31/01/2011

Sectarismos, ódios e paranóias - II

O episódio do post anterior, a minha altercação com Vítor Duas, não tinha qualquer importância se não se inserisse numa campanha particularmente sectária do PCP contra o Bloco de Esquerda. Farto de trocar farpas com Vítor Dias estou eu. Simplesmente notei o particular acinte em atacar Francisco Louçã, chamando-lhe trafulha, a propósito de um post meu que não fazia qualquer referência àquele bloquista.

Mas comecemos pela campanha. Logo numa daquelas crónicas bastante arrevesadas que se publicam na rubrica Actual (Avante, de 27/01/11) vem um texto de ataque a Luís Fazenda (LF), assinado por Jorge Cordeiro, que é um mimo de sectarismo. Em resposta a argumento racionais de LF, vem a calúnia e a mentira, principalmente aquela que diz que o Bloco votou sozinho ao lado do PS a nacionalização dos prejuízos do BPN. A mentira não é nova, tem origem num artigo de opinião de Honório Novo, no Jornal de Notícias. João Semedo já lhe tinha respondido no Esquerda.net, com um artigo chamado O sectarismo é sempre um mau caminho, em que desmentia as afirmações de Honório Novo, até porque o Bloco tinha votado contra a lei da nacionalização, com toda a restante oposição. Simplesmente como já tinha sucedido em tempos, na mesma rubrica, com a afirmação de que Manuel Alegre se tinha abstido no Código do Trabalho, agora mente-se dizendo que o Bloco votou ao lado do PS no caso BPN. A mentira muitas vezes repetida pode parecer verdade.

Mas vamos ao mais importante, o comunicado do Comité Central. Dizia este: “A fuga em frente ensaiada pelo BE para encontrar noutros responsabilidades que lhe pertencem, não pode iludir o facto de ter partilhado com o PS e o seu governo o apoio a uma candidatura objectivamente comprometida com o essencial da política e opções que nos últimos trinta anos conduziram o país à actual situação. E sobretudo o facto de, mais do que empenho no objectivo de derrotar Cavaco Silva e a política de direita, o que se viu por parte do BE foi a intenção de tirar vantagens do apoio a Manuel Alegre ditado por critérios de calculismo partidário.

Onde é que o Bloco foi “buscar noutros a responsabilidade que lhe pertencem”? Quando disse que perdeu as eleições e que toda a esquerda também as perdeu? Já se sabe que, como o PCP nunca perde eleições, vir alguém dizer por ele que perdeu, é motivo suficiente para o PCP acusar outros de alijarem responsabilidades. Ora o objectivo do PCP não era chegar à segunda volta e derrotar Cavaco? Oh! Não? Não tendo conseguido isso e os seus resultados não constituirem uma afirmação de força, não tem motivos para cantar vitória, como mais uma vez ensaiou fazê-lo nestas eleições. O Bloco não veio dizer que foi devido ao PCP que se perderam as eleições, disse que toda a esquerda perdeu e com ela também o PCP.

Depois a afirmação, sempre sectária, de “ter partilhado com o PS e o seu Governo o apoio a uma candidatura objectivamente comprometida com o essencial da política e opções que nos últimos trinta anos conduziram o país à actual situação.” Mas, não lhe bastando dizer isso, afirma a seguir que não foi para derrotar Cavaco e a política de direita que o Bloco apoiou o Alegre, mas por meros critérios de “calculismo partidário”. Ou seja, o Bloco não compartilhou com o PS e o seu Governo o apoio a uma candidatura comprometida com os últimos trinta, sublinho trinta, anos de política de direita, o que o iliba aos olhos do PCP de ser um partido reformista e social-democrata, digo eu, pois o comunicado não diz isso. Mas fê-lo simplesmente por mero calculismo partidário.

O Comité Central do PCP devia ter vergonha daquilo que diz, pois nos últimos trinta anos apoiou à primeira volta Ramalho Eanes, que era um oficial tão de esquerda, que agora apareceu a apoiar Cavaco. Apoiou também Salgado Zenha à primeira volta, que era responsável pela ofensiva contra a Intersindical, na questão da unicidade sindical e que chegou a ser Ministro da Economia, o que levou Cunhal fazer uma boa piada, afirmando que ele próprio dizia que não percebia nada de finanças. Este caso foi um claro exemplo, para utilizar as palavras do actual PCP, de oportunismo partidário. Mas mais espantoso ainda, que maior responsável pelo estado a que isto chegou do que Mário Soares, que o PCP apoiou, sugerindo que depois tomassem sais de fruto, numa segunda volta. E não foi Jorge Sampaio também responsável pela política destes trinta anos? E não desistiu Jerónimo de Sousa a favor dele numa primeira volta?

Já se sabe que todas estas palavras visam hoje transformar o PCP no rei da resistência ao socratismo, mas é incapaz de propor, apara além dos muros muito apertados dos Verdes e da Intervenção Democrática, uma política de unidade com as outras forças políticas.
Não foram as anteriores posições do PCP sobre as eleições presidenciais que estiveram erradas, é o seu actual sectarismo é que é hoje o inimigo principal da esquerda.

Gostaria de lembrar um texto que em tempos escrevi sobre o Desvio Esquerdista e Sectário da Internacional Comunista (1929-1934)  em que citava as palavras de Isaa Deutscher: “Os partidos sociais-democratas e reformistas rotulados como “sociais-fascista”, deviam ser considerados como os inimigos mais poderosos do comunismo. Para a revolução socialista, a ala esquerda dos partidos sociais-democratas devia ser considerada como obstáculo até maior do que a ala direita: “quanto mais à esquerda mais perigosa”. Qualquer cooperação ou contacto entre líderes comunistas e sociais-democratas trazia o risco da contaminação.
No fundo, é isto que se passa hoje como o nosso PCP, quanto mais à esquerda está qualquer partido concorrente mais perigoso é. Ou seja, incapazes, ao contrário do que sucedeu no passado, de formular uma linha de unidade, encerram-se numa fortaleza em que aqueles partidos que mais próximo deles estão, passam a ser os seus piores inimigos.

30/01/2011

Sectarismos, ódios e paranóias - I

No post anterior sobre o resultado das eleições para a Presidência da República fiz referência, por duas vezes, ao nome de Vítor Dias, do blog O Tempo das Cerejas. A primeira foi inócua, já que eu concordava com a relação que ele estabelecia, apesar dos contextos serem bastante diferentes, entre a votação de Pinheiro de Azevedo, em 1976, e a de Fernando Nobre agora. São assuntos passados, que só velhos como nós é que se recordam.

A segunda é relativa a uma pequena polémica que travei aqui com ele, a propósito da sua repetida afirmação de que votar nos opositores a Cavaco A, B ou C, na primeira volta, era aritmeticamente a mesma coisa, a que eu respondia que politicamente votar em A ou B não era a mesma coisa, já que não era indiferente quem ia à segunda volta, se a houvesse. Se a escolha fosse em Nobre, era para o PCP um bocado difícil apelar na segunda volta ao voto nele, depois de o seu jornal “o ter classificado como fascista.” Mas a seguir acrescentava: “coisa que diga-se de passagem, não sendo completamente verdade, tem algum fundo, vejam-se  as palavras de Nobre no debate com Francisco Lopes”. Este “vejam-se” remetia para um post anterior, onde fazia uma análise dos debates e, a propósito do realizado entre Francisco Lopes e Fernando Nobre, dizia que este tinha feito afirmações que roçavam “perigosamente o fascismo”.

Que me responde Vítor Dias nos comentários ao meu post, que eu tinha-me que pôr de acordo com Francisco Louçã porque enquanto que este dizia que “Nobre fez uma campanha com traços populistas – o jornal do PCP chama-lhes “fascistas”, o que é certamente inaceitável –“, para mim, que não tinha engravidado (penso que seja esta a expressão, pois o que escreve VD foi "engracidou") de ouvido, o jornal do PCP classifica-o “como fascista”, no singular. E termina VD “espero que considere que chamar «fascistas» a TRAÇOS DE POPULISMO NÃO é A MESMA COISA QUE CHAMAR FASCISTA AO CANDIDATO.
Como se percebe, para quem leu o meu texto, eu não citava o Francisco Louçã, mais remetia para um texto meu anterior até ás eleições, enquanto que o de Louçã é posterior, e apesar de não transcrever ipsis verbis o que dizia o jornal do PCP, até concordava com ele, pois achava que, no debate com Francisco Lopes, as afirmações de Nobre roçavam “perigosamente o fascismo”.
Percebe-se deste primeiro comentário que não só VD não lê com cuidado os textos que critica, como os apoiantes de Alegre teriam que seguir as palavras de Louçã, tal como ele, VD, bebe de certeza os comunicados do Comité Central.

O segundo comentário ainda é mais sectário. Porque, não tendo percebido nada do que escrevi, continua a dizer que eu fazia uma referência crítica ao Avante. Percebe-se perfeitamente que no meu post não havia qualquer referência crítica ao Avante, havia sim uma referência crítica às contas aritméticas de VD que podiam não bater certo com as contas políticas.
E depois num gesto de puro sectarismo, ódio e paranóia, vem referir a propósito de nada que Francisco Louçã trafulhou (verbo que não existe segundo o Portal de Língua Portuguesa) duas vezes. Quando atribuía autoria de uma crónica assinada ao jornal do PCP. Rábula muito antiga de VD, que sempre quis separar as crónicas assinadas no Avante, das posições do seu director, como se elas não reflectissem o mesmo pensamento. Se o seu blog, nos textos de opinião, reflecte sempre as posições do seu Partido, não havia de acontecer isso no jornal Avante.
Depois numa apreçada manipulação transforma os “traços populistas”, que segundo Louçã “seriam, para o jornal do PCP “fascistas”, em fascista, cometendo assim o mesmo erro que me atribui a mim logo no seu primeiro comentário. De facto o que dizia o articulista é que o pensamento político de Nobre era fasciscante e não fascista, mas em qualquer dos casos, como VD sublinhou no seu primeiro comentário, era o pensamento político e não o candidato que era fascista.

Já se sabe que isto não teria importância nenhuma se VD se limitasse simplesmente a comentar as minhas afirmações, quando o que pretendia era por um lado dizer que eu contradizia Louçã. Como se no Bloco, ao contrário do que sucede no PCP, não haja liberdade pública de se discordar de Louçã, ou seja de quem for, e ao mesmo tempo chamar trafulha a Francisco Louçã, numa clara manifestação de sectarismo, ódio e paranóia.

Em próximo post irei comentar as posições do PCP sobre o Bloco, de que VD é, neste momento, um simples peão de brega.

25/01/2011

A quadratura do círculo ou da impossibilidade de se ganhar estas eleições

Há tempos escrevi num post (6/11/10)  “De facto a situação está muito complicada e eu não gostaria de ignorar esta situação. Com um PS claramente comprometido com o centrão, ou mesmo com as políticas de direita, não há nenhum candidato de esquerda, mesmo independente e super partidário, que resista a que uma das suas bases de apoio não só não esteja nada interessada na sua eleição, dado que isso provavelmente só iria irritar os “mercados” internacionais a que ela está atada de pés e mãos, como esse facto inverteria a sua lógica de apoio à formação do um bloco central.
Se o candidato não perceber esta situação e continuar a tentar trazer todo o PS atrás de si está condenado à derrota mais clamorosa.
Não quero ser profeta em casa própria, até porque depois me envolvi, e bem, na campanha do Alegre escrevendo alguns post para um blog de apoio, Alegro Pianíssimo, no entanto, já pressentia que alguma coisa de mal poderia acontecer.
O problema central desta candidatura, é de que as eleições se realizaram no pior momento. Não era possível esbater uma das piores ofensivas contra os trabalhadores e simultaneamente fazer apelo à luta contra a ofensiva da direita se Cavaco ganhasse as eleições. Isto não era credível aos olhos do eleitorado. Por isso Cavaco, num rábula que já lhe tinha rendido em 1985, quando se soube distanciar do Governo de Bloco Central, apareceu em algumas das iniciativas da campanha como o chefe da oposição. Acalentou as manifestações do ensino privado contra os cortes nos subsídios. Deu apoio às manifestações contra o encerramento do metro da Lousã. Oh! Descaramento dos descaramentos, achou injustos os descontos no salário da função pública, depois de ter acabado de aprovar o orçamento que as autorizava.
Alegre só podia ter mais votação e quem sabe ganhar as eleições, se fizesse a fronda de todos os descontentamentos. Houve alguns brincalhões que se entretiveram na blogosfera a descobrir discursos de Alegre contra o Cavaco que se poderiam aplicar ipsis verbis contra Sócrates e, no entanto, ele só se ficava pelo primeiro.
Por outro lado, Alegre não era o candidato do PS, da família e das redes de compromissos estabelecidos. Por muito que a determinada altura se pensasse que o PS tinha posto a sua máquina ao seu serviço, a verdade é que se sabia que aqui e ali os responsáveis não apareciam, Em Setúbal Victor Ramalho, o responsável pela concelhia, nunca pôs os pés numa reunião.
Porque apoiou o Bloco Alegre, porque este representava a ala esquerda do PS, que é o eleitorado onde o Bloco poderá ir captar gente. Ficará o Bloco irremediavelmente ligado a esta derrota? Espero bem que não.

E os outro candidatos. Sobre Cavaco, já sabem o que penso, o conjunto abundante de post que redigi contra ele, dão bem o ódio que lhe voto e o discurso da noite das eleições revela bem o carácter mesquinho de tal personagem. É evidente que a vitória dele se deve a aparecer como o anti-Socrates e, por outro lado, ser um referencial da estabilidade e a possibilidade de arrebanhar toda a direita, que nestas coisas não tem os escrúpulos da esquerda e sabe em quem deve votar.

Nobre só em pequena parte representou aquilo que Manuel Alegre foi nas eleições presidenciais anteriores. Aí provavelmente com um pouco mais de esforço ele tinha juntado todos os descontentes com o estado a que isto tinha chegado. Nestas eleições, o discurso de Nobre foi completamente redondo, apelando a uma luta contra os partidos e a vida política nacional sem o mínimo de conteúdo. Vítor Dias lembrou, e bem, como em 76, um homem moribundo, a definhar num leito do hospital, Pinheiro de Azevedo, teve 14 e tal por cento, só porque - agora a interpretação já é minha - as pessoas não sabiam a onde ir votar. Concorriam nessas eleições Ramalho Eanes, apoiado pelo arco governamental: CDS, PSD e PS, Otelo pela extrema-esquerda e Octávio Pato, uma candidatura inventada pelo PCP, para não apoiar Otelo e não hostilizar Ramalho Eanes.
Já que a determinada altura me envolvi  com o Vítor Dias em polémica sobre o voto útil nas primeiras volta destas eleições. Gostaria agora de fazer a pergunta que na altura fiz: e se por um pouco mais de votos fosse o Nobre a passar à segunda volta, que faria o PCP depois de, no seu jornal ,o ter classificado como fascista? Coisa que diga-se de passagem, não sendo completamente verdade, tem algum fundo, vejam-se  as palavras de Nobre no debate com Francisco Lopes.

Quanto a Francisco Lopes não tenho nada a dizer. É sempre a mesma apagada e vil tristeza, mais 1% votos, menos 1% de votos e a incapacidade de arriscar para se sair disto.

Parece que houve para aí uns rapazes que foram votar no Coelho convencidos que ele era o candidato da esquerda. Se há uma coisa que aprendi ao longo dos anos de militância comunista é não me deixar arrastar pela inconsequência política. Pode ser que o homem até seja uma plataforma de oposição ao jardinismo. A ver vamos.

Vencendo Cavaco e completado este ciclo de impossibilidades de dissolução do Parlamento, agora é que começam as coisas complicadas, primeiro para o povo português e depois para os parlamentares. Vamos a ver quem politicamente tem unhas para tocar guitarra.

22/01/2011

Elogio ao camarada morto

Tinha falado com ele pelo telefone há dois ou três dias, disse-me que estava a tomar antibiótico para uma tosse horrível que o atacava, já tinha dificuldade em andar e falar. Respondi-lhe que iria arrebitar. No Domingo chegou, pela voz do Mário, a notícia de que tinha morrido naquela manhã, às 10h 30. O seu nome de guerra era Quim João, na vida civil chamava-se Joaquim João dos Santos Brás.

Conhecemo-nos no Liceu Gil Vicente, não sei quando, mas pelo menos tenho a certeza que no 6º e 7ºano eu estava na cadeira da frente e ele na de trás. Começou aí a nossa amizade, tinha eu 16 anos e ele 15.
Provavelmente, por incentivo meu, apareceu no grupo que se reunia, entre as 7 e as 8h da tarde, num gradeamento que ficava ao cimo da Angelina Vidal, do lado de quem vira para a rua da Graça. Por vezes era em frente, junto a uma venda de jornais, que nessa altura estavam arrumados em cima do passeio. Toda essa zona tinha o nome de Quatro Caminhos, que resultavam do cruzamento da Angelina Vidal, com a rua da Graça, Sapadores e Penha de França. Reunimo-nos aí bem mais de dez anos, até que a vida nos dispersou: casamentos, tropa, prisões, novas moradas, exílios, enfim a vida.
aqui tinha feito a descrição deste grupo.

Nos finais do nosso 7º ano, admitamos Primavera de 1961, por sugestão do pai do Mário, começamos a frequentar uns colóquios que se realizavam na Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, ali às Escadinhas do Duque. A primeira a que assistimos foi de Alberto Ferreira, sobre filosofia, já se sabe que encapotadamente sobre filosofia marxista. A sua importância sobre o meu espírito em formação foi tão grande que rapidamente ultrapassei a filosofia de António Sérgio, nessa altura un mâitre-à-penser para os jovens democratas da minha geração, e me aproximei rapidamente do marxismo. Sobre estas conferências já falei aqui.
Só gostava de acrescentar um pequeno episódio picaresco. No regresso a casa, sempre a pé, passava-se pela Praça do Chile e ia-se beber um copo de vinho verde à pressão, acompanhado de torresmos. Recordações da juventude!

No final do Verão de 1961, antes de entráramos para as diversas faculdades que cada um ia frequentar, o Quim João foi para o Técnico, Engenharia Civil, eu para Ciências, outros para Direito, chegou-nos de Paris um pândego, e digo isto hoje, porque na altura não tínhamos a clara consciência da vacuidade desta personagem, nosso colega no liceu, que vinha credenciado para organizar um grupo oposicionista aqui em Lisboa. Levámos a sério o convite e começámo-nos a reunir, tentando juntar novos amigos. Recolhemos fundos, muito poucos, comprámos ou deram-nos uma caixa de lápis vermelhos que escreviam nas paredes e eu e outro ainda andámos a apreçar uma máquina de stencil, objecto hoje pré-histórico, mas que era o único que nos permitia reproduzir centenas de comunicados. Rapidamente nos demos conta da inutilidade da nossa acção. Por muito que nos organizássemos éramos sempre uma gota de água no oceano e já havia outros a fazer o mesmo. O tal pândego nunca nos indicou quem eram os seus mandantes. Assim, ao fim de algum tempo acabámos a fazer conferências de aprofundamento ideológico. Esta experiência está também já relatadas no post anteriormente assinalado.

Em 1962, em 24 e 25 de Março, ia ter lugar o Dia do Estudante. Os episódios do primeiro dia já eu os descrevi aqui. Aí relato a agressão policial ao Quim João e a sua posterior prisão à saída do Hospital Santa Maria, onde se tinha ido tratar. A confirmação da história pelo próprio está num PS. aqui. A partir daí este meu amigo tornou-se um homem “politicamente suspeito”. Soube-o quando foi informado pelo aspirante que comandava o nosso pelotão em Mafra, que nos últimos dias de instrução o chamou a ele e, vejam lá, ao Correia de Campos, o ex-ministro do PS, que agora mostra simpatias por Cavaco Silva, para lhes transmitir essa informação, garantindo-lhes que ele não era polícia e que por isso não tinha que prestar informações à PIDE. Era o 25 de Abril já a despontar. Já agora, acrescento que fizemos juntos, em Mafra, os três primeiros meses de tropa. Pertencemos à incorporação de Abril de 70.

Mas a nossa maior experiência e que nos marcou para a vida inteira foi a nossa actividade no Cine-Clube Universitário de Lisboa (CCUL). Ele entrou mais cedo do que eu. Foi juntamente com o Mário oferecer-se para colaborar. A primeira tarefa que lhe deram foi arranjar mil envelopes e os respectivos selos para enviar uma circular aos sócios. Pensou que era simples. Na primeira capelista que entrou a pedir mil envelopes, deram-lhe para aí uns 50 e foi com muita sorte. Reunir os mil foi uma aventura. Chegou com eles, orgulhoso, ao cine-clube, ninguém lhe agradeceu aquele esforço. Continuou a trabalhar. No ano lectivo de 1967/68 torna-se seu presidente e inicia a época com um ciclo sobre cinema americano, que foi a sua glória, em que se destacam As duas feras, de Howard Hawks, A Corda, de Alfred Hitchcock, Serenata à Chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly, Pistoleiros da Noite, de Sam Peckinpah e Jerry 8 ¾, do próprio Jerry Lewis, isto depois de um ano agitado em que tinha havido uma cena de pateada, relatada por mim aqui.
É evidente que o Quim João também tinha que estar presente quando da invasão do Cine-Clube pela PIDE. Ver aqui. No episódio que relato, de os pides nos ameaçarem com uns tabefes, era ele o principal destinatário, já que involuntariamente tinha tocado no telefone. Foi também ameaçado de prisão quando se dirigiu à PIDE para reclamar os ficheiros que nos tinham sido roubados.

Neste nosso círculo de amigos havia de entrar também o PCP. Como os dois pertencíamos ao Cine-Clube, achava o Partido que a nossa frente de trabalho era aquela e nunca nos pediu muito. Penso que durante um certo tempo era eu que recebia as quotas do Quim João e lhes dava depois destino. Acho que o envolvi a ele e a um primo meu numa distribuição nocturna de comunicados pelas caixas de correio de não sei que bairro. Sei que quando nos embrenhámos mais a sério na actividade partidária já não soube nada da sua vida política, nem ele da minha.

Depois do 25 de Abril, também tivemos destinos diferentes no PCP, eu fiquei ligado primeiro aos professores e depois à função pública e ele ao sector intelectual, às coisas do cinema. Só mais tarde nos juntámos e fomos contemporâneos, na direcção do sector intelectual, eu novamente ligado ao cineclubismo, agora através do ABC Cine-Clube de Lisboa, e ele penso que continuava com o cinema. Depois a vida foi-lhe um pouco madrasta, a empresa onde trabalhava afastou-o, teve que recomeçar a meio da vida num novo emprego, numa Câmara Municipal, a de Grândola. Acho que gostou. Teve liberdade suficiente para fazer obra e melhorou sensivelmente a qualidade de vida de algumas populações. Orgulhava-se muito das suas criações. Com a doença veio a reforma. Entreteve-se nos últimos anos a compilar para DVD todos os filmes que possuía noutros formatos, instalou uma pequena sala de cinema na sua casa, em Grândola, e teve a felicidade de ver os seus filhos enveredarem profissionalmente pelo cinema, que foi desde o princípio, no cine-clube, a sua paixão.

Morreu  militante do PCP, mas muito descrente das suas possibilidades de renovação. Morreu, por isso, um camarada.

PS.: Imagem do filme A Desaparecida, de John Ford. Um filme de que gostava.

PS. (31/101/11): da leitura de um artigo de Pacheco Pereira, no Público, e de um post de Vítor Dias, no seu blog, percebi que a memória dos meus tempos de juventude tem algumas falhas. Chamei “máquina de stencil”, àquilo que na altura se chamava simplesmente copiógrafo e que utilizava, para imprimir vários milhares de comunicados, um stencil batido à máquina.

Um camarada do PCP e amigo enviou-me hoje um abraço em memória do Quim João, dizendo que tinha visto a notícia no Avante, de 27/01/11. Fui ler, afirmam que ele entrou para o Partido, em 1980, tirem-lhe menos 15 anos e estarão a falar verdade. Penso que não foi por desconsideração, mas a concelhia de Grândola devia andar mal informada.

As últimas acções de agitação

Colaborei durante os dias reservados à campanha eleitoral num blog colectivo de apoio a Manuel Alegre. Fizeram-me esse convite e aceitei. Não foi a primeira vez na vida que cooperei com socialistas e outros independentes. Na campanha de Jorge Sampaio para a presidência da Câmara de Lisboa, na sua primeira eleição, criaram-se estruturas comuns, em que eu participei em nome do PCP. Em qualquer dos casos não me arrependi. Fiz aquilo em que acreditava.

Não sei qual será o destino deste blog, Alegro Pianíssimo, mas desde já declaro que se houver segunda volta continuarei a colaborar e se houver propostas para o futuro nada me impedirá de ir ouvi-las. Já tenho anos suficientes para saber onde me meto.

Deixo-vos meus dois últimos posts para aquele blog.

“Ter mais de 60%, que é para a ripada ser maior aos talibãs”

Assim se exprimia um apoiante de Cavaco, em Oliveira do Hospital, em frente de uma câmara de televisão. A forma, como se vê, não é das mais elegantes, mas ao candidato e aos seus apoiantes não se exige mais. De quem, recorrendo à demagogia mais descabelada, aconselha a não se prolongar por mais umas semanas a campanha eleitoral porque “os custos seriam muito elevados para Portugal e para os portugueses”, ou de quem destina às mulheres o papel de fadas do lar, porque são elas “que gerem os orçamentos das famílias e são as mais bem preparadas para identificar onde está o rumo certo, aqueles que as podem ajudar para melhorar o bem estar dos seus maridos e dos seus filhos,” não se pode esperar um estilo diferente do dos seus apoiantes.
Cavaco, no seu discurso desconchavado, promete benesses a quem nele votar, os seus apoiantes, pelo contrário, prometem ripada nos talibãs, que somos nós.

É o fascismo doce que sempre se perfilou por detrás de palavras mansas e cordatas dos democratas “pós-25 de Abril”. Mas, está sempre à porta, à espera de poder entrar. Não é por acaso que Cavaco condecorou Pides e não Salgueiro Maia, ou permitiu que o seu Secretário de Estado interditasse o envio do livro de Saramago, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, a um prémio europeu. Mas também não é por acaso que se vai à PIDE declarar que se está integrado no regime. Este homem não tem qualquer pinta de democrata, só o é porque os tempos correm de feição a este tipo de Governo.

 
As “encomendas” de Cavaco Silva

Hoje Cavaco Silva declarou à Rádio Renascença que alguns jornalistas tinham recebido encomendas para abordar nos seus órgãos de informação as negociatas em que ele se tinha metido. Já se sabe que o termo negociata é meu.

É preciso ter desplante para vir apoucar os jornalistas por receberem encomendas que incomodam S. Exª e ter-se esquecido da encomenda que o seu assessor para a imprensa, Fernando Lima, fez a um tal jornalista do Público para fazer umas averiguações sobre certos senhores que frequentavam a sua comitiva, quando da sua deslocação à Madeira há alguns anos. Parece também que já se está a esquecer da encomenda que fez a José Manuel Fernandes para que este lançasse no Público a atoarda de que ele, Cavaco Silva, andava a ser escutado pelo Governo, isto numa altura em que o PSD, chefiado por Manuela Ferreira Leite, falava da "asfixia democrática".

Grande encomenda me saiu este Cavaco Silva, ficar-lhe-ia bem conhecer este ditado popular “quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho”.

PS.: fotografia com a folha da ficha da PIDE preenchida pelo próprio Cavaco Silva, dizendo que estava integrado no regime. Clique para ampliar a imagem.

21/01/2011

Cavaco Silva: ligações perigosas



Uma pequena achega para o esclarecimento das trapalhadas em que se envolveu Cavaco Silva.

Boas razões para (não) votar Cavaco Silva



Esta é mesmo para brincar, dizendo coisas sérias.

Cavaco Silva - Sem comentários



Continuação do primeiro episódio que publiquei

19/01/2011

Caso BPN: O que esconde Cavaco?



A saga continua

BPN: Cavaco é vizinho de Oliveira e Costa no Algarve



Continua a série sobre Cavaco

Cavaco Silva, por qué sólo te callas?



Hoje vou iniciar uma série de vídeos alusivos a Cavaco. Começo por este, não sei se será o mais interessante?

15/01/2011

Porque devemos votar em Manuel Alegre

 Há para aí um conjunto de “rapaziada”, mas não só, que anda muito preocupada com conceitos de patriotismo e nacionalismo e outros temas, a propósito desta campanha eleitoral para a Presidência da República.

Um rapaz mais velhinho chega mesmo a transcrever um belo poema de Brel referente ao assassino de Jaurés, às vésperas da I Guerra Mundial, falando de social-patriotismo a propósito de todos os candidatos. Outro interroga-se em relação às posições que Manuel Alegre tomou sobre as propinas ou sobre as taxas moderadoras e termina “todo este patriotismo está a tornar o ar dentro desta latrina completamente irrespirável.” Aqui não se refere propriamente a Alegre, mas dá o tom sobre a campanha eleitoral. Outro, precisa melhor os conceitos e escreve: “O que se passa com a esquerda patriótica portuguesa, de Francisco Lopes a Manuel Alegre e ressalvando aqui as inúmeras diferenças entre ambos, é que tanto no seu internacionalismo como no seu patriotismo a questão da classe é secundária em relação à questão do povo.

Mas o que pensa esta gente que é uma campanha eleitoral para a Presidência da República? E o que pensam mesmo das campanhas eleitorais? Será que nunca votaram? Será que o partido onde depositaram o seu voto respondia a todas estas perguntas? Será que pensavam que o Manuel Alegre iria apelar à revolução europeia?

Eu às vezes interrogo-me em que mundo certas pessoas vivem. Posso admitir que alguns jovens e outros mais maduros optem conscientemente pelo anarquismo ou pela recusa em participarem nas eleições burguesas. Discuto e combato esta sua opção, mas se ela for seguida com coerência, admito que possam em todas as circunstâncias, recusar-se a votar. Mas, tendo ao longo da vida participado em eleições, ou seja, votado, e mesmo militado em partidos que vão a eleições, vêm agora pôr questões, que numa eleição presidencial têm pouco sentido e muito menos exigir dos candidatos, comprometidos com o sistema que nos governou nos últimos trinta e cinco anos, respostas claras às suas exigências políticas.

Neste tipo de eleição pretende-se, pretende a esquerda, acima de tudo, que quem seja eleito tenha do país uma visão progressista, se possível de esquerda, não pactue deliberadamente com o conservadorismo ou com o patronato reaccionário. No fundo, alguém que seja o contrário de Cavaco Silva. Pode-se também pedir, que quem vá para o lugar seja o aglutinador de um conjunto de forças de esquerda, e que propicie um deslocamento para a esquerda do eixo ideológico dominante.

Neste sentido, a esquerda tem-se dividido. Há quem procure o candidato que sirva para expressar os seus pontos de vista, independente de todos os outros. É, neste momento, a posição do PCP. Francisco Lopes nesse aspecto tem levado a água ao seu moinho e a sua candidatura “patriótica e de esquerda” tem muito a ver com o passado político do PCP, que neste aspecto foi ressuscitar as ideias da Revolução Democrática e Nacional, e sublinho nacional, e da sua oposição à União Europeia.

Nestas eleições, por razões que têm a ver com a posição do Bloco de Esquerda, não há nenhum candidato que expresse o ponto de vista da unidade da esquerda não-comunista e não social-democrata, de que o caso mais paradigmático foi o de Maria de Lurdes Pintassilgo, em 1986. E não sei se esta candidata iria corresponder a todas as exigências destes nossos jovens bloggers, alguns ainda sem idade para terem participado nelas.

Nobre, Defensor de Moura ou Coelho são fenómenos marginais à luta política, que poderão ter o seu nicho de mercado, mas não correspondem aos desejos destes nossos críticos.

Que representa pois, para mim a candidatura de Manuel Alegre. Uma possibilidade e a única de derrotar Cavaco, de inflectir neste momento a correlação de forças para a esquerda, retirando todo o peso negativo que é ter Cavaco na Presidência, a possibilidade, mesmo que remota, de uma recomposição da esquerda.

Dirão que é pouco, que a situação exige mais, outro candidato e outra política. Arranjassem-no, não se limitem a criticar e a recusar meter as mãos na massa. É fácil, descobrirem agora as contradições do candidato, mas ele é neste momento o melhor denominador comum para derrotar Cavaco Silva e como se torna claro, a eleição de um Presidente, não é a mesma coisa do que a de um parlamento, nem que de uma câmara municipal, que é por natureza plural. A eleição de um Presidente da República é uninominal, com todos os defeitos e virtudes que isso comporta. E é pois neste quadro concreto que, como actores políticos, têm que agir.

PS.: Texto igualmente publicado aqui

12/01/2011

Algumas contas de simples aritmética a propósito da eleição de Alegre


Joana Lopes faz aqui uma grande citação de um post do Victor Dias, em que este explica muito bem explicadinho, como é seu costume, porque é que não se deve apelar ao voto útil em qualquer dos candidatos que se opõem a Cavaco Silva.

Depois daquelas contas feitas, apeteceu-me rever a aritmética utilizada e refazer politicamente esta contabilidade.

Comecemos por uma afirmação que António Costa fez há tempos, na Quadratura do Círculo: se votarem, por exemplo, cem mil eleitores, Cavaco, para ser eleito à primeira volta, precisa de 50 mil votos mais um. Se votarem só 60 mil, Cavaco só necessita de 30 mil mais um. Por isso a abstenção favorece Cavaco e não os seus opositores. Ora o que é válido para Cavaco também é válido para o conjunto dos seus opositores, portanto por aí não podemos ir. Tudo depende qual dos lados se abstém mais. Assim, o princípio acima anunciado só faz sentido se todos aqueles que não suportam Cavaco, e não tenham candidato à sua medida, forem votar nos opositores ao actual Presidente da República. Por isso, José Neves, do blog Vias de Facto, como não gosta de nenhum, mas acima de tudo embirra com Cavaco, acha que é suficientemente exótico ir votar em Defensor de Moura. E não basta, como já disse a Comissão Nacional de Eleições, votar branco ou nulo, é preciso expressar validamente o voto para que ele entre na percentagem dos 50 %. Ou seja, deve-se votar em todos, menos em Cavaco.

No entanto, dito isto, vamos às contas do Victor Dias. Mesmo que Cavaco não tenha os 50% mais um, resta a pergunta e quem vai à segunda volta? Eu por mim não tenho dúvidas, quero que seja Manuel Alegre. Mas Victor Dias não deve com certeza ter esta preferência, por isso seria importante apelar e achar que o voto útil seria em Francisco Lopes, para que este possa ir à segunda volta. Foi por estas e por outras que em 1986, Salgado Zenha não foi à segunda volta, o que teria evitado todos aqueles sapos que tivémos que engolir. Maria de Lurdes Pintassilgo retirou-lhe os votos necessários para isso acontecer. Por este motivo, ou Victor Dias, sem o dizer já acredita na possibilidade de ser Manuel Alegre a ir à segunda volta com Cavaco ou implicitamente quer que isso suceda. Pois, de outro modo, apelaria ao voto útil no seu candidato, pois não é indiferente em quem se deposita o voto. Por este andar ainda Fernando Nobre se arriscaria a ir à segunda volta. E uma situação destas já se passou em França. Quando ninguém esperava, quem passou à segunda volta foi Le Pen.

Por isso, diria que estas coisas não são simples aritmética têm por trás alguma reflexão política. Se não gosta de Cavaco, e nenhum dos outros é da sua preferência, vote naquele que mais satisfaz o seu ego. Porque não em Coelho? Sempre poderia ir ao poleiro. Mas se quer votar conscientemente vote em Manuel Alegre, para garantir que seja este a ir à segunda volta.
Post com algumas alterações também aqui incluído.

11/01/2011

O Chefe da Oposição


No outro dia, em Peniche, uma manifestante gritava para Cavaco: “Não tenha medo deles”, logo o locutor, que conduzia a emissão televisiva, lhe perguntou: “quem eram eles?”. Resposta pronta da manifestante, o José Sócrates e o Ministro das Finanças.

O “eles”, não era Manuel Alegre ou qualquer dos outro dos candidatos que se perfilam à esquerda, era o Governo. Cavaco manteve-se calado, convém-lhe aparecer como chefe da oposição. Mas há mais, quase todos os dias os professores do ensino privado, em guerra com o Governo por causa dos cortes no subsídio a este tipo ensino, se têm manifestado à frente de Cavaco, não para o apoucarem, mas sim para lhe gritarem um pedido de SOS contra as malfeitorias governamentais. Apareceu mesmo um professor que veio explicar à televisão e a Cavaco que os gritos daquela manifestação não eram contra ele, mas representavam o grito de desagravo dos professores. Cavaco começa assim aparecer como o verdadeiro chefe da oposição contra o Governo.

Esta táctica já é antiga. Em 1985, depois de Cavaco tomar conta do PSD, rapidamente soube também aparecer como opositor ao Governo do Bloco Central, chefiado por Mário Soares, e de que ele, PSD, tinha feito parte.

Estes senhores são lestos em se desresponsabilizarem daquilo que fizeram. Quando lhe serviu para se mostrar responsável, o Orçamento foi aprovado devido ao seu empenho. Agora, as medidas gravosas que aí vêm já são só da responsabilidade do Governo. Como se vê rapidamente tiram o cavalinho da chuva dos seus comprometimentos passados.
PS.:
Chegou-me esta imagem via e-mail, achei graça e pu-la a encimar este post. Também publicado aqui.

09/01/2011

Um pequeno provocador de direita


Penso que Elísio Estanque, num artigo que escreveu para o Público, a 31/12/10, já disse tudo sobre o discurso da direita neofascista, encabeçada neste caso por Rui Ramos (RR) e Henrique Raposo, a propósito da prosa provocadora que estes senhores escreveram para o Expresso, de 18/12/10, sobre o candidato presidencial Manuel Alegre.

No entanto, porque há alguns pormenores que não foram abordados pelo articulista do Público em relação ao texto de RR, senti-me na obrigação de vir chamar a atenção para algumas das omissões deste historiador a propósito da escolha de Argel, pela FPLN e Alegre, e sobre a Guerra da Argélia.

Para além de outras provocações desnecessárias e de mau gosto, RR baseia a sua argumentação na ideia que a Manuel Alegre não está interessado em desenterrar o seu passado anti-fascista, principalmente a sua estadia em Argel, por ter trocado “o Portugal de Salazar pela Argélia de Ben Bella e de Boumédiène, um país onde também havia polícia política, tortura, censura e partido único, mas a um nível infinitamente mais bárbaro”. O que sabe ele do Portugal de Salazar se em texto recente, e recorrendo aos números de presos e mortos pelo regime fascista, acha que este era muito mais benigno do que o da Primeira República. Esquece o que era o fascismo quotidiano e o medo que inspirava nas populações – já escrevi sobre este assunto aqui.

Mas a escolha da Argel pela Frente Patriótica de Libertação Nacional, para poder emitir para Portugal e para as Colónias as emissões da rádio Voz da Liberdade, teve simplesmente a ver com o apoio que aquele país dava aos Movimentos de Libertação das colónias portuguesas, que naturalmente para Rui Ramos, ainda são os “turras”, e à libertação do povo português do jugo fascista. Coisa que os democráticos países da NATO, em que estava incluído Portugal não queriam e não podiam prestar. Se exceptuarmos a Suécia, que não pertencia à NATO, e que activamente apoiou os antifascistas portugueses, que lá se quisessem refugiar, sem actividade explicitamente política, e os movimentos de libertação, mais nenhum dos países na altura democráticos, teve qualquer tolerância para a luta contra o fascismo. Alguns mesmo colaboraram abertamente com o regime e as suas polícias ensinaram e prestaram colaboração à PIDE. São coisas que o nosso pequeno provocador esquece.

Depois faz referência à morte de dezenas de milhares de harkis, argelinos que serviram no exército colonial francês. Também aqui a sua parcialidade é enorme. Esquece que houve uma guerra colonial, que a democrática França se portou execravelmente impedindo a independência e reprimindo o levantamento nacional dos argelinos. As histórias de tortura do exército francês são conhecidas. La question, de Henri Alleg, de 1958, interdito em França, denuncia as torturas sofridas pelo autor. São coisas já esquecidas, que o nosso pequeno provocador não gosta de lembrar. Mas há mais, na democrática França, o colaboracionista Maurice Papon, posteriormente identificado e preso, quando era Chefe da Polícia de Paris, em 1961, mandou disparar sobre uma manifestação pacífica de argelinos, tendo morto cerca de 200, cujos corpos foram durante dias encontrados no Sena. Esta mais uma das histórias que RR não gosta de contar, só se lembra do caso harkis, para atacar a passagem de Manuel Alegre por Argel, onde, segundo o próprio, nunca houve qualquer interferência do Governo argelino sobre o conteúdo da rádio Voz da Liberdade, coisa que o Sr. RR não pode garantir para Portugal, onde a censura limitava a actividade de qualquer jornalismo.

Já uma vez chamei ao Sr. RR Um camelot du roi à portuguesa, cuja definição é de grupo de provocadores católicos e monarquistas, adeptos da Action française, de Charles Maurras, que pontificavam entre as duas guerras e que participaram activamente nos motins provocados pela extrema-direita em França, no dia 6 de Julho de 1934. Hoje, para minha alegria, vejo o Elísio Estanque chamar-lhe neofascista, não lhe vai mal também esta etiqueta.


PS.: também publicado aqui.

08/01/2011

Alegro Pianíssimo


Convidaram-me para integrar o novo blog, Alegro Pianíssimo, que nasceu para apoiar a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República.

Depois de resolver alguns conflitos com a informática, consegui finalmente colocar um meu primeiro post. Teve que haver ajudas, mas lá está ele certinho, graficamente, como mandam os seus responsáveis. Felicidades e que o candidato que eles e eu apoiamos tenha êxito, que é ir à segunda volta.

Como não vos quero obrigar a descobrirem o meu post num montão deles, aqui vos deixo o que escrevi. É mais uma das minhas recordações de juventude.

Quando a “voz” se ouvia em Argel

Já quase ninguém se lembra o que era estar acordado até à uma e meia da madrugada, para ouvir “aquela voz” que vinha de outro mundo para nos falar de liberdade. Era voz de Manuel Alegre, na rádio Voz da Liberdade, em Argel.

Na segunda metade dos anos 60, um grupo de jovens, já organizados partidariamente, resolveu enviar para Argel, por mão amiga, uma carta cheia de informações sobre o Portugal censurado.
Reunimo-nos e escrevemos à máquina não sei quantas páginas repletas de notícias e assinámo-la, cheios de confiança, “Grupo Bento Gonçalves”. Porque não se fica com cópia destas coisas, só me lembro de dois dos temas que foram abordados. Um era sobre a ponte Salazar, hoje, felizmente, 25 de Abril. Um de nós tinha a informação que aquela obra tão custosa à época não estava a dar o rendimento que se esperava, havia pouco movimento. Já se percebe, o que se teria escrito? Era uma obra do regime, que empobrecia a nação e não serviria as populações interessadas. Hoje, estas afirmações parecem-nos ridículas, mas na altura não o eram.
Mas o grosso da nossa informação consistia no tráfico de armas que, com a cumplicidade do Governo de Salazar, se fazia para o Biafra, uma província secessionista da Nigéria, que se tinha revoltado contra o poder central e era apoiada pelo Governo fascista português e por outros estados associados ao colonialismo, como a África do Sul e a Rodésia do Sul. Havia um importador português, ligado ao fascismo e à vida tauromáquica – na altura fez-se referência ao o nome –, que vendia as armas e as enviava não oficialmente para aquela província. Isto era grave, porque devido aos interesses obscuros do petróleo e ao cerco que a Nigéria impôs aquela província independente, estavam a morrer à fome milhares de pessoas. Este novo país nunca foi reconhecido pelas Nações Unidas e Portugal participava, através do comércio da morte, que era feito a partir de S. Tomé e Príncipe, do pequeno número de países que alimentava aquela guerra.
Tempos depois “aquela voz” noticiava algumas das nossas informações, juntamente com outras notícias, cuja fonte era a nossa carta. Como o noticiário não abundava, as informações por nós prestadas eram repetidas regularmente. Sentimos depois deste episódio um grande orgulho, a rádio Voz da Liberdade, prestava atenção a este apagado mas firme grupo de jovens. Tínhamos contribuído para a luta e a “voz” tinha-nos ajudado.

05/01/2011

Como uma “menina” “coquette” se transforma em vedeta pop da blogosfera


Vem este título a propósito de dois artigos de Helena Matos que foram bastante criticados na blogosfera.
O primeiro, no Público, com um título que pretende parafrasear Os Maias, de Eça de Queirós, Falharam a vida, meninos, o segundo, O que é um ex-activista?, publicado num dos blogs para onde escreve, Blasfémias.

Comecemos pelo último. Ricardo Noronha no Vias de Facto (ver também este post sobre o mesmo assunto), com paciência de santo, explica à referida “menina” o que é caso Battisti, acusado de pertencer a uma organização de luta armada em Itália no final dos anos 70. Percebe quem pode ou quem não está de má-fé, a mim parece-me que está de má-fé.

Quanto ao primeiro artigo, já mereceu muitas mais críticas na blogosfera. Rui Bebiano, em A Terceira Noite, acha, por palavras minhas, que não se deve gastar cera com tão ruim defunto e por isso nem critica o conteúdo do artigo. Joana Lopes, no Entre as Brumas da Memória, pergunta quem da actual governação pertence à geração de 60? A tal que, segundo Helena Matos, falhou a vida. Miguel Madeira, no Vias de Facto, faz uma pergunta semelhante. Victor Dias, em O tempo das Cerejas, escreve, citando nomes e com grande ironia, sobre os Expulsos da Geração de 60, e Ricardo Noronha, também no Vias de Facto, transcrevendo partes do artigo, refere-se, com muita graça, aos erros ortográficos dados por tal “menina” em post anterior.
Eu próprio, já várias vezes me tenho referido criticamente a Helena Matos. Destaco especialmente um post em que apontava para um conjunto de jornalistas que deliberadamente escreviam reaccionarices para os nossos media com a conivência das direcções desses órgãos de informação.

Apesar de tudo o que já se escreveu e de que fiz o levantamento, volto novamente ao assunto, porque pertenci à geração que frequentou a Universidade pelos anos 60 e, devido aos muitos anos que por lá andei, fui-a conhecendo razoavelmente.

Em primeiro lugar uma advertência. Tem pouco rigor histórico falar em geração, quando aquilo a que queremos fazer referência, é um conjunto muito particular da mesma. Não abrangemos todos aqueles que pela sua posição social, pelos azares da vida ou pelas razões mais diversas não tiveram possibilidades de, em determinada altura, frequentar a Universidade e, neste caso concreto, de terem participado no movimento estudantil e de se sentirem pertença a uma geração que se reúne todos os anos a 24 de Março, para comemorar o Dia de Estudante de 1962 e as crises académicas subsequentes.

Começa o texto de Helena Matos: “Nas fotografias que gostam de mostrar têm o cabelo revolto e um ar de quem tem a certeza de tudo.” Quem vir essas fotografias, principalmente as referentes a 1962, espantar-se-á com todos os estudantes de gravatinha, penteados e de casaco e as meninas de lenço, saia e meinha.
Isto só mostra a ignorância da “menina”, que desconhecendo o que é a geração de 60, está a imaginá-la pelos olhos do pós-25 de Abril.
A seguir acrescenta “Esse mundo onde público era sinónimo de justiça e gratuitidade rimava com solidariedade. Esse mundo onde governar bem equivalia a fazer cada vez mais promessas de redistribuição e onde o Estado passou a ser entendido como o grande doador.” Ora tudo isto é um disparate pegado. Mais uma vez, através de um olhar actual e recorrendo às polémica em curso sobre mais estado ou menos estado, se tenta caracterizar a geração de 60. Um completo falhanço
Politicamente esta geração sabia pouco do Estado Social. Os meus pais, de uma geração muito mais velha, ainda falavam da gratuitidade do Serviço Nacional de Saúde Inglês, que tinha sido implementada naquele país a seguir à II Guerra Mundial, e que era um espanto nessa altura para os cidadãos que no nosso país desconheciam o que era a saúde gratuita e universal. O mais que as gerações universitárias da época intuíam era a luta pela liberdade e pela democracia e os politicamente mais comprometidos falavam da revolução social, que nada tinha a ver com o Estado Social, mas sim com a tomada do poder pelos trabalhadores. E mesmo se ao longo da década foram surgindo alguns socialistas, o seu imaginário ia muito para lá do reformismo do PS francês ou da social- democracia alemã. Ainda me lembro do António Reis, hoje Grão-mestre da Maçonaria, achar, logo a a seguir ao 25 de Abril, que o programa do PS português se deveria assemelhar ao que em França, nessa altura, se chamava “reformismo revolucionário”, umas propostas apadrinhadas pelo sociólogo francês André Gorz. Já se sabe quanto mais se avança na década cada vez era maior o radicalismo da extrema-esquerda. Mesmo os militantes do PCP, que a longo prazo acreditavam na almejada revolução socialista, nessa altura discutiam o programa do Partido, a Revolução Democrática e Nacional, que a par das conquistas sociais, que era o que mais se poderia assemelhar com o Estado Social, defendiam a destruição dos monopólios com a sua consequente nacionalização, o que não corresponde ao textinho pífio da “menina” em causa.
Depois segue mais um chorrilho de asneiras sobre os jornalistas, confundindo a posição corajosa de alguns, poucos, que por entre linhas combatiam o regime fascista e que hoje estão todos reformados ou já faleceram e aquelas centenas de estagiários que invadem as redacções dos media, que trabalham quase de graça e fazem o jornalismo que se conhece, aceitando pespegar alguns escândalos nos jornais conforme o patrão deseja ou não. Nada disto é comparável e merece mais do que duas linhas.
Depois acrescenta mais umas reaccionarices sobre o ensino, que nesta altura, todos os da laia dela, como os Medina Carreira, tiveram que engolir, quando a apareceram recentemente os resultados do PISA.
A partir daqui começo a perder a paciência para continuar a seguir a prosa da “menina”. Tudo são asneiras e disparates, transportando para os ombros da pobre geração de 60, todas as discussões que hoje em dia se travam.
E o que é espantoso é que esta "menina" considere que, passados mais de 35 anos sobre o 25 de Abril, ainda seja a geração de 60, que hoje tem mais de sessenta anos e alguns já chegaram aos 70 e tal, e estão todos na reforma ou já faleceram, a responsável pelo que de mal acontece ao país e, segundo ela, tenha deixado às gerações vindouras um país mais pobre. Quando o principal político do período democrático, que esta “menina” de certeza admira, é o candidato Cavaco Silva, que foi aquele que mais anos esteve no poder depois do 25 de Abril e disso se gaba, e que, enquanto a geração dos anos 60 combatia pelo derrube do regime, fazia pela vidinha, indo à PIDE declarar que “estava integrado na ordem política vigente”. E são de certeza também amigos desta “menina”, aqueles que todos os dias nos enchem a casa com opiniões políticas, que são os legítimos herdeiros daqueles que já nos anos 60 eram os donos de Portugal: os Ricardo Espírito Santo e os Fernando Ulrich. É a estes senhores que esta “menina” deve ir pedir contas da situação a que Portugal chegou, ou talvez a um Eng. Sócrates que, enquanto que outros continuavam a lutar pela transformação social do seu país, ia, nos anos 80, fazendo casinhas na Covilhã e subindo paulatinamente na carreira política. Tenha dó e deixe a geração de 60 em paz.

PS. I: segundo pude ler na net esta “menina” já tem 49 anos, no entanto, há umas fotografias, que também se podem ver na net, em que aparece com um ar tão jovem e primaveril que não resisti a chamar-lhe menina, com aspas.
PS. II: a fotografia que ilustra este artigo é de um Plenário de estudantes na Cidade Universitária, durante a Crise Académica de 1962.

04/01/2011

Ainda os debates presidenciais


Já muito desfasado no tempo, mas achando que não posso deixar em claro os debates eleitorais para a Presidência da República, aqui vai pois a minha opinião.
Não vi todos, e só a época em que tiveram lugar é que pode justificar esta minha falta de comparência a alguns. Também não vou repetir as frases feitas sobre a falta de interesse dos mesmos. São como são, ou como os candidatos quiseram que fossem, e portanto não nos podemos queixar, provavelmente se tivessem mais tempo e fossem já depois das Festas seria melhor. Mas aí já iriam cair no período eleitoral. Não tenho palpites, mas reconheço que a época foi má e o tempo dedicado à discussão foi pequeno. Provavelmente, muitos candidatos não teriam mais para dizer?

Começarei pelo primeiro, que muito me impressionou: Francisco Lopes (FL) versus Fernando Nobre (FN). Como era a sua estreia, Nobre ainda estava a adaptar-se. Foi um horror. Para além das suas descrições miserabilistas dos locais onde prestou assistência médica, em que ressalta a migalha no bico da galinha, temos a espantosa afirmação, que não reproduzo ipsis verbis, em que acusa o seu opositor de ser o representante de um sistema caduco, a que junta mais umas aleivosias. A princípio ainda pensei que FN estivesse atacado de anti-comunismo primário, referindo-se à ideologia comunista do seu oponente. Mas não, era ao regime democrático que ele se estava a referir, atacando FL por qualquer coisa de que este não tinha culpa. Fazia uma mistura perigosa que envolvia as actuais circunstâncias políticas e económicas, que são graves e resultam da responsabilidade do bloco central, aliado ou não ao CDS, com os próprios fundamentos do regime democrático, tornando assim todos os intervenientes políticos nacionais responsáveis pelas actuais circunstâncias. Esta afirmação roça perigosamente o fascismo, mesmo quando inconscientemente proferida. Parece-me que, em todo este debate, Francisco Lopes soube safar-se dos disparates do seu opositor.
Tempos depois vi Fernando Nobre versus Cavaco Silva e aqui já era Sr. Doutro para lá, Sr. Professor para cá. O respeitinho que é devido aos superiores. Triste figura a deste comparsa, por quem tinha até alguma consideração, que nunca percebeu que o papel que lhe destinaram Mário Soares e os seus acólitos, era simplesmente a de morder as canelas de Manuel Alegre. Convenceu-se que era um legítimo representante da “sociedade civil” e deu-se ares. Estatelou-se no chão.
Defensor de Moura, aquele em quem José Neves, em desespero de causa, aconselhava o voto, tem-se revelado melhor do que eu pensava. Parece que atacou Cavaco Silva de frente, surpreendendo o adversário e marcou pontos. Mas não vi este debate, só me refiro a ele pelos ecos que encontrei na imprensa. Vi o debate entre ele e Manuel Alegre e compreendi que Defensor de Moura não estava principalmente a concorrer contra Manuel Alegre, ainda bem. O seu papel será o de ser um bom avô que luta pela regionalização lá da sua Viana e contra a corrupção. A primeira ainda não se sabe se é uma virtude, a segunda é-o de certeza.
Vi também Manuel Alegre versus Francisco Lopes. Diria que estavam os dois contidos, para não darem a ideia que eram os principais inimigos. Mas quando no final do debate Manuel Alegre disse a tradicional amabilidade que não era devido ao PCP que a esquerda perdia as eleições presidenciais, Francisco Lopes respondeu-lhe que ele, Manuel Alegre, era o que estava melhor colocado para receber os votos dos defensores do actual Governo. Logo aí alguns comentadores mais apressados viram uma troca de amabilidades entre os dois, só não perceberam que Francisco Lopes dirigiu uma farpa a Manuel Alegre, colocando-o entre os actuais apoiantes do Governo de Sócrates.
No entanto, reconheço que Francisco Lopes se tem saído melhor do que aquilo que eu esperava, mas lamentavelmente isso não lhe dará mais votos do que aqueles que as sondagens lhe atribuem, ou eu estou muito enganado.
Depois vi um debate e meio, já não sei bem entre quem. Não tiveram história.
Por último, o entre Cavaco Silva e Manuel Alegre. Impressionou-me tanto como o primeiro.
O Cavaco foi de uma grande agressividade. O Manuel Alegre não enveredando pela resposta forte não sei se lucrou muito. Podemos dizer que para Cavaco a melhor defesa foi o ataque e este princípio foi um pouco fatal para Manuel Alegre. Mas quando se meteu pelo caso do BPN não se saiu muito bem, porque o problema de Cavaco não é de Oliveira e Costa e Dias Loureiro terem pertencido ao seu governo, é ter nomeado Dias Loureiro para o Conselho de Estado e até ao último momento o ter sustentado politicamente, já que legalmente o não podia substituir. O outro problema foi os ganhos astronómicos que obteve com a venda das acções da Sociedade Lusa de Negócios, 140% de lucro. Ora nisso Manuel Alegre atrapalhou-se, quase que teve medo de pegar no assunto. Depois em relação aos amigos de Cavaco quase que lhe deu razão, ao reafirmar o que Cavaco já tinha noutra altura dito, que não era responsável pelo que faziam os seus amigos passados vinte anos. Quando o Dias Loureiro ainda há bem pouco tempo se passeava no Conselho de Estado, com a sua complacência.
Quanto ao Estado Social é espantoso que Manuel Alegre não desmontasse essa aldrabice de Cavaco que é dizer que o apoio à caridade e aos institutos que a praticam é o apoio ao Estado Social. O Alegre aí podia e devia ter dado a volta.
É evidente que Manuel Alegre noutras alturas esteve bem e há quem pense que ao adoptar este tom moderado e de postura de Estado se distanciou de Cavaco, um político verrinoso e sobranceiro. A ver vamos se essa posição rende votos.
No entanto, não tenho dúvidas que quem não gostava de Cavaco ficou a a detestá-lo e a rogar-lhe todas as pragas do mundo.

Aqui está pois a minha visão dos debates. É evidente que, como apoiante de Manuel Alegre, quero que o meu candidato se saia bem e seja capaz de derrotar os seus opositores, mas tenho algumas dúvidas que isso tivesse acontecido com Cavaco Silva. No dia 23 saber-se-á o resultado, que não depende só destes debates.
PS. (5/1/11):
José Neves neste post vem reafirmar o voto à primeira volta em Defensor de Moura, que lhe faça bom proveito.
Já agora actualizava mais um dos disparates de Fernando Nobre no tal debate com Francisco Lopes, não teve melhor ideia do que propor a redução dos deputados para 100. É a demagogia à solta.