22/01/2011

As últimas acções de agitação

Colaborei durante os dias reservados à campanha eleitoral num blog colectivo de apoio a Manuel Alegre. Fizeram-me esse convite e aceitei. Não foi a primeira vez na vida que cooperei com socialistas e outros independentes. Na campanha de Jorge Sampaio para a presidência da Câmara de Lisboa, na sua primeira eleição, criaram-se estruturas comuns, em que eu participei em nome do PCP. Em qualquer dos casos não me arrependi. Fiz aquilo em que acreditava.

Não sei qual será o destino deste blog, Alegro Pianíssimo, mas desde já declaro que se houver segunda volta continuarei a colaborar e se houver propostas para o futuro nada me impedirá de ir ouvi-las. Já tenho anos suficientes para saber onde me meto.

Deixo-vos meus dois últimos posts para aquele blog.

“Ter mais de 60%, que é para a ripada ser maior aos talibãs”

Assim se exprimia um apoiante de Cavaco, em Oliveira do Hospital, em frente de uma câmara de televisão. A forma, como se vê, não é das mais elegantes, mas ao candidato e aos seus apoiantes não se exige mais. De quem, recorrendo à demagogia mais descabelada, aconselha a não se prolongar por mais umas semanas a campanha eleitoral porque “os custos seriam muito elevados para Portugal e para os portugueses”, ou de quem destina às mulheres o papel de fadas do lar, porque são elas “que gerem os orçamentos das famílias e são as mais bem preparadas para identificar onde está o rumo certo, aqueles que as podem ajudar para melhorar o bem estar dos seus maridos e dos seus filhos,” não se pode esperar um estilo diferente do dos seus apoiantes.
Cavaco, no seu discurso desconchavado, promete benesses a quem nele votar, os seus apoiantes, pelo contrário, prometem ripada nos talibãs, que somos nós.

É o fascismo doce que sempre se perfilou por detrás de palavras mansas e cordatas dos democratas “pós-25 de Abril”. Mas, está sempre à porta, à espera de poder entrar. Não é por acaso que Cavaco condecorou Pides e não Salgueiro Maia, ou permitiu que o seu Secretário de Estado interditasse o envio do livro de Saramago, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, a um prémio europeu. Mas também não é por acaso que se vai à PIDE declarar que se está integrado no regime. Este homem não tem qualquer pinta de democrata, só o é porque os tempos correm de feição a este tipo de Governo.

 
As “encomendas” de Cavaco Silva

Hoje Cavaco Silva declarou à Rádio Renascença que alguns jornalistas tinham recebido encomendas para abordar nos seus órgãos de informação as negociatas em que ele se tinha metido. Já se sabe que o termo negociata é meu.

É preciso ter desplante para vir apoucar os jornalistas por receberem encomendas que incomodam S. Exª e ter-se esquecido da encomenda que o seu assessor para a imprensa, Fernando Lima, fez a um tal jornalista do Público para fazer umas averiguações sobre certos senhores que frequentavam a sua comitiva, quando da sua deslocação à Madeira há alguns anos. Parece também que já se está a esquecer da encomenda que fez a José Manuel Fernandes para que este lançasse no Público a atoarda de que ele, Cavaco Silva, andava a ser escutado pelo Governo, isto numa altura em que o PSD, chefiado por Manuela Ferreira Leite, falava da "asfixia democrática".

Grande encomenda me saiu este Cavaco Silva, ficar-lhe-ia bem conhecer este ditado popular “quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho”.

PS.: fotografia com a folha da ficha da PIDE preenchida pelo próprio Cavaco Silva, dizendo que estava integrado no regime. Clique para ampliar a imagem.

1 comentário:

Armando Cerqueira disse...

A um candidato à Presidência da República, e ainda mais a um Presidente em exercício, exige-se não só que seja impoluto, como pareça impoluto.
Ora quanto ao Dr Cavaco da Silva há ou não suspeitas de factos cuja correcção é, no mínimo, duvidosa (compra de acções a preço de favor a uma personalidade de moralidade já então contestada (perdão fiscal a financiadora do PPD), a fuga ao pagamento de sisa da nova vivenda, obras realizadas sem licenciamento?
Noutros países democráticos tais dúvidas bastavam para que o Dr Cavaco da Silva apresentasse de imediato a sua demissão e se abstivesse de actividades políticas até completo esclarecimento.
Não foi aliás o que os apparatchiki do PPD e do CDS exigiram ao Eng José Sócrates?