Ultimamente, a minha contribuição para este blog tem sido muito irregular. Já no post anterior dei algumas boas razões para isso. Agora poderia acrescentar a da época natalícia que se está a viver, pouco propícia à reflexão e mais ao convívio familiar ou à satisfação da gula, para aqueles que se podem dedicar com prazer a esse pecado. Tenho vindo a escrevinhar alguns textos, mas que, por uma razão ou outra, não os tenho inserido no meu blog. No entanto, porque senti necessidade de escrever para um fórum de discussão, onde também participo, o texto que a seguir vos apresento, aqui vai ele, com as correcções indispensáveis à sua publicação noutro local.
Não me parece que seja precisa grande argúcia política para se perceber que a actual situação tem pouco a ver com a luta entre forças de direita e de esquerda e que a questão não está, como alguns pensariam, no problema das alianças à esquerda e na reorganização desta para resistir à direita, mas na chicana política, para ver quem mais depressa consegue encostar o adversário às cordas.
A seguir às eleições, andava um conjunto de personalidades da esquerda a recolher assinaturas para uma aliança à esquerda e já Sócrates, nada interessado nessa proposta fazia o seu número de consultar todos os partidos com assento parlamentar, quer estivessem, à sua direita ou à sua esquerda. Essas conversas vinham de alguém que não tinha qualquer vontade de fazer alianças, que pensava jogar em todos o carrinhos e que encara a política como um jogo para enganar os papalvos, não tendo dela qualquer visão ética.
Depois tivemos a encenações dos professores, das taxas moderadoras e do orçamento rectificativo, que passou com os milhões atribuídos a Alberto João, enquanto o Ministro da Finanças gritava no Parlamento que não contribuía para o regabofe da Madeira. Era este o sentido de Estado deste Governo. Quando percebeu que a oposição ia conseguir aprovar a suspensão do Código Contributivo eis que desencadeia, pela boca de diversos socialistas, incluindo o seu homem de mão na televisão, António Vitorino, uma barragem contra o Presidente da República para que este não promulgasse aquele diploma. A acompanhar tudo isto envolve-se em picardias com o próprio PR, de muito mau gosto e que nada de bom trarão para o equilíbrio e o regular funcionamento das instituições. Sem ser pitonisa política direi que este Governo e José Sócrates ainda acabarão muito mal. O pior disto tudo é se, ao utilizar esta estratégia de grande confusão e de ataques indiscriminados à esquerda e à direita, José Sócrates não irá dar de mão beijada o Governo à direita.
Sem ser seu apreciador e por vezes muito crítico das suas posições, não deixo de reconhecer que este texto de Miguel Sousa Tavares, no Expresso, de 24 de Dezembro, traduz fielmente aquilo que eu penso neste momento de José Sócrates e do seu Governo:
“São crescentes os sinais de desorientação na maioria e na governação do país. Claramente, não há um rumo definido para enfrentar estes tempos tão complicado… Desenterrar dossiers como o da regionalização (… - para mim tanto podia ser este como outro – JNF) apenas serve para mostrar a desorientação que se apoderou do primeiro-ministro e o seu desespero de espingardear para todos os lados, criando uma tamanha confusão no campo de batalha que já ninguém sabe quais as ameaças, onde está o inimigo, que estratégia e armas usar. Perdido de si mesmo, Sócrates ensaia o papel de guerrilheiro, cercado de todos os lados mas disposto a resistir, numa qualquer Sierra Maestra que os Lelos de serviço ao PS propagandeiem. E daí a sua última tentação: trazer o Presidente para o campo da batalha e dar-lhe a escolher, de pistola apontada, uma de duas opções: ou está do nosso lado ou é inimigo.”
É pois nesta conjuntura, que tão bem está aqui descrita por Miguel Sousa Tavares, que há alguns comentadores (veja-se dois artigos de Cipriano Justo, no Público, o primeiro a 12/12/09, e aqui transcrito, e o segundo a 29/12/09 - Dois mil e dez: um resumo, e sem link) que acham que BE e PCP deviam pôr a mão por baixo deste Governo para ver se o tombo não era tão grande, na esperança de ver o PS continuar a governar para que a direita nunca tivesse possibilidades de aceder ao poder. O problema é que este Governo nada tem a ver com a esquerda e muito menos é um Governo sério, que na primeira volta, meteria os dois partidos à sua esquerda na algibeira, para maior glória do seu chefe e do seu grupo.
Hoje o problema central, que penso que está também posto ao PS, é como se deve libertar de Sócrates e de alguns dos seus apoiantes, pondo à frente do Partido uma personalidade de maior credibilidade e seriedade política.
Por isso qualquer objectivo da esquerda, à esquerda do PS, no sentido de colocar paninhos quentes na manutenção de Sócrates, só pode acarretar o desprestígio daquelas forças e a sua capacidade de formular e apoiar saídas de esquerda para o país. A manutenção deste stato quo ou o envolvimento grosseiro, juntamente com o PS, nestas guerrilhas e quezílias, que aquele está constantemente a desencadear, é sem dúvida nenhuma negativo. Aqueles dois partidos têm que, em cada situação, examinar as forças em presença e saberem como votar de modo a não comprometerem por oportunismo ou seguidismo o seu futuro.
Por isso, estou contra todos aqueles que entendem que implícita ou explicitamente, a esquerda, à esquerda do PS, devia apoiar este Governo e a sua minoria no Parlamento. Por este caminho não sigo.
Não me parece que seja precisa grande argúcia política para se perceber que a actual situação tem pouco a ver com a luta entre forças de direita e de esquerda e que a questão não está, como alguns pensariam, no problema das alianças à esquerda e na reorganização desta para resistir à direita, mas na chicana política, para ver quem mais depressa consegue encostar o adversário às cordas.
A seguir às eleições, andava um conjunto de personalidades da esquerda a recolher assinaturas para uma aliança à esquerda e já Sócrates, nada interessado nessa proposta fazia o seu número de consultar todos os partidos com assento parlamentar, quer estivessem, à sua direita ou à sua esquerda. Essas conversas vinham de alguém que não tinha qualquer vontade de fazer alianças, que pensava jogar em todos o carrinhos e que encara a política como um jogo para enganar os papalvos, não tendo dela qualquer visão ética.
Depois tivemos a encenações dos professores, das taxas moderadoras e do orçamento rectificativo, que passou com os milhões atribuídos a Alberto João, enquanto o Ministro da Finanças gritava no Parlamento que não contribuía para o regabofe da Madeira. Era este o sentido de Estado deste Governo. Quando percebeu que a oposição ia conseguir aprovar a suspensão do Código Contributivo eis que desencadeia, pela boca de diversos socialistas, incluindo o seu homem de mão na televisão, António Vitorino, uma barragem contra o Presidente da República para que este não promulgasse aquele diploma. A acompanhar tudo isto envolve-se em picardias com o próprio PR, de muito mau gosto e que nada de bom trarão para o equilíbrio e o regular funcionamento das instituições. Sem ser pitonisa política direi que este Governo e José Sócrates ainda acabarão muito mal. O pior disto tudo é se, ao utilizar esta estratégia de grande confusão e de ataques indiscriminados à esquerda e à direita, José Sócrates não irá dar de mão beijada o Governo à direita.
Sem ser seu apreciador e por vezes muito crítico das suas posições, não deixo de reconhecer que este texto de Miguel Sousa Tavares, no Expresso, de 24 de Dezembro, traduz fielmente aquilo que eu penso neste momento de José Sócrates e do seu Governo:
“São crescentes os sinais de desorientação na maioria e na governação do país. Claramente, não há um rumo definido para enfrentar estes tempos tão complicado… Desenterrar dossiers como o da regionalização (… - para mim tanto podia ser este como outro – JNF) apenas serve para mostrar a desorientação que se apoderou do primeiro-ministro e o seu desespero de espingardear para todos os lados, criando uma tamanha confusão no campo de batalha que já ninguém sabe quais as ameaças, onde está o inimigo, que estratégia e armas usar. Perdido de si mesmo, Sócrates ensaia o papel de guerrilheiro, cercado de todos os lados mas disposto a resistir, numa qualquer Sierra Maestra que os Lelos de serviço ao PS propagandeiem. E daí a sua última tentação: trazer o Presidente para o campo da batalha e dar-lhe a escolher, de pistola apontada, uma de duas opções: ou está do nosso lado ou é inimigo.”
É pois nesta conjuntura, que tão bem está aqui descrita por Miguel Sousa Tavares, que há alguns comentadores (veja-se dois artigos de Cipriano Justo, no Público, o primeiro a 12/12/09, e aqui transcrito, e o segundo a 29/12/09 - Dois mil e dez: um resumo, e sem link) que acham que BE e PCP deviam pôr a mão por baixo deste Governo para ver se o tombo não era tão grande, na esperança de ver o PS continuar a governar para que a direita nunca tivesse possibilidades de aceder ao poder. O problema é que este Governo nada tem a ver com a esquerda e muito menos é um Governo sério, que na primeira volta, meteria os dois partidos à sua esquerda na algibeira, para maior glória do seu chefe e do seu grupo.
Hoje o problema central, que penso que está também posto ao PS, é como se deve libertar de Sócrates e de alguns dos seus apoiantes, pondo à frente do Partido uma personalidade de maior credibilidade e seriedade política.
Por isso qualquer objectivo da esquerda, à esquerda do PS, no sentido de colocar paninhos quentes na manutenção de Sócrates, só pode acarretar o desprestígio daquelas forças e a sua capacidade de formular e apoiar saídas de esquerda para o país. A manutenção deste stato quo ou o envolvimento grosseiro, juntamente com o PS, nestas guerrilhas e quezílias, que aquele está constantemente a desencadear, é sem dúvida nenhuma negativo. Aqueles dois partidos têm que, em cada situação, examinar as forças em presença e saberem como votar de modo a não comprometerem por oportunismo ou seguidismo o seu futuro.
Por isso, estou contra todos aqueles que entendem que implícita ou explicitamente, a esquerda, à esquerda do PS, devia apoiar este Governo e a sua minoria no Parlamento. Por este caminho não sigo.
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