04/01/2011

Ainda os debates presidenciais


Já muito desfasado no tempo, mas achando que não posso deixar em claro os debates eleitorais para a Presidência da República, aqui vai pois a minha opinião.
Não vi todos, e só a época em que tiveram lugar é que pode justificar esta minha falta de comparência a alguns. Também não vou repetir as frases feitas sobre a falta de interesse dos mesmos. São como são, ou como os candidatos quiseram que fossem, e portanto não nos podemos queixar, provavelmente se tivessem mais tempo e fossem já depois das Festas seria melhor. Mas aí já iriam cair no período eleitoral. Não tenho palpites, mas reconheço que a época foi má e o tempo dedicado à discussão foi pequeno. Provavelmente, muitos candidatos não teriam mais para dizer?

Começarei pelo primeiro, que muito me impressionou: Francisco Lopes (FL) versus Fernando Nobre (FN). Como era a sua estreia, Nobre ainda estava a adaptar-se. Foi um horror. Para além das suas descrições miserabilistas dos locais onde prestou assistência médica, em que ressalta a migalha no bico da galinha, temos a espantosa afirmação, que não reproduzo ipsis verbis, em que acusa o seu opositor de ser o representante de um sistema caduco, a que junta mais umas aleivosias. A princípio ainda pensei que FN estivesse atacado de anti-comunismo primário, referindo-se à ideologia comunista do seu oponente. Mas não, era ao regime democrático que ele se estava a referir, atacando FL por qualquer coisa de que este não tinha culpa. Fazia uma mistura perigosa que envolvia as actuais circunstâncias políticas e económicas, que são graves e resultam da responsabilidade do bloco central, aliado ou não ao CDS, com os próprios fundamentos do regime democrático, tornando assim todos os intervenientes políticos nacionais responsáveis pelas actuais circunstâncias. Esta afirmação roça perigosamente o fascismo, mesmo quando inconscientemente proferida. Parece-me que, em todo este debate, Francisco Lopes soube safar-se dos disparates do seu opositor.
Tempos depois vi Fernando Nobre versus Cavaco Silva e aqui já era Sr. Doutro para lá, Sr. Professor para cá. O respeitinho que é devido aos superiores. Triste figura a deste comparsa, por quem tinha até alguma consideração, que nunca percebeu que o papel que lhe destinaram Mário Soares e os seus acólitos, era simplesmente a de morder as canelas de Manuel Alegre. Convenceu-se que era um legítimo representante da “sociedade civil” e deu-se ares. Estatelou-se no chão.
Defensor de Moura, aquele em quem José Neves, em desespero de causa, aconselhava o voto, tem-se revelado melhor do que eu pensava. Parece que atacou Cavaco Silva de frente, surpreendendo o adversário e marcou pontos. Mas não vi este debate, só me refiro a ele pelos ecos que encontrei na imprensa. Vi o debate entre ele e Manuel Alegre e compreendi que Defensor de Moura não estava principalmente a concorrer contra Manuel Alegre, ainda bem. O seu papel será o de ser um bom avô que luta pela regionalização lá da sua Viana e contra a corrupção. A primeira ainda não se sabe se é uma virtude, a segunda é-o de certeza.
Vi também Manuel Alegre versus Francisco Lopes. Diria que estavam os dois contidos, para não darem a ideia que eram os principais inimigos. Mas quando no final do debate Manuel Alegre disse a tradicional amabilidade que não era devido ao PCP que a esquerda perdia as eleições presidenciais, Francisco Lopes respondeu-lhe que ele, Manuel Alegre, era o que estava melhor colocado para receber os votos dos defensores do actual Governo. Logo aí alguns comentadores mais apressados viram uma troca de amabilidades entre os dois, só não perceberam que Francisco Lopes dirigiu uma farpa a Manuel Alegre, colocando-o entre os actuais apoiantes do Governo de Sócrates.
No entanto, reconheço que Francisco Lopes se tem saído melhor do que aquilo que eu esperava, mas lamentavelmente isso não lhe dará mais votos do que aqueles que as sondagens lhe atribuem, ou eu estou muito enganado.
Depois vi um debate e meio, já não sei bem entre quem. Não tiveram história.
Por último, o entre Cavaco Silva e Manuel Alegre. Impressionou-me tanto como o primeiro.
O Cavaco foi de uma grande agressividade. O Manuel Alegre não enveredando pela resposta forte não sei se lucrou muito. Podemos dizer que para Cavaco a melhor defesa foi o ataque e este princípio foi um pouco fatal para Manuel Alegre. Mas quando se meteu pelo caso do BPN não se saiu muito bem, porque o problema de Cavaco não é de Oliveira e Costa e Dias Loureiro terem pertencido ao seu governo, é ter nomeado Dias Loureiro para o Conselho de Estado e até ao último momento o ter sustentado politicamente, já que legalmente o não podia substituir. O outro problema foi os ganhos astronómicos que obteve com a venda das acções da Sociedade Lusa de Negócios, 140% de lucro. Ora nisso Manuel Alegre atrapalhou-se, quase que teve medo de pegar no assunto. Depois em relação aos amigos de Cavaco quase que lhe deu razão, ao reafirmar o que Cavaco já tinha noutra altura dito, que não era responsável pelo que faziam os seus amigos passados vinte anos. Quando o Dias Loureiro ainda há bem pouco tempo se passeava no Conselho de Estado, com a sua complacência.
Quanto ao Estado Social é espantoso que Manuel Alegre não desmontasse essa aldrabice de Cavaco que é dizer que o apoio à caridade e aos institutos que a praticam é o apoio ao Estado Social. O Alegre aí podia e devia ter dado a volta.
É evidente que Manuel Alegre noutras alturas esteve bem e há quem pense que ao adoptar este tom moderado e de postura de Estado se distanciou de Cavaco, um político verrinoso e sobranceiro. A ver vamos se essa posição rende votos.
No entanto, não tenho dúvidas que quem não gostava de Cavaco ficou a a detestá-lo e a rogar-lhe todas as pragas do mundo.

Aqui está pois a minha visão dos debates. É evidente que, como apoiante de Manuel Alegre, quero que o meu candidato se saia bem e seja capaz de derrotar os seus opositores, mas tenho algumas dúvidas que isso tivesse acontecido com Cavaco Silva. No dia 23 saber-se-á o resultado, que não depende só destes debates.
PS. (5/1/11):
José Neves neste post vem reafirmar o voto à primeira volta em Defensor de Moura, que lhe faça bom proveito.
Já agora actualizava mais um dos disparates de Fernando Nobre no tal debate com Francisco Lopes, não teve melhor ideia do que propor a redução dos deputados para 100. É a demagogia à solta.

3 comentários:

Armando Cerqueira disse...

Muita gente desconhece que José de Oliveira Costa foi nomeado por um dos governos de Cavaco Silva para a vice-pfresidência do Banco Europeu de Investimento. Aí Oliveira Costa teve uma prestação apagada e pouco relevante, não tendo sido bem aceite por grande parte dos altos quadros do BEI devido à sua impreparação internacional. O escândalo dos arma usada para atacá-lo no Banco.
O Prof Cavaco Silva, ao escolher ou aprovar a sua nomeação, foi responsável pelo pouco prestígio de que Portugal foi objecto naquela instituição.

Armando Cerqueira disse...

Correcção:
O escândalo dos perdões fiscais foi usado internamente para atacá-lo no Banco.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Obrigado pela sua informação. Apareça sempre.