09/04/2011

Um discurso alegre e um alegre Congresso

Alegre foi ao Congresso do PS e fez um discurso. Conforme o órgão de informação que ouvimos ou lemos, assim se realça mais a parte do discurso "sou um homem de esquerda que defende o diálogo à esquerda, mas quero dizer com toda a clareza o seguinte: não repitam o erro de 1975, não queiram dispensar os socialistas, porque não há soluções de esquerda sem o PS ou contra o PS”, ou então o ataque aos mercados financeiros, à influência neo-liberal na Europa ou a recusa de um Governo de bloco central, sublinhando as diferenças com o PSD (ver aqui e aqui).

Por outro lado, todos os comentadores são unânimes em afirmar que este é um Congresso que pretende captar o voto útil da esquerda. Mas de que modo. Sócrates explica: “os votos desperdiçados à nossa esquerda são votos que favorecem o caminho da direita para o poder”. “ A verdade é que só a concentração de votos no PS poderá travar a agenda liberal aventureira perigosa da direita pelos serviços públicos e pela recusa da protecção social do Estado”. Vitorino mais entusiasmado e servindo-se agora do discurso de Manuel Alegre, disse mesmo: «Esses eleitores (os de esquerda) terão que perguntar-se seriamente acerca do significado e do resultado de um voto em partidos que se mostram totalmente imprestáveis para a construção de uma solução de governo à esquerda, porque, como dizia Manuel Alegre, convençam-se de uma coisa: não há solução de Governo à esquerda sem o PS e muito menos contra o Partido Socialista». No entanto, lá vai dizendo, que admite a existência de consensos, de procurar «apoios alargados para lutarmos juntos contra a crise», mas diz que o importante é saber «quem está em melhores condições de liderar esse processo, de liderar essa procura de entendimentos alargados» (ver aqui).

Este discurso é simples, querem os votos da esquerda, à esquerda do PS, porque, afirmam, os partidos que os consubstanciam são “totalmente imprestáveis”, para depois fazerem consensos com a direita, já se sabe, se possível, em posição de força.

É espantoso que depois do apelo ao compromisso de 47 personalidades (Expresso de hoje), que de certeza não será de esquerda, a resposta que foi dada no Congresso é que todos estavam de acordo e que o PS tudo tinha feito para o conseguir, só gostaria de ser ele a dirigi-lo.

Por isso bem pode Manuel Alegre vir referir-se que é favorável ao diálogo à sua esquerda e que esta não pode ignorar o PS, que tudo está preparado para depois de terem os votozinhos dos eleitores da esquerda, fazerem os compromissos que entenderem com a sua direita.

Por isso, é uma ilusão que algum PS de esquerda alimenta que este partido, neste momento histórico que se está vivendo, quer travar qualquer diálogo à esquerda, querem é papar-nos o voto para fazerem depois a sua política de compromisso.

O combate vai ser difícil. Já percebemos que desta vez o PS pretende conquistar votos à esquerda. A inclusão de Ferro Rodrigues para cabeça de lista para Lisboa dá o tom. Mas já se fala em Manuel Alegre para Coimbra. Provavelmente ainda iremos ter muitas surpresas. Estejamos preparados para tudo.

3 comentários:

J Eduardo Brissos disse...

Como é que tanta gente, se enganou tanto, durante tanto tempo, sobre o papel de Alegre na esquerda?

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Caro Brissos

Para mim o problema que tu levantas não é de solução simples. Alegre foi em determinado momento o candidato possível e o único capaz de derrotar Cavaco Silva. Não é uma questão de engano, é uma questão de táctica política. Provavelmente irei escrever um post sobre o assunto.

J Eduardo Brissos disse...

Percebo que foi uma questão tática, a minha pergunta tem a ver com a escolha do protagonista.
Se tiveres pachorra para o tal post já tens um leitor garantido.
Abraço