08/01/2011

Alegro Pianíssimo


Convidaram-me para integrar o novo blog, Alegro Pianíssimo, que nasceu para apoiar a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República.

Depois de resolver alguns conflitos com a informática, consegui finalmente colocar um meu primeiro post. Teve que haver ajudas, mas lá está ele certinho, graficamente, como mandam os seus responsáveis. Felicidades e que o candidato que eles e eu apoiamos tenha êxito, que é ir à segunda volta.

Como não vos quero obrigar a descobrirem o meu post num montão deles, aqui vos deixo o que escrevi. É mais uma das minhas recordações de juventude.

Quando a “voz” se ouvia em Argel

Já quase ninguém se lembra o que era estar acordado até à uma e meia da madrugada, para ouvir “aquela voz” que vinha de outro mundo para nos falar de liberdade. Era voz de Manuel Alegre, na rádio Voz da Liberdade, em Argel.

Na segunda metade dos anos 60, um grupo de jovens, já organizados partidariamente, resolveu enviar para Argel, por mão amiga, uma carta cheia de informações sobre o Portugal censurado.
Reunimo-nos e escrevemos à máquina não sei quantas páginas repletas de notícias e assinámo-la, cheios de confiança, “Grupo Bento Gonçalves”. Porque não se fica com cópia destas coisas, só me lembro de dois dos temas que foram abordados. Um era sobre a ponte Salazar, hoje, felizmente, 25 de Abril. Um de nós tinha a informação que aquela obra tão custosa à época não estava a dar o rendimento que se esperava, havia pouco movimento. Já se percebe, o que se teria escrito? Era uma obra do regime, que empobrecia a nação e não serviria as populações interessadas. Hoje, estas afirmações parecem-nos ridículas, mas na altura não o eram.
Mas o grosso da nossa informação consistia no tráfico de armas que, com a cumplicidade do Governo de Salazar, se fazia para o Biafra, uma província secessionista da Nigéria, que se tinha revoltado contra o poder central e era apoiada pelo Governo fascista português e por outros estados associados ao colonialismo, como a África do Sul e a Rodésia do Sul. Havia um importador português, ligado ao fascismo e à vida tauromáquica – na altura fez-se referência ao o nome –, que vendia as armas e as enviava não oficialmente para aquela província. Isto era grave, porque devido aos interesses obscuros do petróleo e ao cerco que a Nigéria impôs aquela província independente, estavam a morrer à fome milhares de pessoas. Este novo país nunca foi reconhecido pelas Nações Unidas e Portugal participava, através do comércio da morte, que era feito a partir de S. Tomé e Príncipe, do pequeno número de países que alimentava aquela guerra.
Tempos depois “aquela voz” noticiava algumas das nossas informações, juntamente com outras notícias, cuja fonte era a nossa carta. Como o noticiário não abundava, as informações por nós prestadas eram repetidas regularmente. Sentimos depois deste episódio um grande orgulho, a rádio Voz da Liberdade, prestava atenção a este apagado mas firme grupo de jovens. Tínhamos contribuído para a luta e a “voz” tinha-nos ajudado.

1 comentário:

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Na divisão das tarefas domésticas coube-me a mim cozinhar. Por isso, ao fim dos anos que já levo, a cozinha não sendo um suplício é uma rotina, nesse sentido agradeço a sua visita, mas não espere da minha parte muita retribuição.
Mas venha sempre que quiser.