Estava eu a passar em revista os blogs que consulto diariamente, ou regularmente, quando nos Caminhos da memória dei com um post que se chamava Naquela madrugada de 21 de Janeiro de 1965. Percebi que devia estar relacionado com prisões pela PIDE e cheirava-me, dados os habituais escrevinhadores daquele blog, que teria a ver com a vaga de detenções que assolou o movimento estudantil nos finais de 1964 e nos princípios de 1965. Quem escrevia o post era um amigo meu, dos tempos do liceu Gil Vicente, o Artur Pinto, que apesar de andarmos na altura em faculdades diferentes, mantínhamos amigos comuns e não sei mesmo se não continuávamos alegremente a frequentar o Bairro da Graça onde eu morava e onde o Artur Pinto penso que também morou.
Mas não é para vos falar do Artur Pinto que aqui estou.
O que vos quero contar é que antes dessa vaga de prisões a que se refere o Artur Pinto, e em que estiveram envolvidos, hoje respeitáveis cidadãos deste país, verificou-se a prisão, entre outros, do Mário Neto, estudante na altura do IST e, na última vez que o vi, professor de uma escola superior de Coimbra. Mário Neto era na altura presidente do Cine-Clube Universitário de Lisboa (CCUL) e que, segundo um comunicado que fui desencantar ao armário das recordações, foi preso na noite de do dia 24 Novembro de 1964, cerca das 23 horas. Continua depois o comunicado: “no dia 25, à tarde, dois membros da direcção do CCUL, quando procuravam o Mário Neto em sua casa, foram igualmente presos”, eram o Fernando Costa Gomes, na altura mais conhecido pelo Bobocas, que penso que é um ilustre professor de matemática em algum país perdido da América Latina e o António Melo que, depois de muitos recomeços na vida, era, há uns tempos, editor. Mas, há muito anos que nada sei deles.
Já se sabe que, perante as notícias negras que se foram avolumando durante todo o dia 25, à noite a direcção que restava, em que eu me incluía, mais alguns colaboradores apareceram em força na sede do Cine-Clube. Pelas 22h e 30m a sede foi assaltada pela PIDE. Quem comandava o assalto era, nada menos nada mais, do que o célebre inspector José Gonçalves, o assassino de José Dias Coelho. Só viemos a saber disto mais tarde.
O comunicado, que eu venho citando, continua assim: “a sede do CCUL foi objecto de minuciosa busca por parte dos cinco agentes da PIDE. Na impossibilidade de encontrar qualquer documento incriminatório ou as armas que começaram por nos exigir, que a clareza das actividades do Cine-Clube e o constante controlo das autoridades tornavam evidentemente inadmissível, os autores do saque levaram todo o material de secretaria (incluindo ficheiros, propostas de novos sócios, números de telefone, actas, etc.) …". Depois relatava-se a ida no dia seguinte de alguns membros da Direcção à sede da PIDE saberem informações sobre a “situação em que se encontrava o nosso colega Mário Neto e das razões que justificaram a sua detenção e a busca que a nossa sede tinha sido submetida. Foi-nos respondido que não tínhamos o direito de fazer essas perguntas, que toda a Direcção era suspeita de actividades subversivas e que era do domínio público que a própria actividade do CCUL se subordinava a uma actividade ilegal”.
Terminava o comunicado, convocando uma Assembleia-Geral Extraordinária para o dia 7 de Dezembro de 1964, no IST. Dado os termos em que estava redigida a convocatória, a Assembleia foi proibida pela Direcção do IST. Convocou-se outra para 15 de Dezembro, com palavras mais comedidas, e que se realizou.
Pormenores desse assalto que nunca mais esquecerei. A sede do Cine-Clube situava-se num rés-do-chão pequeníssimo na Rua Francisco Sanches, perto da Praça do Chile e do cinema onde dávamos as sessões, que hoje já não existe, o cinema Imperial. Como o pessoal que já lá estava, mais os cinco agentes da PIDE, a sede ficou rapidamente irrespirável, e os próprios agentes bastante agressivos, já que estavam em clara inferioridade numérica. Identificaram e revistaram todos os presentes, tivemos que justificar todos os papelinhos que tínhamos connosco e elaboraram uma lista com os nossos nomes. No final vim a saber que um colaborador do CCUL, por sinal bastante gordinho e com um ar calmo, que desde que os pides chegaram até ao final não se tinha levantado da cadeira onde estava sentado, tinha passado desapercebido e não tinha sido identificado. Há sempre um episódio pícaro nestas coisas.
Depois de todos identificados um dos agentes foi à rua, penso que para telefonar para a sede da PIDE, com os nossos nomes, o que como hão-de compreender, até ele vir e verificar-se que ninguém ia preso tornou o ambiente ainda mais irrespirável. Houve uma pequena cena com o telefone que existia na sede. Fomos proibidos de telefonar ou receber chamadas. Quando o telefone tocou, um dos presentes, que estava sentado na mesa do telefone mexeu-se e deu-lhe um pequeno toque, foi o suficiente para sermos imediatamente insultados e estarmos à beira, pelo menos o “prevaricador”, de levar algumas chapadas. Depois de confirmarem que não havia ninguém para prender e de nos levarem, o que é sempre o mais importante para uma associação, o ficheiro dos sócios, lá se foram embora. Para experiência bastou.
Durante meses, não sei se anos, ia regularmente uma delegação à sede da PIDE pedir os ficheiros. Havia sempre desculpas para não nos darem. Na última vez a resposta foi tão ameaçadora, dando a entender que quem lá fosse da próxima podia ficar preso, que desistimos de os recuperar. Foi de certeza com as fotografias desses ficheiros que a PIDE pôde elaborar um levantamento de quem era de esquerda nas faculdades. Nós, à custa dos talões de cotas que os nossos cobradores, que eram da Polícia de Segurança Pública, tinham, fomos aos poucos e poucos reconstituindo os ficheiros.
Tempos depois, o nosso senhorio, que tinha alugado a sede em termos irregulares, vem-nos informar, com ar triste e pesaroso, como convém, que tínhamos que sair. Tivemos que ir pedir uma sala à Associação dos Estudantes do Técnico, que segundo me recordo era dirigida pelo Mário Lino, para instalarmos a sede do Cine-Clube, que durante ano, ano e meio, teve lá a as suas instalações.
Penso que, devido à primeira proibição da nossa Assembleia-geral e ao estatuto um pouco ambíguo do CCUL, pois todos os cine-clubes tinham os seus estatutos aprovados pelo Ministério do Interior – nessa altura os estatutos de qualquer colectividade precisavam de aprovação ministerial – enquanto que os do CCUL tinham sido aprovados pelo Ministério da Educação, foi pedida uma entrevista ao Ministro da Educação e lá fui eu mais alguém que não me recordo instalarmo-nos à porta do Secretário, do Secretário do Ministro, há espera dessa entrevista que, como era previsível, nunca veio. O ministério nessa altura era no Campo Santana.
Isto é a história de um tempo triste, em que para se desenvolver qualquer actividade cultural, que não fosse de apoio ao regime, exigia de nós esforços redobrados, fundos próprios e grande espírito de auto-sacrifício. Espero bem que estes tempos não voltem mais.
Mas não é para vos falar do Artur Pinto que aqui estou.
O que vos quero contar é que antes dessa vaga de prisões a que se refere o Artur Pinto, e em que estiveram envolvidos, hoje respeitáveis cidadãos deste país, verificou-se a prisão, entre outros, do Mário Neto, estudante na altura do IST e, na última vez que o vi, professor de uma escola superior de Coimbra. Mário Neto era na altura presidente do Cine-Clube Universitário de Lisboa (CCUL) e que, segundo um comunicado que fui desencantar ao armário das recordações, foi preso na noite de do dia 24 Novembro de 1964, cerca das 23 horas. Continua depois o comunicado: “no dia 25, à tarde, dois membros da direcção do CCUL, quando procuravam o Mário Neto em sua casa, foram igualmente presos”, eram o Fernando Costa Gomes, na altura mais conhecido pelo Bobocas, que penso que é um ilustre professor de matemática em algum país perdido da América Latina e o António Melo que, depois de muitos recomeços na vida, era, há uns tempos, editor. Mas, há muito anos que nada sei deles.
Já se sabe que, perante as notícias negras que se foram avolumando durante todo o dia 25, à noite a direcção que restava, em que eu me incluía, mais alguns colaboradores apareceram em força na sede do Cine-Clube. Pelas 22h e 30m a sede foi assaltada pela PIDE. Quem comandava o assalto era, nada menos nada mais, do que o célebre inspector José Gonçalves, o assassino de José Dias Coelho. Só viemos a saber disto mais tarde.
O comunicado, que eu venho citando, continua assim: “a sede do CCUL foi objecto de minuciosa busca por parte dos cinco agentes da PIDE. Na impossibilidade de encontrar qualquer documento incriminatório ou as armas que começaram por nos exigir, que a clareza das actividades do Cine-Clube e o constante controlo das autoridades tornavam evidentemente inadmissível, os autores do saque levaram todo o material de secretaria (incluindo ficheiros, propostas de novos sócios, números de telefone, actas, etc.) …". Depois relatava-se a ida no dia seguinte de alguns membros da Direcção à sede da PIDE saberem informações sobre a “situação em que se encontrava o nosso colega Mário Neto e das razões que justificaram a sua detenção e a busca que a nossa sede tinha sido submetida. Foi-nos respondido que não tínhamos o direito de fazer essas perguntas, que toda a Direcção era suspeita de actividades subversivas e que era do domínio público que a própria actividade do CCUL se subordinava a uma actividade ilegal”.
Terminava o comunicado, convocando uma Assembleia-Geral Extraordinária para o dia 7 de Dezembro de 1964, no IST. Dado os termos em que estava redigida a convocatória, a Assembleia foi proibida pela Direcção do IST. Convocou-se outra para 15 de Dezembro, com palavras mais comedidas, e que se realizou.
Pormenores desse assalto que nunca mais esquecerei. A sede do Cine-Clube situava-se num rés-do-chão pequeníssimo na Rua Francisco Sanches, perto da Praça do Chile e do cinema onde dávamos as sessões, que hoje já não existe, o cinema Imperial. Como o pessoal que já lá estava, mais os cinco agentes da PIDE, a sede ficou rapidamente irrespirável, e os próprios agentes bastante agressivos, já que estavam em clara inferioridade numérica. Identificaram e revistaram todos os presentes, tivemos que justificar todos os papelinhos que tínhamos connosco e elaboraram uma lista com os nossos nomes. No final vim a saber que um colaborador do CCUL, por sinal bastante gordinho e com um ar calmo, que desde que os pides chegaram até ao final não se tinha levantado da cadeira onde estava sentado, tinha passado desapercebido e não tinha sido identificado. Há sempre um episódio pícaro nestas coisas.
Depois de todos identificados um dos agentes foi à rua, penso que para telefonar para a sede da PIDE, com os nossos nomes, o que como hão-de compreender, até ele vir e verificar-se que ninguém ia preso tornou o ambiente ainda mais irrespirável. Houve uma pequena cena com o telefone que existia na sede. Fomos proibidos de telefonar ou receber chamadas. Quando o telefone tocou, um dos presentes, que estava sentado na mesa do telefone mexeu-se e deu-lhe um pequeno toque, foi o suficiente para sermos imediatamente insultados e estarmos à beira, pelo menos o “prevaricador”, de levar algumas chapadas. Depois de confirmarem que não havia ninguém para prender e de nos levarem, o que é sempre o mais importante para uma associação, o ficheiro dos sócios, lá se foram embora. Para experiência bastou.
Durante meses, não sei se anos, ia regularmente uma delegação à sede da PIDE pedir os ficheiros. Havia sempre desculpas para não nos darem. Na última vez a resposta foi tão ameaçadora, dando a entender que quem lá fosse da próxima podia ficar preso, que desistimos de os recuperar. Foi de certeza com as fotografias desses ficheiros que a PIDE pôde elaborar um levantamento de quem era de esquerda nas faculdades. Nós, à custa dos talões de cotas que os nossos cobradores, que eram da Polícia de Segurança Pública, tinham, fomos aos poucos e poucos reconstituindo os ficheiros.
Tempos depois, o nosso senhorio, que tinha alugado a sede em termos irregulares, vem-nos informar, com ar triste e pesaroso, como convém, que tínhamos que sair. Tivemos que ir pedir uma sala à Associação dos Estudantes do Técnico, que segundo me recordo era dirigida pelo Mário Lino, para instalarmos a sede do Cine-Clube, que durante ano, ano e meio, teve lá a as suas instalações.
Penso que, devido à primeira proibição da nossa Assembleia-geral e ao estatuto um pouco ambíguo do CCUL, pois todos os cine-clubes tinham os seus estatutos aprovados pelo Ministério do Interior – nessa altura os estatutos de qualquer colectividade precisavam de aprovação ministerial – enquanto que os do CCUL tinham sido aprovados pelo Ministério da Educação, foi pedida uma entrevista ao Ministro da Educação e lá fui eu mais alguém que não me recordo instalarmo-nos à porta do Secretário, do Secretário do Ministro, há espera dessa entrevista que, como era previsível, nunca veio. O ministério nessa altura era no Campo Santana.
Isto é a história de um tempo triste, em que para se desenvolver qualquer actividade cultural, que não fosse de apoio ao regime, exigia de nós esforços redobrados, fundos próprios e grande espírito de auto-sacrifício. Espero bem que estes tempos não voltem mais.
Fotografia da antiga sede da PIDE, que presentemente se transformou num condomínio privado.
13 comentários:
Ora aqui está um testemunho muito interessante dos tempos do «velho senhor» das botas.
Resta acrescentar que foram muitos, inúmeros, os ficheiros que a PIDE apreendeu, desde sempre, a todas as organizações que assaltava. Foi assim com o MUD Juvenil, com a Cooperativa dos Trabalhadore de Portugal, com a Associação Feminina para a Paz, com a Casa dos Estudantes do Império, com o Conselho das Mulheres Portuguesas, etc. Com o MUD Juvenil apanharam vários ficheiros, por diversas vezes, conforme assaltavam as diversas sedes que se iam abrindo...
Não esquecendo ainda o que se passou com as Listas de apoio ao MUD, em Novembro de 1945, dos diversos distritos do país, que serviram para que fossem varridos da Função Pública todos os assinantes e perseguidos todos os outros...
Obrigado Júlia pelo teu comentário. Eu sei que foram roubados ficheiros em muitos sítios. Tu citas a Casa dos Estudantes do Império. Penso que o seu encerramento se verificou mais ou menos por esta altura. Quanto aos do MUD, incluindo o triste episódio da entrega das listas de que falas, é muito anterior a isto. Quanto à Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, que eu frequentei aí pelos meus 17, 18 anos e onde ouvi o Flausino Torres, deve provavelmente ter sido diversas vezes assaltada. Por tudo isto, considero que estes ficheiros do Cine-Clube Universitário de Lisboa deviam ter sido na altura preciosos para a PIDE, porque davam um panorama de quem era, na época não se dizia de esquerda, mas sim da oposição, entre os estudantes de Lisboa.
Pois é, meu caro Jorge, cá dei com o teu blog. Lembras bem que o Mário Neto foi preso antes de nós e mesmo antes do funcionário do PCP, em Dezembro. Como sabes este acabaria por trair, se é que não estava já com a PIDE, desde Fevereiro ou Março de 1964. Quanto ao Mário Neto acabou por fazer parte do nosso processo.
Quanto ao António Melo, foi jornalista no Público e agora é free-lancer. Dou-me bem com ele.
Quanto ao resto, que saudades do CCUL, da CEI da Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal e da dos Padeiros.
Obrigado Artur pelo teu comentário. Mas o Melo que eu estou a referir, não é esse que também conheço, é outro. Agora fico na dúvida se o primeiro nome seria António.
Era mesmo António Melo, porque o comunicado que eu refiro falava nesse nome. Quem tu estás a pensar foi até um dos organizadores de "Não apaguem a Memória".
Tens razão. O que tu referes andou por Paris e foi professaor na Fac. Letras. Talvez o António Torrado possa saber dele. Posso dar-te o contacto do A. Torrado, mas para não o fazer aqui, em público, manda-me um e-mail que respondo-te. Quem me deu estas informações foi o outro Melo que me pediu para te dizer que concorda comtigo em relação ao Alegre, mas discorda quanto ao Zé Anes. Abraço
Caro Artur
Eu não estou interessado em contactar o António Melo. Foi só por mera informação de quem tinha sido preso na altura. E depois quis esclarecer quem era a pessoa em causa. Parece-me que acertaram, já que ele andou pela Faculdade de Letras, como professor.
Quanto ao Anes, é possível que o Melo tenha razão. Tenho amigos comuns que o acham uma pessoa interessante e extremamente simpática. Eu quando o conheci tinha também essa opinião. Não posso é passar por cima dos comentários que ele fez na SIC Notícias sobre a acção armada em Portugal e sobre o artigo do DN. Porque das duas uma ou não o comentava ou tomava as suas distâncias em relação a um artigo que mistura bombistas e terroristas no Estado Democrático e os associa à luta, que em alguns casos foi armada, incluindo o próprio levantamento do 25 de Abril, contra o regime fascistas. Vocês, e eu também, que somos guardiães da memória, temos o dever de não permitir estas confusões. Isto para lá das opiniões que cada um tenha sobre cada caso concreto. Pode-se discordar, por exemplo, da acção do Galvão, mas não se tem o direito de a misturar com os bombistas da ETA.
Caro amigo
Não o conheço, mas li também o post do Artur Pinto,nosso amigo comum, sobre a sua prisão em 21 de Janeiro. Muitos estudantes nessa altura foram presos antes e depois do 21 de Janeiro. Possuo um comunicado " correio estudantil" das Associações de Estudantes que têm os nomes de quase todos os estudantes presos nessa altura. Entre eles figura o nome de Mário Neto preso a 25.11.64 e também do Costa Gomes. Quanto a este último tratava-se do irmão mais velho e não do " Bobocas", este esteve comigo na Suiça, onde se formou em Arquitectura e nunca foi preso. Penso que exerce ou exercia na Venezuela. Há um António Melo preso também nesse dia estudante do Instituto Comercial.
Jaime Teixeira Mendes
Caro amigo
Segundo percebi pelo seu nome e pela referência que faz ao seu pai, foi irmão do Abílio Mendes, que eu me lembro perfeitamente da crise de 1962, penso que já falecido, e do Carlos Mendes, o cantor ainda bem vivo, que eu conheci vagamente no sector intelectual do PCP, já depois do 25 de Abril. Não sabia que existia outro irmão também médico.
No seu comentário refere-se à data de 25/11/64 como a data da prisão do Mário Neto. Ora eu possuo o comunicado do próprio cine-clube, de que ele era presidente, que começa assim: “Na terça-feira, dia 24, cerca das 23 horas foi preso pela PIDE o nosso colega Mário Neto…”. É um pormenor, sem grande importância, mas é provável que as associações de estudantes só viessem a saber da sua prisão no próprio dia 25.
Quanto ao Costa Gomes preso, no comunicado do cine-clube faz-se referência ao Fernando Costa Gomes, que era de facto o “Bobocas” e que eu me lembrava que tinha sido preso, provavelmente um pouco ao engano, por ter aparecido em casa do Mário Neto a perguntar por ele. Eu tinha a ideia, apesar de nunca mais o ter visto, que ele se formou na área da matemática e que de facto estava na Venezuela.
O irmão mais velho, que tinha sido presidente do Cine-Clube no ano lectivo anterior (1963-64), chama-se João Luís Costa Gomes e esse, de facto, formou-se em arquitectura. De vez enquanto encontro-o e falamos dos velhos tempos. João Luís foi também preso mais tarde, não me lembro quando, juntamente com o António Marques de Almeida, que também foi presidente do cine-clube (1962-63), e que chegou a ser, não há muito tempo, vice-reitor da Universidade Clássica. A prisão destes dois amigos durou pouco tempo já que, por qualquer razão, houve alguns equívocos da PIDE e pode-se dizer que não foram muito incomodados.
Quanto ao António Melo ele era na altura aluno do Instituto Comercial. Depois ainda exerceu a profissão de contabilista, mas a sua paixão eram as filosofias onde se veio a licenciar e a tentar um doutoramento, que penso que não conseguiu.
Estou a tentar ser fiel à memória dos factos, mas agradeço-lhe imenso o seu comentário e verifiquei que tem um blog que irei acrescentar à minha lista.
Um a braço amigo
Jorge Nascimento Fernandes
Sou na verdade irmão do Abílo já falecido e do Carlos Mendes. Saí do país em 10 de Abril de 1965 também, devido à denuncia do Nuno Alvares Pereira.Regressei no 25 de Abril, mas a ausencia de dez anos fez com que muita gente não me associasse à familia. Estou também reformado dos hospitais, portanto com tempo para escrever. O Fernando Costa Gomes é arquitecto formado em Lausana pela EPUL, cidade onde me formei em Medicina. Nessa altura convivi muito com ele.
Estou a dar os primeiros passos na blogoesfera mas o seu blog já está nos meus favoritos.
Um abraço
Jaime
Que coisa porreira, cheguei aqui um pouco por acaso, e reencontrei muita malta, e noticias de outra de que não sabia nada.Olha Jaime tambem não sabia nada de ti, fiquei contente em "rever-te ".Não sabia da morte do Abílio. Boas achegas de Júlia Coutinho, que não tenho o prazer de conhecer.Claro que por cá está o Artur, historiador honoris causa è assim que se escreve?). Volto em breve se não levam a mal.Grandes abraços para todos.
Começaria ainda pelo Jaime Mendes
Deve ter imensa razão em relação ao Bobocas. De facto estava convencido que ele era das matemáticas, mas pelos vistos tirou Arquitectura.
Ainda não tive tempo de inscrever o seu blog no meu. Farei isso em breve.
Quanto ao Baeta Neves
Tu foste dirigente do Cine-clube. Num levantamento que ando a fazer encontrei o teu nome diversas vezes. Foste também dessa leva de prisões de 65. Temo-nos encontrado algumas vezes em almoços e jantares comemorativos ou de militância de esquerda.
Um grande abraço de amizade e aparece sempre, que eu por vezes recorro à minha memória para contar histórias antigas
Para o Jaime Mendes
Ando um bocado baralhado. Afinal já tinha inscrito o seu blog no meu e não me lembrava. É da idade
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