Que eu tenha reparado, pelo menos naqueles blogs que eu frequento regularmente, nenhum falou desta magnífica série que está a ser exibida pela RTP 1, da autoria de Joaquim Furtado.
Já tinha visto os anteriores episódios e vi os que compõem esta nova série. Para quem não saiba exibem-se às quartas-feiras, por volta das 9h30 da noite.
A guerra colonial foi o facto mais importante que se desenrolou nos últimos anos do regímen fascista em Portugal. A minha geração, ou com idades aproximadas, sofreu-a de uma maneira ou de outra: desertando ou cumprindo o serviço militar obrigatório, que lhe levou no mínimo três anos da sua vida, quando não a morte, a deficiência física ou psíquica.
No entanto, não era disto que queria falar, mas do conhecimento que tínhamos dela. Hoje, pela primeira vez estou a conhecer factos que desconhecia. Cada um teve um conhecimento parcelar da guerra, ou seja, conheceu unicamente a sua guerra e nunca o geral. A censura, a repressão fascista, tornavam impossível conhecer os factos, ao contrário do que sucede hoje que é possível acompanhar pelos media qualquer guerra, por mais distante que seja. Mas o problema não resultava só da globalização informativa que hoje se verifica. Provavelmente, um jovem que seguisse atentamente as notícias da época saberia mais sobre a Guerra do Vietname do que sobre a Guerra Colonial. A missão do regímen era omitir e deturpar os factos. De acordo com os media censurados, nada se passava, a não ser pequenas acções de bandoleiros que gostavam de perturbar o sono das populações. Mesmo quem tivesse acesso à imprensa e às rádios clandestinas não teria uma informação geral do que se passava em todos os teatros de operações, nem muito menos a opinião dos guerrilheiros dos movimentos de libertação, nem dos meandros do poder fascista.
É bom que isto conste. Porque é que um homem da minha idade (65 anos), que sempre se preocupou com a política, membro do Partido Comunista, que ouvia, quando podia, as rádios de Argel e do PCP, na Roménia, lia o Avante clandestino, comprava à socapa alguns livros estrangeiros, como o de Gérard Chaliand sobre o PAIGC (Lutte armée en Afrique, Maspero, 1967), ainda hoje se espanta com o que se passou e com o encadear dos factos. Posso parcer ingénuo para aqueles que são especialistas nesta matéria. Mas não fazia a mais pequena ideia do desastre da retirada de Madina do Boé, ou do ataque a Teixeira de Sousa, em Angola, perpetrado pela UNITA. Desconhecia, como foi revelado num episódio da outra série, a influência de Franz Fanon, de quem tinha lido o livro Os Danados da Terra, nas acções da UPA no Norte de Angola no início da guerra. E podemos acrescentar muito mais factos.
Já tinha visto os anteriores episódios e vi os que compõem esta nova série. Para quem não saiba exibem-se às quartas-feiras, por volta das 9h30 da noite.
A guerra colonial foi o facto mais importante que se desenrolou nos últimos anos do regímen fascista em Portugal. A minha geração, ou com idades aproximadas, sofreu-a de uma maneira ou de outra: desertando ou cumprindo o serviço militar obrigatório, que lhe levou no mínimo três anos da sua vida, quando não a morte, a deficiência física ou psíquica.
No entanto, não era disto que queria falar, mas do conhecimento que tínhamos dela. Hoje, pela primeira vez estou a conhecer factos que desconhecia. Cada um teve um conhecimento parcelar da guerra, ou seja, conheceu unicamente a sua guerra e nunca o geral. A censura, a repressão fascista, tornavam impossível conhecer os factos, ao contrário do que sucede hoje que é possível acompanhar pelos media qualquer guerra, por mais distante que seja. Mas o problema não resultava só da globalização informativa que hoje se verifica. Provavelmente, um jovem que seguisse atentamente as notícias da época saberia mais sobre a Guerra do Vietname do que sobre a Guerra Colonial. A missão do regímen era omitir e deturpar os factos. De acordo com os media censurados, nada se passava, a não ser pequenas acções de bandoleiros que gostavam de perturbar o sono das populações. Mesmo quem tivesse acesso à imprensa e às rádios clandestinas não teria uma informação geral do que se passava em todos os teatros de operações, nem muito menos a opinião dos guerrilheiros dos movimentos de libertação, nem dos meandros do poder fascista.
É bom que isto conste. Porque é que um homem da minha idade (65 anos), que sempre se preocupou com a política, membro do Partido Comunista, que ouvia, quando podia, as rádios de Argel e do PCP, na Roménia, lia o Avante clandestino, comprava à socapa alguns livros estrangeiros, como o de Gérard Chaliand sobre o PAIGC (Lutte armée en Afrique, Maspero, 1967), ainda hoje se espanta com o que se passou e com o encadear dos factos. Posso parcer ingénuo para aqueles que são especialistas nesta matéria. Mas não fazia a mais pequena ideia do desastre da retirada de Madina do Boé, ou do ataque a Teixeira de Sousa, em Angola, perpetrado pela UNITA. Desconhecia, como foi revelado num episódio da outra série, a influência de Franz Fanon, de quem tinha lido o livro Os Danados da Terra, nas acções da UPA no Norte de Angola no início da guerra. E podemos acrescentar muito mais factos.
Poderão dizer que sou um ignorante da nossa história contemporânea. Não é verdade. Mas o conhecimento da guerra colonial, tirando os relatos dos que lá combateram e da repulsa que ela nos merecia, é do ponto de vista factual um grande vazio histórico. Esta parte da nossa história contemporânea só agora se começa a fazer e esta série contribui decisivamente para isso.
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