28/10/2010

Alguns temas delicados, as atribuições dos prémios Sakharov e Nobel da Paz. II – Nobel da Paz


Este ano o Nobel da Paz foi atribuído ao activista político chinês, Liu Xiaobo. Segundo a Wikipedia foi condenado a 11 anos de prisão e dois de perda de direitos políticos por “divulgar uma mensagem de subversão do país e da autoridade”. O Nobel foi-lhe atribuído “pela sua longa e não violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China”.
Logo aqui há alguma diferença entre esta personalidade e a do “dissidente” cubano, já referida no post anterior, a quem foi atribuído o Prémio Sakharov. O activista político chinês encontra-se preso, de acordo com a Wikipedia, por ter promovido um abaixo-assinado denominado Carta 08 que exigia “a reforma política e a democratização na República Popular da China”. O “dissidente” cubano, Guillermo Fariñas, encontra-se em liberdade e tinha recentemente promovido uma greve da fome para libertação de presos políticos cubanos doentes, o que de facto, com a intermediação da Igreja Católica, veio a suceder. Sem desmerecer a luta deste, parece-me ser muito mais grave alguém estar preso por promover um abaixo-assinado, mesmo que ele defendesse a queda do regime na China Popular. Não foi isso que durante tantos anos andámos a fazer em Portugal? No entanto, reconheço que esta hierarquia de valores poderá ser discutível. Ela é unicamente referida porque mais adiante irei falar da nota do PCP.
Já a atribuição do Nobel a este activista político continua-me a parecer influenciada pela agenda política das forças dominantes à escala mundial, se quisermos, e utilizando, um termo antigo que nunca perdeu actualidade, do imperialismo. No ano anterior, a atribuição do Nobel a Obama, que, apesar da muito boa vontade que mostra, pouco tem feito pela Paz e pelos direitos humanos – Guatánamo continua aberta –, foi na continuação de outros anteriores - como ao Dalai Lama -, uma clara cedência às forças dominantes, do mainstream. Nesse sentido, acho que a nota do PCP tem razão no que diz, apesar de não utilizar esta terminologia. Simplesmente, esquece-se a seguir de lamentar que na República Popular da China alguém esteja preso por exercer o seu direito à luta política contra um regime que considera injusto. É por isto que o PCP não percebe porque é que todo o mundo lhe cai em cima. Eu sei que para alguns, um Nobel é um Nobel, e não se discute se foi bem ou mal atribuído, principalmente a alguém que luta contra um regime comunista, que por sinal já é capitalista. Mas omitir esta situação, da existência de prisioneiros pelas suas actividades políticas, é dar razão a todos aqueles que exultam com a atribuição de prémios a lutadores contra os regimes socialistas.
Por último, referir a Crónica Internacional sobre este assunto de Albano Nunes, no Avante! da semana passada, que é um mimo de sectarismo e de isolamento perante da realidade. Numa mesma penada confunde a crítica justa que é feita à nota do PCP e à sua luta contra as medidas espoliadoras do Governo. Exalta o desenvolvimento colossal da China, mas ao mesmo tempo fala da crise profunda do capitalismo, como se este país já não fizesse parte do sistema capitalista mundial. E espanto dos espantos, fala de pressões para que a China “escancare às multinacionais o seu mercado interno”, quando elas já lá estão todas a aproveitar e a explorara a sua mão-de-obra barata para colocar no mercado internacional os seus produtos mais baratos. A falta de uma posição clara sobre o problema chinês leva estes dirigentes a escreverem os maiores dislates. Se para mim a atribuição deste Prémio Nobel não é inocente, é igualmente de uma grande perversidade a incapacidade de reflexão justa sobre a situação política da China e sobre o chamado “socialismo chinês”.

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