29/12/2011

Jantar de Ano Novo com a crise

Com esta crise, aqui envio uma receita barata para comer lagosta à “moda” da TROIKA!!!

Escusam de agradecer…:-



Ainda Mário Soares, a propósito do livro de Rui Mateus, “Contos Proibidos” – I

A propósito da publicação do livro de Mário Soares, Um Político Assume-se, que mereceu uma referência crítica da minha parte, e dos comentários de alguns leitores sobre o posicionamento político do PS, resolvi reler o livro de Rui Mateus, Contos Proibidos, Memórias de um PS Desconhecido (Publicações Dom Quixote, 1996).

Este livro tem sido considerado nalguns blogs como um livro maldito. Não só porque nunca foi reeditado, como consta que a sua edição se esgotou rapidamente, talvez comprado pelo principal visado no mesmo: Mário Soares. Eu já o tinha lido, simplesmente tinha sobre ele uma recordação muito imprecisa.

A história é espantosa, não só porque o autor nos descreve as partes mais sombrias da formação do PS e da sua inserção na vida política portuguesa no pós-25 de Abril, mas principalmente o papel que Mário Soares desempenhou, quer durante o PREC, quer nos primeiros governos constitucionais, quer ainda na sua eleição para Presidente da República.

A parte menos interessante do livro é aquela que é dedicada à história do processo judicial do fax de Macau, que envolveu o Governador da altura daquela ex-colónia portuguesa, Carlos Melancia, e o autor do livro e mais alguns dos colaboradores da Eumaudio, empresa ligada ao PS e a Mário Soares, que se dedicava aos meios audiovisuais. É uma auto-justificação, que na altura poderia ter muito interesse para quem seguia o processo, mas que hoje perdeu toda a actualidade perante escândalos de corrupção de muito maiores dimensões.

Há em todo o livro um ataque ao carácter do visado, mostrando a sua pouca fidelidade aos amigos que não o seguem acriticamente e uma ânsia de poder desmesurada, sacrificando tudo para o obter. Apesar disto ser relevante, pode também resultar de uma vingança pessoal do autor, que se sentiu traído durante todo o processo do fax pelo companheiro de longa data. Por isso, aquilo que considero mais significativo no livro são os factos descritos, apesar de nem todos me parecerem verdadeiros.

O autor assume-se desde o princípio como um feroz anti-comunista, atlantista, amigo dos americanos e da CIA, seguindo desse modo as pisadas de Mário Soares. Mas o que é mais espantoso é que, para o autor, Mário Soares, sentindo a sua vaidade ferida, só se tornou um verdadeiro anti-comunista quando o não deixaram subir à tribuna, onde estava o presidente da República, Costa Gomes, o Governo, chefiado por Vasco Gonçalves, e a direcção da CGTP, na já distante comemoração do 1º de Maio de 1975, no estádio do mesmo nome. Toda a estratégia da luta contra a unicidade sindical, um só sindicato para cada um dos sectores, foi chefiada por Salgado Zenha que para o efeito escreveu um artigo no Diário de Notícias e fez um discurso no Pavilhão dos Desportos, em Janeiro de 1975, antes pois da tal “conversão” de Mário Soares. O autor manifesta grande admiração por aquele ex-dirigente do PS. Mas a principal revelação é de atribuir a Mário Soares a entrada do PCP no Primeiro Governo Provisório, o de Palma Carlos. Isto porque Mário Soares queria justificar a sua ida para a pasta dos Negócios Estrangeiros com a presença do PCP no Governo. Apesar de hoje dizer o contrário, o autor acha que Mário Soares considerava que o PS estava numa posição de subalternidade em relação ao PCP. Rui Mateus, devido ao seu anti-comunismo, critica os encontros, em Paris, entre Mário Soares e Álvaro Cunhal antes do 25 de Abril e os acordos então estabelecidos.

É evidente que a oposição de Mário Soares ao PCP data de muito mais cedo do que acontecimento referido pelo autor, um perfeito disparate, que visa apoucar Mário Soares, tentando provar que, ao contrário do que aquele afirmava, não era tão anti-comunista como propagandeava. Álvaro Cunhal no seu livro A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril (Edições Avante!, 1999, pag. 164) relata negativamente a posição de Mário Soares, comprovadas por declarações bastante posteriores, em relação ao General Spínola e à manifestação da “maioria silenciosa” promovida por este a 28 de Setembro de 1974. Eu próprio, recordando a época, lembro-me bem das fricções, logo a seguir à demissão de Spínola, entre o PS, de Mário Soares, e o PCP a propósito da manutenção como frente unitária do MDP/CDE e da oposição daqueles à sua participação no Governo chefiado por Vasco Gonçalves.

Quanto ao 25 de Novembro de 1975, vem mais uma vez à baila quem comandou a resistência à tentativa insurreccional verificada naquela dia. Mário Soares assume que foi ele. Ramalho Eanes contesta. Para o autor foi principalmente um tal “Plano Callaghan”. - James Callaghan era na altura Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo britânico e dirigente trabalhista. - Plano esse que envolvia os serviços secretos ingleses e que contaria, segundo Rui Mateus, com a colaboração da CIA, coisa que Mário Soares nunca admitiu, apesar de fazer referência várias vezes àquele plano estabelecido com os ingleses. Mas, acima de tudo, considera o autor que foi a pressão internacional, principalmente dos partidos socialistas e sociais-democratas que estavam no poder na Europa ocidental, que, juntamente com os americanos, se exerceu sobre Moscovo para que o PCP se retirasse do golpe, já que não era admissível que, num país da NATO, os comunista tomassem o poder pela força. Isto segundo a linguagem do próprio autor.

É mesmo citado um escrito de Will Brandt (pag.75) em que este afirma que sem “o envolvimento internacional pela democracia, a tentativa de golpe em Lisboa, em Novembro de 1975, não teria tão facilmente sido desmobilizada”. Referia-se a um Comité de Amizade e Solidariedade com a Democracia e o Socialismo em Portugal que reuniu pela primeira vez perto de Estocolmo, em 2 de Agosto de 1975, e era composto pelos partidos socialistas e sociais-democratas europeus.

É evidente que na descrição que faz dessa tentativa de golpe há uma grande dose de mentira. Pois tenta relacionar acontecimentos anteriores, como o cerco do Ministério do Trabalho ou da Assembleia Constituinte ou de uma pretensa Greve Geral, marcada para 25 de Novembro, de eu nunca ouvi falar, com os acontecimentos dessa data. Depois afirma que na véspera já “havia milícias comunistas nas ruas de Lisboa para controlar pessoas e bens”, isto a propósito de nesse dia ter atravessado aquela cidade com um pacote com dinheiro para Mário Soares, que se deslocaria para o Porto com o “conforto” do conteúdo do envelope. Cidade a partir da qual, com apoio dos serviços secretos de Sua Majestade e dos americanos, pretendia lançar uma operação sobre Lisboa, se se estabelecesse nela a “comuna” que se dizia que o PCP e a extrema-esquerda pretendiam implantar.

Segundo o autor, um plano semelhante foi anos depois executado pelos americanos no Panamá, contra o general Noriega. O PCP percebendo que a situação internacional não lhe era favorável teria recuado.

A história é fantasiosa, mas tem um fundo de verdade. Por um lado, a quantidade enorme de dinheiro, como o autor prova, exibindo recibos, que foram entregues a Mário Soares e ao PS nesses dias. Por outro, o envolvimento de serviços secretos ocidentais nessa tramóia, com a cumplicidade de Mário Soares. É evidente que ainda há alguns aspectos obscuros que não foram esclarecidos em relação ao 25 de Novembro, mas não restam para mim dúvidas da actividade pouco clara de Mário Soares nessa data.

Terminaria esta primeira parte do meu post com uma citação de Malraux, transcrita pelo autor (nota da pag.75), em que este afirma que a situação em Portugal após o 25 de Novembro como sendo a primeira vitória dos “mencheviques sobre os bolcheviques”. Grande mentira, bastando lembrar, sem precisar de grande pesquisa histórica, a vitória da social-democracia alemã, em Janeiro de 1918, que, com a tropa por ela comandada, os Freikorps, derrotou em Berlim os espartaquistas (futuro Partido Comunista Alemão) insurrectos e assassinou Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, seus principais dirigentes.

22/12/2011

Vai, vai que já vais tarde


Enviaram-me esta imagem,que acho que é oportuna neste momento.

O pluralismo na televisão (ou a ausência dele)

Ontem depois do ver o Telejornal da RTP, cerca das nove horas da noite, mudei de canal porque o programa seguinte era uma reportagem sobre a reacção de ex-soldados, na acualidade, às mensagens que  anteriormente tinham enviado, durante a Guerra Colonial, para os seus familiares que estavam na Metrópole e que terminavam invariavelmente com o “adeus, até ao meu regresso”. Pensei que era um programa revivalista das grandezas do Império e da sua perda. Não se falava em Guerra Colonial, mas do Ultramar.

Passei então para a SIC Notícias onde, no Jornal das Nove, pontifica o Mário Crespo. Depois de umas curtas notícias há sempre um convidado. Ontem era a Zita Seabra para falar do Querido Líder que tinha acabado de falecer na Coreia do Norte. Pelo que depois percebi falou de vários países do “socialismo real”. No dia anterior tinha sido convidado o professor de Economia, Cantiga Esteves, que propunha, nada menos, que se festejasse os quarenta anos do último orçamento em que tinha havido um equilíbrio das contas, ou seja, um dos últimos orçamentos de antes do 25 de Abril. Mas o convidado mais catita foi o patrão dos patrões ter ido àquele canal comentar a Greve Geral. Aqui está um rapaz que se insurgiu com o controlo da televisão feito pelo Sócrates e que tão pluralista é no seu programa.

Incomodado com aquela súbita aparição de um fantasma do passado, passei para a TVI 24 Horas, que neste momento tem fama de ser mais à esquerda do que a SIC Notícias. Quem comentava os últimos seis meses do Governo de Passos Coelho era Helena Matos, uma menina provocadora e reaccionária, que é contratada para desempenhar o papel que se espera que faça.

Mais uma vez incomodado, passei para a RTP Informação, estava um senhor, de seu nome Manuel Teixeira, que eu desconheço quem seja, que garantia, de forma atabalhoada, que o aumento das taxas moderadores no SNS era uma medida indispensável.

Desesperado voltei à reportagem. Puxava à lágrima, como era evidente. Quarenta e tal anos depois mostrar a alguém as suas imagens de quando era jovem é sempre comovente, ainda para mais, como nessa altura não havia gravadores de vídeo, os próprios nunca as tinham visto, só os seus familiares. No entanto, não talvez inocentemente, foi mostrado um grupo de soldados em que o sargento, provavelmente miliciano, cantava uma canção de Adriano Correia de Oliveira. Isto só mostra como o regime já não conseguia controlar os seus militares que, em pleno teatro de guerra, cantavam canções de quem a combatia. Faz-me lembrar uma história que o meu amigo Fernando Penim Redondo, do DOTeCOMe, costuma contar que, em plena guerra na Guiné, os soldados festejaram com grande alegria a morte de Salazar.

O regime estava já morto, mas agora querem-no fazer ressuscitar. O pluralismo na televisão é o que se vê, apesar da aparência democrática, anda tudo afinado pelo mesmo diapasão.

16/12/2011

Debate público "O que é a auditoria cidadã à dívida?"


"Na Convenção de Lisboa vamos debater e discutir em profundidade a Auditoria Cidadã à Dívida Pública. Como se organiza, que âmbito terá, quem a faz. Vamos mandatar a Comissão que a vai fazer e aprovar o seu documento fundador.

Aproveitamos a presença em Lisboa de diversos economistas portugueses e estrangeiros, muitos dos quais estão ou estiveram envolvidos em processos de auditoria cidadã na Europa e na América do Sul, para explorar o que é a Auditoria, porque lhe chamamos Cidadã, porque deve fazer-se agora. Éric Toussaint, Costas Lapavitsas e Ana Benavente vêm desmistificar todo o discurso, que afinal só é novo na Europa: «é inevitável», «andámos a viver acima das nossas possibilidades», «agora temos que trabalhar a sério», «somos preguiçosos». Todos eles conhecem de cor estas frases mentirosas.

Venha saber como se dá a volta à «inevitabilidade». Como é que aconteceu no Brasil, na Argentina, como está a acontecer agora na Grécia.

Quando somos chamados a pagar, temos direito a saber o quê, a quem, quais as condições, de que nos serviu a nós, população, esse dinheiro — e se não nos serviu, quem se serviu dele e porque estamos nós a pagá-lo? No debate de sexta-feira haverá espaço para as perguntas da plateia, para que todos possam perguntar o que quiserem. Fomos chamados a pagar, venham tirar as vossas dúvidas."

Enviaram-me este comunicado mais o cartaz acima publicado. Como sou um subscritores da Iniciativa Cidadã à Dívida apoio e faço a divulgação da mesma. A convenção referida terá lugar no mesmo local, mas no sábado, dia 17, das 9h30 às 18,30. Inscrição prévia no site referido.

15/12/2011

Um pouco de graça nestes tempos dificeis

Vídeo realizado pelos Monty Python sobre um hipotético jogo de futebol entre a Alemanha e a Grécia.

01/12/2011

A falta de memória de Mário Soares

Não li ainda o livro de Mário Soares Um político assume-se. Mas vi a entrevista que deu a Ana Lourenço, na SIC Notícias, e li hoje partes do seu livro no Público.

A entrevista assume, lamentavelmente, um carácter anti-comunista. Um homem que, ainda recentemente, preconiza uma revolução pacífica para a Europa, que assina um Manifesto, antes da Greve Geral, que apela à mobilização de todos contra as políticas que estão a ser seguidas, daquilo que fala é da sua relação azeda com Cunhal e das diferenças entre o seu partido e o PCP. Repisa e volta a repisar os acontecimentos do PREC, elevando-se ao nível de um Melo Antunes, quando diz que este em Lisboa e ele no Porto, comandaram a resistência ao "golpe" do 25 de Novembro e a manutenção, na legalidade, do PCP. Só que Melo Antunes defendeu publicamente, na RTP, a necessidade do PCP para o avanço da Revolução, em termos que o marcaram para todo o resto da sua vida, pois a direita e Sá Carneiro nunca lhe perdoaram. Enquanto que Mário Soares se preparava no Porto para marchar à frente de toda a direita reaccionária contra a Comuna de Lisboa. Ainda há bem pouco tempo o historiador António Borges Coelho lembrou isso.

Na transcrição que o Público faz hoje da pag. 183 do livro, verifica-se a falta de memória notória de Mário Soares. Lá vem a comparação, como fazem Zita Seabra e Vasco Pulido Valente, entre o discurso de Cunhal e de Lenine em cima de um tanque, nas suas chegadas do exílio depois da Revolução de Fevereiro, no caso da Rússia, e do 25 de Abril, no que se refere a Portugal. A única diferença é que não afirma, como aqueles, que Álvaro apelou à revolução socialista. Simplesmente, diz que o tanque estava lá de propósito para Álvaro, à semelhança de Lenine, fazer o discurso em cima dele. Mas o mais grave é que afirma que Cunhal discursou entre um soldado e um marinheiro, quando é evidente pela fotografia que mostro que não existia qualquer marinheiro. Mário Soares deve estar-se a recordar de ter visto a fotografia de Cunhal abraçado a um soldado e a um marinheiro na manifestação do Primeiro de Maio de 1974. Depois, escreve um disparate de todo o tamanho, dizendo que Lenine chegou a Moscovo, quando este de facto chegou a Petrogrado, depois chamada Leninegrado, e actualmente São Peterseburgo.

Não houve ninguém que tivesse revisto a sua escrita, pois qualquer dos seus assessores na Fundação que leva o seu nome, lhe podia ter corrigido o dislate. O mesmo se passa com a fotografia da chegada de Cunhal. Bastava dar-se ao trabalho de ir consultar qualquer jornal da época.

Quanto à historieta que conta de ter sido convidado a subir para o tanque e depois a descer, Vítor Dias, no seu blog, desmonta bem essa tentativa para se limpar, por aparecer ao lado de Cunhal na fotografia.

Quanto às diferenças referentes à chegada de Lenine e de Cunhal vindos do exílio ver um texto meu aqui.