14/10/2009

Alianças, compromissos e voto útil. III parte


III – Uma interpretação rápida dos resultados

Na primeira descrição que fiz dos resultados das autárquicas, já dei algumas pistas.
São eleições muito polarizadas, o que, dada a influência do PS e do PSD no Poder Local, faz destes dois partidos os seus principais beneficiários.

A CDU tem um a implantação localizada, que, como eu também referi, é cada vez menos coincidente com as votações para as legislativas, o que acarreta que, quando por força da lei for preciso renovar os presidentes há mais tempo no poder, a manutenção do poder autárquico por parte da CDU se torna cada vez mais difícil. Veja-se que, depois de perder câmaras com algum significado, tem sido impossível recuperá-las. Só em algumas autarquias no Alentejo, onde, para além das votações autárquicas, ainda permanece a influência do PCP, é que é possível voltar a dirigi-las. Loures, Amadora, Vila Franca de Xira, todas as do Algarve, Évora, etc., são miragens difíceis de reaver, e onde cada vez mais a votação autárquica se assemelha à das legislativas, que é fraca.

Quanto ao Bloco é notória a sua falta de influência autárquica e isso é grave, no sentido em que desliga este partido dos problemas locais. O Bloco não se pode reduzir a grandes dirigentes nacionais, que têm a sua visibilidade no Parlamento, mas depois estar ausente como força significativa nas lutas sociais e autárquicas. Já se sabe que isto nada tem a ver com os compromissos com o poder, facto que leva muitos, sem razão, a criticam o Bloco por não os fazer, mas tem a ver com a sua organização, com a influência e inserção dos seus militantes na vida quotidiana das pessoas.

O CDS na vida autárquica é uma não existência, só conseguindo ganhar alguma visibilidade pelas alianças que estabelece com o PSD.


IV – Lisboa, sempre Lisboa

O PS depois da banhada que apanhou com Carrilho, em 2005, e dos compromissos que os seus vereadores foram fazendo com a gestão de Carmona, tentou nas eleições intercalares de 2007 inverter a onda. Costa, parece que ao arrepio de Sócrates, tenta refazer, mais que não seja da boca para fora, a aliança com a sua esquerda e escolher uns autarcas menos comprometidos com o pântano da governação da Câmara e das Empresas Municipais. Como uma maioria muito relativíssima, vai tentar fazer acordos à sua esquerda. Primeiro com o Bloco, atraindo Sá Fernandes, depois, lá mais para diante, atribuindo trabalho a Helena Roseta.
Sá Fernandes, pouco preparado politicamente e tentado pela execução do trabalho autárquico, mesmo que não se perceba para que serve, foi facilmente engolido por António Costa, deixando o Bloco em maus lençóis. Este pensou que esta situação tinha sido compreendida pelos eleitores de Lisboa. Provavelmente não foi.
No Congresso do PS, quando este partido ainda pensava que tinha o mundo na mão, António Costa lança num ataque descabelado ao Bloco de Esquerda, dando início a uma das vertentes que seria retomada pela media dominantes de ataque ao BE e às suas propostas, tentando encontrar contradições entre elas e esforçando-se por esvaziar a sua força eleitoral. O seu papel de engraçado e de alternativo ao PCP, que foi inicialmente lisonjeado, deu lugar ao do inimigo principal, a abater.
Simultaneamente, Santana Lopes é indicado como candidato do PSD a Lisboa. A intelectualidade progressista fica em pânico. Facilmente se arranja um abaixo-assinado, que eu subscrevi, a defender uma convergência de esquerda para Lisboa. O PS apesar de o apoiar, não lhe dá grande importância. Na altura ainda pensava que Lisboa seria um passeio.
Eis que o PS perde as eleições europeias, a esquerda do PS, em que se depositou algumas esperanças, volta ao aprisco e entre em parafuso com o perigo da direita ganhar. Desta vez teria um Presidente da República, um Governo e Santana na Câmara.
Rapidamente, Helena Roseta, que não queria anteriormente quaisquer convergências com Costa – não assinou o apelo de convergência – passa a desenvolver, com o apoio de Sampaio e de outros, todas as iniciativas para uma coligação de esquerda em Lisboa. Parece que se reúne com Louçã e Jerónimo. O apelo da convergência dá por encerrado a sua tarefa e um conjunto dos seus subscritores passa a formar a CLAC (Cidadãos por Lisboa Apoiam Costa). Este agradeceu-lhes na noite das eleições.
Sá Fernandes forma uma pequena Associação para se coligar com Costa. Helena Roseta assina um acordo coligatório. Estava lançada a operação que junta Saramago, Carlos do Carmo e por último Carvalho da Silva.
Já alguém falou que isto era o “bloco histórico” (termo utilizado por Gramsci) da esquerda que “circula por aí”. De facto, conseguiu-se isolar o Bloco e a CDU e agregar em Costa a direita e a esquerda do PS, mais aqueles independentes órfãos da esquerda, que “buscam sempre um pastor” (Fernando Sobral, Jornal de Negócios, 13/10/09).
Esta é a história. Provavelmente não teria outra saída. No entanto, parece-me esta situação bem perigosa. Primeiro porque não faz uma ruptura entre a esquerda e a direita do PS. Segundo porque agrega numa figura do PS, pertencendo à actual Direcção, um conjunto de gente de esquerda, que de facto circula por aí, chegando ao ponto de obter o apoio de Carvalho da Silva da CGTP. Terceiro, isola o Bloco e a CDU, indispensáveis para qualquer alternativa à esquerda. Dirão, como afirmou Costa na noite das eleições, “quem não uniu, perdeu”.
Por isso, apesar de esta alternativa ter evitado que a Câmara caísse nas mãos de Santana, é uma alternativa que não leva a parte nenhuma, e mais, se o que pretendem aqueles que se posicionam atrás de Costa é dirigirem as movimentações políticas à esquerda, estão bem enganados. Esta esquerda, que não clarifica e que não une, que não tem um projecto de verdadeira transformação social e que num permanente tacticismo se refugia atrás de um “artista” como Costa, está condenada a ser mais uma vez engolida pela direita do PS.


V – Breves propostas para o futuro

Sempre pensei que o problema principal de um partido como o Bloco, e de certo modo o PCP, não é para já o de assumir o compromisso com o poder e da assunção de responsabilidades governativas, mas sim a definição de uma estratégia política e das alianças necessárias para a poder executar.
Tem sido muito comum na esquerda, e nestes últimos eventos eleitorais este facto tornou-se dominante, pedir ao Bloco, e por extensão ao PCP, que proponham um programa mínimo para entrarem para o Governo ou para fazerem parte de um coligação governativa. Entendo que o problema não se põe assim e que o que se tem que definir politicamente é qual o programa que se quer para o país, com objectivos concretos, e que alianças e que camadas sociais se convocam para a sua execução. A esquerda, à esquerda do PS, não deve servir para apoiar os objectivos do poder dominante, mesmo que ele seja representado pela social-democracia – linha ideológica de que o PS de Sócrates se tem afastado claramente – mas ser portadora de uma alternativa política, que possa vir a exercer a hegemonia cultural e ideológica e pressuponha um amplo agregar de camadas e movimentos políticos. Por isso, este movimento não pode viver unicamente em frenesim permanente, apoiando-se exclusivamente na sua representação eleitoral. Não pode ser arrogante e convencido, o que acarretaria o afastamento de camadas sociais e grupos políticos. A esquerda, à esquerda do PS, tem que encontrar pontos comuns, estabelecer pontes com a ala esquerda daquele partido, desenvolver e actuar na área sindical, cultural e popular, forçar uma nova esperança, conquistar e reforçar o poder das populações, abandonar todo o sectarismo e esquerdismo que podem enfraquecer um processo desta grandeza. Só assim se pode propor a ser Governo e abalançar-se a propor alianças ao PS actual. Ou seja, o Bloco tem que crescer, não acreditar que pelos seus lindos olhos chegará ao poder, evitar o sectarismo do PCP e o oportunismo que, a troco de nada, lhe propõe para chegar à felicidade da governação. É preciso trabalhar, trabalhar mais, organizar e propor, discutir com a esquerda, sair da concha e ganhar direito à existência. Mas não querendo ser o partido guia, nem a vanguarda esclarecida, mas sim o organizador colectivo, o intelectual orgânico de camadas sociais e políticas desejosas de alterar o rumo das coisas.
Nada se conseguirá se não perceber em que bloco se insere e como pode conquistar a hegemonia cultural para ele.
Tudo isto é simples de dizer, pior é pôr em prática e traduzir estas palavras em acções concretas.

3 comentários:

Luis disse...

“De facto, conseguiu-se isolar o Bloco e a CDU e agregar em Costa a direita e esquerda do PS, mais aqueles independentes órfãos da esquerda, que “buscam sempre um pastor” ????

Parece que quem pode ficar isolado na Assembleia Municipal de Lisboa é o PS que tem 45 mandatos quando o PSD tem 49. Nem o BE aí o salva pois aí apenas tem 3 mandatos. A CDU tem 10. Depois de tantas fitas e trapalhices o PS continua refém da CDU na Assembleia Municipal...

operário farto deles disse...

-- "A esquerda do PS."
+Procura-se+
-Os tais de esquerda que apoiaram o Sr. Dr. António Costa,( e aqui vou roubar a frase a um deles) -não fazem, puta da da ideia do mundo em que vivem-
Ou eu é que estou enganado e os tais rapazes e raparigas até sabem perfeitamente no mundo em que chafurdam.
-

operário ao telefone disse...

- Tou é do Ps,d?
- É sim, faça o favor de dizer o que deseja.
- Bem eu, queria falar com a esquerda do ps.
- Ah pedimos imensa desculpa, mas faz tempo que a senhora com quem deseja falar, não mora cá no prédio, só mora a dona Fazdeconta
Quesou de Esquerda, que por conveniências várias está casada com o Dr. neoliberal.
-Mas,... minha senhora, varias pessoas me têm dito que ai mora a dona Esquerda do Ps,d.
-Caro senhor já lhe disse que tal senhora não é vista nem acha desde 1975 por estas bandas- consta por estes lados que tal senhora foi posta no olho da rua por um tal Mário Só-ares e seu bando nos idos de 74/75 e dela nada restou .... .etc & tal