12/02/2011

O BE quer desenvolver uma cruzada contra os ricos e os bem sucedidos

Teve lugar, na passada 5ª feira, mais uma daqueles deliciosos programas “cheios de contraditório”, como o Pacheco Pereira gosta, chamado  Quadratura do Círculo, na SIC Notícias.
Como se sabe, a discussão decorre à volta de uma mesa entre um jornalista, que faz perguntas e modera os tempos de intervenção, e três figurões da nossa praça política: o Pacheco Pereira, deputado do PSD e intelectual, o António Lobo Xavier, militante do CDS e pertencendo em não sei quantos Conselhos de Administração, e António Costa dirigente importante do PS e Presidente da Câmara de Lisboa. Já se sabe que a maioria das vezes é uma luta de dois, a direita unida, contra um, o PS oficialíssimo. Mas, por vezes, como sucedeu agora, a propósito do aviso da moção de censura do Bloco de Esquerda, os três contra a esquerda, à esquerda do PS, principalmente contra o BE.
Já diversas vezes, me tenho referido a esta programa, a que muitos não ligam nenhuma, mas que reflecte um modo de pensar, nem sempre alinhado dos dois da direita, mas sempre oficial da parte do representante do PS, que já foi o Jorge Coelho e agora é o António Costa (AC).

Parece, segundo percebo, que os temas a discutir são propostos pelos participantes e desta vez estava em cima da mesa, da responsabilidade do AC o caso, bastante trágico, da velhota que esteve nove anos morta no seu apartamento, e de todos o aviso da moção de censura do BE.
O AC, que gosta destes temas populistas, lá introduziu o caso da velhota, fazendo um ar de indignação, e o Pacheco Pereira com sobranceria, de quem não discute coisas menores, a dizer que não estava interessado no tema, o que gostava era de discutir o caso do Egipto ou o da não entrega do relatório ao público sobre o que aconteceu no dia das eleições presidenciais, relativamente às dificuldades em votar. António Lobo Xavier, um pouco na mesma linha, termina a dizer que “à morte e aos impostos ninguém escapa”, o que neste caso era absolutamente verdade, já que foi devido a uma penhora das finanças ao apartamento da velhota que se descobriu o corpo dela.

Mas o que me interessa, depois deste longo arrazoado, foi de facto a fúria com que os três atacaram o BE a propósito do aviso feito por Louçã de que este iria apresentar uma moção de censura contra a política de direita seguida pelo Governo.
Destaquemos algumas frases de fino recorte literário, qualquer delas de Lobo Xavier a primeira a dizer que “a táctica do BE é de restaurante do Bairro Alto” e depois a acrescentar a frase que serve de título a este post.
AC faz o grande elogio do PCP, falando da sua inserção nos trabalhadores, garantindo que o BE é um fenómeno efémero, que não representa nada. PP acha que mesmo assim há camadas educadas, radicais e citadinas representadas pelo Bloco. O problema para Pacheco é que a liderança é ainda muito leninista, muito comunista, no sentido do comunismo radical, infantil diz o Costa, Pacheco Pereira aduz, sim naquele sentido em que Lenine chamava a doença infantil do comunismo. E PP acrescenta, eles actuam assim porque a sua direcção é trotskista, comunista e leninista. Caramba, como em tão pouco tempo tantas acusações perigosas e subversivas foram dirigidas contra o Bloco. Que inveja não sentiram os do PCP por isto não ser dirigido contra eles. Salva-se o Lobo Xavier, que no final, depois de AC e PP garantirem que o PCP era um partido fiável e que respeitava os acordos que se estabeleciam com ele, garantia que os outros se estavam a esquecer que o PCP era comunista, estatista, totalitário e apoia os regimes de Cuba e da Coreia do Norte. Ah! Caramba, despejou o saco.

No meio de isto tudo pareceu-me claro que do PS vem aí um ataque em forma ao Bloco, tentando passar a mão pelo pêlo do PCP. Não sei se será esta a estratégia do Sócrates?
E que o a direita, pela voz daqueles dois comentadores, não estaria com muita pressa em derrubar o Governo, excepto alguns homens do aparelho desejosos de ocupar taxos.
Pacheco Pereira perguntava mesmo que campanhas iriam fazer os partidos se houvesse agora eleições. O PS vitimizar-se-ia, apontando todas as malfeitorias que a subida do PSD ao poder acarretaria para o país. O PSD ou falava verdade, descrevendo as desgraças que nos esperam, e não tinha votos, ou prometia coisas que não podia dar e fazia uma campanha desonesta. Isto diz PP.

O Bloco Central, apesar dos insultos que todos os dias os partidos que o integram trocam entre si , está ainda para ficar. E a Quadratura do Círculo mais uma vez a demonstra como é bom apelar ao contraditório, mas não o aplicar.

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