Como Sócrates parecia de pedra e cal – os resultados das sondagens, mesmo que não confirmassem a maioria absoluta, garantiam uma confortável maioria governamental, que com algum esforço poderia dar em absoluta –, todas as preocupações se viravam para o que iria fazer Manuel Alegre, depois de gorada a criação de um novo ente político que fosse capaz de dar continuidade aos encontros do Trindade e da Aula Magna.
Como o oráculo nada disse, só restava apelar para a eleição de uma maioria de esquerda para Câmara de Lisboa. Assim, surgiu um abaixo-assinado para uma convergência de esquerda para Lisboa. Eu próprio fui um dos seus subscritores, alertando logo para o perigo que se poderia correr de o mesmo servir os objectivo políticos de António Costa e não o da criação dessa maioria em Lisboa.
Lamentavelmente, foi isso que veio posteriormente a acontecer (ver aqui), simplesmente num tempo em que as condições políticas já se tinham degradado extraordinariamente. Sócrates e o PS convictos dos resultados das sondagens, nunca esperaram pela derrota estrondosa que tiveram em 7 de Junho, nas eleições para o Parlamento Europeu. Nem eles, nem esta esquerda a que tenho vindo a fazer referência. Por isso, com alguma pressa se tentou, mas sem grande êxito, virar as baterias para um novo apelo a uma maioria de esquerda para derrotar Manuela Ferreira Leite. Simplesmente Sócrates e os seus amigos não ajudavam nada. Correram com Manuel Alegre e os seus companheiros das listas. A única abertura à esquerda foi a inclusão de Miguel Vale de Almeida, que se prestou a isso, mas que abrange um grupo muito específico de votantes. A manobra com Joana Amaral Dias não resultou. E por aqui nos ficamos nas aberturas à esquerda.
Por isso, a esta esquerda desalinhada só restou e só resta, gorada qualquer aproximação a Sócrates, batalhar para que o Bloco, já que não têm qualquer esperança em relação ao PCP, se proponha participar e apoiar um governo de esquerda. Simplesmente, a expressão pública destas iniciativas e propostas é diminuta. A campanha eleitoral está aí em força, com outros temas, não facilitando de modo algum estes apelos ou estas propostas.
Ao contrário do que sucedeu com as listas do PS para a Assembleia da República, António Costa teve êxito nas suas iniciativas. Conseguiu captar, como já se esperava, José Sá Fernandes, que oportunamente arranjou uma associação política que lhe deu cobertura para a sua inclusão na lista do PS. E fez um acordo “coligatório” com Helena Roseta, dando cumprimento, a uma antiga proposta sua de uma coligação PS mais Manuel Alegre (ver aqui). Foi isto que levou alguns a considerarem que se não houve uma coligação de banda larga para Lisboa houve, pelo menos, uma de banda estreita (Expresso, 22/08/09).
Feito este enquadramento, que me pareceu indispensável para se compreender o que vem a seguir, retomo aquilo que me trouxe aqui, que foi mais uma vez a referência explícita de António Costa, na Quadratura do Círculo, desta quinta-feira, aos partidos extremistas, que recolhem o voto de protesto. Como já aqui referi, estes epítetos de António Costa não são novos, mas depois de vir defender uma coligação para Lisboa com os partidos à esquerda do PS: Bloco e PCP, os tais partidos extremistas, e continuar a classificá-los como tal, leva-me a pensar que a sua posição nunca foi séria nem honesta, porque não nos coligamos com aqueles que consideramos extremistas, e que foi sempre uma grande treta, acalentada por alguns, a sua vontade de unidade à esquerda. Conseguidos os objectivos mais imediatos, e que parece, e ainda bem, lhe vão permitir derrotar Santana Lopes, eis que a máscara unitária se desfaz com já tinha acontecido no próprio Congresso do PS, ou nas referências reiteradas que tem vindo a fazer aos partidos extremistas no programa Quadratura do Círculo.
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