31/05/2011

Españistán, de la Burbuja Inmobiliaria a la Crisis (por Aleix Saló)



Enviaram-me este vídeo sobre a bolha imobiliária e a crise em Espanha. Achei  tão interessante e verdadeiro, que resolvi compartilhar esta animação de Aleix Saló convosco.

28/05/2011

Preferes a peste ou a guerra?

Por motivos vários, mas que na maioria dos casos têm a ver com a minha saúde, não tenho escrito nada no blog. Mesmo a série de três posts que iniciei no princípio do mês, ainda não foi acabada e, para ser verdadeiro, já não me lembro bem o que pretendia escrever no último. Portanto ficará como está.

O que hoje me trás aqui, e que no fundo anda sempre à volta do mesmo, são dois artigos, um de Daniel de Oliveira, Sócrates ou Passos? Passo  e outro de Rui Tavares, Duas catástrofes. Resumidamente, qualquer deles critica a dicotomia, hoje obrigatoriamente imposta pelos media, entre votar Sócrates ou Passos Coelho. Rui Tavares é mesmo muito claro, a vitória de Passos Coelho iria provocar a catástrofe económica e social, com Sócrates teríamos a política. Qualquer deles não é muito favorável à tese desenvolvida na esquerda da igualdade entre os dois. Rui Tavares refere-se mesmo a um tempo mítico do PS, que eu penso que nunca existiu.

Em tempos, eu próprio já tinha abordado esta triste dicotomia, afirmando que PSD e CDS eram os nossos inimigos principais e o PS, o inimigo secundário. Isto mereceu, na altura, algumas críticas de certa ortodoxia. No entanto, em qualquer dos casos, eu não deixava de considerar estes dois blocos, pertençamente alternativos, como inimigos. Considerava simplesmente que tinham objectivos diferentes e que não seria indiferente o Governo de um ou de outro.

Hoje, torna-se para mim cada vez mais claro, que a contradição fundamental dos nossos dias é entre quem assinou o acordo com a troika estrangeira, como lhe chama Jerónimo de Sousa, e quem não o fez e resiste às suas imposições. É evidente, que nesta eleições esta diferença não está devidamente realçada, nem pelos media, que não estão interessados nisso, nem pelos próprios, Bloco e PCP, em que cada um por seu lado concorre nas respectiva bicicleta. Espero que no futuro e perante as expectativas que ameaçam o povo português estas duas forças, agregando à sua volta todos aqueles que se opõem à troika estrangeira, consigam transformar-se num pólo alternativo, com força suficiente para mudar o rumo das coisas.

Não queria terminar sem, no entanto, especular um pouco sobre os cenários possíveis e desejáveis no pós-eleições. Sou defensor que o PSD ganhe por muito poucos e não consiga com o CDS estabelecer uma maioria absoluta. Que o PS perca, mas que haja uma maioria dita de esquerda na Assembleia da República. Nada disto é impossível de suceder. As sondagens permitem tornar verosímil este cenário.

Qual era a vantagem disto? Era tornar impossível a criação de um Governo de direita, mas por outro lado obrigar o PS a verdadeiramente se confrontar com a sua derrota e possivelmente substituir José Sócrates, o que seria um bem para todos, e a cair, para cabal esclarecimento da esquerda que claudicou (ver o meu post), nos braços do PSD, para fazerem o bloco central. - Já se sabe que eu não acredito nas palavras de Manuel Alegre que defende que o PS se perder deve passar à oposição -. Um Governo assim teria muito pouca estabilidade e permitiria a qualquer momento derrubá-lo.

Resta acrescentar que o meu maior desejo é que o Bloco mantenha os 16 deputados que tinha e que fizeram um bom trabalho e que por óbvias razões irei votar Bloco de Esquerda.

PS.: Imagem de Os quatro cavaleiros do Apocalipse, de Albrecht Dürer (1471-1528). Quadro de 1498. Os quatro cavaleiros são a peste, a fome, a guerra e a morte.

25/05/2011

Eduardo Galeano- A verdade sobre a globalização capitalista



Enviaram-me esta interessante intervenção de Eduardo Galeano, um grande escritor uruguaio, autor dessa importante obra, que Chavéz ofereceu a Obama, As veias abertas da América Latina (1971). Há uma tradução portuguesa nas Edições Dinossauro.
Gostava que as boas almas que estão sempre prontas a enviar frechadas a Hugo Chávez ouvissem com atenção o que este magnífico narrador nos conta dele e da Venezuela actual.

18/05/2011

Contra a ingerência da da UE/FMI - Outro rumo é possível




19 DE MAIO, MANIFESTAÇÕES EM LISBOA E PORTO - NÃO AO “ACORDO”

Amanhã, dia 19 de Maio, a partir das 14.30 horas, em Lisboa e no Porto, a CGTP-IN promove duas grandiosas manifestações contra o “acordo” entre a troika e o governo do PS, com o apoio dos partidos da direita, PSD e CDS-PP.

Contra a recessão e o aumento do desemprego, das injustiças e das desigualdades, contra os cortes nos salários e nas pensões e o aumento brutal do custo de vida, a CGTP-IN apela à participação de trabalhadores, desempregados e população portuguesa nas manifestações marcadas para o Porto (com concentrações marcadas às 14.30 horas para as Praças dos Leões e da Batalha) e em Lisboa (com concentração marcada às 15.00 horas para o Largo do Calvário).

Manuel Carvalho da Silva discursará por volta das 16.30 horas, em Belém, Lisboa e João Torres, por volta das 16.15 na Avenida dos Aliados, Porto.

11/05/2011

A ofensiva neo-liberal, a esquerda que claudicou, e os salvadores da Pátria - II

Neste post irei dedicar-me àquela esquerda, provavelmente exígua, mas com algum acesso aos meios de informação, que há muito clama por um Governo PS, Bloco e PCP. Esquecendo quem é que comanda o PS, porque acha que não se deve imiscuir no assuntos internos dos outros partidos, se é José Sócrates ou aquela a que se convencionou chamar a ala esquerda do PS, que em determinada altura teve em Manuel Alegre o seu porta-voz.

O percurso daquela esquerda é variado e as personagens que a constituem provêm de diferentes sensibilidades políticas, todas de esquerda evidentemente. Por isso, limitar-me-ia a escrever sobre os factos mais recentes, já que em outras ocasiões, lhes fiz a crítica devida.

Aquando da apresentação da moção de censura do Bloco, ao Governo do PS, esta esquerda não esteve parada. Prevenia os incautos contra os perigos de se derrubar um Governo de centro-esquerda para o substituir por um de centro-direita. André Freire, um dos ideólogos desta corrente, veio clamar mesmo pela formação de um novo partido já que o Bloco não correspondia àquilo que se esperava dele, ser um auxiliar precioso da governação socialista, no fundo, ser a muleta do PS.

Mas as palavras de Freire não caíram em saco roto, rapidamente um grupo de cidadãos, diria que são sempre os mesmos, reúne-se e eis que surge um novo Manifesto, denominado por uma Convergência e Alternativa. Submetem pois “à consideração do PCP, do BE, e do PS, dos respectivos responsáveis mas também dos seus eleitores” as considerações que acima explanaram, “com um único objectivo: através do diálogo e do debate alcançar uma convergência política que possa oferecer aos Portugueses uma forte alternativa de esquerda.” No meio destas piedosas intenções não se esquecem de atribuir culpas ao Bloco e ao PCP, por o PCP e o BE não terem “ousado avançar para as próximas eleições com uma grande coligação das esquerdas através da mobilização de activistas dos movimentos sociais e de personalidades diversas representativas de sectores progressistas da sociedade portuguesa”. Mas a seguir isentam o PS de qualquer culpa ao manifestar “que não basta denunciar a submissão da actual direcção do PS às políticas de austeridade exigidas pelos mercados financeiros e pela UE. Sobretudo, é preciso que as restantes esquerdas aceitem iniciar um processo de convergência tendo em vista produzir uma alternativa política suficientemente credível para que, no futuro e sob pressão do eleitorado, o PS reconheça que tem um interlocutor com quem pode fazer um acordo político para tirar o País da crise.”

Paralelamente, a Associação Política Renovação Comunista pronuncia-se sobre o momento político  actual afirmando a dada altura que “não é esta a altura de discutir as condutas na última legislatura, sobre as quais a História por certo fará um dia a sua avaliação. Não é altura de discutir as divergências e os cálculos que motivaram a queda do governo do Partido Socialista sem cuidar das condições ulteriores de reforço à esquerda da correlação de forças e precipitaram o pedido de intervenção do FMI”. Depois de passar uma esponja em branco sobre a Governação socialista, restam-lhe as piedosas intenções de esperar que “o Partido Socialista e o conjunto da esquerda, à luz da Constituição da República que a direita visa anular, honrem a sua natureza de forças construtoras de uma democracia política, económica e social ao lado das classes trabalhadoras e das classes intermédias.”

É que bom que se diga que grande parte dos subscritores do referido Manifesto pertencem igualmente à direcção da Renovação Comunista.

Que conclusões tirar das posições desta esquerda que, no seu afã, sempre louvável, de manter a unidade de esquerda, considera o PS no seu conjunto como um partido de esquerda e acha que é possível, neste momento, um entendimento com aquele partido, quando o programa de ajuda externa já foi aprovado por Sócrates e propagandeado por este como bom.

Hoje, compreende-se que o separar de águas é entre aqueles que se preparam para resistir à troika e aqueles que a aceitam de bom grado, afirmando que conseguiram negociar um bom programa. Nesse sentido, podemos dizer que aquela esquerda claudicou, apesar de manter uma linguagem crítica em relação àquilo que nos querem impor, pensa que é possível dormir com o inimigo, acreditando que se a esquerda, à esquerda do PS, fizesse um esforçozinho este viria às boas dialogar com ela. Quando o que está neste momento em causa é trazer todos aqueles que no PS ou fora dele estão interessados em formar um pólo alternativo à aceitação das imposições da troika.

Penso que este problema é a contradição principal dos dias hoje e que a proposta de um Governo de Esquerda, do Bloco, ou Patriótico e de Esquerda, do PCP, apesar de não serem para já, podem ser, se tiverem pernas para andar, uma alternativa no futuro, muito mais alargada, é certo, a esse centrão medíocre e liberalizador que todos à compita nos querem impor.

Quanto aos salvadores da Pátria ficará para post posterior, porque hoje já são  muitos os candidatos.

08/05/2011

A ofensiva neo-liberal, a esquerda que claudicou, e os salvadores da Pátria - I

Por razões várias, não tenho escrito nada. Quando penso postar qualquer coisa relativa à espuma dos dias eis que já passou tanto tempo, que aquilo que queria dizer perdeu toda a actualidade. Por isso escreverei sobre um assunto que nos irá ocupar durante longos e penosos anos.

Já deu para perceber que o “acordo” que Portugal subscreveu com a chamada troika é composto por duas partes, a primeira que visa transferir forçadamente dos nossos bolsos uma soma considerável de dinheiro para os bancos e os agiotas internacionais. É a parte do aumento dos impostos, do corte das pensões, da impossibilidade de deduzir despesas com a saúde e outras no IRS. É também o aumento da electricidade e dos transportes e, para não ser exaustivo, mais um conjunto de horrores que tornarão a nossa vida num inferno. A segunda parte, que delicia, os nossos políticos, desde o PS ao CDS, que consiste naquilo que eles há muito tempo chamam as reformas estruturais, mas que no fundo não passam da desregulamentação neo-liberal da nossa estrutura económica, acima de tudo da já frágil e débil regulamentação do trabalho, tornando-a mais flexível e permitindo aos patrões despedir por menor preço e à segurança social pagar menos, e durante menos tempo, o subsídio de desemprego. O que é que isto significa? Que o trabalhador amocha perante o patrão para não ir para a rua e aceite trabalhos degradados para não ficar completamente descalço, sem qualquer subsídio. É o reino do salve-se quem puder, em que os patrões terão a faca e queijo na mão.

Contra esta barbárie civilizacional os três partidos, daquilo que a imprensa dominante classifica do arco governamental, apressaram-se, à compita, a dizer que foram eles os responsáveis por tão ignóbil compromisso e que tinha sido devido à sua perseverança negocial que se tinha obtido um acordo tão “favorável”. Foi ver a triste figura de Sócrates a dizer o que o acordo não era e Catroga, nervoso e a suar por todos os lados, a garantir que o que de bom lá estava tinha sido da responsabilidade do PSD e dele. De seguida, o CSD assegura-nos o mesmo. Triste espectáculo.

Dito isto, o mais espantoso é que no conjunto de gente que é tocada por aqueles três partidos, principalmente no PS, não haja ninguém que se levante e diga que o rei vai nu, que o acordo é mau e que expresse a sua crítica às medidas propostas. O mais espantoso é que o aceitam. Acham que aqui e ali até nem se foi tão longe como eles desejavam, e que é gravoso para o povo português, mas era inevitável, porque se estava a viver, segundo dizem, acima das nossas possibilidades. Alguém viveu, que não fomos nós, os que dependemos diariamente do nosso trabalho.

Por tudo isto, o próximo governo será formado pelos três partidos que assinaram de cruz o acordo. Todos juntos ou aos pares, e as combinações possíveis são só mais três, lá estarão eles na disposição de garantirem que o acordo será aplicado.

Restam o Bloco e o PCP como resistentes. Cada um à sua maneira protestou, não falaram com a troika, e dispõem-se agora a lutarem contra as medidas propostas.

Aqui, direi eu, é que a porca torce o rabo. Por razões que têm a ver com idiossincrasias próprias, pelos eleitorados diferentes que tocam e no caso do Bloco pela franja ainda recente que abrange, tem-se a sensação, aumentada pelos media e comentadores, que não estão a conseguir aparecer como um frente unida contra estas medidas. É verdade que se está numa altura de conquistar votos, o que torna as coisas ainda mais difíceis. Mas parece claro que toda a esquerda, que está contra o acordo, todas as organizações sociais, neste caso os sindicatos, que se lhe opõem, não foram capazes de criar uma frente única contra esta situação. Antes do acordo proliferaram manifestos que hoje já ninguém recorda e em nada influenciaram o seu desfecho. Actualmente deveria haver uma frente única, com vozes de economistas, intelectuais e políticos que constituíssem a grande fronda que se opõe e luta contra o acordo. Ora nada disto está a suceder, na esquerda está cada um para seu lado, isto para já não falar daquela que claudicou e continua a sonhar, em condições completamente diferentes, com um governo de esquerda, PS, Bloco e PCP, tal Carmelinda Pereira, ressuscitada ao fim de trinta anos.

Mas isto fica para novo post.