03/07/2009

Ponto final no Apelo à Convergência de Esquerda nas Eleições para Lisboa


Realizou-se no passado dia 29, no Hotel Roma, uma conferência de imprensa em que os peticionários, ou seja, os subscritores do Apelo à Convergência de Esquerda nas Eleições para Lisboa prestavam contas aos lisboetas e à comunicação social das diligências desenvolvidas. De todos os contactos efectuados “cumpre-nos informar com verdade a cidade de que, chegados à passada 5ª feira, 25 de Junho, acabaram por não ter resultado as inúmeras diligências efectuadas.”
Sendo esta uma das conclusões do comunicado final dos peticionários, gostaria pela minha parte, que também fui um dos ssubscritores do apelo e por duas vezes comentei neste blog (ver aqui e aqui ) este assunto, de fazer algumas considerações sobre o mesmo.
Como eu afirmei por diversas vezes há entre a esquerda portuguesa uma clara pulsão unitária, que tem origem principalmente na luta antifascista e que se manteve ao longo dos anos, alimentada mais pelo PCP do que pelo PS, e que encontrou nos recentes eventos que tiveram lugar no Teatro da Trindade e na Aula Magna uma expressão significativa. O encontro da esquerda do PS, corporizada pelo Manuel Alegre, do Bloco de Esquerda e da Renovação Comunista trouxe para a praça pública o renovado desejo de um diálogo à esquerda.
Nesse sentido, a Renovação Comunista tentando expressar este desejo empreendeu alguns contactos, primeiro com vista a uma possível saída de esquerda para as eleições legislativas que se avizinham e depois, goradas aqueles, iniciou movimentações para a Câmara de Lisboa, porque lhe pareceu que era o local onde melhor se poderia corporizar aquela união.
Por isso redigiu um apelo e submeteu-o a um conjunto de personalidades independentes ou que num ou noutro caso têm aparecido ligadas a alguns dos partidos da esquerda.
Quando aquele apelo surgiu já praticamente o quadro das diferentes candidaturas à Câmara estava traçado. Sabia-se que António Costa, pelo PS, queria continuar e que o Bloco e o PCP (vulgo CDU) iriam apresentar candidaturas próprias e que Helena Roseta manteria o seu movimento de cidadãos. Ou seja, a esquerda aparecia completamente desunida, “cada um por si e fé em Deus”. Foi contra isto que este movimento arrancou, primeiro com duzentas assinaturas e depois na Internet, aberto a quem o quisesse assinar. Quer o Bloco quer o PCP manifestaram desde logo, com justificações diferentes, que eu já assinalei num dos post referidos, a sua indisponibilidade para alianças. António Costa, sem nunca ter tido um gesto público significativo em relação à convergência foi alimentando nas conversas com os peticionários essa possibilidade.
Restava aos peticionários, principalmente ao seu núcleo organizado, que incluía alguns elementos da Renovação Comunistas, mas também independentes que prontamente se quiseram juntar, prestar contas dos resultados e da acção empreendida, foi isso que foi feito no dia 29 de Julho.
É evidente que diferentes eram os motivos para que várias pessoas, oriundas de diversas áreas políticas de esquerda, se tivessem juntado com o mesmo objectivo.
Da minha parte, devo reconhecer que foi para mim irresistível o apelo à unidade de esquerda. A minha formação ao longo dos anos sempre teve em conta este desejo, e sempre mitifiquei, provavelmente, pelas boas razões, as épocas históricas em que ele foi conseguido. Nesse sentido assinei o referido apelo.
Reconheço, no entanto, que o mesmo poderia, dada a aceitação em palavras, não sei se em actos, de António Costa, servir para apoiar a sua candidatura, favorecendo aquilo em que o PS é mestre em momentos de aperto: fazer o apelo ao voto útil.
Sei que alguns dos peticionários tinham claramente essa intenção, no entanto, conseguiu-se fazer um esforço, não extravasando as claras competências que nos tinham sido atribuídas, para que esse facto nunca transparecesse claramente.
A não existência de acordo e a possibilidade real de Santana Lopes e a direita ganharem a Câmara levou a algum dos peticionários a classificarem a não existência de coligação como "uma tragédia patética" e "quem não entrar em acordo é um traidor para o povo lisboeta" (Pílar del Rio, mulher de José Saramago, Diário de Notícias, de 30/06/09).
Acredito piamente que este seja o pensar de muitos dos peticionários. Que a presença de Santana Lopes na Câmara seja uma tragédia para eles. Mas tenho que reconhecer, que sendo verdade este facto, não podemos, por outro lado, deixarmo-nos cair na tentação de que o voto útil é que é a solução ou então que a estratégia dos partidos se deve submeter a uma lógica local, esquecendo que uma das partes, o PS, nem nacionalmente se portou para merecer o nosso apoio, nem mesmo a sua face visível na Câmara deu motivos para que nele confiássemos. Provavelmente a longo prazo os eleitores que acreditam nos valores e na clareza das atitudes não compreenderiam que em nome de uma possível vitória local sacrificássemos algumas estratégias nacionais ou avalizássemos a postura de quem sempre demonstrou um grande desprezo pelos “extremistas” de esquerda. Há nestes casos que avaliar entre um legítimo anseio de unidade e a queda irremediável para o oportunismo e o laxismo.

9 comentários:

Mário Moniz disse...

"Há nestes casos que avaliar entre um legítimo anseio de unidade e a queda irremediável para o oportunismo e o laxismo."

Nem mais. Penso que é este o principal motivo que impede uma larga convergência de esquerda. Há sempre quem se queira aproveitar e o PS é exímio nisso. Depois do que aconteceu com Sá Fernandes, torna-se cada vez mais difícil confiar em independentes.

Processo Casa Pia disse...

-Convergência à esquerda para o PS,"D"......................
...........PS,D e o nem ás paredes confesso !

amigo do operário disse...

“cumpre-nos informar com verdade a cidade de que, chegados à passada 5ª feira, 25 de Junho, acabaram por não ter resultado as inúmeras diligências efectuadas.”

Mas ainda há pouco vi ali na TV um apelo do Sá Fernandes, e de acordo com a noticia, de renovadores, a uma "convergência" com o António Costa.

Erro do locutor de serviço, ou uma facção renovadora dos renovadores?

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Porque a pergunta é concreta e houve notícias nesse sentido, gostaria de informar que o Movimento Renovação Comunista, não é um partido, é um movimento e os seus membros são livres de tomarem as opções políticas de esquerda que entenderem. Só os comunicados assinados Renovação Comunista é que obrigam aquele movimento. Por isso, pode haver renovadores que apoiam o Sá Fernandes no seu movimento. Tal como há comunistas que apoiam o António Costa, como o José Saramago, e pelo menos compagnons de route como o Carlos do Carmo. Pelo meu lado, serei candidato independente pelo Bloco de Esquerda à Assembleia Municipal de Lisboa.
Irei provavelmente fazer um post com este assunto.

Operário Levantado do Chão disse...

Ó stôr, comunistas uma figa! Os verdadeiro comunistas aqueles que não se vergam, apoiam os candidatos do seu partido do Partido Comunista Português .O que este sr. Saramago está a fazer, é uma traição. Não ao partido pois não tem moral nem categoria para isso!- para isso ...mas sim a si próprio como homem, que um dia aceitou militar de livre e espontânea vontade no heróico Partido Comunista Português. Que de maneira nenhuma merecia que gente como Saramago lhe manchassem a Honra - muitos Homens e Mulheres sofreram os maiores vexames que um ser humano pode suportar em nome dum ideal para agora um qualquer levantado de chão... mesmo Nobel que seja, ou o que quer que isso queira dizer,,, sobre o individuo enquanto Homem.
-O sr. Saramago, vai ter de se entender consigo próprio. Não passa dum levantado do chão que se verga por um punhado não sei bem de quê, mas que é coisa feia...lá isso é.

-Operário farto das charlatanices do sr. Saramago .

Aristes disse...

Ó levantado,

Tens direito à tua opinião, mas não é preciso chamar nomes, tá?

José Saramago apoia candidatura de António Costa a Lisboa
Para Jerónimo de Sousa não há drama.

Operário em brigada de trabalho voluntário no recito da Festa do Avante. disse...

Que eu tenho direito a minha opinião tenho sim senhor e não necessito que nenhum Aristes me de licença p+ara a expressar tabém ! -Além disso onde é que o Aristes viu cá o egas a chamar nomes fosse a qem fosse...aquilo que escrevi digo-o na trombeta, de quem quer que seja; ou o Aristides têm dúvidas?...
-Já agora, o meu camarada Jerónimo de Sousa secretário geral do meu Partido, ter dito que "não é drama nenhum" o sr.doutor José de Sousa Saramago, ter dado de forma implícita... o apoio à candidatura do sr. António Costa à câmara de Lisboa ...Não quer dizer nada...rien d rien - Certo o meu camarada Jerónimo de Sousa não pode dizer mais nada, além do que disse pois não tem mandato para ir além do que pode ir não é dono nem chefe do Partido!
-O Partido falará em tempo oportuno e sem dramas...somos um Partido de Novo tipo Marxista-Leninista. os nossos horizontes vão muito para além que qualquer individuo por muito interessante que seja.

Anónimo disse...

Ó levantado,

Tu tens direito à tua opinião, mas o Saramago pelos visto não tem pois se dá a sua opinião cais-lhe logo em cima a dizer que é traidor.

E já agora os

"muitos Homens e Mulheres sofreram os maiores vexames que um ser humano pode suportar em nome dum ideal para agora um qualquer levantado de chão.."

deram-te representação para usares a sua memória nos teus ataques rasteiros?

Não envergonhes mais a muita gente séria que sempre houve e continuará a haver no PCP.

Operário dando trela disse...

Ó anónimo - Deixa-te de tretas e de petas e vai dar lições de moral ´lá para o tua rua que daqui não levas nada a não ser muita sarna para te coçares!...
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-Claro que o sr. doutor Saramago, têm toda a liberdade do mundo para apoiar quem bem entender!
-Só que há um problema ....- Uma questão de Honra e Compromisso. Que o sr. Saramago não está a cumprir ou melhor está a faltar à palavra dada... o senhor Saramago como comunista militante do PCP; que diz ser - tem compromissos para com o Colectivo de Homens e Mulheres jovens e menos jovens que formam e fazem o Partido que é o PCP -isto implica valores de lealdade para com os camaradas, valores éticos que tem da ser respeitados ...são princípios... qualquer ser humano compreende e se sente o sabor amargo ... quando alguém dentro da mesma trincheira de combate diz envergar o mesmo uniforme mas ao mesmo tempo abre alas ao adversário.