29/05/2009

Ascensão e queda dos self-made men


Pacheco Pereira quando andava zangado com o PSD, no tempo de Santana Lopes, escreveu um post em que valorizava o passado do seu partido perguntando: “O que é o PSD sem as suas figuras públicas que ainda conseguem falar para a universidade, para os jovens, para os empresários, para os sectores mais dinâmicos da sociedade? O que é o PSD sem os self made man que o fizeram, em vez dos assessores, dos mil e um detentores de cargos de nomeação estatal ou autárquica, sem profissão que não seja o partido?”
Poucos dias antes das eleições de 2005, em que o PSD sofreria uma das suas maiores derrotas eleitorais, escrevia no Público o seguinte: “desde meados dos anos 90, o partido perdeu o contacto com as forças vivas do seu eleitorado natural e nacional, os self-made-man de hoje, nas universidades, nas empresas, na vida pública, a favor de uma "autarcização" de todas as suas estruturas.”
Num outro blog, num texto um pouco recente, debita a melhor definição para este tema: “Foi esta composição que permitiu a classificação do PSD como partido dos self made man, gente independente do estado, que tomava conta da sua vida e que queria “progredir”.
Os textos referidos são bem elucidativos daquilo que quero provar. O PSD seria o partido dos self-made men, gente que se fez a si própria sem os favores e as sinecuras do Estado. Eram os heróis de Pacheco Pereira, quais novo pioneiros do Far West, que desbravavam novos territórios e cresciam com a Nação. À míngua de novos paraísos, estes ideólogos da direita embelezam e falsificam a realidade para a poder apresentar como estando de acordo com aquilo que gostariam que fosse. Para Pacheco Pereira o PSD seria o partido dos empreendedores nacionais, enquanto o PS recrutaria a sua clientela nos funcionários públicos, gente dependente do orçamento e incapaz de enriquecer por si própria.
Exemplos recentes vieram provar como tudo isto era diferente e que os self-made men do PSD, os Oliveira e Costa e Dias Loureiro, sempre se aproveitaram do Estado para à sua custa arranjarem uma teia de conhecimentos e de empenhos que lhes permitiu saídos da vida política, ou sempre a ela estando ligados, ir enriquecendo na actividade privada, até ao ponto de rebentarem, tal foi empanzinarmento que os vitimou.
Hoje torna-se claro que os responsáveis dos partidos do arco dito governamental vão alternadamente passando pelos Governos e vindo posteriormente a ocupar lugares nas empresas privadas. O caso de Jorge Coelho, Armando Vara, do PS, os dois já referidos do PSD ou Celeste Cardona do CDS, são bem o exemplo dos self-made men da sociedade portuguesa e aqueles que o Pacheco Pereira apontava como heróis. Se o fim dos do PSD é triste, porque a crise trouxe ao de cima todas as contradições do sistema, ainda estamos para ver o que irá acontecer a alguns dos outros. O Sócrates que se cuide.

PS.: Pacheco Pereira no seu ódio visceral ao Bloco de Esquerda, bolçou hoje na Quadratura do Círculo mais umas aleivosias contra aquele Partido, na continuação de um texto publicado no Público, esse muito mais perigosos e que merecia uma reflexão crítica maior, assim descubra o texto e tenha paciência para o analisar.
PS. (04/06/09)
: chamaram-me a atenção, e bem, para que o plural de self-made man era self-made men. Por isso fui corrigir esse termo nos locais onde o termo era da minha lavra. No entanto, quando nas transcrições que fiz ele está no singular, não quis alterar a vontade do autor e deixei ficar de acordo com o original.

10/05/2009

A “bem-pensância” nacional. O bloco central.


Regressado, por momentos, à blogosfera, assisti este fim-de-semana a dois programas de televisão que marcam duas maneiras de encarar a realidade.
O primeiro foi o Expresso da Meia-Noite. Este programa representa, no pequeno universo da SIC Notícias, o conformismo e a "bem-pensância" nacionais. Traduz para televisão aquilo que o Expresso é na vida política nacional, um jornal conservador, acantonado ao pensamento dominante, sempre a apelar aos valores do bom-senso e da moral, incapaz de apresentar qualquer renovação na sua forma de pensar.
O último programa confirmou isto mesmo. Duas jornalistas de direita, muito “bem”, Teresa de Sousa e Maria João Avilez, e dois políticos na reforma, Rui Machete e Alfredo Barroso, a falarem do bloco central, o que foi chefiado por Mário Soares (1983-1985) e o que é actualmente proposto.
Maria João Avilez falou do papel patriótico desempenhado por aquele Governo, de que Rui Machete chegou a ser Vice-primeiro-ministro e Alfredo Barroso, Chefe de Gabinete do Primeiro-ministro. Percebia-se que era a favor de uma solução semelhante para o presente. Teresa de Sousa igualmente. Rui Machete também. Só Alfredo Barroso destoava e falava abertamente de uma coisa que ele afirmava que o PS há muito se tinha esquecido que era o debate sobre a política de alianças, admitindo que as podia fazer com a sua esquerda. Coisa que horrorizou as presentes. Teresa de Sousa, com uma linguagem típica da Guerra-Fria, falava como era possível admitir no Governo partidos que eram contra a NATO. E mais, sem perceber, que os tempos já não estão a favor do neo-liberalismo dominante e que há uma crise da economia capitalista, manifestava todo o seu horror e o ridículo que seria meter hoje no Governo partidos como o Bloco de Esquerda ou o PCP. Rui Machete gritava como seria possível incluir um partido que cometia a heresia de pedir a nacionalização da electricidade. E falava dos disparates do Bloco. Maria João Avilez garantia que o único referencial da actualidade era Cavaco Silva. Lá estava Alfredo Barroso, que se comportou à altura, dizendo que era um verdadeiro social-democrata, que ainda mantinha os mesmos ideais da juventude, piada à Teresa de Sousa que tinha passado pelo maoismo, e acusando a direita em Portugal de ser a responsável por impedir qualquer solução política à esquerda. Aqui, digo eu, com grande responsabilidade do PS. E acusando a imprensa portuguesa de ser hoje dominada pela direita. Bati palmas.
Mas concluindo, um programa terrivelmente monótono, com três direitinhas, contra um de esquerda. Uma moderação fraca ou a ajudar à festa, incapaz de realizar uma verdadeiro debate entre correntes de opinião representativas do espectro partidário e ideológico da sociedade portuguesa.
O segundo programa foi o Eixo do Mal, que corre ao Sábado naquela estação. Este é mais matizado. Já várias vezes tenho aqui descrito as preferências político-ideológicas de cada um dos intervenientes. Achei interessante a propósito do bloco central, que também foi discutido neste programa, que as posições fossem todas contra. Mas acima de tudo acho que Clara Ferreira Alves, num ataque de lucidez, deu uma ideia bastante interessante do papel desempenhado hoje pelo Bloco de Esquerda, que merecem alguma reflexão. Assim, garantia que o êxito do Bloco, que segundo ela corresponderia a uma caso de estudo, na tradução portuguesa da expressão inglesa que ela utilizou, resultaria não dos temas fracturantes propostos por aquele partido, nem de uma viragem à esquerda do eleitorado, mas sim da sua posição contra a corrupção, a roubalheira, os vícios dos outros partidos e da sua acomodação aos interesses instalados. Incitava mesmo o PS a estudar este êxito, que ela considerava que era por culpa deste partido e da sua incapacidade para fazer diferente que nascia o sucesso do Bloco.
Daniel de Oliveira não se opôs às suas palavras, no entanto, considerou, e bem, que o tema do Bloco Central tinha surgido na sociedade portuguesa, principalmente através dos representantes do patronato e dos seus apaniguados (vi numa análise da imprensa, também na SIC Notícias, Martim Avillez Figueiredo, director do novo jornal i, a defender esta saída política), porque a esquerda, à esquerda do PS, estava a subir significativamente e aquele partido iria perder a sua maioria absoluta. Portanto, era bom que o PS não tivesse qualquer veleidade de se aliar à esquerda, mas sim de o fazer à sua direita. Daniel insistia mesmo que quanto mais se falasse do bloco central, mais cresceriam o Bloco e o PCP.
Estes dois exemplos, que nem sequer são representativos, servem pelo menos para ilustrar como a expressão de opiniões mais diversificadas, e se possível mais inteligentes, tornam os programas mais interessantes evitando a monotonia e o desinteresse. Mas isto é um voto piedoso de alguém que tem consciência que estas coisas não dependem da boa vontade dos programadores mas de quem paga e de quem, em última instância, determina os conteúdos.

03/05/2009

Três histórias do PS e uma justificação pessoal


Três acontecimentos recentes relacionados com o PS vieram sem sombra de dúvida colocar este Partido ainda mais na ribalta. Podemos dizer que teve direito a maior tempo de antena, apesar de na maioria das vezes ser pelas piores razões.

A primeira história tem a ver com o aparecimento de crianças de uma escola do primeiro ciclo de Castelo de Vide no tempo de antena do PS a fazerem publicidade ao computador Magalhães sem autorização, para esse fim, dos pais. Já se sabe que a Ministra lamentou, o Governo sacudiu a água do capote e Sócrates pede desculpa aos pais da crianças filmadas.
Estes são os acontecimentos, mas já temos a versão da produtora que realizou as filmagens, garantindo que nunca disse que era do Ministério.
A história está mal contada, parece que ninguém quer assumir as responsabilidades e que não basta um pedido de desculpas do Sócrates aos pais das crianças para se resolver o problema.
Parafraseando Vitalino Canas, que a seguir aos acontecimento do 1º de Maio com Vital Moreira, garantia que o PCP tinha criado o “caldo de cultura” responsável por aquelas manifestações de intolerância, assim, diria eu, que o PS criou com as suas permanentes acções de propaganda, misturadas com a sofreguidão com que progressivamente se vai apoderando do aparelho Estado, uma situação como a que se verificou no tempo de antena, em que já não se consegue distinguir entre o Ministério da Educação e o PS e o que é propaganda, de um documentário educativo sobre o aproveitamento útil de um computador.

A segunda história tem a ver com o interrogatório por Inspectores do Ministério da Educação a alunos e professores da Escola Secundária de Fafe que arremessaram ovos à respectiva Ministra, quando ela passou pela escola.
Manuel Alegre, e bem levantou a voz no Parlamento contra o tipo de interrogatório que estava a ser feito. O Sindicato dos inspectores veio reclamar que não se assemelhava à PIDE e que ao comparar a sua actividades com daquela polícia política se estava a banalizar esta. Sendo verdade isto, pareceu-me no entanto a reacção sindical bastante corporativa, ou seja, defensora do indefensável.
Ao proceder como tem sido relatado pela imprensa parece-me que os Inspectores estão a fomentar a delação e a tentar provar que por detrás das manifestações de estudantes está a mão tenebrosa, já não de Moscovo, mas do Sindicato dos Professores.
Ainda no tempo do fascismo, quando fui professor no Liceu de Almada, fui encarregue de fazer uma inquirição a uma aluna que tinha participado numa manifestação dos estudantes liceais em Lisboa e tinha sido presa e identificada. A PIDE ou a polícia, já não me lembro, tinham enviado uma participação para a escola para que a aluna fosse ouvida, e eu, como director da sua turma, fui encarregue de o fazer. Já se sabe que todo o inquérito foi feito no sentido de desculpar a aluna, tendo-se estabelecido grande cumplicidade entre mim e a inquirida. Hoje passados, 35 anos do 25 de Abril, Inspectores ao serviço dos interesses da Ministra do PS interrogam alunos fomentando a delação e procurando os cabecilhas ocultos da conspiração. Tristes tempos estes que vivemos.

A terceira e última história tem a ver com os assobios, os apupos e com alguns safanões de que Vital Moreira foi vítima no 1ºde Maio, na manifestação da CGTP.
Gostaria de lembrar aos mais desprevenidos que no 25 de Abril de 2007, quando subi em nome da Renovação Comunista ao palanque que estava instalado no Rossio fui assobiado, como foi o Edmundo Pedro, o representante da JS e parece que mais alguém da UGT. Portanto conheço o sectarismo, neste caso, dos meninos da Juventude Comunista. Não tenho por isso motivo para estranhar o que se passou.
Sei que este assunto percorre a blogosfera com as mais variadas opiniões. Só queria destacar, como prova do maior sectarismo, que ultrapassa o do PCP, esta prosa de uma tal Rui Pena Pires, no Canhoto, que a despropósito acusa Manuel Alegre: “Sempre pronto a denegrir como autoritários actos dos seus adversários políticos, parece conviver pacificamente com a manifestação inequívoca do autoritarismo quando protagonizado por amigos de conveniência. Esclarecedor.”
Neste caso, queria também lembrar que foi Ferro Rodrigues que iniciou estes cumprimentos do PS aos dirigentes da CGTP durante a manifestação do 1º de Maio. Até é provável que todos os anos a CGTP envie um convite ao PS para estar presente, visto haver um sector daquele partido na direcção da Central. Por isso, no ano em que Ferro Rodrigues se deslocou à manifestação o significado da sua presença foi importante, reforçando na altura o desejo de unidade e de luta contra o Governo do Durão Barroso. Depois nunca mais, que eu me lembre, alguém do PS apareceu. Este ano pelos vistos Vital Moreira e Ana Gomes foram até lá. É claro que o objectivo não era fortalecer a unidade, nem a luta comum contra o Governo de Sócrates, era pura e simplesmente fazer propaganda eleitoral e aparecer na fotografia ao lado de Carvalho da Silva. Sobre isto não podemos ter dúvidas.
Vítor Dias lembra, e bem, que na véspera saiu uma notícia no Público a indicar que a delegação do PS se encontraria com a CGTP no Rossio, e não na praça da Figueira, às 14h30. Confirmou depois que esta notícia provinha do próprio PS. O que levou Vital Moreira a mudar o lugar do encontro, não sabemos.
Conhecemos bem na vida política nacional e internacional o que são as provocações e o que na maioria dos casos o que pretendem. A pressa com que Vital Moreira se apoderou da situação, dizendo que já tinha a sua Marinha Grande deve-nos levar a pensar.
No entanto, apesar destas ressalvas, não tenho a mais pequena dúvida, e os meus textos sublinham bem isso, de que o PCP tem como linha política dominante um comportamento absolutamente sectário . Mas, “o caldo de cultura” de que fala Vitalino Canas está fundamentalmente a ser alimentado, não pelo PCP, mas pelas atitudes e práticas do PS, enquanto Governo, de que o Código de Trabalho é a expressão mais visível.

Para terminar, devo algumas explicações aos meus leitores. Fui avô o que dificultou por algum tempo a minha intervenção neste blog. No entanto, não é esta, neste momento, a razão do meu maior espaçamento. Durante algumas semanas terei que fazer um tratamento em Madrid. Para aqueles leitores que gozavam com as minhas lombalgias, informo que a situação é bem mais grave. Depois, darei notícias.