05/07/2010

O avanço da direita. Novas reflexões


Em post anterior, descrevi aquilo que entendia pelo avanço da direita, principalmente a sua ofensiva ideológica, e o estado abúlico do PS para resistir a essa direita, manifestando até grande alegria por Passos Coelho ter sido o escolhido, visto este ter deixado cair os ataques às trapalhadas de Sócrates.

A semana que passou trouxe à ribalta, mais uma vez, o ataque ideológico da direita, agora através da utilização pelo Estado das acções doiradas que possuía na PT.
Na passada semana jornalistas e comentadores de serviço atacaram o Governo por ter utilizado aquelas acções impedindo assim que o mercado funcionasse livremente. José Manuel Fernandes, no Público, chegou mesmo a escrever esta pérola: “os que pensam que os Estados ainda têm instrumentos e margens de manobra para, por via de golden shares, de renacionalizações ou mais impostos sobre a banca, relançar o crescimento do país não estão apenas enganados, conduzem-nos para uma pobreza cada vez mais soviética.” (retirado daqui). Estariam assim os pobres dos socialistas portugueses a seguir a via soviética de desenvolvimento para o país. Só na cabeça paranóica deste anti-comunista militante estas ideias vingam.

Mas a semana não acabaria sem no Eixo do Mal, da SIC Notícias, os comentadores encartados da direita Pedro Marques Lopes e Luís Pedro Nunes não viessem, principalmente o primeiro, a debitar a cassete neoliberal. Refiro-me especialmente a Pedro Marques Lopes, que depois tive a “felicidade” de ouvir no Bloco Central, da TSF. Já em tempos o tinha classificado neste blog como um boçal reaccionário, não o sendo nos termos em que na altura utilizei estas palavras, é um pateta alegre que repete até à náusea a cartilha neoliberal: o capitalismo trouxe a felicidade à espécie humana e o Estado só vem estragar a riqueza criada pela livre actuação do mercado. Já Luís Pedro Nunes tem outra vocação, a da provocador, e acima de tudo um ódio de estimação à Esquerda e principalmente a Francisco Louçã. Não sei porquê esta fixação.

Já depois de escutar estes espécimes pude ouvir o comentário político de Marcelo Rebelo de Sousa, agora na TVI, a propósito deste mesmo assunto e que diferença. A Telefónica espanhola tinha-nos tratado como um estado do terceiro mundo ou então já considerava que a nossa economia estava de tão de rastos que nem capacidade tinha de reagir. Os nossos banqueiros e patrões da indústria cheios de cagança sobre os centros decisão nacionais à primeira oportunidade entregavam os seus bancos ou indústrias ao capital estrangeiro depois de terem assinado manifestos inflamados sobre a necessidade de manter portugueses os bens dos outros. O Governo há muito que devia ter transformado a acções doiradas que possuía na PT, por força da privatização, numa cláusula do estatutos, fugindo assim à pressão do Tribunal de Justiça Europeu. O núcleo duro do accionistas da PT que se tinha comprometido numa dada solução, há última da hora, por mais uns milhões, muda de posição e vende as acções. E termina assim o comentário político MRS: a utilização das acções doiradas pelo Estado português demonstra ainda que nos resta alguma dignidade. Depois de ouvir este comentador percebe-se que a direita não é toda igual ou que pelo menos, em certas circunstâncias, é capaz de pensar pela sua própria cabeça e não repetir as cassetes neoliberais que certos comentadores mais incapazes de raciocínio próprio papagueiam a toda a hora.

Andava eu nestas reflexões quando leio via DOTeCOMe um texto de Clara Ferreira Alves (CFA), já de 12/06/10, em que esta, entre outras coisas, diz o seguinte: “Desde a revolução que Portugal é governado à esquerda em matéria de Estado e prestações sociais. Apesar das maiorias absolutas, Cavaco tinha dinheiro da Europa para manter o Estado e quis mantê-lo. A sua direita, dotada de consciência social, não era a direita pura que hoje existe em Portugal. Esta nova direita é mais jovem, mais estrangeirada, mais academicamente preparada do que a velha direita. É mais ideológica e está disposta a romper de vez com o Estado social. Nascida em democracia, formada nos cursos de Economia e Gestão das universidades, é também constituída por um núcleo de quadros e recém-licenciados, futuros regentes da pátria, que nada têm a ver com as negociatas de restaurante e o bloco central de interesses. Conservadores, pró-americanos, dotados de certo puritanismo, crentes na virtude absoluta do mercado e do capitalismo, acham (protegidos pela inexperiência) que a sua oportunidade para mudar Portugal de vez está a chegar. Tencionam, no poder, construir um sistema que proteja os empreendedores, desmantele a máquina estatal, agilize a justiça e privatize a economia agilizando os seus instrumentos, desde os financeiros aos legais; o que significa que pretendem rever a Constituição e a legislação laboral.”
Esta descrição da direita enquadra-se bem nos dois tipos de comentário que eu acima descrevi a propósito da PT. Já se sabe que o resto depende do nível de inteligência do comentador, há uns que são papagaios e repetem a cassete e outros que são capazes de elaborara um discurso com mais substância, mas no fundo isto só mostra que os tempos são diferentes, e que será extremamente perigosos a chegada ao poder desta nova gente chegada das universidades e pronta a destruir, em nome da crise, todas as pequenas conquistas que ao longo do tempo se foram obtendo.
O texto de CFA fala igualmente do enquistamento socialista que já estaria à espera da derrota, só não queria é que fosse por muitos, e depois fala dessa época áurea da social-democracia: dos Willy Brandt, dos Mitterrand, dos Olof Palme e dos Mário Soares. Para mim nunca foram grande coisa, pois deixaram chegar a social-democracia ao estado a que chegou. Depois termina esperançada que o Bloco de Esquerda capitalize com a derrocada do PS. Tenho para mim, e com grande pena, que isso não sucederá tão cedo, mas tenho também a certeza que não é o PCP que vai ficar a ganhar com isso e que mais uma vez os votos se venham a deslocar para a direita. Espero, como carapau esperançoso, que isto sirva de lição ao PS e que jovens arrivistas e com alguma tenacidade não venham novamente a chefiar o partido.
Continuarei a escrever sobre este tema que é inesgotável.

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