10/10/2010

Quem é o inimigo principal do PCP?


Existe uma rubrica no jornal Avante!, chamada Actual, que, não constando dos estatuto nem das resoluções dos Congressos, traduz muito bem a idiossincrasia que em cada momento atravessa aquele partido.
No último número, dos três artigos assinados que compõem aquela rubrica dois eram dedicados ao Manuel Alegre e, como se prevê, não eram nada meigos para ele.
O primeiro, de Margarida Botelho, em tom de gozo, falava da posição do candidato em relação às recentes medidas tomadas pelo Governo. É fácil fazer ironia quando o candidato, apesar de se distanciar delas, é apoiado por um dos partidos que as toma. Já se sabe que Francisco Lopes, que não tem qualquer responsabilidade nelas e que se candidata para as denunciar, é o preferido da autora. Simplesmente, o PCP, já o PS era Governo, com Guterres, foi capaz de desistir à primeira volta para apoiar Jorge Sampaio, que hoje não só apoia as medidas do Governo como até elogia os apelos de Cavaco ao consenso. Mudanças que o tempo tece.
O segundo artigo, de Manuel Gouveia é mais farfalhudo. Não só especifica logo a abrir que o candidato é apoiado por José Sócrates e Francisco Louçã. - É bom que se misturem os dois nomes para que não fiquem dúvidas sobre a colaboração de classes de Louçã. - Como a seguir entra pela mentira descarada, e não é o primeiro que o faz, dizendo que Manuel Alegre se tinha abstido na votação do Código de Trabalho, quando se sabe que votou contra, ele e mais três deputados do PS. Ver aqui.
Depois ataca Sócrates, junta-lhe Passos Coelho e também Cavaco Silva. E a seguir num passo de mágica diz-nos que estes, José Sócrates, Francisco Louçã, provavelmente por apoiar Manuel Alegre, o próprio Manuel Alegre, Passos Coelho e Cavaco Silva são os “actores da contra-revolução. São bons actores. Mentem, fingem e disfarçam-se como poucos”.Naturalmente este senhor ainda acredita que a revolução portuguesa está "a caminho do socialismo" e que toda esta gente, incluindo o Louçã, é contra-revolucionária, pronta a destruir a revolução "a caminho do socialismo". Este senhor anda trinta anos atrasado na história.
Aqui estão pois definidos os inimigos do PCP e do povo português. É simples e fácil. Aqui temos a política reduzida à sua expressão mais simples.

Não queria terminar este post sem me referir ao comentário de Vítor Dias à entrevista que Francisco Lopes deu a São José Almeida e Nuno Sá Lourenço, e que foi publicada no Público, de Sábado. Primeiro acusa-os de serem “capazes de perpetrar um erro político clamoroso”. E qual é esse erro? O de insistirem em perguntar se a não desistência do candidato à primeira volta não facilitará a vitória de Cavaco. Apesar dele próprio e do candidato já terem esclarecido “devidamente” esse assunto, assola sempre esta dúvida aos jornalistas e comentadores. E Porquê? Apesar de Dias dizer mais à frente que a desistência à primeira volta de Carlos Brito para Ramalho Eanes se ter dado numa circunstância de clara bipolarização, verificou-se também quando Salgado Zenha foi candidato, e aí não havia bipolarização nenhuma, bem pelo contrário, e para Jorge Sampaio, que era Presidente com um Governo do PS. Não será de estranhar que os jornalistas continuem a insistir neste tema.
A seguir fala de “um patente erro factual que mostram como algumas cabeças andam confusas”. Ou seja, quando aqueles perguntam se «Então acha que Álvaro Cunhal fez um disparate quando retirou a candidatura de Carlos Brito para apoiar Mário Soares.»
Não foi Carlos Brito mas Ângelo Veloso, que por sinal desistiu, como eu já disse, a favor de Salgado Zenha e não de Mário Soares. De facto o erro é relativamente grave e mostra como muitas vezes os jornalistas vão mal preparados para as entrevistas. Mas, pergunto eu. Não seria natural que o candidato, logo ali, na entrevista, corrigisse o erro. E, das duas uma, ou Francisco Lopes desconhece a história do PCP, o que é grave, ou os jornalistas censuraram-lhe a resposta, o que não é menos grave, mas disso não são acusados por Vítor Dias, que pressuroso se apressa a repor a verdade dos factos, que o seu candidato se esqueceu de corrigir. Quando se arranjam candidatos destes às vezes sucede isto.
PS.:
Já depois de ter publicado o post lembrei-me que podia linkar os artigos citados para o Avante! on-line, bem como a entrevista de Francisco Lopes para o Público on-line. Neste jornal só os artigos de opinião é que não têm link.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não tenciono ocupar-me mais as desembrulhar as capciosas embrulhadas de JNF sobre a atitude do PCP em diversas presidenciais, bastando-me perguntar-lhe se está esquecido, como o próprio e seus apoiantes, que Francisco Louçã foi candidato presidencial e foi a votos, já com Alegre em cena e já com um evidenete perigo de Cavaco ganhar logo ali.

Quanto à reacção de Francisco Lopes peranrte o erro de facto dos jornalistas, estava mesmo à espera de um comentário primário e ignorante sobre relações com jornalistas(como se verá adiante) deste tipo que JNF adiantou.

Quero dizer-lher que eu, que critiquei os jornalistas, se estivesse no lugar de Francisco Lopes teria feito exactamente o que ele fez : não se pôr a gastar munutos ou linhas a rectificar os erros dos jornal.istas e ir à matéria de fundo essencial.

De facto, e disso saberei mais que JNF, numa entrevista que está a ser gravada e que vai passar para papel impresso mais que certo sem revisão de texto pelo entrevistado, este não se pode dar ao luxo de desarmar todos os eventuais erros de perguntas porque isso é lateralizar e, mais do que isso,é permitir que, quando os jornalistas fazem a «edição» das respostas, sacrificassem outras partes da entrevista por razões de espaço.

Isto para já não falar que não seria nada estranho que,debaixo da tensão de uma entrevista, alguma coisa possa não soar bem ao entrevistado mas sem espaço de reflexão e concentração para fazer a autópsia disso.

Ouvir uma pergunta ou observação orais de jobnalistas não é a mesma coisa que as ler no jornal, capisce, JNF ?

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Já se sabe que Vítor Dias não comenta a mentirola do seu camarada a propósito do sentido de voto de Manuel Alegre no Código de Trabalho. Apenas concordar com o que digo.
Quanto à candidatura de Louçã em 2006 respondo-lhe do mesmo modo que o Vítor Dias me responderia em relação às pretéritas posições do PCP em matéria de candidaturas presidenciais, depende das circunstâncias. Por isso eu não seria tão taxativo em relação à presente candidatura do seu candidato e ao seu modo de actuar, pois no passado já houve muitas posições do PCP. Mas para sua informação e fazendo na altura uma análise semelhante à que hoje faço, apoiei Manuel Alegre e votei nele. Achei mal a candidatura de Louçã e como se viu o próprio Bloco de Esquerda veio a corrigir a sua posição, coisa que o PCP actual nunca fará.
Quanto à falta de correcção do próprio Francisco Lopes ao erro dos jornalistas até posso compreender o que diz, simplesmente eu não viria tão pressuroso atacar os jornalistas, quando manda o bom senso que devia ser o candidato a corrigi-los. Não seja tão sectário e assanhado a propósito destes simples enganos ou perguntas. Há coisas muitos mais graves que você não tempo, nem paciência para corrigir.

Anónimo disse...

O "sentido de voto de Manuel Alegre no Código de Trabalho" foi uma triste encenação para a plateia.
É preciso detalhes, caro JNF?