29/09/2011

Os concursos televisivos de cultura geral

Penso que este não seja um tema suficientemente digno para merecer um post, no entanto, como estes concursos preenchem parte do meu serão e tenho sobre os mesmos opinião, não deixarei de vos maçar com este assunto.

Há anos escrevi qualquer coisa sobre o tema. Resolvi descrever-vos a minha participação no concurso que na altura corria na RTP, Um Contra Todos. No entanto, apesar da canseira porque passei nesse concurso, o pezinho continuava-me a puxar para concorrer ao último que decorreu naquela estação de televisão, Quem quer ser Milionário? Alta Pressão. Foi só o bom-senso da Ana Maria que me impediu de concretizar tal desiderato.

E de facto ela tinha razão, bastava-me sair uma daquelas perguntas em que equipa joga o jogador tal ou qual é a último álbum da cantora pop x ou qual foi o filme em que entrou o actor y, já que presentemente vou muito pouco ao cinema, para ser mandado para a bancada sem apelo nem agravo.

De facto estes concursos recorrem a um conjunto de perguntas em que se algumas, por acaso, são de cultura geral, como aquelas que um cidadão bem informado deve conhecer, como, por exemplo, quem escreveu Por quem os Sinos Dobram? ou qual foi o primeiro Presidente da República a seguir ao 25 de Abril? A maioria é de uma vacuidade atroz, que afasta qualquer adicto diário de cultura geral, na expressão feliz de José Carlos Malato, de participar neles.

Tenho para mim que estes concursos têm algumas exigências. Primeiro é melhor haver diversas alternativas, as tradicionais quatro hipóteses, do que ser só pergunta-resposta. Este último caso exige que o concorrente perceba perfeitamente o que se quer, por vezes há alguma ambiguidade, e por outro lado que a nossa memória, principalmente nos da minha idade, não nos traia. Podemos saber responder, mas esquecemo-nos momentaneamente da resposta. Segundo, não faz muito sentido manter uma modalidade como aquela que foi seguida há algum tempo, que era opor o saber de criancinhas que tinham acabado de estudar certas matérias na escola e adultos que há muito se tinham afastado da mesma. O que estava em causa não era a cultura de uns contra os outros, mas quem tinha mais recentemente recapitulado o programa escolar. Por último, e não menos importante, deve existir empatia que entre o apresentador e os concorrentes.

Mas tudo isto vem a propósito da substituição na RTP do concurso Quem quer ser Milionário? Alta pressão, que de facto já há muito tempo se arrastava na televisão, por uma um outro chamado O Elo Mais Fraco, expressão que me lembra sempre a de Lenine referindo-se à Rússia, que era o elo mais fraco do imperialismo, daí a revolução ter começado naquele país. Mas isto são memórias de alguém que vê política em tudo.

As quatro hipóteses do concurso anterior foram substituídas neste por pergunta-resposta. Os concorrentes são deliberadamente mal tratados, para dar ao programa um ar agressivo. As suas profissões são objecto de gozo ou desprezo e não há qualquer conversa significativa entre o apresentador e os concorrentes. Pelo contrário, no programa anterior, que podia ser substituído por outro de formato idêntico, gerava-se uma empatia entre o apresentador, o José Carlos Malato, e os concorrentes que por vezes chegava à pieguice, quando valorizava excessivamente os filhos pequenos dos concorrentes ou suas mãezinhas, adoradoras do Malato. É também verdade que este programa vivia muito do ego desmesurado do apresentador, rondando sempre entre a sua hipocondria e a sua gordura. Mas verdade seja dita era possível ter uma conversa sobre a vida e a actividade profissional dos concorrentes, e, nalguns casos, o Malato interrogava-os, quando a pergunta se proporcionava, sobre política, religião ou algum tema candente do momento. Se as respostas não eram famosas, a culpa não era dele. De um modo geral a cultura e as opiniões de quem concorria não fugiam ao medíocre e ao mainstream, mas isso faz parte, quanto a mim, da grande ignorância cultural do nosso povo. Posso garantir que esta possibilidade de intervenção, se por acaso concorresse e fosse interpelado, era a parte que mais me motivava em participar. Gosto de me armar em carapau de corrida. Mas como já escrevi, provavelmente levava com um pergunta sobre em que clube jogava o jogador x, passando pela vergonha de não saber e ser recambiado por ignorância.

26/09/2011

Alberto João, um caso já antigo de reaccionarismo

De repente, aquele que era conhecido como o soba da Madeira, segundo a expressão feliz de Miguel Sousa Tavares, transformou-se na vergonha nacional, lançado ao opróbrio público, capaz de igualar com toda a cáfila de monstros da história portuguesa. A televisão pública, sempre respeitosa e obediente para com o poder dominante, não teve pejo em acelerar as imagens de uma reportagem dedicada às inúmeras inaugurações que todos os dias Alberto João fez em vésperas da campanha eleitoral.

Não quero com isto passar qualquer atestado de bom comportamento a tão odiosa figura, simplesmente entendo que transformado em inimigo público número um, ou melhor ainda, em bobo da corte, Jardim passa a ser uma personagem risível, em vez daquilo que ele sempre foi, um provocador afascistado ao serviço da direita, que sempre tratou os seus concidadãos madeirenses como seres de segunda, com o beneplácito dos políticos do Continente, ou seja, do PS e do PSD e com grande gáudio dos media nacionais.

É bom recordar, e para isso nem me socorro a qualquer biografia, que este senhor ainda jovem era já protegido dos capatazes do regime fascista e que tudo se estava a preparar para depois da sua carreira na Madeira passar provavelmente com êxito para o Continente. Alberto João estava pois fadado para ser um jovem quadro do regime fascista.

Veio o 25 de Abril e este homem transfigura-se em democrata, aceitando com proveito a nova ordem estabelecida. Não me interroguem sobre as relações deste senhor com o bando independentista daquela ilha, nem os passos que deu para ser o chefe de fila do PSD. Só sei que já revolução ia alta e este senhor era utilizado pela televisão pública ao serviço da contra-revolução para participar nos debates que exigiam alguém da extrema-direita caceteira. Alberto João era, nesse sentido, um dos chefes de fila da luta ideológica que o reaccionarismo nacional travava nessa altura, como hoje os economistas de serviço, “brilhantes” professores universitários, são utilizados para nos vender os sacrifícios que a direita e o patronato nos querem impor. Os tempos são outros e o raciocínio pouco elaborado e boçal de Alberto João já não serve para o debate em curso. É preferível utilizar os senhores doutores cheios de manhas e prosápias que, com palavras mansas, vão tentando enganar os tolos deste país.

E quando me refiro a Alberto João, estou-me a lembrar de debates concretos que assisti na televisão em que S. Ex.ª punha e dispunha da argumentação necessária para nos convencer das virtudes do seu   reaccionarismo militante. Se não me engano, até participou num sobre o Serviço Nacional de Saúde.

A utilização regular desta personagem, a que se juntavam entrevistas com ar sério, convenceram-no em certo momento que poderia ter algum futuro político no Continente. Depressa os seus serviços foram dispensados para tão altos voos. Ele que continuasse na Madeira a governar os seus súbditos, porque a partir de certa altura já só servia para o anedotário nacional e para tentar aumentar as audiências dos telejornais.

Dito isto, só quero lamentar como este senhor teve uma sobrevida tão longa e que para mim ele nunca passou de um reaccionário com poder suficiente para fazer mal aos seus concidadãos da Madeira, com toques aqui e acolá que roçavam mesmo o fascismo. Gente desta tem que se pôr no seu lugar e não se lhes pode dar confiança, de modo a serem levados como inimputáveis.



17/09/2011

Ainda a casa do Primeiro-ministro na Manta Rota

Mais uma vez me venho justificar junto dos meus leitores do atraso na publicação de novo post. As razões de saúde, que não melhora, continuam a ser um dos motivos, a que não se deixa de juntar, tal como já vos disse, a errância estival, que na verdade se resume a uma constante ida e vinda entre Lisboa e a Manta Rota.

Lá voltei eu mais uma vez àquela praia. Já tinha visto pela reportagem da TVI, que vos referi no post anterior, onde ficava situada a casa que o primeiro-ministro alugara. Desta vez verifiquei que não se situava a mais de 200 m da minha, de onde ainda se avistava uma parede e o telhado. Sei já quem é o dono, neste caso a dona, visto que o marido morreu. No entanto, nada disto valia uma linha se não tivesse sucedido aquilo que vos irei relatar.



Um dia antes da minha partida apareceu o actual dono da casa situada em frente da minha, que vinha tomar posse da casa que o pai, que morrera este ano, lhe tinha deixado. Conversa par ali, conversa para acolá, sou desafiado a ir visitá-la para ver os projectos que o meu vizinho tinha em mente para transformá-la. Quando cheguei ao pátio de trás não é que não avisto a piscina e toda a área envolvente da mesma, onde tinham passado férias o primeiro-ministro e a família, ainda por cima funcionando como balcão já que o terreno era desnivelado e o pátio do meu vizinho ficava mais alto do que a piscina de Sua Ex.ª. Pensei logo no local maravilhoso que os paparazzi dispunham para fotografar as intimidades ministeriáveis, era só encostarem-se ao muro e passar todo o dia disparar as suas máquinas fotográficas. Sei que nada disto sucedeu, porque a casa esteve fechada durante todo o mês de Agosto.

Mas mal eu tinha tido este pensamento de voyeur, eis que no dia a seguir me telefona o meu amigo, pior que estragado, porque estavam a pôr uma chapa de ondulada, em volta da piscina que lhe emparedava o seu quintal traseiro. Parece que tinha havido transmissão de pensamento. Não sei como é que o assunto se vai resolver, ainda não falei com este meu vizinho, mas sei que pelo menos irá bracejar contra tão indesejada medida.

04/09/2011

Alguma conta-corrente e as boas almas e o caso Líbio

Mais uma vez venho-me penitenciar junto dos meus leitores do atraso na actualização deste blog. Razões de saúde, sempre as mesmas, são uma das causas, mas também aquilo a que eu chamei anteriormente a errância estival. Desta vez, mais uma semana na Manta Rota, agora com neto e filha e os anos desta. O computador tal como foi, assim regressou, nem o abri. Mas, no fundo, uma enorme preguiça de escrever qualquer coisa que se visse.

O meu amigo Fernando Penim Redondo perguntou-me, em comentário apenso a um post anterior, se eu já tinha visto o Passos Coelho na Manta Rota. Respondi-lhe, com alguma sobranceria, que como ia pouco à praia ainda não o tinha lobrigado. De facto, não lhe tinha posto os olhos em cima, mas desta vez quando regressei à praia, a presença de Passos Coelho era motivo de todas as conversas. Só agora percebo porque em dado dia, nos inícios de Agosto, eu tinha visto um grupo de GNR numa rua perto da minha casa e um carro da mesma estacionado durante todo o dia. Na altura fiquei espantado. Disse para a Ana, lembrando recordações antigas, “a tropa repressiva já cá está”. Fui admoestado: então os rapazes não estavam ali a proteger os nossos bens. Só agora percebi que a sua presença não era por nós, mas devido às férias do primeiro-ministro. Há muito que a GNR deixara de aparecer para controlar o trânsito nos dias mais complicados. Depois disseram-me que no talho do mercado havia uma página de um jornal, com Passos Coelho e a mulher a andarem na Manta Rota. Como não quis dar a alegria ao açougueiro, que pelos vistos fornece a carne ao Primeiro-ministro (ver aqui), de estar a olhar com atenção para o recorte, nem percebi que jornal era, qual era a notícia, nem vi bem a fotografia. Disseram-me também, mas não pude confirmar, que no Expresso vinha uma fotografia com ele a sair do Algartalhos, um dos supermercados da praia, com a informação, extremamente relevante, que era o segundo ano consecutivo que usava as mesmas havaianas. Aqui resumo tudo o que sei da estadia de Passos Coelho na Manta Rota.

E saber que esta praia já teve fama de ser de esquerda, quando o Carlos Carvalhas vinha para cá, mas não só. Mas isso são contas de outro rosário, que ainda um dia vos hei-de contar.

Outro meu amigo, o Brissos, num comentário ao meu último post, informou-me através de uma notícia no seu blog que o Vítor Dias, tinha ficado sem acesso ao seu Tempo das Cerejas. Porque eu uma vez passei por uma situação que me pareceu semelhante, e achei que era das coisas mais horríveis que pode acontecer a um blogger, por isso, logo de seguida, acrescentei na Lista dos blogs que consulto quase diariamente o novo endereço do Tempo das Cerejas 2. Para que fique registado.



Escrevi no início dos acontecimentos na Líbia e da posterior intervenção da NATO dois posts onde dava endereços de sites que, de forma por vezes contraditória, apreciavam o caso Líbio (ver aqui  e aqui). Escrevi no último que as boas almas, para evitarem um suposto massacre pelas tropas do coronel Khadafi, apoiaram e até incentivaram a intervenção aérea da NATO neste país. Fiquei quase seis meses calado à espera do que aquilo iria dar. Hoje, sem a preocupação de vos fornecer novos sites ou informação recente só vos quero remeter para algumas notícias avulsas. Ouvi, penso que na televisão, que a NATO iria continuar os bombardeamentos em Sirte, para ver se população daquela cidade aceitava a rendição proposta pelo Conselho Nacional de Transição (CNT). Espantosa notícia, as boas almas acreditavam piamente que a autorização das Nações Unidas era para proteger a população civil dos bombardeamentos do coronel Khadafi. Afinal agora já são para obrigar as populações civis a se renderem. Como é previsível tudo isto foi uma grande mistificação com a colaboração activa de algumas boas almas.

Rui Tavares, em crónica assinada no Público (ver aqui), congratulava-se por o CNT não ter autorizado a instalação de bases na Líbia. Santa ingenuidade, eles já lá estão. A TOTAL francesa já assinou um contrato principesco para o petróleo líbio e a empresa italiana vai já a caminho.

Sobre isto não quero dizer mais nada, remetia-vos para o brilhante comentário, sem link, de Domingos Lopes, no Público de quinta-feira passada, O que era e o que vai ser a Líbia? Depois de desmascarar todos os horrores e disparates do coronel Khadafi, termina a fazer perguntas muito pertinentes sobre o que foi a intervenção da NATO e o que vai ser a Líbia.



PS.: Como não quero passar por mentiroso, tive no final o cuidado de ir confirmar no Google se as notícias que dava eram verdadeiras. O açougueiro a fornecer carne ao Primeiro-ministro é confirmada ainda no texto por um link para uma reportagem da TVI. O jornal de onde foi tirada o recorte é o Correio da Manhã, e a fotografia é dele e da mulher a virem do mercado com compras. A notícia do Expresso existiu e vem aqui