29/10/2008

Obama News


Há uns tempos atrás, provavelmente quando da última eleição do Bush, o Pacheco Pereira, com ar embevecido, disse na Quadratura do Círculo que os Estados Unidos da América eram uma grande democracia. Pacheco Pereira, à direita nem é dos piores, simplesmente há alturas que o seu posicionamento ideológico como que oblitera o seu pensamento, levando-o a fazer afirmações que não resistem ao mais pequeno confronto com a realidade. O mesmo já se tinha verificado a quando da Guerra do Iraque. Aí, deliciado com as suas reflexões, começou a falar da incapacidade guerreira da Europa, da “velha Europa”, sempre à procura da paz e da concórdia universal, contra a necessidade de lutarmos de armas na mão contra aqueles que estavam a pôr em causa o nosso modo de vida. Os EUA seriam pois os seus verdadeiros heróis, dispostos a sacrificar a paz em defesa dos valores. Esquecia-se Pacheco Pereira que era o fascismo que exaltava as capacidades bélicas dos povos e condenava o pântano democrático que conduzia à destruição das mais excelsas virtudes das nações. Lamento só agora trazer isto à colação e nunca ter guardado os textos de Pacheco Pereira, porque seria interessante confrontá-lo agora com as afirmações desse tempo.
Mas vem tudo isto a propósito deste interessante e-mail que recebi, e que penso que circula entre os seus amigos, de Fernando Almeida Sousa Marques que vive nos Estados Unidos e que nos tem enviado regularmente notícias sobre a campanha eleitoral naquele país. Neste também se refere ao processo eleitoral americano, que ao contrário do que diz Pacheco Pereira, não é tão democrático como se pensa.

Caros amigos,
A uma semana do fecho das urnas, aqui vão algumas observações.
1. SUPREMO TRIBUNAL
Os membros do Supremo Tribunal são vitalícios. Como são nomeados pelo Presidente e se prevê que, nos próximos 2 anos, pelo menos dois deles possam ser substituídos, o próximo residente da Casa Branca poderá ter uma influência decisiva na alteração da correlação de forças actuais. Um dos principais problemas (que os sectores mais conservadores gostam de transformar em "papão") é o do aborto. O actual Tribunal tem uma maioria escassa (5 contra 4) que não penaliza o aborto e dá liberdade a cada Estado para legislar nesta matéria. Os que se intitulam de "pro-life" (contra os que se intitulam de "pro-choice") desejam uma vitória de McCain.
2. PRESIDENTE
As sondagens apontam para uma vitória de Obama que poderá ser, inclusivamente, bastante ampla. Mas, sondagens são sondagens e os resultados finais só serão sabidos depois do dia 4 próximo. Se McCain perder a Pennsylvania (onde tem 10 pontos percentuais a menos que Obama nas sondagens dos últimos dias) perderá certamente as eleições.
3. CONGRESSO - SENADO
Neste momento, dos 100 Senadores, 49 são Democratas, 49 são Republicanos e 2 são Independentes. Em caso de empate, o Presidente do Senado (que é por direito próprio o Vice-Presidente dos EUA), intervém. As previsões apontam para um resultado esmagador para os Republicanos: perderão oito lugares. Isto aponta para uma relação no Senado, depois destas eleições, de 59 para o Partido Democrático, contra 41 para o Republicano.
4. CONGRESSO - HOUSE OF REPRESENTATIVES
Também aqui se prevê uma vitória do Partido Democrático, aumentando a vantagem que já hoje têm.
5. DISTRIBUIÇÃO DE PODERES
Face a este cenário, depois do dia 4 de Novembro, não é apenas possível e provável haver um Presidente chamado Barack Obama. Também é possível e provável ter uma maioria democrática no Senado e outra na câmara baixa (House of Representatives). Como é possível e provável que o Supremo Tribunal se mantenha favorável a todos aqueles que são contra a penalização do aborto. Aqui está uma consequência de 8 anos de desvario republicano e de um presidente impreparado.
6. ABSTENÇÃO
Por um lado, é previsível que a abstenção venha a ser a menor de sempre, desde que há eleições nos EUA (habitualmente, nas presidenciais, é de cerca de 50%). Por outro lado nunca houve um tão grande número de cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais. Fácil é prever que, nunca como agora, haverá tantos eleitores, tantos votos para contar. Se, numa situação destas, houver uma vitória, em todas as frentes, do Partido Democrático é previsível que o Partido Republicano passe por um período conturbado da sua vida (que já está a viver, embora tente ser disfarçado por McCain e Palin). Também é previsível que se confirmem as fragilidades do sistema eleitoral americano que não está habituado, nem preparado, para uma tão grande participação eleitoral. A ver vamos o que se irá passar.
...
HOJE É FÁCIL RECONHECER QUE 80% DOS AMERICANOS PERCEBEM ISTO. MAS HÁ UNS ANOS ATRÁS, NÃO SÓ POR AQUI, MAS TAMBÉM UM POUCO POR TODO O MUNDO, QUEM SE OPUSESSE ÀS POLÍTICAS ULTRA-LIBERAIS, MILITARISTAS E IMPERIAIS DA CLIQUE QUE DOMINOU ESTE PAÍS, ERA POR VEZES MALTRATADO E RIDICULARIZADO.
Como senti isso na própria pele, não admira que aguarde o dia 5 de Novembro para abrir a janela, olhar para o mundo que se imagina para lá do horizonte e sorrir.
...
Boa noite e boa sorte,
Fernando

Espero que o autor não me leve a mal por me ter servido do seu e-mail, mas diria que é por uma boa causa e que isso merece desculpa.

28/10/2008

Ao que chegámos!


The job
Enviado por trescourt


Vídeo que retrata bem os tempos dificeis que estamos a viver. Já foi exibido em O Eixo do Mal

26/10/2008

Umas trapalhadas curiosas


Recebi recentemente, via e-mail um texto em português denominado O capitalismo tentou romper seus limites históricos e criou um novo 1929, ou pior da autoria de François Chesnais, e com a data de 16/10/08, e que tinha sido publicado inicialmente em castelhano, pela revista electrónica Herramienta, em 30/09/08. Perguntei de imediato a quem mo enviou qual a sua proveniência. Não me soube responder.
Como na net ninguém traduz nada de graça, ou seja, sem qualquer objectivo, suspeitei que o texto já devia ter sido publicado noutro site ou blog, mas apesar disso dei-me ao trabalho de o ir confrontar com o original, de modo a verificar se a tradução estava correcta e a podia reproduzir. Como sou um dos editores do site Comunistas.info pensava publicá-la lá.
Antes do o fazer, achei que devia confirmar se aquele texto tinha aparecido naqueles sites que, em português, normalmente transcrevem textos de autores marxistas, ODiário e o Resistir.info , que depois são reproduzidos nos vários blogs de pessoal ligado ao PCP. Lá estava ele em ODiário, com aquela data e numa tradução de Coutinho Duarte.
Achei por bem, para não dizerem que o Comunistas.info reproduzia um texto de ODiário, do Miguel Urbano Rodrigues, que não devia publicar aquela tradução e sim a versão original do Herramienta, onde tinha o título “Como la crisis del 29, o mas… Um novo contexto mundial”, que eu aportuguesei para uma frase semelhante.
Depois deste trabalho todo, e praguejando contra aqueles que me tinham enviado um texto sem saberem a origem, vim a descobrir, num trabalho quase de detective, o seguinte:
1 – A primeira tradução para português tinha sido publicada pelo Esquerda.net, em 8/10/08, com o título Crise vem pôr a nu os limites históricos do sistema capitalista , numa tradução de Luís Leiria. A versão de ODiário diferia pouco desta, apesar de não ser rigorosamente igual.
2 – O site Carta Maior , brasileiro, que também reproduz todos estes textos de autores marxistas famosos, publicou, a 9/10/08, duas versões iguais da tradução do Esquerda.net, mas alterou-lhes os títulos e fez introduções ligeiramente diferentes, mas em qualquer delas indicando o autor da tradução e a origem. Assim, a versão incluída numa secção chamada Economia tinha o título O capitalismo tentou romper seus limites históricos e criou um novo 1929, ou pior, e que foi o título que ODiário utilizou, a outra, com o mesmo título do Esquerda-net, inseriu-a na secção dos Colunistas. Já agora, porque me pareceu interessante, recomendo este site.
3 – O Comuneiro, revista electrónica portuguesa, que também reproduz textos deste tipo, publicou a tradução do Esquerda.net, indicando a sua origem, e com um título igual .
4 – A par de tudo isto, descobri numa pesquisa rápida no Google que havia igualmente blogs que tinham reproduzido o texto com o nome dado pela Esquerda.net, indicando a origem. Assim, encontramos aquele artigo no blog brasileiro Outra Política, no de João Vasconcelos, militante do Bloco de Esquerda, Fénix Vermelha, e, espantosamente, em Notícias Evangélicas, Política, que remete a sua leitura para o Esquerda.net. De onde menos se espera é que elas aprecem. Louvado seja o Senhor.
5 – Com o nome que aparece na outra versão do Carta Maior, que me parece que foi a mais acessível para o público brasileiro, existe uma variedade enorme de sites e blogs que reproduzem aquele texto.
A conclusão que se pode tirar de todo este arrazoado, aborrecido, mas que resulta do meu espírito de coca-bichinhos, como “bom” biólogo que sou, é que à esquerda, provavelmente também à direita, há uma série de autores que tiraram assinatura para escreverem sobre o os males do mundo, e que são transcritos por todo o bicho-careta. Nada disto é grave, podemos até dizer que é bom, convém é que haja alguma ética, de modo a que a origem dos textos fique sempre assegurada.
Este facto também ilustra a guerra política que vai pela nossa Internet. Nada custava ao ODiário dizer que o seu texto é uma revisão da tradução efectuada pelo Esquerda.net, que foi publicada muito antes, e que foi buscar o título ao site Carta Maior, para que não houvesse confusões com o do portal do Bloco de Esquerda. Eu próprio, reconheço, também alinhei nisto, dado que me recusei a publicar a tradução de ODiário. Simplesmente não fiz uma revisão do texto e pus o meu nome, achei que o melhor era publicar a versão original, em castelhano.
Termino com uma recomendação piedosa: espero que, no futuro, haja mais solidariedade entre todos aqueles que se reclamam da esquerda e publicam textos na net.
A fotografia é de François Chesnais

25/10/2008

O fim do capitalismo e a entrevista de Wallerstein


Para cumprir a promessa que fiz ao meu amigo Fernando Penim Redondo relativamente ao post que ele publicou sobre a entrevista que Immanuel Wallerstein (IW) concedeu ao Le Monde, aqui vai a apreciação prometida.
O Fernando afirma logo no início do seu post: “defendi e escrevi publicamente que os avanços tecnológicos, com destaque para as tecnologias com base digital, constituíam um desafio para o capitalismo e não eram o "balão de oxigénio" do sistema que muitos pensavam. Quando acrescentei que tais desenvolvimentos minavam fatalmente o assalariamento, relação identitária do capitalismo”.
Este texto vem na sequência de um livro que ele publicou, juntamente com Maria Rosa Redondo, Do Capitalismo para o Digitalismo, que, como era de prever de um casal de informáticos, já está na net. A edição impressa era de Dezembro de 2003, e a digital, em forma de blog, é de Julho de 2008. Nunca li o livro, confesso, mas já ouvi falar tanto sobre ele, que algumas ideias foram ficando. No fundo, podemos resumir o seu conteúdo, muito mais complexo, é evidente, ao parágrafo acima citado. Assim, as tecnologias com base digital seriam responsáveis pelo fim do capitalismo ao minarem fatalmente o assalariamento. A formação social capitalista terminaria em virtude duma alteração das relações de produção motivada (desaparecimento do assalariado) pela substituição de uma força produtiva, neste caso as máquinas, pela nova tecnologia digital.
É evidente que posso estar a simplificar e a resumir uma obra que não li e por esse motivo o Fernando achar que eu lhe deturpei o pensamento. Contudo, acho que no essencial reproduzi as suas ideias.
Ora bem, não é nada disto que diz IW. Recorrendo unicamente às citações da sua entrevista feitas pelo Fernando, vemos que o autor propõe o seguinte: “o que no fundamental distingue esta fase da sucessão ininterrupta dos ciclos conjunturais anteriores é que o capitalismo já não consegue “fazer sistema", no sentido do entendimento do físico e químico Ilya Prigogine (1917-2003): quando um sistema, biológico, químico ou social se desvia muitas vezes da sua situação de estabilidade, não consegue recuperar o equilíbrio, e o resultado foi uma bifurcação. A situação torna-se caótica, incontrolável pelas forças que até então a dominavam e assistimos ao surgimento de uma luta, não entre defensores e opositores do sistema, mas entre todos os intervenientes para determinar o que irá substitui-lo."
IW propõe-nos pois que o capitalismo poderá acabar porque, de acordo com as teorias do autor citado, o desvio em relação à sua situação de estabilidade é tão grande que não consegue recuperar o equilíbrio e, por isso, a situação poder-se-á tornar caótica. Ora o que o Fernando diz é que precisamos de saber o que é que causou essa ruptura, ou de acordo com a terminologia de IW, o que a tornou caótica. E o Fernando termina: “enquanto não compreendermos os mecanismos que actuaram para produzir esta ruptura, se ela existe, continuaremos a ter muita dificuldade em imaginar os desenvolvimentos futuros”. Ou seja, Fernando interroga-se sobre quais são os mecanismos de ruptura, que provavelmente associa ao desaparecimento do assalariado e ao desenvolvimento de uma formação social nova, que ele chama digitalismo. Para IW, como nos explicou ao longo da entrevista, esta ruptura com os ciclos curtos, que anteriormente se verificaram, deve-se ao próprio desenvolvimento do capitalismo, que por razões que lhe são intrínsecas não consegue voltar ao equilíbrio anterior.
Depois IW chega à conclusão mais importante: "acho que também é possível vermos instalar-se um sistema de exploração ainda mais violento do que o capitalismo, do que, pelo contrário, se criar um modelo mais igualitário e redistributivo." Não é capaz de prever o que virá a seguir à formação social capitalista e, pelo contrário, é muito pessimista sobre aquilo que o futuro nos reserva. Ao contrário do Fernando que prevê que a nova formação social é o digitalismo.
Por último, IW afirma, ainda de acordo com as transcrições do Fernando: “estamos num período, bastante raro, onde a crise e a impotência dos poderosos deixa um espaço ao livre arbítrio de cada um: há agora um período de tempo durante o qual todos teremos a oportunidade de influenciar o futuro para a nossa acção individual." Ao que Fernando responde a terminar, com as simplificações a que vulgarmente recorre: “considero imperioso que a esquerda assuma este desafio e deixe de considerar estas questões, como fez ao longo dos últimos decénios, como chinesices que só atrapalham a obtenção de mais dois deputados nas próximas eleições”.
Retorquindo ao Fernando, vou recorrer a uma nova citação do IW, esta agora publicada num artigo que escreveu para o jornal mexicano La Jornada, traduzida para a página do PC de B, Vermelho, e que poderão encontrar no site da Renovação Comunista: “podemos asseverar com confiança que o presente sistema não sobreviverá. O que não podemos prever é qual a nova ordem que será eleita para substitui-lo, porque esse será o resultado de uma infinidade de pressões individuais. Mais cedo ou mais tarde, um novo sistema instalar-se-á. Não será um sistema capitalista, mas pode ser algo muito pior (ainda mais polarizado e hierárquico) ou muito melhor (relativamente democrático e relativamente igualitário) que o dito sistema. Decidir o novo sistema é a luta política mundial mais importante de nossos tempos.
As citações são longas e maçadoras, no entanto, e porque gosto de ater-me ao que verdadeiramente foi dito, de modo a não esfrangalhar, nem deturpar o pensamento dos autores, reproduzi esta última de IW, que repete de certo modo o que já estava dito na entrevista citada, mas acrescenta um ponto que me parece extremamente importante: “decidir o novo sistema é a luta política mundial mais importante de nossos tempos.” Ou seja, a esquerda tem que assumir um combate político, de modo a que o novo sistema não seja resolvido a favor de “algo muito pior (ainda mais polarizado e hierárquico)” e esse combate, por muito que custe ao Fernando, passa também pela conquista de mais dois deputados. É com o conjunto das lutas que empreendermos agora, sem sectarismo, mas com a vontade de agregar toda a esquerda, que poderemos resolver a crise do sistema a favor das forças progressistas.
Tem sido isto que me separa do meu amigo Fernando que sempre achou que a esquerda devia parar, para pensar, e que as lutas do quotidiano eram pequenas chinesices de quem não tinha perspectivas de futuro.

24/10/2008

Louvado sejas, ó "Magalhães"


Video do programa Zé Carlos dos Gatos Fedorentos

Segundo noticia o Sol, esta Brincadeira com Magalhães abre processo contra os Gato Fedorento. No corpo da notícia é só dito que alguns católicos queixaram-se à Entidade Reguladora da Comunicação Social.
Por mim, é mais uma vez o fundamentalismo católico, igual ao muçulmano, a não suportar a crítica e a brincadeira. Já uma vez escrevi sobre isto. São iguaizinhos.
Tal como a extrema-direita europeia, e não só, divulgou as caricaturas sobre Maomé, tenho igual prazer em divulgar este excelente momento de humor

23/10/2008

"O Socialismo Traído" resposta a dois posts


Penso que a blogosfera também serve para o confronto de ideias, para a crítica, para o aprofundamento das questões e que não se deve cingir à notícia breve, aos estados de alma ou aos fait-divers comezinhos. Tenho alguma dificuldade em utilizar estes últimos predicados que exigem alguma prática de jornalismo, e deixo-me sempre arrastar pela fluência do "verbo", acabando a fazer longas análises daquilo que provavelmente se resumiria em duas ou três linhas. Por vezes também acaricio o meu ego, falando de mim e criticando os outros, no fundo reduzindo a blogsofera ao meu pequeno universo. Mas encaro-a assim e provavelmente continuarei a usá-la desse modo.
Vem isto a propósito de dois post que irei escrever: um, o presente, sobre duas críticas ao livro o Socialismo Traído, Por trás do colapso da União Soviética, de Roger Keeran e Thomas Kenny, publicadas no blog Hoje Há Conquilhas Amanhã Não Sabemos, e o outro, a seguir, sobre a recensão que o meu amigo Fernando Penim Redondo escreveu sobre a entrevista que Emmanuel Wallerstein concedeu ao jornal Le Monde, já por mim referida, relativa a O capitalismo chega ao fim (Le capitalisme touche à sa fin). Vamos a ver se cumprirei esta última promessa.
Quanto a este post gostaria de chamar a atenção para as duas críticas saídas no blog já referido relativas ao livro acima citado (ver a primeira (26/09/08) aqui e a segunda (22/10/08) aqui).
Já por duas vezes fiz referência àquele livro, quando relatei a minha ida à Festa do Avante! (14/09/08) para aquisição do mesmo, e a propósito de uma entrevista que os seus autores deram ao Avante! (26/09/08). Em qualquer dos casos parece-me que relatei com alguma seriedade as principais questões levantadas logo no início do livro, já que era a única parte que tinha lido, e as posições um pouco esdrúxulas do entrevistador e dos entrevistados sobre o fenómeno iniciado por Khrushchov, da destalinização da URSS.
Que diz o nosso blogger no seu último post (22/10/08), pequeno como convém para quem escreve na bloggosfera e pelo qual começo, por conveniência de estrutura deste post: “Foi o «centralismo democrático» – concebido, inicialmente, para resistir nas condições difíceis do czarismo, permaneceu intocável. De Lenine até Gorbatchov. A democracia interna nos partidos comunistas é, pois, uma treta. Ou melhor, é uma rolha. Qualquer voz discordante é decapitada. O último líder do PCUS no poder apenas usou a rolha para, num ápice, fazer cair o castelo de cartas. Nada mais simples. Num livro que passa em análise os setenta anos de vida da União Soviética, será esta a única questão que merece ser realçada? Lamento, mas não será reduzir à expressão mais simples, ou seja, à crítica mais fácil, afirmar que “a democracia interna dos partidos comunistas é, pois, uma treta.” Parece-me que havia coisas bem mais interessantes para escrever sobre aquele livro do que isto.
O primeiro post (26/09/08), que dá início a esta série, mais longo, já tenta enquadrar de modo perfeitamente aceitável as principais preocupações do livro e do PCP, sobre cuja responsabilidade foi editado. Depois retira conclusões semelhantes às minhas, e que estão presentes no meu segundo post, a propósito da destalinização iniciada por Khrushchov.
Ver isto escrito num livro editado pelos comunistas portugueses, em 2008, é estranho. É a repetição das teses dos comunistas chineses, na luta ideológica que mantiveram com os comunistas soviéticos, há 50 anos. Mao Tsétung, na altura, chamou-lhes revisionistas. Os autores de O Socialismo Traído, também. Com as mesmas palavras e os mesmos argumentos. É à luz da reflexão contida neste livro que devem ser revisitadas as posições de Álvaro Cunhal nos anos 60. O líder dos comunistas portugueses, em defesa de Khrushchov, disse e escreveu exactamente o contrário, com a agravante de conhecer as posições dos comunistas chineses.
Afinal, parece que, no plano ideológico, Álvaro Cunhal não acertou uma.

Não se depreende do arrazoado do texto porque é que Cunhal não acerta uma. O mais que se poderá dizer é que a actual Direcção do PCP, esquecendo o que no tempo de Cunhal se disse sobre o assunto, vem agora com pezinhos de lã, como eu por diversas vezes já tenho tentado provar, introduzir pela porta do cavalo, como se fossem pontos de vista sempre assumidos por ela, as posições esquerdistas sobre a destalinização e a questão de Estaline.
É evidente, que isto, não tem nada a ver com qualquer idolatria ao "camarada morto", mas porque na altura, já lá vão muitos anos, aderi ao comunismo e depois, posteriormente, ao PCP, devido à crítica ao estalinismo praticada com algum vigor no XXII Congresso do PCUS, que teve lugar em 1961, e sempre apoiada, pelo menos em palavras, pela Direcção de Cunhal, custa-me muito ver o actual PCP vir defender as posições do esquerdismo, que sempre combateu. E ver um blogger que, sem compreender isto, acaba por acusar Cunhal de um pecado que ele, por acaso, não cometeu.

21/10/2008

A minha luta contra a boçalidade reaccionária: dois casos e uma “patetice”


Já duas vezes me insurgi neste blog contra aqueles que ganham a vida escrevendo nas colunas de opinião dos jornais de referência coisas impensáveis pela boçalidade e reaccionarice que manifestam. No primeiro caso referia-me a três comentários que tinham saído na mesma semana no Público sobre os episódios da Quinta da Fonte, em Loures. O segundo, mais polémico, passado na TV, foi sobre a primeira aparição de Pedro Lopes Marques (PLM) no programa da SIC Notícias, O Eixo do Mal.
Este post é por isso sobre dois reincidentes e uma "patetice" que o PLM disse naquele programa televisivo.
O primeiro reincidente é Vasco Pulido Valente (VPV), que na sua coluna de Opinião no Público deste Domingo resolve investir contra Saramago, de uma maneira mais que boçal.
Este caso faz-me lembrar um senhor bem mais velho do que eu que, quando se reformou, resolveu empatar as suas economias na edição de um livro de autor, onde contava umas histórias desinteressantes da Manta Rota, praia que ambos frequentávamos, e escrevia uma catilinária contra Saramago, que com ele tinha frequentado uma escola comercial ou industrial há muitos anos. Um pobre escriba que se quis valorizar à custa de um escritor que, na altura, já era famoso. Assim me pareceu VPV que achou que, para sua glória, nada havia melhor do que atacar um Prémio Nobel.
Mas como a confirmar no superlativo tudo aquilo que venho dizendo não há como a Helena Matos, segunda reincidente, que tem uma página inteira todas as Terças-feiras no Público. A última intitulava-se Do Capital ao Kamasutra, que mistura no mesmo texto os que assassinaram Aldo Moro, em Itália, com os que propõem agora temas fracturantes, como o casamento entre homossexuais.
As boas almas que povoam a Internet nada disseram sobre este texto que é duma gravidade extrema para com os que no Parlamento defenderam aqueles casamentos, que se vêem assim comparados com os assassinos das Brigadas Vermelhas. Mas todas as semanas esta coluna se repete, sem que ninguém se indigne com a prosa desta senhora.

Por último, uma “patetice” de PML, em O Eixo do Mal.
Fui dos primeiros a alertar para que este senhor se poderia pôr na fila daqueles que nos media ganham a sua vida dizendo boçalidades reaccionárias. Fui atacado em força. Reconheço que não é dos piores e até parece que leu o que se disse na altura sobre ele, porque num programa posterior achou que tinha sido mal compreendido quando falou dos “colaboracionistas” da Festa do Avante!
Mas o pior é que ele parece não compreender o espírito de O Eixo do Mal, cujas características principais são o escárnio e o mal dizer. Assim, num dos últimos programas vem afirmar como qualquer comentador de direita, convencido e reverente, que o Ministro das Finanças “esteve bem” nesta crise financeira.
Mas o pior foi a "patetice" que disse no último O Eixo do Mal, que ele taxou de ideológica: o aumento dos funcionários públicos não devia ser uma percentagem igual para todos, mas sim atribuído consoante o mérito. A percentagem devia ser maior para aqueles que tivessem melhor desempenho.
Desconhece este senhor, porque provavelmente nunca foi assalariado em empresa que se visse, que todos os anos os sindicatos e os patrões, e aqui a Função Pública (FP) não foge à regra, se sentam a uma mesa para discutir a percentagem de aumentos para esse ano. Isto tem a ver com a inflação esperada e com os ganhos de produtividade alcançados. O pagamento em função do mérito de cada um é outra coisa, que varia conforme as empresas. Pode consistir num prémio anual distribuído no final do ano, em promoções mais rápidas ou noutras modalidades que variam de empresa para empresa. Na FP sucede o mesmo. Parece que o Governo instituiu recentemente um prémio para os “melhores” e que os tempos para promoção variam em conformidade com as classificações de serviço. Seja como for, há neste momento regras, boas ou más, que premeiam aquilo que tanto preocupava o nosso comentador.
Já se sabe que as afirmações de PSM resultam de um preconceito, misturado com ignorância, do que é a FP. Esta gente está sempre convencida que os funcionários públicos são um bando de preguiçosos e incompetentes e que compete à “sociedade civil”, que é representada por ele, pô-los na ordem. É o preconceito ideológico no seu máximo esplendor e os de esquerda é que ainda mantêm a ideologia.

PS.: Devido à impossibilidade de fazer links directos para o Público, já que o comprando todos os dias não estou para pagar a sua versão electrónica, encontrei na Net um site onde é possível ler aqueles dois artigos.
Já que em post anterior tinha exibido a fotografia de PSM, achei por bem neste mostrar a de Helena Matos, com esse projecto tão reaccionário como os seus textos chamado Atlântico. Vale a pena recuperar a entrevista que deu ao Diário de Notícias quando passou a dirigir a revista. Na sua parte final tem esta afirmação premonitória do artigo que hoje referi: “Uma das preocupações desta revista passa pela desmontagem de uma suposta agenda moderna, apropriada por sectores extremistas como é o Bloco de Esquerda que passa pelo aborto, pela eutanásia, pelo casamento dos homossexuais.” Esta, dos "sectores extremistas", diz tudo sobre a senhora.

16/10/2008

O(s) Mito(s) do capitalismo


Conferência "O (s) Mito (s) do Capitalismo" na BMRR/Cid. Universitária

A Biblioteca República e Resistência/ Cid. Universitária tem o prazer de convidar a assistir ao Ciclo de Conferências “O(s) Mito(s) do Capitalismo”.

Dia 17 de Outubro às 18h30 – Paulo Fidalgo e Mário Tomé

Dia 24 de Outubro às 18h30 – Vítor Ramalho e Luís Fazenda


BM República e Resistência/Cidade Universitária
Espaço Cidade Universitária Rua Alberto Sousa, 10 A
Zona B. do Rego/ Lisboa

14/10/2008

O fim do capitalismo


Antes que o meu amigo Fernando Penim Redondo publique um post sobre o artigo de Immanuel Wallerstein (IW), Le capitalisme touche à sa fin, publicado no Le Monde, de 11/10/08 (ver aqui e aqui) e que foi oportunamente traduzido para o blog Antreus, de António Abreu, resolvi publicar este post que já tinha em mente, mas que devido à minha proverbial inacção ainda não tinha posto em prática. O Fernando já tinha ameaçado o António Abreu que iria fazer um post sobre o assunto, espero que o faça, para confrontarmos ideias.
Em post anterior, provavelmente com um título pouco feliz, já tinha chamado a atenção para que não bastava os locutores e alguns comentadores falarem da intervenção do Estado e da nacionalização da banca, para que o capitalismo caísse. Era necessário dar-lhe um piparote. No fundo, levantava a velha questão do poder e recorria a uma polémica, referente a outros assuntos, mas de grande actualidade, entre Charles Bettelheim e Paul Sweezy. Ou seja, introduzia a luta política e a Política, com maiúscula inicial, nos problemas da crise. Provavelmente ninguém me leu, nem o tema despertou qualquer interesse.
No entanto, nestes últimos dias alguns comentadores recorrem à política para falar da crise. Pacheco Pereira diz mesmo É à política e não ao Estado que devemos regressar e Rui Tavares afirma É preciso ter lata . No entanto, qualquer dos artigos, por razões diferentes, não aborda as minhas preocupações. O primeiro ataca Sócrates e a politiquice do primeiro-ministro e a sua pretensa defesa da intervenção estatal. Chegando a afirmar que “desde a história do diploma e das casinhas que o personagem me aparece bem mais perigoso do que antes”. Eu, que fui seu subordinado no Ministério do Ambiente e que tive a desgraça de tê-lo como chefe de delegação nas conversações para a aprovação do Protocolo de Cartagena sobre Segurança Biológica, em Montreal, confirmo para pior todas as crítica que lhe façam. Ainda um dia hei-de contar esta história.
Quanto ao segundo artigo chama a atenção para que foram os políticos, com a sua permissividade, que permitiram que a "ganância dos executivos" chegasse onde chegou. Sendo isto verdade, o certo é que os comentadores de direita, com algumas inverdades pelo meio, pretendem concluir, com afirmações semelhantes, que a culpa é do Estado, chegando a afirmar que a maioria dos bancos responsáveis por este desgoverno têm capitais públicos.

Mas regressemos ao que nos trouxe aqui. Entre os muitos artigos que na net começaram a circular sobre esta crise realço o de IW, inicialmente referido, que de um ponto de vista histórico e sistémico aborda o fim do capitalismo, considerando que actualmente este está na sua “fase terminal”.
O mais preocupante neste artigo de IW, é que ao contrário do que os marxistas sempre afirmaram, acreditando, como ele diz, “num progresso contínuo e inevitável”, é possível em trinta ou quarenta anos “vermos instalar-se um sistema de exploração ainda mais violento do que o capitalismo, do que, pelo contrário, aparecer um sistema mais igualitário e redistributivo”.
Mas como anteriormente IW afirmava “estamos num período, bastante raro é certo, onde a crise e a impotência dos poderosos deixa um espaço ao livre arbítrio de cada um: há agora um período de tempo durante o qual todos teremos a oportunidade de influenciar o futuro pela nossa acção individual. Mas como esse futuro será a soma do número incalculável dessas acções, é absolutamente impossível prever qual o modelo que finalmente irá prevalecer.”
Penso eu, provavelmente ingenuamente, que a acção política dos homens tenha possibilidades de canalizar as acções referidas para “um sistema mais igualitário e redistributivo”, a que chamaria socialismo. Mas é possível que isso não suceda, e aqui divirjo, tal como IW, da crença inelutável dos comunistas ortodoxos que pensam que ao sistema capitalista sucederá inevitavelmente o socialismo.
Só para dar um exemplo, a crise de 1929, não foi ainda o fim do capitalismo, mas a solução encontrada por alguns para a resolver foi o reforço do fascismo e o aparecimento do nazismo, que trouxe muito mais sofrimento e exploração do que formas anteriores de domínio sobre os trabalhadores.
Temos pois que admitir que a solução para a crise pode desembocar num sistema de exploração ainda mais violento do que o capitalismo, mas que a nossa acção pode de facto inverter essa tendência.
Dêmos pois força à política.

13/10/2008

A crise vista por dois humoristas ingleses


The Last Laugh - George Parr - Subprime - subtitulos
Enviado por erioluk

A crise vista por dois humoristas ingleses, com legendas em espanhol.

11/10/2008

Aquele Querido Mês de Agosto


Finalmente fui ver Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, e a minha antiga veia de crítico de cinema regressou.
Comecemos primeiro pela região onde se desenrola o filme.
Por motivos familiares conheço bem aquela região, costumo ir para uma aldeia situada na parte leste do concelho de Arganil e o filme passa-se principalmente, em Coja e zonas limítrofes, situadas a nordeste daquele concelho. Fiz já algumas vezes o percurso que começa em Coja, passa pela Fraga da Pena, onde o tio que veio da França tira algumas fotografias com a família, e que é referida como sendo um lugar muito fresco na conversa entre os dois actores. É de facto um sítio encantador, onde se encontram fragas e cascatas de água. Depois pode-se seguir para a Mata da Margaraça, situada na Paisagem Protegida da Serra do Açor. A importância da Mata, que no filme é mostrada com o nome das árvores que a povoam, resulta do seu coberto vegetal ser o originário daquela zona das Beiras, que progressivamente tem sido substituído por plantações de pinheiros, eucaliptos e acácias. A sede da Paisagem Protegida situa-se na Mata, numa casa recentemente reconstituída onde se manteve a traça original. Pareceu-me que algumas cenas do filme foram lá filmadas ou então noutra, também reaproveitada, situada um pouco mais abaixo.
Depois segue-se a imensa Serra do Açor, onde se desenrola grande parte do filme, e por onde se pode chegar à aldeia de Piódão, uma pequena maravilha, ainda preservada, com as casa todas elas em xisto e com telhados negros de ardósia.
Ao contrário do que diz o meu amigo Fernando Penim Redondo as casas da região, que ainda conservam a construção original, são de xisto e não de granito.
A partir daí pode-se descer para Aldeia das Dez, já no concelho de Oliveira do Hospital, onde se encontra o santuário da Senhora das Preces, local onde se realiza todos os anos uma festa religiosa importante.
Passemos agora à paisagem humana. As interpretações dos críticos sobre o povo que habita o filme podem resumir-se a duas. Uns, consideram que as imagens daquelas aldeias são semelhantes às das reservas de índios, que de vez em quando devemos visitar, como sucede com a Aldeia dos Macacos que regularmente vemos no Jardim Zoológico. Outros, recorrendo à metáfora da Cidade e das Serras, de Eça de Queiroz, consideram que está ali o Portugal profundo, opondo-o aos blasés da cidade, limitados ao estreito mundo dos seus pequenos blogs.
A todos eles eu gostaria de perguntar: será que são as excursões dos habitantes das Beiras que enchem o Pavilhão Atlântico, no Parque das Nações, quando o Tony Carreira lá canta? Não serão os nossos vizinhos aqui dos arredores de Lisboa, ou mesmo da cidade, que o enchem?
No filme é mostrado um camponês aí na casa dos 60 anos que tinha visto o seu vizinho matar a mulher à machadada. Todos ficámos impressionados com a descrição e a falta de emoções do protagonista. No entanto, muito provavelmente a neta daquele homem já tem uma licenciatura, ocupa um lugar no banco ou numa companhia de seguros em Coimbra ou na sede do Concelho ou ensina numa escola da região e provavelmente consulta a Internet e os blogs. No Algarve, na Manta Rota, que conheço bem, o neto de um antigo pescador deu-me recentemente os parabéns pelo meu blog. É evidente que o Algarve foi civilizado à força. Mas, na pequena aldeia da Beira que refiro, já há algumas casas com piscina, coisa impensável há uns anos atrás, e meninas que se passeiam em roupão de banho pela aldeia naquele querido mês de Agosto. As mães já tinham emigrado para Lisboa ou para França onde, com alguma sorte e muito trabalho, tinham conseguido bons empregos ou amealhado algum dinheiro e as filhas já “doutoras” ou filhos “arquitectos”, como no filme, ou a estudar para isso, lá frequentam a festa da aldeia e dançam ao som de bandas semelhantes às que nos são mostradas no ecrã.
Mas mais ainda, quando uma velhota diz no filme que tem a voz entaramelada porque teve um AVC, pergunto-me: se este facto tivesse ocorrido há 20 ou 30 anos, a mulher saberia o que tinha tido e salvar-se-ia com a mesma facilidade? Hoje, de um modo geral, uma ambulância do INEM chega a uma aldeia do interior a tempo de salvar uma vida.
E que dizer da luz eléctrica que não terá mais de 40 anos ou das estradas alcatroadas que não têm mais de 20,vá lá 30 anos.
Tudo isto para mostrar que nós somos os filhos ou os netos deste nosso povo, deste Portugal que em 30 anos se modificou, penso que para muito melhor, e se hoje olhamos enfastiados para o nosso passado é porque já não nos lembramos das berças donde todos viemos. Exceptuando aqueles que, bem nascidos, sempre tiveram lugar à mesa da Nobreza ou da Igreja.
Por isso, parece extremamente bem feita a descrição deste “nosso” Portugal.
Entrando na apreciação propriamente do filme, aquilo que menos me agradou foi a existência de dois registos: o documental e a ficção. Bem podem alguns críticos citar Godard para justificar a sua interpenetração. Apesar da passagem de um ao outro estar bem dada. O melhor exemplo é o do tio da rapariga que começa em “off” a falar durante a procissão, parecendo ao espectador que era o relato verídico de mais um caso de aldeia, e acaba integrado na história ficcionada. Ou então, o oposto, a manutenção dentro do quadro documental da figura do Moleiro do Rio, que todos os anos pelo Carnaval se atira para o rio Alva.
O filme poderia ser um belo documentário sobre a região e a frustração de uma equipa de cinema que não consegue realizar o filme a que se propunha, no entanto, entendeu o autor passar à ficção e integrar numa história as personagens que já nos vinha apresentando. Contudo, a sua ficção, ao resumir-se à hora final, faz com que as personagens tenham pouca espessura e acima de tudo permite que aquela descambe para o drama de “faca e alguidar”, quando estabelece a relação amorosa entre o pai, a filha e o sobrinho. Por isso entendo que se perdeu um belo documentário sobre uma operação falhada de filmagens e se ganhou pouco com uma história de ficção.
Resta ainda, e não sei se foi essa a preocupação do autor, a desconstrução do próprio filme, muito em voga nos anos 60 do século passado. A passagem dos actores de personagens que povoam o documentário a intérpretes de ficção, a cena da procura de actores para o filme, com o gag do jogo da malha pelo meio, ou o final, com o genérico a correr, em que o realizador interpela o director de som porque este captara sons que lá não estavam, tem a finalidade, penso eu, de chamar a atenção para o facto de estarmos perante um filme, em que tudo é representação e reconstrução da realidade. No entanto como o registo inicial era documental nunca haveria o perigo de nos identificarmos com as personagens, nem nos deixarmos arrastar pelo drama amoroso. Quando Bergman, em Persona (A Máscara), recorreu a esse subterfúgio, ele tinha coisas importantes a dizer e chamava a atenção para que aquilo que mostrava era cinema e não a vida. Mas nem todos podem ser Bergmans.
No entanto, recomendo vivamente a visão de Aquele Querido Mês de Agosto, mas gostaria que o tom de comiseração para com aquela "pobre gente" fosse de vez abandonado, porque ela não o merece.

09/10/2008

A transição para quê? Do capitalismo para o socialismo?


Até ao momento ainda não tinha falado da “crise” financeira que atravessa o mundo e que cada vez mais se irá repercutir no desenvolvimento económico das nossas sociedades. Não sou economista, entendo que muitos destes temas obrigam a uma específica formação na área, e por isso meti a viola no saco. No entanto, em todo esta crise há uma forte componente ideológica, tanto na terminologia empregue como nos conceitos que todos os dias são utilizados nos media dominantes.
Vítor Dias no seu blog fala mesmo em vitória semântica , quando diariamente assistimos à substituição do termo anteriormente utilizado “economia de mercado” por capitalismo.
Por isso, é fácil encontrarmos locutores que, com a maior das canduras, são capazes de afirmar “regressa Marx, que estás perdoado” ou outras “barbaridades” semelhantes, que ainda há uns tempos seriam consideradas perigosas afirmações radicais. Já se sabe há sempre um comentarista económico que a seguir acha que aquilo a que estamos a assistir não é o fim do capitalismo, mas a sua reestruturação.
E chegados aqui estamos os dois de acordo, o comentarista e eu, a crise que atravessamos é de facto uma crise do capitalismo, que depois de muitos rearranjos dará lugar a uma nova realidade, que mesmo assim continuará a ser capitalista. Mesmo que os analistas (ver, entre muitas possíveis, esta) interpretem a situação económica que estamos a atravessar à luz do marxismo, e por mais correctas que essas análises sejam, o capitalismo não soçobrará, mesmo depois de afirmarmos que ele está em crise e que é responsável por uma enorme regressão no nosso desenvolvimento económico. É necessário dar-lhe o piparote e que haja classes e forças políticas capazes de empreender essa acção. Em última instância só a decisão política, apoiada numa força social hegemónica, permitirá a transformação da realidade económica, tomando sempre em conta o contexto e as circunstâncias da crise do sistema capitalista.
No fundo, o que queremos afirmar é que o capitalismo não cai só por si, nem depende da decisão de apressados locutores da televisão ou de alguns comentaristas mais alvoraçados, são necessárias forças políticas e classes sociais interessadas na sua substituição, neste caso por uma sociedade mais justa a que chamamos socialismo.
Dito isto e porque se insere neste tema, e já que estamos a relembrar os 40 anos da invasão da Checoslováquia por forças militares de alguns países do Pacto de Varsóvia sob a batuta da União Soviética, gostaria de chamar à colação um texto meu que neste momento se encontra arquivado aqui (Setembro de 2004), à falta de um arquivo próprio no meu blog.
O título do artigo é este A Checoslováquia, a transição para o socialismo e alguma arqueologia bibliófila, nele fazia referência a um livro publicado em meados dos anos 70, chamado Transição para o Socialismo (Edições 70, 1978) de Charles Bettelheim e Paul Sweezy, onde se reproduzia uma polémica travada entre aqueles dois autores marxistas, na sequência de um artigo que Sweezy tinha publicado na revista que então dirigia, a Monthly Review, e que ainda hoje é editada em Nova York. O artigo chamava-se Checoslováquia, Capitalismo e Socialismo, era de 1968, e vinha na sequência da invasão daquele país pelas tropas do Pacto de Varsóvia.
Qual era a tese central de Sweezy no seu artigo sobre a invasão da Checoslováquia? A invasão “não procurava travar o curso para o capitalismo. Este curso prossegue em ambos os países (Checoslováquia e União Soviética - JNF) e prosseguirá ainda enquanto não se produzir um fenómeno bem mais radical do que um programa de reforma liberal do tipo que tinha sido posto em prática na Checoslováquia durante os últimos oito meses. Os chefes da União Soviética temiam – com razão – duas ameaças: uma, em relação aos seus interesses pessoais; a outra, em relação aos interesses da camada dirigente nacional que eles representam.”
Bettelheim na sua crítica ao artigo de Sweezy tenta demonstrar que este autor não tem razão no modo como formula as suas observações às medidas de liberalização económica tomadas na Checoslováquia. Afirma que Sweezy faz uma análise superficial, realçando unicamente as contradições do conceito de “socialismo de mercado”, que nessa altura Ota Sik estava a desenvolver naquele país, ou pondo “a tónica, de modo unilateral, na existência de formas mercantis na sociedade socialista”. Pelo contrário, Bettelheim afirma que aquilo que “caracteriza o socialismo, por oposição ao capitalismo, não é a existência ou inexistência de relações mercantis, da moeda e dos preços, mas sim a existência de dominação do proletariado”. E continua “a ideia de uma "abolição directa" e "imediata" das relações mercantis é tão utópica e perigosa como a ideia de uma "abolição imediata" do Estado e é da mesma natureza: abstrai as características específicas (isto é, as contradições específicas) desse período de transição que é o período de edificação do socialismo.” Acrescentando, “estas formulações (as de Sweezy e de outros – JNF) iludem o problema essencial do socialismo – o problema do poder –, cuja defesa... pode mesmo exigir, em certas condições, recuos na frente económica (por exemplo, a N.E.P.). Se tomássemos as suas formas à letra, Lenine, ao pronunciar-se pela N.E.P., ou seja, ao "reforçar o mercado", teria agido "em proveito do capitalismo”.
A resposta de Sweezy à referência feita por Bettelheim à N.E.P. é a seguinte, existe “a possibilidade de movimentos temporários e reversíveis num sentido ou noutro. Lenine pensava justamente que a N.E.P. constituía um movimento deste tipo. Mas o crescente apoio ao mercado a que actualmente assistimos na União Soviética e na Europa de Leste é qualquer coisa de profundamente diferente (estávamos nos finais dos anos 60 e não na época da Perestroika - JNF). O fenómeno em questão não é considerado como um recuo temporário mas, antes, como um progresso socialista que beneficia de uma aprovação e de uma legitimação ideológica”.
Para Bettelleim, como se viu anteriormente, o período de transição seria o período da construção do socialismo e é um período contraditório. Este autor publicou mesmo um livro, em 1968, cuja tradução do título em francês é A transição para a economia socialista, onde no Prefácio afirma que “transição para o socialismo” é uma expressão que “está longe de ser adequada à realidade que pretende designar. Com efeito ela evoca um "movimento em frente" cujo objectivo, por assim dizer assegurado, seria o socialismo. Ora, o que, de facto, assim se designa é um período histórico que mais justamente se pode qualificar como o "da transição do capitalismo para o socialismo". Tal período não conduz de forma linear ao socialismo; pode levar lá mas pode também levar a formas renovadas de capitalismo, particularmente ao capitalismo de Estado”. Sweezy na sua réplica, em que cita este prefácio, concorda com ele, e relembra um seu artigo, de 1964, sobre a Jugoslávia, onde chega “à conclusão que o período de transição é uma via de dois sentidos”. E diz mais na sua réplica a Bettelheim: “na minha concepção, considero que as relações de mercado (que implicam, evidentemente, a moeda e os preços) são inevitáveis em regime socialista, e isto durante um longo período, mas constituem um perigo permanente para o sistema; e, a menos que sejam estritamente limitadas e controladas, conduzirão à degenerescência e à regressão.”
É evidente que esta polémica entre Sweezy e Bettelheim foi muito mais rica do que este pequeno resumo deixa antever e reflectia, para lá da caracterização mais ou menos correcta das sociedades de Leste, alguns pontos de vista maoistas, muito em voga na altura junto da intelectualidade progressista do ocidente.
A sua inclusão neste texto, que alguns pensarão despropositada, tem simplesmente a ver com a ideia que percorre as teses de Sweezy que bastava a introdução de mecanismo económicos que não eram tipicamente socialista para que a transição para o socialismo fosse posta em causa, como agora alguns apressados comentadores, consideram que a introdução de mecanismo mais eficazes de regulação ou aquilo que eles chamam as nacionalizações da banca são já o prenúncio do fim do capitalismo e o aparecimento de uma nova sociedade. Bettelheim, e bem, responde que a transição para o socialismo é uma questão do poder, que ele identifica ingenuamente com a dominação do proletariado, e que hoje em face da complexidade das sociedades modernas tem que ser encarada como o predomínio de um bloco social hegemónico. Por isso, o fim do capitalismo só pode ser encarado quando houver condições políticas, culturais e ideológicas para a sua substituição.
Por último, recordar que esta polémica nos conduz a alguns aspectos que hoje andam muito arredados na discussão sobre o que foi a invasão da Checoslováquia, permitindo que sob a capa da sua condenação, e da defesa em abstracto da liberdade e da democracia, se não faça uma interpretação mais rigorosa sobre as suas causas e qual o sentido da sua “Primavera”.
Por outro lado, demonstrar como os intérpretes oficiais do PCP, que continuam a defender a invasão, que nunca condenaram, vão introduzindo sub-repticiamente no seu discurso, sem a profundidade dos dois autores citados, a viragem que foi empreendida para o capitalismo pelos dirigentes da URSS que sucederam a Estaline.
Apesar do emaranhado de questões levantadas penso que para vós, leitores avisados, os assuntos aqui abordados são relevantes e poderão levar-vos a pensar em alguns dos temas que estão hoje na ordem do dia.

PS.: existe uma versão electrónica em português da Monthly Review já assinalada neste blog.

08/10/2008

A triste sina de um Governo que segue a voz do dono


Se há coisas que me irritam é o servilismo dos sucessivos Governos em matéria em política externa. Desgraçadamente, desde que o regime democrático se normalizou que os nossos governantes, de um modo ou de outro, têm seguido, por esta ordem, os ditames dos Estados Unidos, da NATO e da União Europeia. Ainda hoje, Luís Amado referiu que uma das causas para a falta de informações do Governo português relativamente aos voos da CIA se devia a não querer pôr em causa o consenso sobre política externa existente há mais de 30 nos entre os partidos do arco da governação.
Nos últimos tempos, o não reconhecimento do Kosovo e as relações privilegiadas com Chavez levaram-me a encarar a política externa deste Governo como relativamente independente em relação ao amigo americano, seguindo de certo modo os passos de Zapatero, em Espanha.
Hoje, sem que nada o justificasse e provavelmente para seguir as instruções de Condoleezza Rice, que recentemente tinha estado em Portugal, o Governo português, pela voz do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, anuncia que irá reconhecer o Kosovo. O mote já tinha sido dado por esse dirigente desclassificado do PS que é José Lello, agora veio a confirmação.
O PS nem num assunto que parecia fácil e que tinha o apoio dos portugueses consegue ter um comportamento digno. A voz do dono falou mais alto.
Imagem da principal base americana no Kosovo. Ver referência neste blog

07/10/2008

Na morte de Diniz Machado - Recordações do Primeiro Festival de Cinema de Lisboa


Por vezes dá-me para recordar e à míngua de não ter notícias para comentar, apesar de não faltarem assuntos, resolvi contar como conheci o Diniz Machado e como participei no Primeiro Festival de Cinema de Lisboa, organizado pela Casa da Imprensa, em 1964.
Eu pertencia à Direcção do Cine Clube Universitário de Lisboa (CCUL). O movimento cine-clubista de Lisboa, apesar de não ter nada a ver com a organização daquele festival, tinha boas relações com a Casa da Imprensa, e penso até que iria ter alguma participação no júri ou na atribuição de um prémio. Coube-me, à falta de alguém para a meio do dia ter disponibilidade para reuniões, ir falar com o Diniz Machado, um dos principais organizadores daquele Festival.
Já não me recordo da longa conversa que tive com o Diniz Machado, sei que ele estava preocupado com a possibilidade do júri, de forte influência católica, como convinha no tempo do fascismo, atribuir o prémio a uma xaropada espanhola chamada Dulcineia, inspirada numa personagem do D. Quixote, em vez de a Fellini 8 ½, de Frederico Fellini, que estava também a concurso.
O Festival, que tinha oficialmente o pomposo nome de I Festival Internacional de Arte Cinematográfica, teve lugar no cinema S. Luís e os filmes que foram exibidos eram propostos pelas Distribuidoras. Todos eles foram previamente visados pela censura, o que implicou cortes significativos em algumas das obras exibidas. Na maioria dos casos iriam pouco tempo depois ter estreia comercial nas salas de cinema. Era o Festival possível no tempo do fascismo.
Sei que houve mais dois, em 1965 e 1966, em que foram permitidos filmes apresentados directamente pelo produtor ou por entidades não comerciais, não sei se com cortes da censura, mas de certeza com a autorização explícita daqueles serviços.
Deste Festival retenho duas coisas. A primeira está relacionada com os bilhetes que foram atribuídos aos cine-clubes. A mim, porque tinha a missão de fazer crítica de alguns dos filmes, a Direcção do CCUL deu-me bilhetes para todas as sessões, que era uma cadeira num camarote, nos outros cineclubes era à vez. Sucedeu que apareceram mais candidatos do que bilhetes, e então, todas as noites, era organizada uma entrada com vista a enganar os porteiros, tentando-se encaixar todos os cineclubistas nos dois camarotes que nos foram atribuídos. Nunca percebi como foi possível durante tantos dias enganar aqueles profissionais, nem consigo perceber como tanta gente coube nos camarotes.
Outro aspecto, esse muito mais desconhecido, foi que a “malta” do CCUL influenciada, na altura, por um jovem português, que dizia que trabalhava no Piccolo Teatro di Milano e era amigo de alguém da Direcção, achava que se podia interferir com as decisões do júri ou então preparar o público para ver com outros olhos os filmes presentes no Festival. O que estava em causa é que no Festival ia ser exibido um filme que reflectia uma visão marxista da sociedade e que de modo muito coerente aplicava ao cinema os princípios brechtianos da distanciação. O filme era Salvatore Giuliano, em português O Bandido da Sicília, de Francesco Rosi. A história, em forma de inquérito, relatava o papel desempenhado por aquele bandido no contexto da máfia siciliana e do seu assassinato por aquela organização, nunca nos mostrando de frente o bandido, de modo a que nunca nos identificássemos com ele.
O filme a abater era o Fellini 8 ½, que hoje, passados tantos anos, sobrevive incólume ao desejo iconoclasta daqueles jovens.
Que nos propúnhamos fazer. Reuniram-se os cine clubistas de esquerda e as ideias foram mais que muitas. Desde o lançamento em plena exibição do filme de panfletos a reflectir as nossas posições, à distribuição de críticas à entrada da sala. Já se sabe que a primeira proposta foi desde logo abandonava. Dava, naquele tempo, para irmos parar à PIDE sem sabermos porquê. Foi decidido fazer-se um dépliant, com pequenas críticas a cada um dos filmes exibidos, em que se mostrava como O Bandido da Sicília era o filme que melhor “reflectia” a realidade italiana. Já se sabe, quando o papel ficou pronto já há muito que o Festival tinha acabado e penso que hoje ainda estamos a dever o dinheiro da sua impressão à tipografia que na altura se prestou a imprimi-lo.
No meio disto há um episódio caricato que relembro hoje, passados que já são mais de 40 anos sobre o assunto. Havia na Direcção dois responsáveis, um deles que depois desempenhou um cargo importante na reitoria da Universidade Clássica de Lisboa, que na altura, muito influenciados pelos novos tempos que vinham do Partido Comunista Italiano, propuseram ao grupo de jovens mais aguerridos que convidassem para discutir o tal documento os representantes do Cine Clube Católico, que nessa altura, participavam conjuntamente com os cineclubes de esquerda no já referido apoio ao Festival. Eu achei a ideia disparatada, não que eu não fosse sensível à unidade com os católicos, mas para um objectivo que tinha fins claramente de apoio a uma dada proposta estética, não tinha o mínimo sentido solicitarmos a participação dos católicos nesse projecto. Fui apodado de sectário e desconhecedor das novas realidades que percorriam a Europa. Obediente, e porque as minhas ideias não tiveram vencimento na Direcção, quando o grupo se reuniu propus aos católicos a sua participação na elaboração do tal dépliant. Já se sabe que polidamente recusaram.
Como manda o bom senso, que nestas coisas nem sempre prevalece, o filme que ganhou o Festival foi o Fellini, 8 ½. Nem os receios do Diniz Machado se concretizaram nem as preocupações sociais e políticas daqueles jovens se realizaram. Hoje, passados estes anos recordo a boa conversa que tive com Diniz Machado, a justa vitória do Fellini 8 ½, e a qualidade estética e social do filme de Rosi.

PS:. Fui consultar os meus arquivos e descubro que havia a concurso algumas das obras-primas do cinema italiano da época: Dois Irmãos, Dois Destinos (Cronaca familiare), de Valérico Zurlini, e A Noite, de Michelângelo Antonioni, e ainda do sueco Ingmar Bergman, Luz de Inverno. Eu fiz a crítica a um filme hoje desconhecido, O Apaixonado, de Pierre Étaix, para a Página de Cinema Plano, do Notícias da Amadora.