Não existe uma barreira intransponível entre a nossa vida pública e a vida privada, ou seja, a nossa profissão. Não se pode durante o dia aturar um chefe prepotente, indiferente ou incapaz e depois à noite, como vingança, dizermos no nosso blog mal do Governo ou do patronato, ou então sermos um professor respeitável e sério e à noite transvertermo-nos em irónicos e galhofeiros comentadores da política nacional. Tem que haver uma relação entre aquilo que fazemos como profissionais e o que escrevemos como cidadãos.
Por este motivo achei que vos devia dar conta do que andei a fazer durante estes dias e porque motivo estive tanto tempo ausente da blogosfera.
Apesar de estar reformado, ainda de vez enquanto faço trabalhos de consultoria, e agora encomendaram-me um que achei engraçado partilhar convosco.
O trabalho referia-se a uma compilação bibliográfica sobre os perigos que resultam para os cursos de água nacionais da invasão de uma espécie, que na linguagem biológica, se classifica como exótica, pois que não é característica da nossa fauna e por esse motivo pode ser causadora de graves prejuízos não só para os ecossistemas dulçaquícolas, como igualmente para as actividades económicas que se desenvolvem nas albufeiras ou nos cursos de água. Espécies invasoras e exóticas dos nossos cursos de água são também o lagostim-vermelho ou o jacinto-de-água
A espécie em questão tem o nome vulgar de mexilhão-zebra, não mede mais de 3 cm, e deve o seu nome a ser parecida com o mexilhão marinho, que todos nós conhecemos e que muitas vezes comemos, apesar de ser mais pequena, e à cor das suas valvas (concha), que apresentam uma alternância entre tiras escuras e claras, que as tornam parecidas com a coloração da zebra. Esta espécie, cujo a fotografia junto, é um molusco bivalve, mas que do ponto de vista filogenético – antepassados comuns – nada tem a ver com o mexilhão, nem é comestível. O seu nome científico é Dreissena polymorpha.
Esta espécie é original do Mar Cáspio, Negro e de Aral, e dos rios que desaguam naqueles mares. Para os que só pensam em política pode-se associá-la ao perigo russo ou, mesmo, ao perigo comunista. Simplesmente a sua expansão para Europa ocidental começou no início do século XIX, com a construção de canais em toda a Europa resultantes do desenvolvimento do comércio. A sua chegada, no entanto, aos Estados Unidos deu-se só em 1988, tendo-se expandido em poucos anos da zona dos Grandes Lagos, na fronteira com o Canadá, até ao Golfo do México.
A sua chegada à Península Ibérica deu-se em 2001, e os primeiros exemplares foram encontrados no rio Ebro. Hoje está instalada numa série de albufeiras daquele rio, no rio Júcar, mais ao Sul, e no Norte, na zona Cantábrica. Ainda não chegou a Portugal, mas pensa-se que nestas circunstâncias não demorará muito tempo até aparecer nos nossos cursos de água.
A sua acção resulta fundamentalmente de se reproduzir em grande quantidade e, depois de passar por uma fase de vida livre, fixa-se no substrato, tal como os mexilhões, por uns filamentos que segrega, a que se chama o bisso. Forma grandes tapetes, que cobrem extensas áreas. Todas as indústrias que recorrem às águas doces das albufeiras, normalmente para arrefecimento dos seus condensadores, mas também para abastecimento de água potável às populações, ou para a produção de energia eléctrica, a função mais usual das albufeiras, vêem as suas tubagens em geral serem invadidas por esta espécie, o que, como se compreende, provoca elevados prejuízos económicos.
As medidas preventivas e de controlo da praga são várias, que normalmente implicam um forte ordenamento e condicionamento das albufeiras, como sejam as limitações à navegação, veículo importante de propagação dos ovos e das larvas desta espécie, interdição de pesca com barcos e mesmo de pescadores, já que estes recorrem muitas vezes a este mexilhão como isco. Fortes campanhas de informação das populações ribeirinhas e não só. Limpeza e desinfecção dos barcos que utilizam as albufeiras. Já no final da linha, introdução de métodos de eliminação dos próprios mexilhões, de que a cloragem das águas é um dos principais, apesar dos perigos que podem resultar para os ecossistemas a permanência de cloro residual nas águas devolvidas às albufeiras.
Acho que já vos dei um rápido panorama sobre esta espécie e os perigos que acarreta. Já agora, se a encontrarem em alguma albufeira ou num curso de água avisem as entidades pública e se quiserem trocar algumas informações comigo terei muito gosto.
Por este motivo achei que vos devia dar conta do que andei a fazer durante estes dias e porque motivo estive tanto tempo ausente da blogosfera.
Apesar de estar reformado, ainda de vez enquanto faço trabalhos de consultoria, e agora encomendaram-me um que achei engraçado partilhar convosco.
O trabalho referia-se a uma compilação bibliográfica sobre os perigos que resultam para os cursos de água nacionais da invasão de uma espécie, que na linguagem biológica, se classifica como exótica, pois que não é característica da nossa fauna e por esse motivo pode ser causadora de graves prejuízos não só para os ecossistemas dulçaquícolas, como igualmente para as actividades económicas que se desenvolvem nas albufeiras ou nos cursos de água. Espécies invasoras e exóticas dos nossos cursos de água são também o lagostim-vermelho ou o jacinto-de-água
A espécie em questão tem o nome vulgar de mexilhão-zebra, não mede mais de 3 cm, e deve o seu nome a ser parecida com o mexilhão marinho, que todos nós conhecemos e que muitas vezes comemos, apesar de ser mais pequena, e à cor das suas valvas (concha), que apresentam uma alternância entre tiras escuras e claras, que as tornam parecidas com a coloração da zebra. Esta espécie, cujo a fotografia junto, é um molusco bivalve, mas que do ponto de vista filogenético – antepassados comuns – nada tem a ver com o mexilhão, nem é comestível. O seu nome científico é Dreissena polymorpha.
Esta espécie é original do Mar Cáspio, Negro e de Aral, e dos rios que desaguam naqueles mares. Para os que só pensam em política pode-se associá-la ao perigo russo ou, mesmo, ao perigo comunista. Simplesmente a sua expansão para Europa ocidental começou no início do século XIX, com a construção de canais em toda a Europa resultantes do desenvolvimento do comércio. A sua chegada, no entanto, aos Estados Unidos deu-se só em 1988, tendo-se expandido em poucos anos da zona dos Grandes Lagos, na fronteira com o Canadá, até ao Golfo do México.
A sua chegada à Península Ibérica deu-se em 2001, e os primeiros exemplares foram encontrados no rio Ebro. Hoje está instalada numa série de albufeiras daquele rio, no rio Júcar, mais ao Sul, e no Norte, na zona Cantábrica. Ainda não chegou a Portugal, mas pensa-se que nestas circunstâncias não demorará muito tempo até aparecer nos nossos cursos de água.
A sua acção resulta fundamentalmente de se reproduzir em grande quantidade e, depois de passar por uma fase de vida livre, fixa-se no substrato, tal como os mexilhões, por uns filamentos que segrega, a que se chama o bisso. Forma grandes tapetes, que cobrem extensas áreas. Todas as indústrias que recorrem às águas doces das albufeiras, normalmente para arrefecimento dos seus condensadores, mas também para abastecimento de água potável às populações, ou para a produção de energia eléctrica, a função mais usual das albufeiras, vêem as suas tubagens em geral serem invadidas por esta espécie, o que, como se compreende, provoca elevados prejuízos económicos.
As medidas preventivas e de controlo da praga são várias, que normalmente implicam um forte ordenamento e condicionamento das albufeiras, como sejam as limitações à navegação, veículo importante de propagação dos ovos e das larvas desta espécie, interdição de pesca com barcos e mesmo de pescadores, já que estes recorrem muitas vezes a este mexilhão como isco. Fortes campanhas de informação das populações ribeirinhas e não só. Limpeza e desinfecção dos barcos que utilizam as albufeiras. Já no final da linha, introdução de métodos de eliminação dos próprios mexilhões, de que a cloragem das águas é um dos principais, apesar dos perigos que podem resultar para os ecossistemas a permanência de cloro residual nas águas devolvidas às albufeiras.
Acho que já vos dei um rápido panorama sobre esta espécie e os perigos que acarreta. Já agora, se a encontrarem em alguma albufeira ou num curso de água avisem as entidades pública e se quiserem trocar algumas informações comigo terei muito gosto.
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