30/04/2011

Contra as injustiças. Mudar de Políticas


Amanhã, desfile entre o Martim Moniz e a Alameda.

25/04/2011

Quando se usa a posição dominante nos media para criticar o partido a que se pertence

Vem isto a propósito da intervenção de Daniel de Oliveira no último Eixo do Mal.

Mas comecemos por aquilo que está relacionado com o post anterior, a tolerância de ponto. Também neste programa os comentadores residentes se atiraram como gato a bofe à tolerância de ponto concedida pelo Governo aos funcionários públicos. Pedro Marques Lopes chegou a afirmar que um sindicalista dos quadros técnicos tinha criticado essa decisão. Ora esse sindicalista é Bettencourt Picanço, da direcção do PSD. Era natural que tomasse essa posição, já que o seu partido fizera o mesmo. Depois chegou-se a sugerir que os outros sindicalistas tomassem igual posição e os dislates continuaram por aí fora. Tenho para mim que esta gente não percebe o que está em jogo.

Quando um funcionário entra para a administração pública tem um certo número de regalias e um certo número de deveres. Apesar de hoje as formas de contratação na função pública serem muito diferentes do que eram no meu tempo, sei que não existe nenhum contrato colectivo de trabalho entre os funcionários e o patrão-Estado, é a legislação que regularmente vai sendo produzida, com a consulta, muitas vezes formal, dos órgãos representativos dos trabalhadores, que rege as suas regalias e deveres. Por isso o Estado não pode ter para os funcionários público mais dias de descanso do que estabelece a legislação geral. Pelo contrário, um Contrato Colectivo de Trabalho, na parte que regula os dias de descanso dos trabalhadores, pode ter maior ou menor número do que aqueles que são estabelecidos por lei. E há ainda os contratos de empresa e as práticas das empresas. Sei que no sector bancário também é concedida a tarde de Quinta-feira Santa e igualmente a véspera de Natal. Ora bem, um funcionário público sabe que ao longo dos anos lhe têm sido concedidos esses dias. Não faz parte do seu contrato, porque não o têm, mas o normal é verificar-se, e este normal tem-se registado sempre. Como eu dizia a minha memória chegava aos anos 50.

Só ultimamente, com a demagogia que assola os Governos, as oposições e os media é que aquilo que era um facto de gestão corrente da administração pública, se transformou, num caso nacional que merece sempre os comentários sarcásticos dos media, e muitas vezes das oposições e desta vez até de uma funcionária do FMI.

Penso que sobre este assunto fui claro, apesar de não ser jurista.


Quanto ao título que encabeça o post só me limitaria, para não azedar as excelentes relações estabelecidas no grupo Manifesto, uma das associações políticas que compõem o Bloco de Esquerda, a dizer o seguinte. Parece-me que cada um dos comentadores tem a possibilidade de escolher os temas a tratar em cada programa. Daniel de Oliveira deve de certeza ter escolhido o tema a posição do Bloco perante a invasão da Líbia, num programa anterior, e agora este sobre a recusa do PCP e do Bloco em “negociar” com o a troika. Digo isto porque em qualquer deles foi unicamente o Daniel de Oliveira que falou, os outros comentaristas limitaram-se a “mandar as bocas” costumeiras, sem terem nada a acrescentar àquilo que Daniel de Oliveira disse. No primeiro caso até nem se estava a perceber a quem se referia Daniel de Oliveira e foi Pedro Marques Lopes que esclareceu que ele se referia ao Bloco de Esquerda.

No fundo foi o Daniel que escolheu os temas, o que não é simpático para o Bloco.

Acrescentaria só mais uma coisa, como o próprio Daniel de Oliveira disse, não se está neste momento a tratar de uma negociação, a troika só está a ouvir para formular uma política para Portugal. Daniel de Oliveira chegou mesmo a ridicularizar o PSD por pensar que estava a negociar. Mas no caso do Bloco e do PCP, mudou rapidamente de opinião e citou Lenine, quando este teria dito que até com o Diabo negociava para salvar a Revolução e de facto fê-lo, ao assinar com os alemães um tratado de paz que era quase a confissão de uma derrota nacional. Mas fê-lo e salvou a Revolução. Mas aqui, com diz Daniel de Oliveira, não se está a negociar, simplesmente a informar o inimigo das nossas posições. Parece-me desinteressante fazê-lo. Simplesmente acho que isto é discutível, ou seja, tudo se discute, mas só o devemos fazer quando há contraditório, estarmos a pô-lo em prática, sabendo que o nosso partido não tem as mesmas possibilidades de o concretizar, nem o acesso privilegiado aos media que o Daniel tem, não me parece justo. E mais não digo para não azedar as relações.

23/04/2011

Demagogia ordinária

Tenho estado doente e por isso não tenho escrito nada. No entanto, não resisti em postar sobre a demagogia ordinária que ataca os comentadores de serviço, os jornalistas à procura de louvores, o chefe do PSD em busca de mais votos e até uma portuguesa ao serviço do Império, que quer morigerar os hábitos dos indígenas locais, como nos gosta de tratar, com desprezo, Vasco Pulido Valente. Em que consiste a dita demagogia? Garantir que o país seria muito mais feliz se acabasse de vez com os feriados, mas acima de tudo com essas malfadadas tolerâncias de ponto que só servem para criar maus hábitos à tribo nacional (ainda segundo VPV), levando-a à preguiça e contagiando, por arrastamento, todos os bons trabalhadores do privado.

Esta história já é antiga. Todos os anos uma televisão mais atenta aos gostos do patrão indica, logo no início de um novo ano, em que dias calham os feriados, as pontes que se podem fazer e como isso contribui para a ruína do país. Já houve partidos que como mote para a campanha eleitoral propunham a redução do número de feriados. Parece-me que um deles foi o Partido Popular Monárquico, que de certeza queria acabar de vez com o 5 de Outubro.

Todos os anos, as centrais patronais vêm à carga com este tema. Cavaco Silva chegou a ter pronta legislação que colocava todos os feriados à segunda-feira. Parece que era o que se fazia no Reino Unido. O que permitia que o 25 de Abril se comemorasse a 24. Mas como a Igreja não achou bem – datas religiosas são para cumprir em dia certo – e Mário Soares, então Presidente da República, num acesso de lucidez, achou que o significado dos feriados não se devia modificar, lá foi por água abaixo o tal decreto-lei. O que não invalidou que Cavaco, num excesso de amor ao trabalho, não tenha anulado em 1993 a tal tolerância de ponto no dia de Carnaval, o que lhe valeu, como se sabe, uma considerável perda de popularidade.

Mas voltemos ao que estava em jogo nesta Páscoa. Há dezenas de anos, que, segundo o que a minha memória abarca poderá chegar aos anos 50, ainda em pleno fascismo, sempre houve tolerância de ponto na tarde de Quinta-feira Santa . Isto porque sendo eu filho de funcionários públicos e tendo toda a minha vida trabalhado na função pública, me recordo bem dos dias em que os meus pais estavam em casa e depois dos dias em que podia partir para umas mini-férias da Páscoa. Segundo, lembro-me igualemente de ouvir à minha mãe dizer que Salazar dava tolerância de ponto na tarde de quinta-feira, mas tinha suprimido o feriado de Sexta-feira Santa, pois achava, tal como hoje, que em dia de penitência não se podia permitir que os trabalhadores ficassem em casa a divertir-se. Parece-me que foi Marcelo Caetano que atribuiu o feriado de sexta-feira santa aos trabalhadores portugueses.

Nessa altura, tal como agora, havia tolerância de ponto em datas excepcionais, que o governo queria celebrar, como, por exemplo, a visita de Isabel II, de Inglaterra, e agora as visitas do Papa e na já referida tarde de Quinta-feira Santa e na véspera do Natal. Mais recentemente, penso que já depois do 25 de Abril, ficou à disposição dos governos darem tolerância de ponto no dia de Carnaval e com alguns Governos, mais perdulários, a atribuírem com critérios de 50%, mais do que um dia na época do Natal ou em algumas pontes. Este último caso que, com razão, gerou alguma controvérsia,  não tem sido ultimamente concedido, pelo menos com carácter oficial.

Mas voltemos à tolerância de ponto de quinta-feira. Como se sabe, não é só o Estado que a dá, os bancos fazem o mesmo, e são privados, e até o chefe da CIP, que criticou o Estado por o fazer, a deu aos seus funcionários, o que é normal em muitos serviços privados.

Normalmente também se compara esta generosidade do estado português para como indígena nacional com o que se passa nos outros países europeus, em que nós seríamos a cigarra e eles a formiga. Nos anos em que andei por Bruxelas habituei-me a ver de tudo, principalmente os funcionários da Comissão, que usufruíam de longe muito mas regalias que o indígena nacional.

Parece-me pois de grande demagogia, própria da época de terror neo-liberal que estamos a viver, querer acabar com a tolerância de ponto na quinta-feira, para nos porém a trabalharem mais essa tarde. A única justificação é amedrontar-nos tanto no presente, para que nos tornemos insensíveis às malfeitorias que aí vêm.

25 de Abril, sempre!


Defile do 25 de Abril do Marquês de Pombal para o Rossio, às 15 h

16/04/2011

A tropa fandanga que nos governa

Ouvi ontem, como e meu costume, a Quadratura do Círculo. Teve a vantagem de dar uma novidade e de ordenar um pouco melhor os meandros da crise política que envolveu o PEC IV.

Comecemos pelo princípio. Criou-se a narrativa de que José Sócrates tinha iniciado as discussões em Bruxelas sobre o PEC IV sem quase dizer nada a ninguém. Não falou na véspera, quando se discutia a moção de censura do Bloco na Assembleia da República. Parece que nessa noite tinha feito um curto telefonema a informar Passos Coelho do que iria suceder no dia seguinte em Bruxelas, mas não disse nada ao Presidente da República. Na sexta-feira, ao mesmo tempo que se apresentava o PEC IV em Bruxelas, Teixeira dos Santos dava uma conferência de imprensa em Lisboa. Segundo a narrativa que nos veio a ser contada pela maioria dos comentadores políticos, José Sócrates, ao ignorar os actores políticos, pretendia abrir uma crise política. Outros achavam que este comportamento tinha sido involuntário, que se devia só ao mau feitio do Primeiro-Ministro. O PS argumentava mesmo que tudo isto era uma questão de forma e que o principal era entabular negociações com os partidos. Houve mesmo artigos a garantirem que a democracia era uma questão formal e o comportamento do Primeiro-Ministro era grave. E entre estas duas interpretações estabeleceu-se uma guerra de palavras entre PSD e PS.

No fim-de-semana passado o Expresso trazia uma caixa em que dizia simplesmente que afinal não tinha havido só um telefonema de Sócrates para Coelho, mas sim uma reunião. Logo a seguir, entrevistando Passos Coelho, Judite de Sousa faz-lhe a pergunta directamente, ao que este responde que é verdade e lá perdemos um dia com os dois partidos, PS e PSD, a insultarem-se. O primeiro dizendo que afinal tinha havido reunião e o segundo a desvalorizar a importância dessa reunião e das informações aí prestadas.

Mas o que é que ontem foi confirmado no programa da SIC Notícias, que Miguel Relvas, do PSD, tinha na manhã da conferência de imprensa apoiado as medidas do PEC IV e Pacheco Pereira afirmou que tinha havido um SMS dirigido aos deputados do PSD para que não fizessem comentários até ao fim do dia da reunião em Bruxelas, para não a prejudicar. Depois também se confirmou que na noite de sexta-feira, Marco António, vice-presidente do PSD, teria dito numa reunião que ou Passos Coelho escolhia ter eleições no país ou tinha eleições no Partido, tendo o líder do PSD preferido eleições no país.

Conclusão desta história. Toda a narrativa que nos foi contada, de Sócrates na sombra a esgueirar-se para Bruxelas e não dizer nada a ninguém é uma mentira pegada. Afinal tinha ido falar com o outro parceiro com quem andou a dançar o tango.

Mas igualmente o que é espantoso é que, perante a mentira de Passos Coelho, dizendo que só tinha havido um telefonema sem importância, Sócrates não tivesse vindo desmentir a situação, deixando avolumar a crise. Só quando lhe foi útil é que resolveu esgrimir contra Coelho esse encontro. Estão pois bem um para o outro e o pior é que é o país está a sofrer. Por outro lado, isto mostra também como muitas vezes se escreve no ar e se inventam narrativas que se enquadram muito bem no discurso, mas que no fundo não correspondem à realidade.

Somos mesmo governados por uma tropa fandanga.

13/04/2011

Os problemas da unidade de esquerda: encontro Bloco-PCP. Resposta a uma politóloga.

Num post  anterior falei dos problemas da unidade da esquerda, gostaria neste de abordar a recente reunião entre Bloco e PCP. Sucede que entretanto apareceu no Público, de ontem, sobre o mesmo tema, um texto de Marina Costa Lobo (MCL), que assina como professora do ICS-UL, mas que muitas vezes é apresentada como politóloga, ou seja, como comentadora política.

Tenho para mim que esta nova classificação dos comentadores políticos em politólogos é uma mistificação. Pretende-se com isto dar um carácter científico e imparcial a quem pura e simplesmente, baseando-se nas suas opções ideológicas e partidárias, pretende influenciar os seus concidadãos. Os politólogos por serem profissionais do estudo da política estão melhor informados do que qualquer outro cidadão interessado na coisa pública, não deixam, no entanto, de reflectir as suas opções político-ideológicas.

Por isso, o artigozinho de MCL não é mais do que uma opinião de direita sobre as posições do Bloco e do PCP. Servir-me-ei delas, criticando-as, para falar daquele encontro.

Resume MCL a reunião a uma estratégia que visaria um pacto de não-agressão e um ataque concentrado ao PS. Os seus objectivos seriam eleitorais e motivados por razões ideológicas. A sua causa mais imediata seria o pedido de ajuda externa feito por Sócrates e também o abandono definitivo por parte do Bloco de um “posicionamento moderadamente pró-UE”.

Logo aqui gostaria de fazer alguns comentários. Tal como afirmei no post referido a estratégia unitária do Bloco tinha privilegiado até determinada altura uma aliança com a esquerda do PS e os independentes que, em certo momento, povoaram a candidatura de Alegre e que constituíram o MIC. Como se viu, Alegre foi derrotado nas últimas eleições, a esquerda do PS regressou ao aprisco partidário, restam, no entanto, muitos independentes desorientados, sem saber o que fazer e para os quais André Freire recomendou a formação de um novo partido, o Bloco tem que lhes dar uma nova perspectiva e essa será sem dúvida diferente. Por isso, secundando alguns apelos de gente de esquerda, achou por bem, na continuação de uma constante aproximação na Assembleia da República, fazer uma diligência de reunião junto do PCP. Se isto visa um pacto de não agressão? Ainda é cedo para sabermos, mas é um disparate dizer que pretende ser um ataque concentrado ao PS. Pretende ser uma resposta de esquerda às políticas que o PS e a direita estão a desencadear em Portugal. Neste aspecto, para lá da retórica comicieira do PS, estes dois partidos apresentam-se como possível fonte de alternativa e resistência contra as medidas do FMI e do Banco Central Europeu.

No entanto, esta reunião não foi de modo algum uma resposta ao pedido de ajuda externa de Portugal. Como se sabe na segunda-feira da semana passada Sócrates garantia que tudo faria para não ter cá o FMI, quarta-feira aceitou a sua ajuda, por pressão dos bancos, sexta-feira reúnem-se os dois partidos. Estará convencida MCL que entre quarta-feira, dia do pedido de ajuda, e sexta os dois partidos combinaram encontrar-se. Como é público, a notícia desta reunião é muito anterior ao pedido de ajuda. Isto é uma das mentirolas que povoam todo o artigo. A seguir vem outra como seja o abandono da posição moderada do Bloco pró-EU.

Quem esteja minimamente a par das posições do Bloco sabe que este tem uma posição pró-europeia, mas defende uma outra Europa. Por isso está filiado no Partido da Esquerda Europeu, que luta por uma Europa solidária e não por uma UE conservadora e neo-liberal. Esta posição alterou-se só na cabeça de MCL. Há outros partidos de esquerda, como o Partido Comunista Grego, que tem uma posição claramente contra a UE, por acharem que a luta política se desenvolve em cada um dos países e não no seu conjunto. Sem querer desvirtuar a posição do PCP parece-me que se assemelha, apesar de não ser igual, à do PCG.

Segundo MCL, o Bloco e o PCP “decidiram não se rivalizar para melhor susterem o impacto de um potencial voto útil à esquerda”. Depois faz comparações entre as eleições de 2002, em que ganhou Durão Barroso, com as que se vão realizar a 5 de Junho, garantindo que nas primeiras a soma dos partidos não ultrapassou os 10%, coisa que agora poderia suceder, dado as situações serem semelhantes. Verifica-se aqui uma clara manipulação de dados. Em 2002 o Bloco concorria pela primeira vez, a sua percentagem foi de 2,2%. Nada permite, mesmo as sondagens, garantir que uma situação destas se verifique. No entanto, temos que estar atentos à erosão do Bloco de Esquerda, fundamentalmente pela campanha descabelada contra este partido, de que este texto é já um exemplo.

MCL ressuscita igualmente os temas fracturantes que eram a marca de água do Bloco inicial. Não sei se ele cresceu à sombra disso, a verdade é que já na sua última campanha eleitoral, em que teve os melhores resultados de sempre, essa temática estava há muito secundarizada.

Depois enumera o conjunto de temas em que o Bloco e o PCP têm, segundo ela, posições ideológicas semelhantes. São descritas de seguida todas aquelas situações que os neo-liberais passam a vida a combater. Seriam contra a redução dos funcionários públicos (onde já ouvi isto) e as parcerias público-privadas. Por aquilo que eu sei, não são só o Bloco e o PCP que são contra, pelo menos em palavras, o CDS e o PSD também. Seriam igualmente, pasme-se, contra o saneamento das contas da saúde e a avaliação dos professores do ensino básico e secundário. Esta última medida também teve o apoio do CDS e do PSD. Se é nisto que as posições ideológicas do Bloco e do PCP são semelhantes, pobre politóloga que não enxerga mais nada do que a vulgata neo-liberal.

Depois aprofunda as diferenças em relação à Europa dizendo que o Bloco as abandonou, gostaria que apresentasse provas desta afirmação. Ela é pura e simplesmente gratuita.

A seguir ressuscita o PREC, de 1975. Lembrando aqueles que queriam uma democracia liberal e os que queriam enveredar por caminhos alternativos, esquerdizantes, alinhando com o Terceiro-Mundo a que o Bloco teria regressado. Onde é que isso já vai e quem agora ressuscita o tema só tem uma finalidade regressar ao velho atlantismo tão típico da direita portuguesa, sempre pronta a segregar aqueles que teriam veleidades de não concordar com a NATO.

Finalmente um conselho ao Bloco: ao alinhar com o PCP perderia as ambições governamentais e portanto assumir-se-ia simplesmente como um partido de protesto. Há quanto tempo esta gente vem dizendo isto.

Para terminar, que o texto vai longo, este encontro do Bloco com o PCP permite na actual situação juntar os únicos dois partidos que de facto se opõem consequentemente à entrada e ao esbulhamento de Portugal pelo FMI, pela Alemanha e acima de tudo pelas classes dominantes nacionais, que neste momento estão de braço dado com a intervenção estrangeira em Portugal. Belo tema para internacionalistas e patriotas: fica para outra vez.

12/04/2011

Em Abril, esperanças mil


O jantar em que se comemora o 25 de Abril. Para mais informações e lista da Comissão Promotora ver aqui

Ainda candidatura de Alegre e os problemas da unidade de esquerda

O meu amigo Brissos, da Essência da Pólvora desafiou-me, de acordo com uma promessa feita por mim, a justificar a escolha de Manuel Alegre para candidato de alguma esquerda.

Este assunto, diria, estava morto e enterrado se não fosse Alegre ter ressuscitado neste Congresso do PS. Parece que quando o Bloco apresentou a Moção de Censura também lhe fez algumas críticas. Espero que Alegre, porque não ganhou as eleições, e não foi por culpa do Bloco, mas sim dos seus amigos socialistas, que não votaram nele, não tente transformar aquele partido no bode expiatório do seu fracasso, que também foi o nosso?

Dito isto, tentemos justificar a escolha que na altura se fez e que considero acertada.

Tenho para mim que o Bloco de Esquerda é, na actual conjuntura, o único partido de esquerda que manifesta uma certa preocupação com a política de unidade. Ainda há bem pouco tempo, neste post, referi umas declarações de Alfredo Barroso afirmando que o PS não tinha uma política de unidade à sua esquerda. Quanto a mim o PCP também não a tinha, pode ser que agora isso se tenha alterado.

Por isso, depois das eleições presidenciais de 2006 e a seguir ao resultado de mais de um milhão de votos no Manuel Alegre, contra o candidato oficial do PS, o Bloco inicia uma aproximação àquele, de que resultou os encontros do Trindade e da Aula Magna. O primeiro foi grande um êxito, tanto mais que o Trindade era uma sala pequena e os milhares de pessoas que por lá apareceram não couberem, nem a metade delas. Já na Aula Magna, apesar de ser um sucesso, esta estava longe de estar cheia. No entanto, estes dois encontros não deixaram de ser um acontecimento político importante, o que levou o Manuel Alegre, naquele momento, a encarar a hipótese de formar um partido, permitindo assim que a ala esquerda do PS rompesse com o PS oficial. Tudo isto são dados objectivos, que não podem ser descartados, nem esquecidos.

Esta operação teve alguns contratempos. Manuel Alegre mostrou alguma indecisão na ruptura com o PS e o Bloco não a forçou, nem a acalentou. Teve algum receio do que é que poderia vir de uma cisão precipitada e que, provavelmente, não teria pernas para andar, a não ser levada às costas pelo Bloco.

Por este motivo, preferiu que Manuel Alegre optasse antes por aquilo que ele indiscutivelmente queria, que era ser candidato outra vez a Presidente da República. Foi isto de facto que veio a suceder. Já se sabe que Manuel Alegre não seria candidato unicamente do Bloco, teria que ser também do PS e aqui é que a porca torce o rabo. O tempo que mediou entre a decisão bloquista de insinuar que o apoiava para candidato a Presidente, na sua última Convenção, em 2009, a apresentação da sua candidatura, parece-me logo no início de 2010, com o apoio imediato do Bloco, o arrastamento da decisão do PS, já no Verão de 2010, a degradação do Governo de Sócrates e o agravamento da crise económica, permitiram que em Janeiro de 2011, quando tiveram lugar as eleições, já fosse bastante penoso o Bloco aparecer de mãos dadas, por interposta pessoa, o Manuel Alegre, com o PS de Sócrates.

Este facto foi tão difícil que nem os bloquistas estavam convencidos em votar Manuel Alegre, mas mesmo assim acho que cumpriram com escrúpulo os seus compromissos, nem o PS estava motivado para votar em Alegre. O que de facto sucedeu. Por outro lado, os eleitores de 2006, raivosos com o socratismo, fugiram desta vez do candidato, distribuindo os seus votos por Nobre, que cumpriu de facto a missão que Mário Soares lhe destinou, por Coelho, pela abstenção e pelos brancos e nulos. Esta é de facto a minha interpretação dos factos. Muita gente poderá estar em desacordo com isto.

No entanto, podemos dizer que o êxito do Bloco quer nas europeias, quer depois nas legislativas, que só foi ofuscado por ser ultrapassado pelo CDS, deveu-se em grande parte ao esforço unitário desenvolvido no Trindade e na Aula Magna.

A “esquerda grande” defendida por Louçã correspondia a esta aliança entre o Bloco, independentes e a ala esquerda do PS. Hoje percebe-se quão fraca é essa ala esquerda e como facilmente foi seduzida pelo canto de sereia do PS de Sócrates. Neste Congresso estavam lá todos, até o Ferro Rodrigues. Só não vi a Maria de Belém.

Esta não será uma história edificante, até porque não houve uma alteração de forças a favor da esquerda, que era o objectivo da vitória de Alegre. Mas só quem não mete as mãos na massa é que pode depois vir dizer que sempre previu o que iria acontecer.

PS.: Sobre este mesmo assunto já escrevi este post, no entanto todo o meu blog está cheio de referências aqui e acolá às actividades e posições de Manuel Alegre ao longo destes últimos anos.

11/04/2011

O moderno Frankenstein

Só me lembro de ouvir falar de Fernando Nobre pela primeira vez a propósito da invasão do Iraque pelos americanos e pelos seus amigos europeus. Fernando Nobre na altura, com alguma dignidade, opôs-se à invasão e deu a cara por isso. Tempos depois, a ATTAC de Sines convida-o para um debate sobre a guerra do Iraque, estive lá e tudo o que disse pareceu-me justo e acertado. Por isso, quando recentemente foi o mandatário nacional pelo Bloco de Esquerda para a lista às eleições europeias, não estranhei.

Mas não sabia, por culpa minha, da missa a metade. Fernando Nobre tinha sido apoiante de Durão Barroso, para primeiro-ministro – parece que depois ficou desiludido com o papel que este desempenhou na Cimeira das Lajes – e de António Capucho para a Câmara de Cascais. Pelo meio apoiou também um autarca do PS.

Quando se candidatou à Presidência da República e sabendo eu o frete que lhe tinham encomendado, de combater a candidatura de Manuel Alegre, fiquei profundamente desiludido. Mais fiquei quando ouvi o seu discurso de apresentação. Escrevi mesmo um post a denunciar alguma esquerda que se tinha deixado embalar pelas palavras do dito, exclusivamente por ódio sectário a Manuel Alegre.

Depois, na altura dos debates entre os candidatos a Presidente da República, fiz um outro post a que a propósito do debate entre Fernando Nobre e Francisco Lopes, considerei que uma das afirmações de Fernando Nobre era tão grave, que roçava perigosamente o fascismo. Esta classificação foi forte, mas o que Fernando Nobre disse não o era menos.

Pelos vistos, no momento de desespero e de desorientação em que muita gente de esquerda mergulhou, Nobre consegue uma votação menos má. Tornando-se por isso um candidato apetecível para qualquer um dos partidos do centrão. No entanto, nunca pensei que um candidato que tinha sido uma criação de Mário Soares, para entalar o seu “amigo” Manuel Alegre, se virasse contra o seu criador e fosse aceitar um lugar de destaque nas listas do PSD. Temos por isso um moderno Frankenstein, que foge ao destino que lhe tinham traçado.

Engana-se o PSD se pensa que, com este candidato, irá conquistar votos à esquerda. Cai na mesma ilusão do PS quando se convenceu que Vital Moreira, por ser ex-PCP, iria atrair votos daquela área política. Os portugueses não perdoam a quem os andou a enganar, provavelmente por isso, e por outras razões, não votaram em Manuel Alegre porque o opositor ao candidato oficial do PS nas anteriores eleições veio a ocupar a mesma posição de Mário Soares, transformando-se, malgré lui, no candidato do socratismo.

PS.: afinal soube hoje pela TV que também tinha pertencido à Comissão Política da última candidatura de Mário Soares à Presidência da República. (12/04/11) Num comentário a este post avisam-me que também tinha andado metido com a Causa Monárquica, facto que eu já sabia, mas de que não me lembrava. Estranha personagem, com um ego maior do que o mundo.

10/04/2011

As risadas alarves da bem-pensância nacional

Vi ontem à noite o Eixo do Mal, da SIC Notícias. O programa está cada vez mais a perder interesse. Comparado com o Governo Sombra, da TSF, no mesmo estilo, fica, de longe, muitos pontos abaixo.

Quando foi criado, no Governo de Santana Lopes, ainda tinha alguma graça, é certo que com outros intervenientes. Hoje limita-se, dado alinhamento ideológico de cada um dos participantes, a ser uma discussão política sem qualquer interesse. Porque pretende ter graça e não ser um programa de comentário político, mas ao mesmo tempo não é um programa humorístico porque é demasiado ideológico.

Ontem à noite, depois da discussão dos temas da vinda do FMI e do Congresso PS, com dois dos intervenientes em directo de lá, chegou à altura de falar do encontro entre o Bloco e o PCP. Parece que o primeiro comentário foi de Pedro Marques Lopes, que eu em tempos, para indignação de muita boa gente, já tinha considerado um boçal de direita. Hoje, conhecendo melhor a personagem, tenho para mim que ele se tem vindo a comedir desde a sua primeira intervenção no programa, no entanto, a sua pobreza argumentativa, de um neo-liberalismo de cartilha, deixa tão a desejar, que contribui para a indigência do programa.

Ontem lá lhe veio a veia boçal e começou a rir-se mal se falou do encontro dos dois partidos. Clara Ferreira Alves segue pelo mesmo caminho, e Luís Pedro Nunes continua. Bem tentou Daniel de Oliveira falar a sério sobre o tema. Mas nem ele estava muito convencido nem o riso alarve dos outros lhe permitiu formular qualquer ideia. E assim, a burguesia bem-pensante se descarta de uma reunião que não sendo muito conclusiva é pelo menos um passo importante para a unidade da esquerda e deve ser assinalada como uma realidade nova no panorama político português. Assim, isso se verifique.

09/04/2011

Um discurso alegre e um alegre Congresso

Alegre foi ao Congresso do PS e fez um discurso. Conforme o órgão de informação que ouvimos ou lemos, assim se realça mais a parte do discurso "sou um homem de esquerda que defende o diálogo à esquerda, mas quero dizer com toda a clareza o seguinte: não repitam o erro de 1975, não queiram dispensar os socialistas, porque não há soluções de esquerda sem o PS ou contra o PS”, ou então o ataque aos mercados financeiros, à influência neo-liberal na Europa ou a recusa de um Governo de bloco central, sublinhando as diferenças com o PSD (ver aqui e aqui).

Por outro lado, todos os comentadores são unânimes em afirmar que este é um Congresso que pretende captar o voto útil da esquerda. Mas de que modo. Sócrates explica: “os votos desperdiçados à nossa esquerda são votos que favorecem o caminho da direita para o poder”. “ A verdade é que só a concentração de votos no PS poderá travar a agenda liberal aventureira perigosa da direita pelos serviços públicos e pela recusa da protecção social do Estado”. Vitorino mais entusiasmado e servindo-se agora do discurso de Manuel Alegre, disse mesmo: «Esses eleitores (os de esquerda) terão que perguntar-se seriamente acerca do significado e do resultado de um voto em partidos que se mostram totalmente imprestáveis para a construção de uma solução de governo à esquerda, porque, como dizia Manuel Alegre, convençam-se de uma coisa: não há solução de Governo à esquerda sem o PS e muito menos contra o Partido Socialista». No entanto, lá vai dizendo, que admite a existência de consensos, de procurar «apoios alargados para lutarmos juntos contra a crise», mas diz que o importante é saber «quem está em melhores condições de liderar esse processo, de liderar essa procura de entendimentos alargados» (ver aqui).

Este discurso é simples, querem os votos da esquerda, à esquerda do PS, porque, afirmam, os partidos que os consubstanciam são “totalmente imprestáveis”, para depois fazerem consensos com a direita, já se sabe, se possível, em posição de força.

É espantoso que depois do apelo ao compromisso de 47 personalidades (Expresso de hoje), que de certeza não será de esquerda, a resposta que foi dada no Congresso é que todos estavam de acordo e que o PS tudo tinha feito para o conseguir, só gostaria de ser ele a dirigi-lo.

Por isso bem pode Manuel Alegre vir referir-se que é favorável ao diálogo à sua esquerda e que esta não pode ignorar o PS, que tudo está preparado para depois de terem os votozinhos dos eleitores da esquerda, fazerem os compromissos que entenderem com a sua direita.

Por isso, é uma ilusão que algum PS de esquerda alimenta que este partido, neste momento histórico que se está vivendo, quer travar qualquer diálogo à esquerda, querem é papar-nos o voto para fazerem depois a sua política de compromisso.

O combate vai ser difícil. Já percebemos que desta vez o PS pretende conquistar votos à esquerda. A inclusão de Ferro Rodrigues para cabeça de lista para Lisboa dá o tom. Mas já se fala em Manuel Alegre para Coimbra. Provavelmente ainda iremos ter muitas surpresas. Estejamos preparados para tudo.

06/04/2011

Curso de Político Gratuito



Apesar de ser um pouco reaccionário, porque nem todos os políticos são iguais, achei graça a este vídeo que me enviaram. Por isso quero compartilhá-lo com os meus leitores.

04/04/2011

Um jantar à esquerda

Na passada sexta-feira reuniram-se num restaurante da capital, por sinal num sítio cheio de significado histórico e arquitectónico, um grupo de participantes no blog Alegro Pianíssimo, que foi criado para apoiar a candidatura de Manuel Alegre a Presidente da República. Já vos tinha dado conhecimento deste blog e até transcrevi para aqui os textos que fui lá publicando.

Várias eram as famílias políticas dos presentes, e como era inevitável falou-se da esquerda e da sua unidade. Um dos participantes afirmou mesmo que “a esquerda é um ponto de partida e não um ponto de chegada”. Uma frase bonita a que eu queria dar mais conteúdo, provavelmente pela minha tendência para me ligar ao real.

1. Conto-vos uma história (já por mim aqui relatada) que se passou na véspera das comemorações populares de mais um 25 de Abril, manifestação organizada regularmente pela Associação 25 de Abril, com a participação de partidos e organizações de esquerda. Nesse ano, mais uma vez tentava-se redigir um comunicado comum, que pudesse agradar a todas as associações presentes. O PCP achava que o comunicado devia reflectir todos os atropelos que o Governo de José Sócrates estava na altura a provocar no país, e estávamos ainda no tempo das vacas gordas. O PS, como era natural, não concordava, nem o redactor da versão inicial do comunicado, o Eng. Aquilino Ribeiro Machado, estava de acordo com aquilo que considerava ser uma alteração total do seu texto. Eu, que representava nessa altura a Renovação Comunista no grupo, e porque estavam ainda muito presentes as propostas neo-liberais do Compromisso Portugal, tentei que o ponto comum entre todos fosse a defesa do Estado Social, em oposição à visão de direita que transparecia daquele grupo de reflexão. A princípio o PS não percebeu e levei por tabela algumas críticas. Depois, um pouco mais reflectido, acho que compreendeu as minhas intenções, mas nessa altura já era tarde e não houve comunicado comum nesse 25 de Abril. Tudo isto para dizer que havia um ponto comum que nos podia unir a todos naquele momento era a defesa do Estado Social.

Hoje, em tempo das vacas magras, essa defesa como tem sido feita pelo Governo de Sócrates conduz à sua completa desvirtuação. Mas já não é só a sua defesa e a maneira de a pôr em prática que pode provocar dificuldades na unidade da esquerda. Os aspectos económicos e financeiros complicaram-se de tal modo, que deram origem a propostas muito diferentes para a sua resolução. Nesse sentido, a unidade à esquerda está cada vez mais difícil.

O programa anti-neo-liberal, que pareceu nascer na Aula Magna e que juntou várias esquerdas, e que de certa forma está na base da candidatura de Manuel Alegre, foi rapidamente ultrapassado pela voragem da crise económica e financeira que atravessa o país. Daí a necessidade da esquerda apresentar planos alternativos para a sua resolução que ultrapassem os PEC, que os três partidos do “arco da governação” nos querem convencer que são o único modo de ultrapassar este estado de coisas.

2. Outro dos temas abordados neste jantar foi a necessidade do povo de esquerda obrigar as direcções dos partidos que lhes estão mais afins a executarem uma outra política, que force a unidade entre eles.

Sei que na história da esquerda isso já sucedeu. É muitas vezes relatado um episódio já muito distante, de 1934, em França, em que comunistas e socialistas, que marchavam em manifestações diferentes, convergiram para uma só, estando na origem daquilo que se veio a chamar a Frente Popular e a sua posterior vitória nas eleições de 1936. Mas esta coordenação de esforços resultou da ameaça directa do fascismo e dos acontecimentos por ele motivados a 6 de Fevereiro, em Paris (ver aqui). Já depois do 25 de Novembro de 1975, em Portugal, vários dirigentes do PCP falavam deste acontecimento e admitiam que as massas populares pudessem em certo momento forçar socialistas e comunistas a formarem um Governo. Foi nessa altura que apareceram cartazes do PCP a defenderem que nas eleições houvesse uma maioria de esquerda para a Assembleia da República. Na prática tal Governo nunca se concretizou, tal como agora.

Tenho para mim que sendo importante a pressão popular, têm que ser os partidos a ter uma política de unidade. Ainda não há muito tempo Alfredo Barroso, um homem da fundação do PS, num Expresso da Meia-Noite, achava, contra o escárnio das suas opositoras de direita, que o PS devia ter uma política de unidade para a sua esquerda. Pelo contrário, no último Congresso do PS o que se assistiu foi António Costa a insultar o Bloco de Esquerda, chamando-lhe “partido oportunista, que parasita a desgraça alheia” (ver aqui), dificultando qualquer unidade à sua esquerda.

Neste sentido vejo com bons olhos as propostas, ainda que muito tímidas, do Bloco e do PCP de puderem discutir um governo de esquerda para depois das eleições. É pelo menos, depois da campanha de Alegre, alguma coisa de concreto que aparece à esquerda.

3. Alguns homens de esquerda têm defendido que os partidos à esquerda do PS, devem apresentar a este algumas propostas de Governo ou até só de incidência parlamentar, que permitisse por um lado provar que afinal estão dispostos a assumir responsabilidades governativas, ao contrário da ideia dominante, papagueada pela direita e por algum PS, de que os partidos à sua esquerda não querem assumir essas responsabilidades, são só de protesto, e por outro obrigar o PS a aceitar ou a negar tal desiderato, ficando neste caso a responsabilidade do lado de quem não colabora. Este sonho, que cavalga a ideia de muita esquerda, e que parece que está na base da iniciativa política de formação de um novo partido, não compreende que o problema não está na assunção de responsabilidades governativas pela esquerda, à esquerda do PS, mas sim na definição de uma nova política de esquerda, que rompa com os tradicionais compromissos e compadrios com as exigências do grande patronato e que ideologicamente faça o mesmo em relação à ideologia neo-liberal dominante.

A opção não pode ser pois ou a esquerda, à esquerda do PS, é bem comportada e vai para o Governo, aceitando as regras do PS de José Sócrates e transforma-se assim num mero apêndice deste ou então, se não aceita estas condições, transforma-se numa organização de protesto, tribunícia, incapaz de apresentar uma ideia que seja exequível. A solução está em que o principal partido que se reivindica da esquerda, seja capaz de executar uma nova política que atraia todos os homens de esquerda ou então terá que compreender que poderão e deverão ser outros a fazê-lo. Não se pode pertencer ao “arco governamental” e andar a dançar o tango com a direita e depois vir reclamar que a esquerda não lhe dá apoio.

Estas parecem-me ser algumas reflexões que vos deixo sobre aquilo que constituiu o prato forte de um jantar à esquerda

Canto superior direito: fotografia ilustrando a junção das manifestações de socialistas e comunistas a 12 de Fevereiro de 1934, na Place de la Nation, em Paris