06/11/2010

Como às vezes um blogger distraído escreve as mesmas coisas que uma cronista de direita.


Já houve tempo que me dava ao trabalho de ler as crónicas que Helena Matos escreve no Público. Cheguei a responder-lhe com posts inflamados de indignação (ver aqui e aqui). Hoje considero-a das mais tontinhas e reaccionárias escrevinhadoras que povoam o espaço público. Às vezes por desfastio, já que o Público destaca em bold algumas das suas pérolas, costumo lê-las. Na última, de quinta-feira passada, vinha uma intitulada Dissidentes ou resistentes: descubra as diferenças. Depois de falar em países democráticos como a Colômbia, afirma “por que razão os opositores às ditaduras de direita são apresentados como resistentes, oposicionistas, … enquanto no caso das ditadura de esquerda só temos dissidentes”. Depois citas os dois casos já por mim abordados em dois posts anteriores e termina “O dissidente é um produto do totalitarismo estatista:” – não podia faltar este disparate – “indivíduos reduzidos a si mesmos e que na absoluta impossibilidade de se organizarem enquanto oposição transformam o acto de existir numa forma de resistência”.
Ora se leram o meu post sobre o prémio Sakharov eu explicava que não concordava que se chamassem a estes resistentes, combatentes, activistas, etc., dissidentes e até escrevi este termo entre aspas. Achei que eles lutavam por uma causa, que no caso do chinês ganhador do Prémio Nobel até era colectiva, visto que ele tinha organizado um abaixo-assinado, enquanto que a do cubano é menos clara a sua ligação a outros movimentos de resistência. Chegava mesmo a afirmar, provavelmente, crime dos crimes, que Cunhal nunca foi considerado um dissidente mas sim um opositor ou um resistente.
Simplesmente, esta tontinha, para zurzir na esquerda, inventa uma designação de que a esquerda, principalmente os regimes onde aquelas duas personagens vivem, ou noutros casos mais antigos, nunca utilizaram. Ninguém, de certeza, na China chamará ao Prémio Nobel um dissidente, mas sim um criminosos que violou as leis do seu país. O mesmo se passará em Cuba. Foi durante a Guerra-fria que o “ocidente”, as forças dominantes ocidentais e os seus partidos e até as organizações dos direitos humanos chamaram dissidentes a personagens que por uma ou outra razão se opunham aos regimes que vigoravam nos seus países. O termo dissidente não é utilizado pelos comunistas ou outra esquerda não social-democrata. Por isso, percebo mal a indignação desta senhora. Só se acha que de futuro, os do seu grupo, devem chamar a estes dissidentes. resistentes. Por mim nada tenho contra. Só espero que não lhes chamem combatentes da liberdade, como Ronald Reagan chamava aos talibãs quando estes se opunham à União Soviética.

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