23/10/2008

"O Socialismo Traído" resposta a dois posts


Penso que a blogosfera também serve para o confronto de ideias, para a crítica, para o aprofundamento das questões e que não se deve cingir à notícia breve, aos estados de alma ou aos fait-divers comezinhos. Tenho alguma dificuldade em utilizar estes últimos predicados que exigem alguma prática de jornalismo, e deixo-me sempre arrastar pela fluência do "verbo", acabando a fazer longas análises daquilo que provavelmente se resumiria em duas ou três linhas. Por vezes também acaricio o meu ego, falando de mim e criticando os outros, no fundo reduzindo a blogsofera ao meu pequeno universo. Mas encaro-a assim e provavelmente continuarei a usá-la desse modo.
Vem isto a propósito de dois post que irei escrever: um, o presente, sobre duas críticas ao livro o Socialismo Traído, Por trás do colapso da União Soviética, de Roger Keeran e Thomas Kenny, publicadas no blog Hoje Há Conquilhas Amanhã Não Sabemos, e o outro, a seguir, sobre a recensão que o meu amigo Fernando Penim Redondo escreveu sobre a entrevista que Emmanuel Wallerstein concedeu ao jornal Le Monde, já por mim referida, relativa a O capitalismo chega ao fim (Le capitalisme touche à sa fin). Vamos a ver se cumprirei esta última promessa.
Quanto a este post gostaria de chamar a atenção para as duas críticas saídas no blog já referido relativas ao livro acima citado (ver a primeira (26/09/08) aqui e a segunda (22/10/08) aqui).
Já por duas vezes fiz referência àquele livro, quando relatei a minha ida à Festa do Avante! (14/09/08) para aquisição do mesmo, e a propósito de uma entrevista que os seus autores deram ao Avante! (26/09/08). Em qualquer dos casos parece-me que relatei com alguma seriedade as principais questões levantadas logo no início do livro, já que era a única parte que tinha lido, e as posições um pouco esdrúxulas do entrevistador e dos entrevistados sobre o fenómeno iniciado por Khrushchov, da destalinização da URSS.
Que diz o nosso blogger no seu último post (22/10/08), pequeno como convém para quem escreve na bloggosfera e pelo qual começo, por conveniência de estrutura deste post: “Foi o «centralismo democrático» – concebido, inicialmente, para resistir nas condições difíceis do czarismo, permaneceu intocável. De Lenine até Gorbatchov. A democracia interna nos partidos comunistas é, pois, uma treta. Ou melhor, é uma rolha. Qualquer voz discordante é decapitada. O último líder do PCUS no poder apenas usou a rolha para, num ápice, fazer cair o castelo de cartas. Nada mais simples. Num livro que passa em análise os setenta anos de vida da União Soviética, será esta a única questão que merece ser realçada? Lamento, mas não será reduzir à expressão mais simples, ou seja, à crítica mais fácil, afirmar que “a democracia interna dos partidos comunistas é, pois, uma treta.” Parece-me que havia coisas bem mais interessantes para escrever sobre aquele livro do que isto.
O primeiro post (26/09/08), que dá início a esta série, mais longo, já tenta enquadrar de modo perfeitamente aceitável as principais preocupações do livro e do PCP, sobre cuja responsabilidade foi editado. Depois retira conclusões semelhantes às minhas, e que estão presentes no meu segundo post, a propósito da destalinização iniciada por Khrushchov.
Ver isto escrito num livro editado pelos comunistas portugueses, em 2008, é estranho. É a repetição das teses dos comunistas chineses, na luta ideológica que mantiveram com os comunistas soviéticos, há 50 anos. Mao Tsétung, na altura, chamou-lhes revisionistas. Os autores de O Socialismo Traído, também. Com as mesmas palavras e os mesmos argumentos. É à luz da reflexão contida neste livro que devem ser revisitadas as posições de Álvaro Cunhal nos anos 60. O líder dos comunistas portugueses, em defesa de Khrushchov, disse e escreveu exactamente o contrário, com a agravante de conhecer as posições dos comunistas chineses.
Afinal, parece que, no plano ideológico, Álvaro Cunhal não acertou uma.

Não se depreende do arrazoado do texto porque é que Cunhal não acerta uma. O mais que se poderá dizer é que a actual Direcção do PCP, esquecendo o que no tempo de Cunhal se disse sobre o assunto, vem agora com pezinhos de lã, como eu por diversas vezes já tenho tentado provar, introduzir pela porta do cavalo, como se fossem pontos de vista sempre assumidos por ela, as posições esquerdistas sobre a destalinização e a questão de Estaline.
É evidente, que isto, não tem nada a ver com qualquer idolatria ao "camarada morto", mas porque na altura, já lá vão muitos anos, aderi ao comunismo e depois, posteriormente, ao PCP, devido à crítica ao estalinismo praticada com algum vigor no XXII Congresso do PCUS, que teve lugar em 1961, e sempre apoiada, pelo menos em palavras, pela Direcção de Cunhal, custa-me muito ver o actual PCP vir defender as posições do esquerdismo, que sempre combateu. E ver um blogger que, sem compreender isto, acaba por acusar Cunhal de um pecado que ele, por acaso, não cometeu.

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro:É interessante a conversa sobre estas coisas. Vou responder-lhem brevemente. Um abraço. Tomás Vasques.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Tenho muito prazer que o faça.
Jorge