06/11/2010

A quadratura do círculo de Manuel Alegre


Na semana que agora finda houve três afirmações que me merecem alguma opinião. No entanto, para tentar tornar mais curtas as minhas intervenções irei fazer um post para cada uma.

No programa Contraste, da SIC Notícias, transmitido às terças, às 23h00, e que junta Francisco Assis e Morais Sarmento, o primeiro defendia abertamente uma junção de esforços entre o PS e o PSD para porem em prática o orçamento aprovado pelos dois partidos. É engraçado que este ponto de vista mereceu uma graçola de Morais Sarmento, a propósito do apoio que o PS está a dar a Manuel Alegre. A que Assis deu troco. Já não me recordo da graçola, nem da resposta de Assis. - Podem, dentro de alguns dias, consultar na SIC on-line o vídeo deste Contraste. - Mas o que interessa aqui reter é esta esquizofrenia que está a atravessar o PS, que defende e pratica acordos à sua direita e acusa os partidos à sua esquerda de extremistas e de protesto e depois apoia um candidato que está a travar uma batalha que é o contrário disso tudo. Por isso percebe-se o apelo de Manuel Alegre para que os socialistas acordem e se envolvam mais na campanha.

De facto a situação está muito complicada e eu não gostaria de ignorar este facto. Com um PS claramente comprometido com o centrão, ou mesmo com as políticas de direita, não há nenhum candidato de esquerda, mesmo independente e super partidário, que resista a que uma das suas bases de apoio não só não esteja nada interessada na sua eleição, dado que isso provavelmente só iria irritar os “mercados” internacionais a que ela está atada de pés e mãos, como esse facto inverteria a sua lógica de apoio à formação do um bloco central.
Se o candidato não perceber esta situação e continuar a tentar trazer todo o PS atrás de si está condenado à derrota mais clamorosa.
O PS, desde que José Sócrates tomou o poder, nunca teve uma estratégia de vitória em relação a eleições que não fossem aquelas a que o seu chefe concorria. Perdeu, as presidenciais de 2006 para Cavaco Silva, já antes tinha perdido as autárquicas de 2005, com principal relevo para a vitória de Carmona em Lisboa. Perdeu as europeias, em 2009, sacrificando o seu compagnon de route Vital Moreira e também as autárquicas de 2009, que só foram ganhas em Lisboa, por António Costa, devido à táctica política seguida por este, ao arrepio provavelmente de alguns vozes mais influentes do PS.
Por isso, não será de estranhar que sacrifiquem mais uma vez no altar das conveniências partidárias de José Sócrates o seu candidato presidencial.

5 comentários:

J Eduardo Brissos disse...

Olá Jorge,
Acabei de pôr no Essência da Pólvora, um blog de amigos e vizinhos onde também colaboro, um link para o Trix_Nitrix, e estive a ler este teu post.
Em relação ao ultimo paragrafo acho que o Dedé está a ver melhor o problema:
A Essência da Pólvora: Alegre quer apoio de dirigentes do PSEntão ainda não percebeu que o candidato de Sócrates é Cavaco?

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Eu penso que neste momento Sócrates está morto e enterrado, mas ele e os seus ainda não perceberam isso e alguns estão há espera que ressuscite ao sétimo dia. Por isso, o apoio e a vitória de Manuel Alegre provocariam um monte de complicações: políticas de esquerda, predomínio da ala alegrista no PS, etc., etc. Mas a vitória de Cavaco, pode introduzir alguns elementos de perturbação em Sócrates, pode dissolver a Assembleia da República lá para Abril. Por isso eu admito que ele nem saiba para onde se virar, mas talvez venha aceitar Cavaco como um mal menor. Soares já o aceitou, até como vingança.
Quanto à “ménage à trois” tenho esperança e quase a certeza que Louçã não se meterá nisso. Sei que hoje é complicado ter escolhido Alegre como cabeça de lista. Mas ninguém na altura tinha melhor solução do que esta.
Quando tiver tempo incluo o teu blog nos meus preferidos
Jorge

J Eduardo Brissos disse...

Bom, dentro do PS acho que já há muito quem saiba, que aquilo é um cadáver adiado à espera da melhor oportunidade de ser removido.

Neste post ENTÃO É ASSIM, de há umas semanas atrás, falo nisso, do tipo de saída que o PS está a preparar, e que agora Luís Amado reafirma, e sobretudo da "incapacidade" de aproveitar estas eleições pelo menos para contribuir para o alargamento da mobilização popular contra estas desgraçadas políticas. Enfim é a vida.

Concretamente em relação a Alegre sempre pensei que foi um disparate voltar à AR depois das eleições de 2006 e que, se encarava a possibilidade de concorrer em 2011, devia ter assumido a responsabilidade de, não digo liderar, mas ser assim uma espécie de figura tutelar da gente que à esquerda procura caminhos alternativos à "cegueira" suicidaria de Sócrates e dos seus acólitos. A candidatura de 2011 devia surgir nesse contexto e não de entendimentos com Sócrates para ter um apoio formal que não o vai levar a lado nenhum.

Espero sinceramente enganar-me mas, por este caminho, Alegre ainda vai ter menos votos que em 2006 e Francisco Lopes uma votação semelhante à de António Abreu.

Já na frente laboral as perspectivas são bem mais animadoras, desde que haja a consciência que isto é uma guerra para muitas batalhas.

J Eduardo Brissos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jorge Nascimento Fernandes disse...

Como já vista entre os meus eleitos coloquei o blog onde colaboras. Pareceu-me bastante interessante. Estou no essencial de acordo com o que dizes.
Provavelmente, irei mesmo fazer um post à inclusão do teu blog nos preferidos. Fiquei muito agradado por terem também comemorado Outubro. Hoje quando a esquerda já só comemora a Queda do Muro, haja alguém que ainda se lembre de Outubro.
Um abraço.