29/10/2008

Obama News


Há uns tempos atrás, provavelmente quando da última eleição do Bush, o Pacheco Pereira, com ar embevecido, disse na Quadratura do Círculo que os Estados Unidos da América eram uma grande democracia. Pacheco Pereira, à direita nem é dos piores, simplesmente há alturas que o seu posicionamento ideológico como que oblitera o seu pensamento, levando-o a fazer afirmações que não resistem ao mais pequeno confronto com a realidade. O mesmo já se tinha verificado a quando da Guerra do Iraque. Aí, deliciado com as suas reflexões, começou a falar da incapacidade guerreira da Europa, da “velha Europa”, sempre à procura da paz e da concórdia universal, contra a necessidade de lutarmos de armas na mão contra aqueles que estavam a pôr em causa o nosso modo de vida. Os EUA seriam pois os seus verdadeiros heróis, dispostos a sacrificar a paz em defesa dos valores. Esquecia-se Pacheco Pereira que era o fascismo que exaltava as capacidades bélicas dos povos e condenava o pântano democrático que conduzia à destruição das mais excelsas virtudes das nações. Lamento só agora trazer isto à colação e nunca ter guardado os textos de Pacheco Pereira, porque seria interessante confrontá-lo agora com as afirmações desse tempo.
Mas vem tudo isto a propósito deste interessante e-mail que recebi, e que penso que circula entre os seus amigos, de Fernando Almeida Sousa Marques que vive nos Estados Unidos e que nos tem enviado regularmente notícias sobre a campanha eleitoral naquele país. Neste também se refere ao processo eleitoral americano, que ao contrário do que diz Pacheco Pereira, não é tão democrático como se pensa.

Caros amigos,
A uma semana do fecho das urnas, aqui vão algumas observações.
1. SUPREMO TRIBUNAL
Os membros do Supremo Tribunal são vitalícios. Como são nomeados pelo Presidente e se prevê que, nos próximos 2 anos, pelo menos dois deles possam ser substituídos, o próximo residente da Casa Branca poderá ter uma influência decisiva na alteração da correlação de forças actuais. Um dos principais problemas (que os sectores mais conservadores gostam de transformar em "papão") é o do aborto. O actual Tribunal tem uma maioria escassa (5 contra 4) que não penaliza o aborto e dá liberdade a cada Estado para legislar nesta matéria. Os que se intitulam de "pro-life" (contra os que se intitulam de "pro-choice") desejam uma vitória de McCain.
2. PRESIDENTE
As sondagens apontam para uma vitória de Obama que poderá ser, inclusivamente, bastante ampla. Mas, sondagens são sondagens e os resultados finais só serão sabidos depois do dia 4 próximo. Se McCain perder a Pennsylvania (onde tem 10 pontos percentuais a menos que Obama nas sondagens dos últimos dias) perderá certamente as eleições.
3. CONGRESSO - SENADO
Neste momento, dos 100 Senadores, 49 são Democratas, 49 são Republicanos e 2 são Independentes. Em caso de empate, o Presidente do Senado (que é por direito próprio o Vice-Presidente dos EUA), intervém. As previsões apontam para um resultado esmagador para os Republicanos: perderão oito lugares. Isto aponta para uma relação no Senado, depois destas eleições, de 59 para o Partido Democrático, contra 41 para o Republicano.
4. CONGRESSO - HOUSE OF REPRESENTATIVES
Também aqui se prevê uma vitória do Partido Democrático, aumentando a vantagem que já hoje têm.
5. DISTRIBUIÇÃO DE PODERES
Face a este cenário, depois do dia 4 de Novembro, não é apenas possível e provável haver um Presidente chamado Barack Obama. Também é possível e provável ter uma maioria democrática no Senado e outra na câmara baixa (House of Representatives). Como é possível e provável que o Supremo Tribunal se mantenha favorável a todos aqueles que são contra a penalização do aborto. Aqui está uma consequência de 8 anos de desvario republicano e de um presidente impreparado.
6. ABSTENÇÃO
Por um lado, é previsível que a abstenção venha a ser a menor de sempre, desde que há eleições nos EUA (habitualmente, nas presidenciais, é de cerca de 50%). Por outro lado nunca houve um tão grande número de cidadãos inscritos nos cadernos eleitorais. Fácil é prever que, nunca como agora, haverá tantos eleitores, tantos votos para contar. Se, numa situação destas, houver uma vitória, em todas as frentes, do Partido Democrático é previsível que o Partido Republicano passe por um período conturbado da sua vida (que já está a viver, embora tente ser disfarçado por McCain e Palin). Também é previsível que se confirmem as fragilidades do sistema eleitoral americano que não está habituado, nem preparado, para uma tão grande participação eleitoral. A ver vamos o que se irá passar.
...
HOJE É FÁCIL RECONHECER QUE 80% DOS AMERICANOS PERCEBEM ISTO. MAS HÁ UNS ANOS ATRÁS, NÃO SÓ POR AQUI, MAS TAMBÉM UM POUCO POR TODO O MUNDO, QUEM SE OPUSESSE ÀS POLÍTICAS ULTRA-LIBERAIS, MILITARISTAS E IMPERIAIS DA CLIQUE QUE DOMINOU ESTE PAÍS, ERA POR VEZES MALTRATADO E RIDICULARIZADO.
Como senti isso na própria pele, não admira que aguarde o dia 5 de Novembro para abrir a janela, olhar para o mundo que se imagina para lá do horizonte e sorrir.
...
Boa noite e boa sorte,
Fernando

Espero que o autor não me leve a mal por me ter servido do seu e-mail, mas diria que é por uma boa causa e que isso merece desculpa.

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