14/11/2009

O reincidente


Sócrates está novamente nas bocas do mundo e, como sempre pelas piores razões. Hoje Pacheco Pereira escreve um artigo no Público (sem possibilidades de link) arrasador para a personagem. Diz que não o move qualquer ódio pessoal, no entanto, vai-lhe dizendo tudo e termina declarando claramente que não tem qualquer confiança no primeiro-ministro.
Eu também não tenho e o pior é que esta minha opinião já vem de longe e que só, por breves momentos, quando ele foi eleito pela primeira vez, tive, no clima eufórico que então se vivia com a maioria absoluta do PS, alguma expectativa mais favorável.

Como já tenho dito fui funcionário do Ministério do Ambiente durante muitos anos, não fui da fundação, mas entrei para lá a partir da altura em que aquele Ministério, à época Secretaria de Estado, adquiriu uma renovada intervenção com a acção de Carlos Pimenta, que hoje se dedica com mais proveito aos negócios do ambiente.
Por isso, era natural que me cruzasse com Sócrates. A primeira vez foi quando ele foi nomeado, no segundo Governo de Guterres, Ministro do Ambiente. No Governo anterior, se estão bem recordados, o Ministério foi dirigido pela Elisa Ferreira, que se incompatibilizou com Sócrates, então seu Secretário de Estado, tendo este acabado a sua passagem pelo Governo noutro Ministério, o que foi responsável pela aprovação da realização do Euro, em Portugal.
No segundo Governo de Guterres, Sócrates ganha a dignidade de ser Ministro do Ambiente, coisa com que ele tanto sonhava. Logo no início da sua nomeação Portugal iria assumir a presidência da União Europeia e, mais complicado ainda, iria apanhar, logo em Janeiro de 2000, com o dossier Protocolo de Cartagena sobre a Segurança Biológica, que decorria da Convenção sobre a Diversidade Biológica, a assinar no âmbito das Nações Unidas. Este Protocolo, não tinha conseguido ser aprovado no ano anterior em Cartagena das Índias, na Colômbia, e transitava para uma Conferência em Montreal, no Canadá, onde se esperava que obtivesse luz verde dos Governos aí representados. A União Europeia (EU) estava claramente interessada na sua aprovação e os Estados Unidos e mais alguns países produtores de OGM (organismos geneticamente modificados), eram contra. Tinha-se que se chegar a um acordo e Portugal, como assumia a presidência da EU, tinha que assegurar em Montreal a condução dos trabalhos, não só da União Europeia como igualmente das negociações multilaterais que se estabeleciam entre os diferentes grupos de Estados.
Como é costume, o Governo português nunca tinha ligado nada à discussão e preparação daquele Protocolo. Tinha sido eu, um pouco por minha iniciativa e por pressão dos serviços responsáveis no Ministério pelas ligações ao estrangeiro, que tinha acompanhado minimamente o que se estava a discutir. Já se sabe quando se aproxima a reunião de Montreal, o Ministério fica em transe, como é que se iria assumir uma condução de negociações quando nada estava preparado para que isso sucedesse. São nomeadas uma série de pessoas à pressa e indica-se uma chefe de delegação que nunca tinha ouvido falar em segurança biológica. E lá se vai para Montreal. As coisas correram bem, não porque tivéssemos pessoal à altura, mas porque a Comissão da EU, prevendo o que poderia vir a suceder tinha enviado os seus técnicos experientes para orientarem e dirigirem, o que formalmente deveria ser assumido por nós.
Nestas conferências das Nações Unidas costuma haver sempre aquilo a que se chama o segmento ministerial, em que estão presentes os Ministros e em que muitas vezes se tomam decisões, quando é caso disso, ou servem unicamente para abrilhantar o que previamente já foi decidido. No caso português Sócrates não se podia eximir a estar presente, já que, como afirmei, Portugal assegurava a Presidência da EU.
Foi acompanhado do seu fiel Secretário de Estado, Rui Gonçalves, e por mais alguns quadros superiores do Ministério, mas acima de tudo de jornalistas, uma delas da RTP I.
Como estávamos todos no mesmo hotel, seria natural que quando chegou cumprimentasse os membros da delegação portuguesa. Uma indiferença absoluta, nunca se reuniu connosco, nem em nenhuma altura nos pediu a opinião. Foi o seu Secretário de Estado que mal chegou se me dirigiu, porque já nos conhecíamos, e pediu avidamente notícias de como é que estava a decorrer a reunião. Durante, todo a conferência a sua postura foi de uma estrema arrogância. Constava que tratava mal o Secretário de Estado, e não suportava a Ministra francesa, que era dos Verdes. Nunca apareceu a misturara-se com os técnicos da nossa delegação nas conversações que se prolongavam noite adiante, como sucedia com muitos dos ministros presentes Como sabia falar mal o inglês evitava que os funcionários do ministério estivessem nas conferências de imprensa que a presidência da EU tinha que dar todas as manhãs. Dizia-se na altura que o seu mau feitio era provocado por ter deixado de fumar. Parece que já várias vezes deixou de fumar, porque a sua postura intratável tem sido muitas vezes sublinhada.
No dia em que se conseguiu a aprovação do Protocolo, às tantas da manhã, Rui Gonçalves ainda andou a cumprimentar a delegação portuguesa, dando-nos os parabéns, Sócrates nem vê-lo.
No dia seguinte, fomos todos convidados para um almoço num restaurante português em Montreal. Era tão português que até a água servida às mesas era do Luso. Mas isso não foi o mais importante. Mal chegou disse logo: “quero os jornalistas ao pé de mim”. Ficaram a ladeá-lo. O embaixador de Portugal no Canadá, que eu pensava que deveria ser quem devia ficar ao seu lado, ficou à frente. Depois durante o almoço comentaram-se as reuniões, quando chegou a vez de se falar da tal ministra francesa era “aquela gaja”, linguagem um pouco desbragada para ministro, mas penso que é um pouco este o hábito destes parvenus, que recentemente povoam o PS. Não estou a ver o Jorge Sampaio em frente de um embaixador e de funcionários do Ministério a falar nos mesmos termos.
Por último, quem é que os carros da embaixada levaram ao aeroporto? Os jornalistas, que por sinal viajaram em executiva como sua Excelência.
Podemos dizer, e nisso conversei com quase todos, que não houve ninguém daquela delegação que tivesse ficado com saudades de José Sócrates.

Posteriormente tive no Ministério uma reunião com Sócrates e os seus Secretários de Estado e outros técnicos para preparar qualquer evento internacional. Era já notório, como já escrevi, como não ligava nenhuma a Rui Gonçalves e se virava sempre para o Silva Pereira para pedir a sua opinião. Já tínhamos um Secretário de Estado em ascensão.

Por isso, depois do que vi, o que se diz hoje de Sócrates parece-me que tem algum fundamento.

1 comentário:

Operário na pesca disse...

-ninguém ligou nenhuma a contradição.

-:(eu conheci bem o mariola...:(((
Mas, quando o marmanjo do PS,d ganhou as eleições ei-lá... :)))- lá estava eu no "Grupo" dos eufóricos... :(((que diabo eu conheço a peça :(...mas mesmo assim estou eufórico :)))) com a vitória do ingenheiro Inglês técnico de preferência ao domingo -