18/11/2009

Um aparte sobre um debate em curso


Assisti na 2º feira ao debate no Prós e Contras sobre sim ou não ao referendo sobre o casamentos entre homossexuais. Não é sobre ele que me quero pronunciar, apesar depois de tudo o que disse Miguel Vale de Almeida, não só neste, mas principalmente, noutro, também no Prós e Contras, achar que, do ponto de vista estritamente simbólico, como a última barreira que foi vencida à aceitação plena pela sociedade da homossexualidade, nada ter a opor.
É sobre uma afirmação de Ribeiro e Castro no debate. A determinada altura pretendia este deputado amachucar os seus opositores, já que ele é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, citando uma frase que ele considerava repugnante e tinha ouvido a uma deputada no Parlamento Europeu que defendia este tipo de casamentos. Dizia, segundo Ribeiro e Castro, essa tal deputada: “o casamento é uma forma legal de prostituição da mulher”.
Já se sabe o Sr. Ribeiro e Castro que deve ser um pouco ignorante da história, principalmente dos movimentos sociais do final do século XIX e início de XX, pensou que tinha dito um frase arrasadora para aqueles que defendem o casamento entre homossexuais. Não sei em que contexto aquela deputada a teria pronunciado no Parlamento Europeu, só noto que esta frase nada tem a ver como casamento entre pessoas do mesmo sexo, facto que no período histórico que referi, ninguém pensaria em defender, mas tinha tudo a ver com a situação social da mulher naquelas sociedades.
A prostituição era um flagelo social que atormentava as filhas das classes baixas, que não tinham possibilidades de ganhar a vida de outro modo. Isso levava a que muitos dos políticos com ideias progressistas – socialistas, republicanos, anarquistas e depois, mais tarde, comunistas – a considerarem que as mulheres da burguesia, que na altura não trabalhavam e eram mantidas pelos maridos, fossem, para eles, como prostitutas, mas com o estatuto legal. Ou seja, não havia uma separação tão vincada, como as “senhoras” da burguesia queriam fazer querer, entre as prostitutas e o seu estatuto de mulheres por conta dos maridos. Isto faz parte da literatura social dessa época.
É evidente, que hoje, já nada disto tem sentido, porque a mulher, seja de que classe for conquistou a possibilidade de poder trabalhar e desempenhar quase as mesmas profissões que os homens. Hoje, ninguém considerará que o casamento é uma forma legal de prostituição, mas de facto isto era o que se pensava há cem anos.
Que o Sr. Ribeiro e Castro não soubesse isto é de facto lamentável e que o tivesse dito com grande alarde ainda é mais grave. Só mostra ignorância.

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