20/10/2010

Como o abaixo-assinado a favor do pluralismo na informação já teve efeitos


O Expresso da Meia Noite, da SIC Notícias, provavelmente envergonhado por escolher sempre gente com o mesmo pensamento económico, resolveu nos dois últimos debates que realizou convidar, no anterior, Francisco Louçã e, neste último, fartura das farturas, José Reis, professor de economia em Coimbra, que parece que é da área do PS, mas que tem dado colaboração a muitas iniciativas da esquerda, à esquerda do PS, e o Ladrão de Bicicletas José Maria Castro Caldas. Os outros eram os do costume, de quem já nem me recordo o nome.
José Reis insurgiu-se contra a atitude da Nova Europa dominada pela Alemanha da Sr.ª Angela Merkel, que, num egoísmo extremo, impede o Banco Central Europeu de resolver as dificuldades económicas dos Estados aflitos. Ou seja, empresta aos bancos e não empresta aos Estados e estes, para se financiarem, têm que pagar os juros que aqueles lhes exigem. Um verdadeiro regabofe. Primeira verdade que neste arrazoado de mentiras e desinformação coloca a UE, e o tratado de Lisboa, como os principais responsáveis pela situação deplorável a que chegaram os Estados mais frágeis do Sul da Europa.
José Maria Castro Caldas, mais incisivo ainda, adiantou que o que se estava a passar correspondia a situações anteriores em que os Estados para baixar os salários e facilitar as exportações, em vez de desvalorizar a moeda, que presentemente não é possível porque estamos no Euro, impõe um orçamento extremamente recessivo, que na prática diminui os salários. Em qualquer dos casos rouba os trabalhadores, diminuindo o seu poder de compra e não garantindo o aumento das exportações.
Em segundo lugar atacou, e bem, as parcerias público privadas, considerando que os contratos estabelecidos com as empresas eram sempre ruinosos para o Estado, na medida em que depois de ter corrido com o pessoal especializado na elaboração destes contratos, atribuía a gabinetes de advogados a sua redacção, que de um modo geral também trabalhavam para a parte contrária. Todos lucravam, menos um, que é o Estado.
Aqui temos pois que quando se permite que opiniões diferentes cheguem aos ecrãs da televisão algumas verdades vêm ao de cima. No entanto, é bom chamarmos a atenção para isto: primeiro, este programa foi interrompido permanentemente com reportagens da Assembleia da República onde todo o momento estava para chegar a pen com o orçamento, o que perturbou imenso a fluência do debate. Segundo, Ricardo Costa estava constantemente a interromper Castro Caldas, com aquelas perguntas que a ideologia dominante utiliza sempre nestas circunstâncias, quebrando a fluidez do discurso daquele economista.
Mas não era passado um dia sobre esta pequena conquista na televisão, quando é anunciado que a TV do Estado, a RTP2, tinha contratado para seus comentadores os economistas Daniel Bessa e Victor Bento. Dois figurões do bloco central que lá irão reproduzir o pensamento económico dominante.