PS era Governo, com Guterres, foi capaz de desistir à primeira volta para apoiar Jorge Sampaio, que hoje não só apoia as medidas do Governo como até elogia os apelos de Cavaco ao consenso. Mudanças que o tempo tece.
O segundo artigo, de Manuel Gouveia é mais farfalhudo. Não só especifica logo a abrir que o candidato é apoiado por José Sócrates e Francisco Louçã. - É bom que se misturem os dois nomes para que não fiquem dúvidas sobre a colaboração de classes de Louçã. - Como a seguir entra pela mentira descarada, e não é o primeiro que o faz, dizendo que Manuel Alegre se tinha abstido na votação do Código de Trabalho, quando se sabe que votou contra, ele e mais três deputados do PS. Ver aqui.
Depois ataca Sócrates, junta-lhe Passos Coelho e também Cavaco Silva. E a seguir num passo de mágica diz-nos que estes, José Sócrates, Francisco Louçã, provavelmente por apoiar Manuel Alegre, o próprio Manuel Alegre, Passos Coelho e Cavaco Silva são os “actores da contra-revolução. São bons actores. Mentem, fingem e disfarçam-se como poucos”.Naturalmente este senhor ainda acredita que a revolução portuguesa está "a caminho do socialismo" e que toda esta gente, incluindo o Louçã, é contra-revolucionária, pronta a destruir a revolução "a caminho do socialismo". Este senhor anda trinta anos atrasado na história.
Aqui estão pois definidos os inimigos do PCP e do povo português. É simples e fácil. Aqui temos a política reduzida à sua expressão mais simples.

Não queria terminar este post sem me referir ao comentário de Vítor Dias à entrevista que Francisco Lopes deu a São José Almeida e Nuno Sá Lourenço, e que foi publicada no Público, de Sábado. Primeiro acusa-os de serem “capazes de perpetrar um erro político clamoroso”. E qual é esse erro? O de insistirem em perguntar se a não desistência do candidato à primeira volta não facilitará a vitória de Cavaco. Apesar dele próprio e do candidato já terem esclarecido “devidamente” esse assunto, assola sempre esta dúvida aos jornalistas e comentadores. E Porquê? Apesar de Dias dizer mais à frente que a desistência à primeira volta de Carlos Brito para Ramalho Eanes se ter dado numa circunstância de clara bipolarização, verificou-se também quando Salgado Zenha foi candidato, e aí não havia bipolarização nenhuma, bem pelo contrário, e para Jorge Sampaio, que era Presidente com um Governo do PS. Não será de estranhar que os jornalistas continuem a insistir neste tema.
A seguir fala de “um patente erro factual que mostram como algumas cabeças andam confusas”. Ou seja, quando aqueles perguntam se «Então acha que Álvaro Cunhal fez um disparate quando retirou a candidatura de Carlos Brito para apoiar Mário Soares.»
Não foi Carlos Brito mas Ângelo Veloso, que por sinal desistiu, como eu já disse, a favor de Salgado Zenha e não de Mário Soares. De facto o erro é relativamente grave e mostra como muitas vezes os jornalistas vão mal preparados para as entrevistas. Mas, pergunto eu. Não seria natural que o candidato, logo ali, na entrevista, corrigisse o erro. E, das duas uma, ou Francisco Lopes desconhece a história do PCP, o que é grave, ou os jornalistas censuraram-lhe a resposta, o que não é menos grave, mas disso não são acusados por Vítor Dias, que pressuroso se apressa a repor a verdade dos factos, que o seu candidato se esqueceu de corrigir. Quando se arranjam candidatos destes às vezes sucede isto.
PS.:
Já depois de ter publicado o post lembrei-me que podia linkar os artigos citados para o Avante! on-line, bem como a entrevista de Francisco Lopes para o Público on-line. Neste jornal só os artigos de opinião é que não têm link.

09/10/2010

Ainda a propósito do pensamento único, da ofensiva da direita e de quem é o inimigo principal.


Daniel de Oliveira escreve hoje no Expresso um texto (sem link), O Compressor, que aborda de forma muito clara e resumida tudo aquilo que eu, em vasta prosa, tenho vindo a referir nos meus últimos posts: a existência de um pensamento único nos media. Motivado por isso, apesar da insistência no tema ser provavelmente fastidiosa para os meus leitores, gostaria mais uma vez de voltar a este assunto e delimitar bem três conceitos que explano no título e que foram abordados na minha prosa anterior.
A ideia que está contida no texto do Daniel de Oliveira é de que a propósito das medidas tomadas pelo Governo os comentadores-economistas que povoam as televisões nos venderam todos a mesma opinião, que só varia no radicalismo em que se expressa. Atribui esse facto ao "assalto das correntes neoliberais à Academia” e à “crescente proletarização dos jornalistas” que facilmente cederam ao espírito dominante da época. Contra este estado de coisas fala do abaixo-assinado, que já foi por mim referido no último post: “Pelo pluralismo de opinião no debate político e económico” na comunicação social (ver link no post anterior).
Sobre esta matéria já escrevi mais do que o suficiente. O domínio dos media, principalmente da televisão, incluindo a pública, por esta casta dominante é aterrador. Simplesmente associei esta situação à ofensiva da direita, que conta quase sempre com a colaboração do PS.
Hoje relendo tudo o que escrevi verifico que, tirando o caso da revisão constitucional proposta pelo PSD, em que o PS se tentou transformar em herói do Estado Social, a direita, através dos seus comentadores e ideólogos foi sempre insistindo nestas medidas que o Governo do PS veio agora tomar, andando até agora o seu Primeiro-Ministro quase sempre a assobiar para o ar, descrevendo um país ideal que não correspondia à realidade.
Apesar de pensar que tudo aquilo que diz o Daniel de Oliveira é verdade, considero no entanto que este facto não é novo e que varia de objectivos conforme o momento. No início do Governo de Sócrates, este era incensado pelos media dominantes pelas “medidas corajosas” que estava a tomar a e oposição de direita era ridicularizada (veja-se a recepção que teve Luís Filipe de Menezes). Hoje a situação alterou-se e enquanto que José Sócrates não tomou estas medidas a pressão da direita nos media foi diária. Foi isso que eu escrevi. O PS serve enquanto segue a “linha correcta” e a direita está em crise, quando esta sobe nas sondagens e já não precisa dele, é corrido.
São estas duas ideias, de haver uma ofensiva da direita que dispõe da comunicação social para impor o seu pensamento único e de ser o nosso inimigo principal, que causou alguns engulhos a certas pessoas.
Ora eu tenho para mim que é a direita – o patronato e os seus intelectuais orgânicos – que mexe os cordelinhos. Aceita e acarinha o PS quando o seu pessoal político falha e aquele segue o “caminho justo”. Quando sente força e acha que pode impor a sua política, tenta despedir o PS e governar ela. Simplesmente, se com Guterres foi fácil, este assustou-se com o pântano que aí vinha, com Sócrates tem sido mais difícil, o que não quer dizer que seja por mérito deste, mas sim por demérito da direita, que neste momento se encontra num beco sem saída, sem saber se deve ou não aprovar o orçamento. Veja-se hoje o artigo do Pacheco Pereira, no Público.
Daniel de Oliveira aborda este tema de raspão na coluna de opinião já referida, quando fala no final desta de O Vilão. Este seria José Sócrates que, segundo ele, seria o bode expiatório de tudo o que tem corrido mal em Portugal. Com a sua substituição parece que tudo se resolveria. Eu não diria tanto, mas reconheço que este é dos assuntos mais complicados para a esquerda e passível da mais fácil demagogia.
Se tiver força e engenho escreverei qualquer coisa sobre este tema a propósito das eleições presidenciais e da posição que o Avante! tem tomado, principalmente no número desta semana, sobre Manuel Alegre

06/10/2010

Mais uma vez a ofensiva ideológica da direita e uma petição pelo pluralismo nos media


Não quero pavonear-me com louros que não conquistei, mas tenho para mim que fui um dos primeiros a denunciar a ofensiva ideológica da direita traduzida na escolha de comentadores e de programas televisivos que faziam uma clara apologia das opções económica, financeiras e políticas da ideologia neo-liberal ou simplesmente de direita.
Numa pesquisa breve deste tema no meu blog encontro desde logo um post em Janeiro deste ano, outro em Fevereiro e posteriormente em Junho, e em Julho, este e este, terminando, já em Setembro, com este.
Referindo-se sempre a uma situação concreta, todos eles fazem uma clara denúncia da ofensiva da direita em termos políticos e ideológicos e da permanente ocupação de todo o espaço mediático pela direita. O PS aparece em todos eles como incapaz de reagir ou como colaborador activo desta encenação.
Muitos comentadores da blogosfera, e não irei em concreto citar nenhum, têm referido a desvergonha que é o pensamento único, que justifica a ofensiva do Governo e as propostas da oposição de direita que lhe são semelhantes, ocupar por inteiro todos os media, não havendo lugar para o contraditório. Não vi ainda o Sr. Pacheco Pereira incomodado com isto, tão pressuroso em denunciar a falte de contraditório na TV estatal em relação o que diz o primeiro-ministro.
Em relação ao meu post anterior e cujo conteúdo provocou uma chusma de insultos por parte alguém do PCP, gostaria só de acrescentar uma pequena adenda. A ofensiva que tenho vindo a denunciar é da direita e visava, de facto, levar o Governo a aplicar as medidas que tomou. O PS andou durante quase todo o Verão a engonhar, refugiando-se num oásis que só existia nas palavras de Sócrates ou então a garantir a sua imaculada defesa do estado social.
Para tentar sobreviver, Sócrates lança-se para a frente e aplica em doses maciças tudo aquilo que há meses lhe andavam a soprar. Portanto, os comentadores escolhidos a dedo pelos media não só aplaudem as medias tomadas, porque eram aquelas que eles andavam há muito a pedir, como se preparam para exigir mais ou a justificar o provável fracasso destas pela incompetência do Governo ou pelo atraso na sua aplicação. Em qualquer dos casos estão todos de acordo. Mas isto não invalida aquilo que eu explanei na minha última intervenção.
O inimigo principal continua a ser a direita, que conta com a colaboração activa do PS, que não se importa de se suicidar como partido do Governo a ter que alterar a sua política de direita, está-lhe na massa do sangue. Sócrates espera poder sobreviver entre os pingos da chuva, recorrendo à impossibilidade constitucional de dissolver a Assembleia da República e à necessidade de o presidente Cavaco ser eleito e por isso querer o orçamento aprovado. Mas a longo prazo, que não deve exceder um ano, deve estar quase moribundo ou então num golpe de asa consegue sobreviver. A ver vamos, e sofrendo, no entanto, as agruras da crise.

PS.: já estava este post escrito, quando me chegou à caixa dos e-mails a notícia que circulava na net e no facebook uma petição referente ao pluralismo de opinião no debate político-económico. No fundo, vinha na sequência das denúncias que eu tinha feito relativamente à ofensiva político-ideológica que pretendia transmitir um pensamento único nas televisões. O site é este e, se os meus leitores estiverem de acordo, assinem.