02/02/2011

A resposta do PS ao diálogo com os partidos à sua esquerda

Em diversos artigos que, por sinal, têm sido publicados no Público, alguns intelectuais de esquerda, têm feito referências à necessidade de diálogo entre as esquerdas.

Cito os dois dos mais importantes, o de Rui Tavares, no Público, de 27/01/11, e transcrito no seu blog, ruitavares.net/blog,  e o de André Freire, no Público, de 31/01/11, e transcrito no site do MIC – Movimento de Intervenção e Cidadania 

No primeiro dos artigos sublinharia esta parte: “Não poder a esquerda convergir é um péssimo vício nacional. Como qualquer vício, não desaparece de um momento para o outro. E enquanto dura impede-nos de ser um país normal e uma democracia em que da alternância nasça alternativa. Ora isso é um sinal de subdesenvolvimento, não só do país, mas sobretudo da própria esquerda — que continua a comportar-se como se devesse alguma coisa aos sectários que dentro de cada partido.” Não quero neste momento entrar em polémica com Rui Tavares, gostaria unicamente de sublinhar o seu desejo legítimo de convergência da esquerda.

Do segundo sublinho também este longo período: “A impossibilidade histórica de as esquerdas se entenderem em Portugal, ao contrário do que se passa em muitos países europeus, sobretudo após o fim da Guerra Fria, é um problema não só para a relação entre representantes e representados (os segundos apoiam maioritariamente tal entendimento, os primeiros não), mas também para o equilíbrio do sistema político (a direita coopera, a esquerda não) e para a normalização da nossa democracia (já para não falar da brutal redução da influência dos votantes da esquerda radical, sempre excluídos do Governo). Claro que todos sabemos que há vários factores que tornam esse entendimento muito difícil (temos um dos partidos socialistas mais alinhados ao centro da UE; a esquerda radical não fez a devida actualização ideológica, parece não aceitar os nossos compromissos europeus e, sobretudo, parece não aceitar que, tendo em conta o seu estatuto de minoria, poderia apenas influenciar um eventual governo de "esquerda plural", nunca determinar as suas orientações fundamentais). Mas, apesar de tudo isso, é importante que os agentes políticos e os cidadãos (de esquerda) dêem passos no sentido de superar esse bloqueamento, uma patologia do nosso sistema político.” Não vou igualmente polemizar com André Freire, meu colega do blog Alegro Pianíssimo, de apoio a Manuel Alegre. Também este autor defende que é importante que os agentes políticos superem os bloqueamentos da esquerda.

Depois destas duas recomendações, que merecem discussão séria, mas de cuja viabilidade tenho muitas dúvidas, obtivemos hoje a resposta do PS, pela voz de Jorge Lacão. O PS propõe ao PSD como tema de revisão constitucional ou de lei eleitoral, não percebi, a redução do número de deputados de 230 para 180, já que este número está inscrito na Constituição, e também a falaciosa proposta de ligar os eleitos aos eleitores.
Aqui temos pois como o PS pensa resolver o problema das alianças à sua esquerda, fazendo-a desaparecer da Assembleia da República, ou reduzindo-a à sua expressão mais simples.
Como todos percebem reduzindo o número de deputados diminui-se a proporcionalidade e se juntar-mos a isto um outro sistema de eleição dos deputados, podemos acabar de vez com os pequenos partidos. Reduz-se a Assembleia a uns tantos deputados do PS e outros tanto do PSD, para rodarem entre si conforme as conveniências.
Aqui temos pois a resposta ao diálogo entre as esquerdas.

2 comentários:

Luis disse...

Tem razão mas não percebo o seu espanto. Foi sempre assim desde Soares e Alegre, não foi?

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Como se percebe do meu texto eu não me espanto, só comento que em resposta a dois pedidos de diálogo com o PS, este tivesse proposto a redução dos deputados. Parece que este não quer, quem quer é o Lacão. Mas, seja como for, a verdade é que ao mesmo tempo que à esquerda lhe propunham diálogo um dos seus ministros propunha-se suprimir da Assembleia os pequenos partidos. Quanto à insinuação do Manuel Alegre ela é sua não minha. Mas a campanha já acabou, não necessita de demonstrar mais nada.