Há muitos anos, quando a escola era risonha e franca, considerava-se que o conjunto das forças progressistas, que se opunham ao imperialismo, era constituído pelos países socialistas, pelos movimentos de libertação nacional e países que se tinham libertado do colonialismo e ainda pelos partidos comunistas e dos trabalhadores dos países capitalistas. Hoje toda esta realidade se modificou, já não existe o campo socialista, os movimentos de libertação venceram de um modo geral, mas deixaram-nos algumas abencerragens, como a Argélia ou Angola, e os países anti-imperialistas transformaram-se, como no caso da Líbia e de Angola, em amigos do imperialismo. Apoiámos em nome do anti-imperialismo ditadores inqualificáveis, de que Muamar Kadafi é uma exemplo. Posteriormente, a troco do petróleo ou de outra riqueza qualquer, passaram a ser tratados como amigos e o pior é que eles acreditaram que eram bem vistos no Ocidente.
Chegou a hora do ajuste das contas e o Ocidente capitalista prefere os seus, a convertidos de última hora. Por isso, tal como referia Fidel de Castro, que tanto escandalizou alguns comentadores mais angelicais, aqui temos Barak Obama e a NATO a prepararem-se para invadir a Líbia, com o apoio sempre reverente da União Europeia. Podem morrer milhares de habitantes na Costa do Marfim, onde um ditador se mantém depois de ter perdido as eleições e esmagar os protestos populares, simplesmente ali não há petróleo e já é trivial vermos pretos a morrerem.
Como se percebe não há da minha parte qualquer simpatia por Kadhafi e pelo seu sistema de governação. Simplesmente ninguém sabe quem são os seus reais opositores, que se manifestam com bandeiras do antigo reino da Líbia, que Kadafi transformou em República. Muita da linguagem dos insurrectos, que nos chega via televisão, assemelha-se aquela que noutras partes do mundo tem antecedido as intervenções americanas. Esta revolta deve muito a desinteligências tribais. Não sei se sabem, mas a parte que está em poder dos anti-Kadafi, corresponde à antiga Cirenaica e a que ficou com Kadahafi à chamada Tripolitânia, zonas que ao longo da história percorreram caminhos diferentes.
Vou vos fornecer um conjunto de sites onde podem ler versões de esquerda, mas manifestando opiniões diversas. Alguns referem-se à revolta no mundo árabe e outros em particular a Kadafi: Las raíces de las revueltas árabes y lo prematuro de las celebraciones (6/03/11); Do mundo árabe à América Latina (27/02/11); Libia en el gran juego (25/02/11); Las tribus contra el búnker (28/02/11); Libia: Medios occidentales estarían mintiendo para legitimar una intervención extranjera (1/02/11); Esquizofrenia líbia (2/03/11); EUA têm plano secreto para armar os rebeldes líbios (7/03/11).
Para terminar, só referir-me, com grande gozo, que Pacheco Pereira garantia que a narrativa dos media não reproduzia correctamente o que se estava a passar a propósito da revolta árabe na Tunísia e no Egipto (já referi isso aqui). E eu pergunto-lhe, se presentemente, depois de ouvir todos os media, e numa situação tão fluida como aquela que se vive na Líbia, acha correcto a posição catastrofista dos meios de informação dominantes? Para mim toda esta situação faz-me lembrar o que se dizia da revolta na Roménia, antes da queda e fuzilamento de Nicolae Ceausescu, em que se falava de milhares de mortos que depois se verificou não existirem.
Lamentavelmente acho que o caso da Líbia não vai acabar bem, terminará provavelmente com uma intervenção ocidental ou, como dizia o ministro italiano das relações exteriores, logo no início da contenda, com a criação na Cirenaica “do nascimento de um emirado islâmico da Líbia oriental”, que quanto a mim se poderá estender a toda a Líbia.
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