Por ter estado ausente de Lisboa não tinha ainda folheado o Avante de 28 de Agosto. Mão amiga chamou-me a atenção para o artigo de José Manuel Jara (JMJ), Bloco de Esquerda: um neo-reformismo de fachada socialista, que parafraseava o título da célebre obra de Álvaro Cunhal, O Radicalismo pequeno burguês de fachada socialista, cuja a primeira edição, clandestina, é das Edições “Avante!”, de 1970.
JMJ nos anos idos da revolução já tinha escrito alguns textos sobre o “esquerdismo”. Posteriormente, transformou-se em defensor do templo e sempre que este é ameaçado vem à praça pública dizer de sua justiça.
Mas não são os seus dotes como porta-voz ideológico das posições do PCP que me interessa analisar. Este post refere-se unicamente ao artigo que dedica ao Bloco de Esquerda.
Não me vou envolver na discussão sobre a ideologia do Bloco, já que não sou militante daquele Movimento, nem para isso fui incumbido, limito-me só ao que está escrito por JMJ.
JMJ passa todo o artigo a tentar encontrar contradições nos textos dos principais responsáveis políticos do Bloco, mas, acima de tudo, a gozar (agora, o BE contenta-se, no que poderão chamar-se «relações de produção», com uma vaga alusão à não privatização da «água» e da «energia», como bens «públicos» … Acrescentemos poeticamente, e o mar, e o sol, e o céu?...), a desvirtuar (a facilidade com que se dá a volta a Portugal a pé contra o «desemprego», e a facilidade com que se volta à Europa a votar, eis a expressão acabada do idealismo e da inanidade do «movimento»), a enumerar vocábulos tirados do seu contexto (a ideologia baseia-se num discurso fluente e redundante onde vocábulos como «novo», «moderno», «modernizador», «aberto», «plural», «social», «socialista», «popular», «alternativo», «radical», «democrático», «mudança», vão alternando sem grande preocupação com o referente e a realidade), de modo que o leitor fica com a ideia que o Bloco não é capaz de juntar duas ideias seguidas. No fundo, uns pobres de espírito que não têm norte, nem sabem o que querem. A isto se resume todo o articulado de quatro páginas de escrita cerrada a descascar num movimento político que, para azar do PCP lhe come as franjas e se implanta nas suas margens, ao contrário do que tinha sucedido com os antecessores daquele movimento. Os tempos também eram outros e diferente era a intervenção política do PCP.
Resumindo, podemos dizer que, no essencial, tirando esse contínuo jogo de palavras e de pequenas citações, não há qualquer ideia que atravesse o texto. A sua pobreza ideológica é evidente.
Mas no final, JMJ achando que a sua prosa tinha que ser apimentada por uma citação de um clássico, lá vai recorrer a Rosa Luxemburgo e ao seu Reforma e revolução. No fundo, para classificar o BE como reformista e eleitoralista, penso que por contraposição ao PCP, considerado como partido revolucionário.
É uma ideia feita considerar-se o PCP como o Partido revolucionário, capaz de, estando as condições objectivas reunidas, empreender a revolução e instaurar o socialismo em Portugal. Como tentei provar aqui e aqui e em textos anteriores, aí igualmente citados, há muito que o PCP e o próprio movimento comunista, ainda no tempo da III Internacional, tinham abandonado a defesa da ruptura revolucionária com o sistema poder da burguesia, e encarado a transformação social como passando por diversas etapas intermédias, que, consoante o momento histórico, assumiam diferentes objectivos. Assim, no caso do PCP no tempo do fascismo propunha-se como programa a Revolução Democrática e Nacional e hoje, numa época de relativa estabilidade do capitalismo e de consenso democrático, defende-se Uma democracia avançada no limiar do século XXI. Ou seja, deixa cada vez mais de ter sentido andarem as diferentes forças de esquerda, e neste caso o PCP, a chamarem-se umas às outras reformistas e eleitoralistas, quando há muito que assumiram, dada a conjuntura de resistência e de domínio do capitalismo, objectivos políticos limitados e inseridos estritamente na legalidade democrática.
É de puro delírio político que o PCP a propósito de tudo e de nada continue a fazer propaganda das teses leninistas sobre a Revolução, que visavam, na época, a instauração da ditadura do proletariado, quando há muito que cortou essa expressão do seu próprio programa político.
O mal do PCP é que, incapaz de perceber isto, continua de forma esquizofrénica a defender em teoria coisas que depois na prática não aplica. Há por isso um desfasamento entre a doutrina que se conserva pura (o marxismo-leninismo) e a prática diária que exige outro tipo de acção. E se isto durante a existência de Cunhal era feito com alguma subtileza, de que se realça a sua formulação relativa à Revolução Democrática e Nacional, mas, posteriormente ao 25 de Abril, com a defesa da maioria de esquerda ou do favorecimento ao aparecimento do PRD, o partido do Eanes. Hoje, devido ao sectarismo galopante da Direcção do PCP, essa conduta caracteriza-se por um fechamento e isolamento na sociedade portuguesa que, se momentaneamente colhe alguns frutos, invertendo a queda eleitoral a que aquele Partido vinha a sofrer, torna impossível a criação de qualquer saída alternativa para a actual situação política.
Parece-me pois que este texto de JMJ mais não faz do que errar o alvo, confundindo os interesses sectários e isolacionistas do PCP actual, com o combate do PCP dos anos 70 contra uma deriva esquerdista que ameaçava perigosamente os objectivos nacionais do derrube do fascismo em Portugal.
JMJ nos anos idos da revolução já tinha escrito alguns textos sobre o “esquerdismo”. Posteriormente, transformou-se em defensor do templo e sempre que este é ameaçado vem à praça pública dizer de sua justiça.
Mas não são os seus dotes como porta-voz ideológico das posições do PCP que me interessa analisar. Este post refere-se unicamente ao artigo que dedica ao Bloco de Esquerda.
Não me vou envolver na discussão sobre a ideologia do Bloco, já que não sou militante daquele Movimento, nem para isso fui incumbido, limito-me só ao que está escrito por JMJ.
JMJ passa todo o artigo a tentar encontrar contradições nos textos dos principais responsáveis políticos do Bloco, mas, acima de tudo, a gozar (agora, o BE contenta-se, no que poderão chamar-se «relações de produção», com uma vaga alusão à não privatização da «água» e da «energia», como bens «públicos» … Acrescentemos poeticamente, e o mar, e o sol, e o céu?...), a desvirtuar (a facilidade com que se dá a volta a Portugal a pé contra o «desemprego», e a facilidade com que se volta à Europa a votar, eis a expressão acabada do idealismo e da inanidade do «movimento»), a enumerar vocábulos tirados do seu contexto (a ideologia baseia-se num discurso fluente e redundante onde vocábulos como «novo», «moderno», «modernizador», «aberto», «plural», «social», «socialista», «popular», «alternativo», «radical», «democrático», «mudança», vão alternando sem grande preocupação com o referente e a realidade), de modo que o leitor fica com a ideia que o Bloco não é capaz de juntar duas ideias seguidas. No fundo, uns pobres de espírito que não têm norte, nem sabem o que querem. A isto se resume todo o articulado de quatro páginas de escrita cerrada a descascar num movimento político que, para azar do PCP lhe come as franjas e se implanta nas suas margens, ao contrário do que tinha sucedido com os antecessores daquele movimento. Os tempos também eram outros e diferente era a intervenção política do PCP.
Resumindo, podemos dizer que, no essencial, tirando esse contínuo jogo de palavras e de pequenas citações, não há qualquer ideia que atravesse o texto. A sua pobreza ideológica é evidente.
Mas no final, JMJ achando que a sua prosa tinha que ser apimentada por uma citação de um clássico, lá vai recorrer a Rosa Luxemburgo e ao seu Reforma e revolução. No fundo, para classificar o BE como reformista e eleitoralista, penso que por contraposição ao PCP, considerado como partido revolucionário.
É uma ideia feita considerar-se o PCP como o Partido revolucionário, capaz de, estando as condições objectivas reunidas, empreender a revolução e instaurar o socialismo em Portugal. Como tentei provar aqui e aqui e em textos anteriores, aí igualmente citados, há muito que o PCP e o próprio movimento comunista, ainda no tempo da III Internacional, tinham abandonado a defesa da ruptura revolucionária com o sistema poder da burguesia, e encarado a transformação social como passando por diversas etapas intermédias, que, consoante o momento histórico, assumiam diferentes objectivos. Assim, no caso do PCP no tempo do fascismo propunha-se como programa a Revolução Democrática e Nacional e hoje, numa época de relativa estabilidade do capitalismo e de consenso democrático, defende-se Uma democracia avançada no limiar do século XXI. Ou seja, deixa cada vez mais de ter sentido andarem as diferentes forças de esquerda, e neste caso o PCP, a chamarem-se umas às outras reformistas e eleitoralistas, quando há muito que assumiram, dada a conjuntura de resistência e de domínio do capitalismo, objectivos políticos limitados e inseridos estritamente na legalidade democrática.
É de puro delírio político que o PCP a propósito de tudo e de nada continue a fazer propaganda das teses leninistas sobre a Revolução, que visavam, na época, a instauração da ditadura do proletariado, quando há muito que cortou essa expressão do seu próprio programa político.
O mal do PCP é que, incapaz de perceber isto, continua de forma esquizofrénica a defender em teoria coisas que depois na prática não aplica. Há por isso um desfasamento entre a doutrina que se conserva pura (o marxismo-leninismo) e a prática diária que exige outro tipo de acção. E se isto durante a existência de Cunhal era feito com alguma subtileza, de que se realça a sua formulação relativa à Revolução Democrática e Nacional, mas, posteriormente ao 25 de Abril, com a defesa da maioria de esquerda ou do favorecimento ao aparecimento do PRD, o partido do Eanes. Hoje, devido ao sectarismo galopante da Direcção do PCP, essa conduta caracteriza-se por um fechamento e isolamento na sociedade portuguesa que, se momentaneamente colhe alguns frutos, invertendo a queda eleitoral a que aquele Partido vinha a sofrer, torna impossível a criação de qualquer saída alternativa para a actual situação política.
Parece-me pois que este texto de JMJ mais não faz do que errar o alvo, confundindo os interesses sectários e isolacionistas do PCP actual, com o combate do PCP dos anos 70 contra uma deriva esquerdista que ameaçava perigosamente os objectivos nacionais do derrube do fascismo em Portugal.
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