11/01/2010

Manuel Alegre candidato?


Estava eu entretido a discutir Estaline e a chafurdar nesse passado triste, que agora alguns querem gloriosamente ressuscitar, e eis que, a propósito da possível candidatura de Manuel Alegre a Presidente da República, se arma na Internet uma acesa discussão. Só para poderem seguir esta troca de argumentos vou tentar linká-los (não sei se linkar é já uma das novas palavras introduzidas no Dicionário da Academia). Assim, a lista é a seguinte: Daniel de Oliveira, no Expresso, a 31/12/09, Miguel Cardina, em Minoria Relativa (blog que eu não conhecia e que já inclui na minha selecção), Nuno Ramos de Almeida, no 5 Dias, Tiago Mota Saraiva, no 5 Dias, Daniel de Oliveira, no Arrastão, Nuno Ramos de Almeida, no 5 Dias, Carlos Vidal, no 5 Dias e Renato Teixeira, no 5 Dias. Provavelmente, há mais, mas penso que esta lista já vos chega para uma leitura atenta e demorada.

Não estou interessado em rebater e discutir as opiniões dos outros, deixo-as aqui unicamente para poderem ler a argumentação em voga. Quanto a mim, tenho a dizer o seguinte.
Fui um dos apoiantes da candidatura de Manuel Alegre a Presidente da República nas eleições passadas. Considerei na altura, e nem pensava que ela tivesse o êxito que depois veio a ter, que a sua principal função era quebrar o PS e dividi-lo. A velha aspiração do PCP, que já o tinha tentado fazer com o PRD, de Ramalho Eanes. Este é um tema recorrente nos meus textos e penso que é sempre de grande actualidade.
Na altura, não se esperava que a divisão do PS fosse entre as linhas esquerda e direita. Eanes nunca representaria a esquerda. Simplesmente, pensava-se que dividindo o PS ao meio, como sucedeu, se poderia negociar mais facilmente acordos de Governo, como se tentou, antes de Mário Soares dissolver o Parlamento e dar, em 1987, a maioria absoluta a Cavaco.
O caso de Manuel Alegre era diferente, este sempre representava a ala esquerda do PS. A sua votação permitiu pensar, quer ao candidato quer à esquerda, que tinha ali muito voto onde ir pescar. Daí as aproximações do Trindade e da Aula Magna. Nesta última, atingiu-se um tal ponto de ruptura com o PS oficial que poder-se-ia pensar que um novo partido à esquerda do PS se estava a formar. Quase que poderíamos falar de um Die Linke à portuguesa. Não foi nada disto que aconteceu. Manuel Alegre teve “juízo” e, ou empurrado, pelo Bloco, segundo algumas más línguas, ou aconselhado por amigos que se saísse do PS nunca teria qualquer possibilidade de vencer eleitoralmente as eleições presidenciais, foi-se resguardando e, entre umas no cravo e outras na ferradura, aparece agora com possível candidato oficial do PS, como apoio do Bloco.
Deduzir-se-ia, por tudo o que escrevi, que vejo com maus olhos o apoio do Bloco ao Manuel Alegre. Não é verdade, simplesmente esse apoio já não se enquadra na perspectiva de uma ruptura dentro do PS, na formação de um grande partido à esquerda deste, mas sim naquilo que sempre foi a estratégia da esquerda, diria do PCP, de apoiar, há última da hora, o candidato da esquerda contra a direita. Isto só não sucedeu nestas últimas eleições, porque foi nítido que Cavaco ganhava e a esquerda estava perfeitamente desunida, mais valia, por isso, contar as espingardas.
Já agora, uma resposta a muitos dos posts que foram referidos anteriormente. Um candidato único da esquerda, à esquerda do PS, era neste momento uma impossibilidade prática e um candidato derrotado à partida. O PCP sempre fez uma análise rigorosa da situação e nunca se meteu em frentes de esquerda, com candidaturas condenadas à derrota. Daí, por exemplo, não ter apoiado, no longínquo ano de 1976, o Costa Gomes, proposto por um movimento unitário, por achar que ele nunca ganharia a Eanes. Não entrou na candidatura de Maria de Lurdes Pintassilgo, em 1986, apesar de ter ido apostar num candidato que foi derrotado, Salgado Zenha, mas aqui foi a excepção. Sempre fez tudo para que o candidato da esquerda incluísse o PS e fosse vencedor. Daí, ter engolido um sapo quando apoiou, à segunda volta, Mário Soares, também em 1986. Penso, mesmo assim, que é hoje mais fácil votar em Alegre do que em Mário Soares. Por isso, se for Alegre o candidato do PS e do Bloco o PCP, à segunda ou mesmo à primeira volta, irá votar nele. Ou então, muita coisa se alterou naquele partido. Mas já ouvi da boca de um militante comunista, provavelmente não típico, que Manuel Alegre era um candidato, mesmo apoiado pelo PS, vocacionado para a derrota. Via com melhores olhos o Jaime Gama ou outro que reunisse mais consensos ao centro. Mas este militante nada terá a ver com os impetuosos escrevinhadores do 5 Dias. Mas pensem nisto, o PCP prefere candidatos mais à direita, que não criem ambiguidades e falsas expectativas no seu eleitorado do que candidatos frentistas, como Manuel Alegre, que não sejam por ele controlados. A ver vamos.
Resta neste caso um problema central que é como é que Manuel Alegre vai gerir a sua candidatura. Se aparecer demasiado colado a Sócrates perde à esquerda, se for ao Bloco de Esquerda, perde à direita. Por outro lado, como é que o Bloco irá fazer a gestão do seu apoio? Será de modo a que ela seja agregadora da esquerda e possa integrar futuramente no Bloco os votantes socialistas que claramente não suportam o Sócrates?
E a juntar a tudo isto, em que altura é que o PCP irá apoiar a candidatura?
Pode ser que nada disto seja assim, que tudo corra mal e que a esquerda mais uma vez fique bloqueada ou então, tudo corre bem e teremos aí “esquerda grande” de que fala o Bloco.

1 comentário:

Miguel Cardina disse...

É verdade, Jorge. Anda por ali uma interessante discussão. Entretanto, já fiz mais uma achega: http://minoriarelativa.blogspot.com/2010/01/pensando-juntos.html