23/01/2010

5 Décadas de asneira em Portugal


Costumo, vagares de um reformado, ouvir a revista da imprensa matinal quer da SIC Notícias, quer da RTPN. Calhou-me hoje ouvir a da SIC Notícias. Quem as comentava era um velho conhecido meu, José Manuel Anes. Sabia que tinha feito uma carreira no Laboratório da Polícia Judiciária, que se dedicava a temas esotéricos e de alquimia, mas já não me lembrava que era maçon, nem sabia que tinha tão intensa actividade lectiva, palestrante e de escrevinhador (ver página pessoal aqui). Penso que hoje aparecia na SIC Notícias na qualidade de candidato a presidente da direcção do Observatório de Segurança Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), que eu suspeito que reúne tudo o que é conservador neste país.
Estive desatento aos comentários que fez sobre a maioria das notícias, no entanto, houve um que me chamou particularmente a atenção. Parece que no Diário de Notícias (DN) vinha um artigo que se referia ao terrorismo em Portugal. Posteriormente fui consultar o DN e o que estava lá escrito referia-se a 5 Décadas de Acção Armada em Portugal, de João Céu e Silva. Todo o artigo era perigoso, misturava acção armadas e atentados realizados antes e depois do 25 de Abril, relatava mais desenvolvidamente o caso do Assalto ao Santa Maria e do avião desviado por Palma Inácio e depois descrevia as acções da extrema-direita, do ELP e do MDLP, das FP-25 de Abril, e terminava com a ETA e com as prisões de dois etarras efectuadas recentemente no nosso país. Tinha também uma entrevista ao Carlos Antunes, encimada pelo título “Cunhal defendeu a insurreição armada”.
Logo o início, o artigo anuncia-se assim: “o terrorismo é a ameaça global deste início de milénio e o nosso país já foi fértil em explosões que mataram pessoas, destruíram instalações, navios e aviões e mudaram o curso da história.” - Talvez o 25 de Abril fosse uma acção terrorista –. Depois um pouco mais à frente: “um rol de actividades explosivas que a história oficial tem branqueado e esquecido, apesar da dimensão e do papel nas mudanças políticas que provocou nas últimas cinco décadas.
Vale a pena ler, já que indiquei o link, porque é um manual da parvoíce e da mistificação histórica, misturando coisas muito diferentes, como as acções posteriores ao 25 de Abril, além das da ETA e de alguns atentados internacionais que se verificaram no nosso país. Mas isto é a imprensa que temos e pior ainda, ligada ao PS. O que diriam alguns históricos daquele partido por se misturarem no mesmo saco o Henrique Galvão, o desvio do avião pelo Palma Inácio e a ETA ou os atentados do ELP. Branqueamento da história diz o autor das linhas, o que precisava era de um curso acelerado da história do século XX de Portugal.
Mas o mais grave disto foram depois os comentários de Anes, que quando eu o conheci, nos anos 60, na Faculdade de Ciências, se declarava marxista e propunha que organizássemos entre nós cursos de formação de marxismo. Como esta gente muda.
Mas dizia este senhor que todos os atentados que provocassem vítimas civis e não aplicava a palavra inocente, porque dizia que todos somos culpados, eram de condenar e por isso não se coibia de modo algum de condenar, provavelmente, as acções do assalto ao Santa Maria, ou da ARA, ou mais algumas que provocaram, na época, a morte de pessoas não envolvidas no processo.
Esta gente, que desconhece ou já não se lembra da história e hoje vive obcecada com o terrorismo, não é capaz de compreender que no tempo de Salazar, a PIDE, que torturava e matava em nome do poder, era uma organização terrorista em nome do Estado fascista, contra o qual foram levadas a efeito algumas acções armadas. Mais, esquece que terroristas eram classificados pelo fascismo todos os movimentos de libertação das colónias. Nós não íamos combater um exército inimigo, mas sim um bando de terroristas, os “turras”.
Fiquei triste porque pessoas de quem eu tinha uma boa recordação, apesar do esoterismo das suas pesquisas, alinhassem hoje pela mentalidade dominante e essa sim branqueadora do Governo de Salazar-Caetano.
Foto de José Manuel Anes

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