14/10/2009

Alianças, compromissos e voto útil. Resultados em Lisboa


II – Os resultados em Lisboa

Fazendo o mesmo tipo de comparações que efectuei para o conjunto do país, verifica-se que para a cidade de Lisboa votaram praticamente o mesmo número de eleitores que há quatro anos: menos 2 mil desta vez. Este facto está correlacionado com a diminuição do número de eleitores nesta cidade, ao inverso do que sucede no resto do país. Mesmo assim, houve uma diminuição da abstenção, menos 0,78 % do que em 2005.
Como se sabe o PS oficial, aliado às correntes de esquerda do PS e com o apoio de alguns independentes, conseguiu uma vitória expressiva para o executivo municipal. Assim, teve cerca 48 mil votos a mais do que nas autárquicas de 2005 – a comparação com 2007, em termos de votos, que é o meu critério principal, é enganosa, dado a maior abstenção verificada naquelas eleições intercalares –. Comparando com as legislativas de há quinze dias atrás, o PS subiu cerca de 11 mil votos. Serão estes os tais 11 mil votos de que falava Santana Lopes na noite das eleições?
Quanto à coligação de direita vamos a números. O PSD e CDS em 2005 tiveram em conjunto, já que concorreram separados, cerca de 135 mil votos. Agora, em coligação, mais uns partidinhos para alegrar, tiveram cerca de 108 mil. Perderam portanto entre umas e outras 27 mil votos. Como sempre não comparo com as intercalares de 2007. Em relação às legislativas de há quinze dias perderam cerca de 21 mil votos, pois tiveram cerca de 129 mil nas legislativas. Ou seja, Santana e companhia não fez o pleno da direita em Lisboa, a culpa não foi só do voto de esquerda em Costa, foi também o medo que alguma direita tem de Santana Lopes.
É bom que se diga que o grau de participação nas legislativas é maior do que nas autárquicas. Há mais abstenção nestas últimas.
Quanto à CDU, perdeu cerca de 10 mil votos das autárquicas de 2005 para estas últimas eleições e perdeu cerca de 5 mil em relação às legislativas de há quinze dias. Houve 5 mil votos que fugiram à CDU. Terá sido para o voto útil em Costa?
No Bloco a situação ainda é mais complicada, perdeu cerca de 10 mil votos das autárquicas de 2005 para as de agora e perdeu cerca de 19 mil em quinze dias.
Conclui-se pois que, a nível do executivo municipal, só o PS é ganhador em Lisboa, o que se torna claro olhando para a maioria absoluta obtida para a vereação.

Falemos agora do desvio tão falado entre os resultados para o executivo e para a assembleia municipal. O PS perdeu cerca de 13 mil votos. A coligação de direita ficou quase na mesma e a CDU ganhou cerca de 6 mil votos e o Bloco cerca de 6 mil. Ou seja, a CDU e o Bloco contribuíram em partes iguais para a maioria absoluta de Costa, já que este só ganhou a Assembleia Municipal por cerca de 2 mil votos de diferença em relação à coligação de direita.
Como se compreende Costa não tem a maioria absoluta na Assembleia Municipal, precisará dos votos dos deputados da CDU para a eleição da própria mesa da assembleia ou para a aprovação de quaisquer outros diplomas, a não ser que conte com a boa-vontade da coligação de direita ou da sua abstenção. O PS e a coligação de direita ficaram com o mesmo número de deputados municipais: 23. Restam os presidentes de junta de freguesia, que por lei integram a Assembleia Municipal

Falemos agora dos votos para as assembleias de freguesia no seu conjunto. Aqui quem ganha é a coligação de direita, com cerca de mais de 9 mil votos do que o PS. A CDU sobe em relação à Assembleia Municipal, cerca de 9 mil votos, o mesmo que o PS perde em comparação idêntica. A votação do Bloco não se altera.
Foi provavelmente este aumento das listas de direita no conjunto das freguesias que fez Santana afirmar na noite eleitoral que o PS tinha ganho o executivo camarário com os votos da CDU. É mentira. Como se viu para a Assembleia Municipal Costa ganhava as eleições por pouco. Obteve foi a sua maioria absoluta com o contributo em igual proporção da sua esquerda.
Mas também não é verdade aquilo que Costa disse na noite eleitoral que tinha ganho em 36 freguesias. Ora ele ganhou foi na votação para o executivo municipal, pois a coligação de direita ficou com 26 juntas de freguesia, o PS com 22 e a CDU com 5. Devido a este facto, a coligação de direita junta aos seus deputados municipais mais 26 presidentes de freguesia, o que lhe permite ter mais 4 deputados do que o PS.

Por aquilo que se conhece da vida autárquica foi o trabalho do PSD e da CDU na vida das freguesias que lhes valeu terem maior votação nestas. O que reflecte verdadeiramente o voto útil é a diferença entre os votos para o executivo e para as assembleias municipais. Por esse motivo, é que, de um modo geral, a CDU apresenta quase sempre os seus resultados autárquicos com as votações para as assembleias e não para os executivos.
Por isso, foi estultícia de Santana Lopes dizer que foi devido a um acordo secreto entre Costa e a CDU que aquele ganhou Lisboa. O que sucedeu é que a esquerda, à esquerda do PS, tomada de medo e devido ao isolamento em que estes partidos se colocaram, foi, em partes iguais, votar Costa.
Mas esta interpretação fica para outro post.

Os resultados eleitorais podem ser consultados aqui

4 comentários:

Luis disse...

"a coligação de direita ficou com 26 juntas de freguesia, o PS com 22 e a CDU com 5. Devido a este facto, a coligação de direita junta aos seus deputados municipais mais 26 presidentes de freguesia, o que lhe permite ter mais 4 deputados do que o PS."

Ou dito doutro modo, na Assembleia Municipal o PS tem 45, o PSD tem 49, a CDU tem 10 e o BE 3. Depois de tantas fitas e trapalhices o PS continua refém da CDU na Assembleia Municipal...

F. Penim Redondo disse...

Então conseguiste um lugarzito na AM ou não ?
Tenho a impressão que a derrota do BE se deve à tua presença na lista.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Respondo-te com o início do post anterior, que pelos vistos não leste:
"Com este título, um pouco estapafúrdio, pretendo analisar as eleições autárquicas e os resultados da cidade de Lisboa, onde, ao contrário do que esperava, não fui eleito para a sua Assembleia Municipal. Sempre fui um carapau esperançoso."

F. Penim Redondo disse...

Só li o outro post depois da tua explicação. Penso ter-te visto pela televisão,na sede do Bloco,na noite da contagem dos votos.