Regressado, por momentos, à blogosfera, assisti este fim-de-semana a dois programas de televisão que marcam duas maneiras de encarar a realidade.
O primeiro foi o Expresso da Meia-Noite. Este programa representa, no pequeno universo da SIC Notícias, o conformismo e a "bem-pensância" nacionais. Traduz para televisão aquilo que o Expresso é na vida política nacional, um jornal conservador, acantonado ao pensamento dominante, sempre a apelar aos valores do bom-senso e da moral, incapaz de apresentar qualquer renovação na sua forma de pensar.
O último programa confirmou isto mesmo. Duas jornalistas de direita, muito “bem”, Teresa de Sousa e Maria João Avilez, e dois políticos na reforma, Rui Machete e Alfredo Barroso, a falarem do bloco central, o que foi chefiado por Mário Soares (1983-1985) e o que é actualmente proposto.
Maria João Avilez falou do papel patriótico desempenhado por aquele Governo, de que Rui Machete chegou a ser Vice-primeiro-ministro e Alfredo Barroso, Chefe de Gabinete do Primeiro-ministro. Percebia-se que era a favor de uma solução semelhante para o presente. Teresa de Sousa igualmente. Rui Machete também. Só Alfredo Barroso destoava e falava abertamente de uma coisa que ele afirmava que o PS há muito se tinha esquecido que era o debate sobre a política de alianças, admitindo que as podia fazer com a sua esquerda. Coisa que horrorizou as presentes. Teresa de Sousa, com uma linguagem típica da Guerra-Fria, falava como era possível admitir no Governo partidos que eram contra a NATO. E mais, sem perceber, que os tempos já não estão a favor do neo-liberalismo dominante e que há uma crise da economia capitalista, manifestava todo o seu horror e o ridículo que seria meter hoje no Governo partidos como o Bloco de Esquerda ou o PCP. Rui Machete gritava como seria possível incluir um partido que cometia a heresia de pedir a nacionalização da electricidade. E falava dos disparates do Bloco. Maria João Avilez garantia que o único referencial da actualidade era Cavaco Silva. Lá estava Alfredo Barroso, que se comportou à altura, dizendo que era um verdadeiro social-democrata, que ainda mantinha os mesmos ideais da juventude, piada à Teresa de Sousa que tinha passado pelo maoismo, e acusando a direita em Portugal de ser a responsável por impedir qualquer solução política à esquerda. Aqui, digo eu, com grande responsabilidade do PS. E acusando a imprensa portuguesa de ser hoje dominada pela direita. Bati palmas.
Mas concluindo, um programa terrivelmente monótono, com três direitinhas, contra um de esquerda. Uma moderação fraca ou a ajudar à festa, incapaz de realizar uma verdadeiro debate entre correntes de opinião representativas do espectro partidário e ideológico da sociedade portuguesa.
O segundo programa foi o Eixo do Mal, que corre ao Sábado naquela estação. Este é mais matizado. Já várias vezes tenho aqui descrito as preferências político-ideológicas de cada um dos intervenientes. Achei interessante a propósito do bloco central, que também foi discutido neste programa, que as posições fossem todas contra. Mas acima de tudo acho que Clara Ferreira Alves, num ataque de lucidez, deu uma ideia bastante interessante do papel desempenhado hoje pelo Bloco de Esquerda, que merecem alguma reflexão. Assim, garantia que o êxito do Bloco, que segundo ela corresponderia a uma caso de estudo, na tradução portuguesa da expressão inglesa que ela utilizou, resultaria não dos temas fracturantes propostos por aquele partido, nem de uma viragem à esquerda do eleitorado, mas sim da sua posição contra a corrupção, a roubalheira, os vícios dos outros partidos e da sua acomodação aos interesses instalados. Incitava mesmo o PS a estudar este êxito, que ela considerava que era por culpa deste partido e da sua incapacidade para fazer diferente que nascia o sucesso do Bloco.
Daniel de Oliveira não se opôs às suas palavras, no entanto, considerou, e bem, que o tema do Bloco Central tinha surgido na sociedade portuguesa, principalmente através dos representantes do patronato e dos seus apaniguados (vi numa análise da imprensa, também na SIC Notícias, Martim Avillez Figueiredo, director do novo jornal i, a defender esta saída política), porque a esquerda, à esquerda do PS, estava a subir significativamente e aquele partido iria perder a sua maioria absoluta. Portanto, era bom que o PS não tivesse qualquer veleidade de se aliar à esquerda, mas sim de o fazer à sua direita. Daniel insistia mesmo que quanto mais se falasse do bloco central, mais cresceriam o Bloco e o PCP.
Estes dois exemplos, que nem sequer são representativos, servem pelo menos para ilustrar como a expressão de opiniões mais diversificadas, e se possível mais inteligentes, tornam os programas mais interessantes evitando a monotonia e o desinteresse. Mas isto é um voto piedoso de alguém que tem consciência que estas coisas não dependem da boa vontade dos programadores mas de quem paga e de quem, em última instância, determina os conteúdos.
O primeiro foi o Expresso da Meia-Noite. Este programa representa, no pequeno universo da SIC Notícias, o conformismo e a "bem-pensância" nacionais. Traduz para televisão aquilo que o Expresso é na vida política nacional, um jornal conservador, acantonado ao pensamento dominante, sempre a apelar aos valores do bom-senso e da moral, incapaz de apresentar qualquer renovação na sua forma de pensar.
O último programa confirmou isto mesmo. Duas jornalistas de direita, muito “bem”, Teresa de Sousa e Maria João Avilez, e dois políticos na reforma, Rui Machete e Alfredo Barroso, a falarem do bloco central, o que foi chefiado por Mário Soares (1983-1985) e o que é actualmente proposto.
Maria João Avilez falou do papel patriótico desempenhado por aquele Governo, de que Rui Machete chegou a ser Vice-primeiro-ministro e Alfredo Barroso, Chefe de Gabinete do Primeiro-ministro. Percebia-se que era a favor de uma solução semelhante para o presente. Teresa de Sousa igualmente. Rui Machete também. Só Alfredo Barroso destoava e falava abertamente de uma coisa que ele afirmava que o PS há muito se tinha esquecido que era o debate sobre a política de alianças, admitindo que as podia fazer com a sua esquerda. Coisa que horrorizou as presentes. Teresa de Sousa, com uma linguagem típica da Guerra-Fria, falava como era possível admitir no Governo partidos que eram contra a NATO. E mais, sem perceber, que os tempos já não estão a favor do neo-liberalismo dominante e que há uma crise da economia capitalista, manifestava todo o seu horror e o ridículo que seria meter hoje no Governo partidos como o Bloco de Esquerda ou o PCP. Rui Machete gritava como seria possível incluir um partido que cometia a heresia de pedir a nacionalização da electricidade. E falava dos disparates do Bloco. Maria João Avilez garantia que o único referencial da actualidade era Cavaco Silva. Lá estava Alfredo Barroso, que se comportou à altura, dizendo que era um verdadeiro social-democrata, que ainda mantinha os mesmos ideais da juventude, piada à Teresa de Sousa que tinha passado pelo maoismo, e acusando a direita em Portugal de ser a responsável por impedir qualquer solução política à esquerda. Aqui, digo eu, com grande responsabilidade do PS. E acusando a imprensa portuguesa de ser hoje dominada pela direita. Bati palmas.
Mas concluindo, um programa terrivelmente monótono, com três direitinhas, contra um de esquerda. Uma moderação fraca ou a ajudar à festa, incapaz de realizar uma verdadeiro debate entre correntes de opinião representativas do espectro partidário e ideológico da sociedade portuguesa.
O segundo programa foi o Eixo do Mal, que corre ao Sábado naquela estação. Este é mais matizado. Já várias vezes tenho aqui descrito as preferências político-ideológicas de cada um dos intervenientes. Achei interessante a propósito do bloco central, que também foi discutido neste programa, que as posições fossem todas contra. Mas acima de tudo acho que Clara Ferreira Alves, num ataque de lucidez, deu uma ideia bastante interessante do papel desempenhado hoje pelo Bloco de Esquerda, que merecem alguma reflexão. Assim, garantia que o êxito do Bloco, que segundo ela corresponderia a uma caso de estudo, na tradução portuguesa da expressão inglesa que ela utilizou, resultaria não dos temas fracturantes propostos por aquele partido, nem de uma viragem à esquerda do eleitorado, mas sim da sua posição contra a corrupção, a roubalheira, os vícios dos outros partidos e da sua acomodação aos interesses instalados. Incitava mesmo o PS a estudar este êxito, que ela considerava que era por culpa deste partido e da sua incapacidade para fazer diferente que nascia o sucesso do Bloco.
Daniel de Oliveira não se opôs às suas palavras, no entanto, considerou, e bem, que o tema do Bloco Central tinha surgido na sociedade portuguesa, principalmente através dos representantes do patronato e dos seus apaniguados (vi numa análise da imprensa, também na SIC Notícias, Martim Avillez Figueiredo, director do novo jornal i, a defender esta saída política), porque a esquerda, à esquerda do PS, estava a subir significativamente e aquele partido iria perder a sua maioria absoluta. Portanto, era bom que o PS não tivesse qualquer veleidade de se aliar à esquerda, mas sim de o fazer à sua direita. Daniel insistia mesmo que quanto mais se falasse do bloco central, mais cresceriam o Bloco e o PCP.
Estes dois exemplos, que nem sequer são representativos, servem pelo menos para ilustrar como a expressão de opiniões mais diversificadas, e se possível mais inteligentes, tornam os programas mais interessantes evitando a monotonia e o desinteresse. Mas isto é um voto piedoso de alguém que tem consciência que estas coisas não dependem da boa vontade dos programadores mas de quem paga e de quem, em última instância, determina os conteúdos.
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