31/01/2011

Sectarismos, ódios e paranóias - II

O episódio do post anterior, a minha altercação com Vítor Duas, não tinha qualquer importância se não se inserisse numa campanha particularmente sectária do PCP contra o Bloco de Esquerda. Farto de trocar farpas com Vítor Dias estou eu. Simplesmente notei o particular acinte em atacar Francisco Louçã, chamando-lhe trafulha, a propósito de um post meu que não fazia qualquer referência àquele bloquista.

Mas comecemos pela campanha. Logo numa daquelas crónicas bastante arrevesadas que se publicam na rubrica Actual (Avante, de 27/01/11) vem um texto de ataque a Luís Fazenda (LF), assinado por Jorge Cordeiro, que é um mimo de sectarismo. Em resposta a argumento racionais de LF, vem a calúnia e a mentira, principalmente aquela que diz que o Bloco votou sozinho ao lado do PS a nacionalização dos prejuízos do BPN. A mentira não é nova, tem origem num artigo de opinião de Honório Novo, no Jornal de Notícias. João Semedo já lhe tinha respondido no Esquerda.net, com um artigo chamado O sectarismo é sempre um mau caminho, em que desmentia as afirmações de Honório Novo, até porque o Bloco tinha votado contra a lei da nacionalização, com toda a restante oposição. Simplesmente como já tinha sucedido em tempos, na mesma rubrica, com a afirmação de que Manuel Alegre se tinha abstido no Código do Trabalho, agora mente-se dizendo que o Bloco votou ao lado do PS no caso BPN. A mentira muitas vezes repetida pode parecer verdade.

Mas vamos ao mais importante, o comunicado do Comité Central. Dizia este: “A fuga em frente ensaiada pelo BE para encontrar noutros responsabilidades que lhe pertencem, não pode iludir o facto de ter partilhado com o PS e o seu governo o apoio a uma candidatura objectivamente comprometida com o essencial da política e opções que nos últimos trinta anos conduziram o país à actual situação. E sobretudo o facto de, mais do que empenho no objectivo de derrotar Cavaco Silva e a política de direita, o que se viu por parte do BE foi a intenção de tirar vantagens do apoio a Manuel Alegre ditado por critérios de calculismo partidário.

Onde é que o Bloco foi “buscar noutros a responsabilidade que lhe pertencem”? Quando disse que perdeu as eleições e que toda a esquerda também as perdeu? Já se sabe que, como o PCP nunca perde eleições, vir alguém dizer por ele que perdeu, é motivo suficiente para o PCP acusar outros de alijarem responsabilidades. Ora o objectivo do PCP não era chegar à segunda volta e derrotar Cavaco? Oh! Não? Não tendo conseguido isso e os seus resultados não constituirem uma afirmação de força, não tem motivos para cantar vitória, como mais uma vez ensaiou fazê-lo nestas eleições. O Bloco não veio dizer que foi devido ao PCP que se perderam as eleições, disse que toda a esquerda perdeu e com ela também o PCP.

Depois a afirmação, sempre sectária, de “ter partilhado com o PS e o seu Governo o apoio a uma candidatura objectivamente comprometida com o essencial da política e opções que nos últimos trinta anos conduziram o país à actual situação.” Mas, não lhe bastando dizer isso, afirma a seguir que não foi para derrotar Cavaco e a política de direita que o Bloco apoiou o Alegre, mas por meros critérios de “calculismo partidário”. Ou seja, o Bloco não compartilhou com o PS e o seu Governo o apoio a uma candidatura comprometida com os últimos trinta, sublinho trinta, anos de política de direita, o que o iliba aos olhos do PCP de ser um partido reformista e social-democrata, digo eu, pois o comunicado não diz isso. Mas fê-lo simplesmente por mero calculismo partidário.

O Comité Central do PCP devia ter vergonha daquilo que diz, pois nos últimos trinta anos apoiou à primeira volta Ramalho Eanes, que era um oficial tão de esquerda, que agora apareceu a apoiar Cavaco. Apoiou também Salgado Zenha à primeira volta, que era responsável pela ofensiva contra a Intersindical, na questão da unicidade sindical e que chegou a ser Ministro da Economia, o que levou Cunhal fazer uma boa piada, afirmando que ele próprio dizia que não percebia nada de finanças. Este caso foi um claro exemplo, para utilizar as palavras do actual PCP, de oportunismo partidário. Mas mais espantoso ainda, que maior responsável pelo estado a que isto chegou do que Mário Soares, que o PCP apoiou, sugerindo que depois tomassem sais de fruto, numa segunda volta. E não foi Jorge Sampaio também responsável pela política destes trinta anos? E não desistiu Jerónimo de Sousa a favor dele numa primeira volta?

Já se sabe que todas estas palavras visam hoje transformar o PCP no rei da resistência ao socratismo, mas é incapaz de propor, apara além dos muros muito apertados dos Verdes e da Intervenção Democrática, uma política de unidade com as outras forças políticas.
Não foram as anteriores posições do PCP sobre as eleições presidenciais que estiveram erradas, é o seu actual sectarismo é que é hoje o inimigo principal da esquerda.

Gostaria de lembrar um texto que em tempos escrevi sobre o Desvio Esquerdista e Sectário da Internacional Comunista (1929-1934)  em que citava as palavras de Isaa Deutscher: “Os partidos sociais-democratas e reformistas rotulados como “sociais-fascista”, deviam ser considerados como os inimigos mais poderosos do comunismo. Para a revolução socialista, a ala esquerda dos partidos sociais-democratas devia ser considerada como obstáculo até maior do que a ala direita: “quanto mais à esquerda mais perigosa”. Qualquer cooperação ou contacto entre líderes comunistas e sociais-democratas trazia o risco da contaminação.
No fundo, é isto que se passa hoje como o nosso PCP, quanto mais à esquerda está qualquer partido concorrente mais perigoso é. Ou seja, incapazes, ao contrário do que sucedeu no passado, de formular uma linha de unidade, encerram-se numa fortaleza em que aqueles partidos que mais próximo deles estão, passam a ser os seus piores inimigos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Como mais não adianta, apenas um telegrama em três pontos:

1. Eu não chamei «trafulha» a Francisco Louçã, escrevi que «trafulhou» em dois pontos do seu texto. Calculo que, para si, seja tudo igual ao litro.

2. Estamos de facto politicamente no regime do que em economia política se chama a «troca desigual»: Luís Fazenda pode escrever o que quiser, Jorge Cordeiro não pode responder. Segundo o padrão estabelecido vai para mais de 10 anos, quando um dirigente do BE se refere ao PCP é «debate de ideias», quando um dirigente do PCP responde é «ataque, ódios e paranóias».

3.Quando se fala de experiências passadas convém ter em conta que a última foi há 20 anos e ter presente o que aconteceu em 13 dos últimos 15 anos e as suas consequências. Isso está lembrado no ponto 3. do meu post aqui em http://tempodascerejas.blogspot.com/2011/01/politica-e-o-pensamento-das-caixas.html

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Vítor das quanto mais escreve mais se enterra.
Primeiro inventa uma palavra e diz que a palavra que inventou é diferente daquela que eu emprego, que é a que existe. “Trafulhou” deveria vir do verbo “trafulhar” que é a acção daquele que é trafulha. Portanto não mascare as palavras, porque o seu significado é o mesmo.

Segundo, diz que Francisco Louçã “trafulhou” em dois pontos do meu texto. Mas onde é que eu faço qualquer referência ao Louçã no meu post? Você é que achou que me devia pôr ao barulho com Louçã. Por acaso não são dois os “trafulhamentos” que levanta, porque no seu último texto mete também, cheio de raiva, a referência à diminuição de votos que Louçã atribui a Francisco Lopes.
Por outro lado, não se dá conta que entre o seu primeiro comentário e o último, do post anterior, há uma contradição insanável. Que foi aquela com que você me acusou a mim no início. Mas passemos sobre isto.

Vamos agora ao ponto dois do seu comentário. Se ler com atenção o texto do Fazenda perceberá, porque é essa a prática constante da rubrica Actual, que há uma desvalorização do debate de ideias naquela rubrica a troco de frases propagandísticas. Mas o principal não é isso, são as mentiras que lá são ditas. Fui uma que eu já assinalei a propósito de Manuel Alegre e agora esta sobre a posição do Bloco na votação do caso BPN. Como vê não há debate de ideias, há pura e simplesmente mentiras, que você ignora.

Quanto ao seu terceiro ponto: eu até sou capaz de concordar com algumas das ideias que explana nesse post que refere. Eu provavelmente até irei postar qualquer coisa sobre um artigo do André Freire que hoje escreve no Público. Simplesmente não pode esquecer que o comunicado do CC se refere a um a espaço temporal de trinta anos, o que é muito mais longo do que os vinte que refere. Por outro lado, o comunicado do PCP refere-se a calculismo partidário a propósito do BE. Quer maior “oportunismo partidário” do que o apoio à criação do PRD e depois a desistência, na primeira volta, a favor de Salgado Zenha.
Por último, confesse lá. Nas anteriores eleições presidenciais, não tivesse aparecido Louçã e Manuel Alegre, não estava Jerónimo de Sousa preparado para desistir a favor de Mário Soares?

Estas coisas são um pouco mais complicadas do que a visão a preto e branco que você gosta de exibir.

Anónimo disse...

Respondo-lhe apenas sobre o essencial: eu, e julgo que o PCP também não, nunca disse nada sobre segundas voltas.

Zero, nicles, nadica de nada, como dizem os brasileiros.

Capisce ?

Jorge Nascimento Fernandes disse...

É tão enigmático que nem percebo o que diz.
Mas já agora só mais duas coisas. A primeira é que me deixei arrastar pelos seus 20 anos, ou seja, que a última desistência de um candidato do PCP tinha sido há 20 anos, quando a primeira eleição de Sampaio, foi há quinze.
Segundo, esteve-se quase a desistir a favor de Sampaio na sua reeleição. Lembra-se quando foi Abreu o candidato, havia uma forte inclinação para a desistência. E foi nos últimos dias que se fez um comício no Pavilhão de Desportos, em que se gritou “e agora vamos a votos”, o que supunha que se pensava não ir.