Tenho seguido com alguma atenção o que se passa na Bolívia. Até ao presente ainda não encontrei qualquer notícia sobre os massacres de camponeses que tiveram lugar na naquele país em nenhum dos blogs dessa Santa Aliança que se formou com bloggers de esquerda e foi organizada pelo Arrastão, nem nos que sobraram, e são muitos, que têm a vocação de passar sempre ao lado, por "distracção", da violação dos direitos humanos perpetrados pela direita.
Como se sabe, e não vou contar a história com todos os pormenores, há alguns Governadores de Departamentos na Bolívia, os mais desenvolvidos, que não aceitam o presidente eleito, Evo Morales. Realizou-se um referendo que reafirmou a sua vitória e agora com resultados muito mais expressivos. Esses Governadores, que, ao que parece, também foram confirmados eleitoralmente no seu cargo, têm vindo a rebelar-se contra o poder central, encetando em alguns casos rebeliões violentas, com claro desrespeito das regras da legalidade democrática. Evo Morales tem tentado dialogar com eles, mas acusou o Governo dos Estados Unidos de os apoiar e fomentar um golpe de estado, expulsando por isso o seu embaixador.
O que dizem as agências internacionais que são a fonte de informação dos nossos media: Bolívia à beira de um golpe de Estado, dado por quem, não se sabe. Desacatos já causaram trinta mortos. O estado de sítio foi decretado numa das províncias. Estaríamos assim num país em revolta, com desordens nas ruas, responsáveis por aquela mortandade.
Perante este cenário, o que é que ontem nos informava o Público pela pena de um enviado especial chamado Nuno Amaral? Que o Governo estaria a negociar com chefes das províncias (departamentos) rebeldes, mas que à revelia dessas negociações o estado de sítio tinha sido proclamado na província de Pando. E o interlocutor do nosso repórter chamava ao Governo “traidores de merda” e dizia que “não se podia acreditar nessa corja”, o Governo claro. E o artigo continuava nestes termos, afirmando que foi naquela província que se registaram os piores confrontos, em que pelo menos 30 pessoas morreram. E o que diz o interlocutor do nosso repórter: “o Governo culpa o governador pelos assassinatos, diz que contratou mercenários brasileiros e peruanos. É mentira, foi o exército que matou essas pessoas” e o o nosso valente repórter continua: “Ao mesmo tempo que demonstrava disponibilidade para negociar com a oposição Morales mandou deter o governador de Pando”. Depois termina com declarações de outro dos revoltosos. “Cortámos estradas e linhas de caminho-de-ferro, invadimos aeroportos e organizações do Estado”. Era necessário, frisa. Urgente. “Só assim desmascaramos os planos desse fantoche (Morales) de Chávez, o fascismo comunista não avançará, nem que isso nos custe a vida”. E o repórter finaliza o texto afirmando “cai-lhe uma lágrima, duas”.
Vai séria a reportagem do Público. Desde quando é que se houve só uma parte, e que parte?
A seguir vem um artigo como título: Presidente chilena quer ir à Bolívia ouvir as duas partes. Referia-se à reunião que se iria realizar no Chile da União dos Países do Sul (UNASUL). Como se verá a seguir não foi essa a principal conclusão da reunião.
Ontem, durante o dia, as televisões já afirmam que o comunicado final desta reunião apoia o Governo constitucional de Evo Morales, não reconhece qualquer situação que implique uma tentativa de golpe civil e reafirma a unidade territorial do país. Contudo não deixaram de acrescentar que esta reunião não tem meios para impedir a realização de um golpe de Estado, como que a transformarem em notícia aquilo que desejariam que acontecesse.
Mas o que há de verdade nestes trinta mortos que são referidos como vítimas da convulsão que se vive a Bolívia. Fui consultar por isso os sites onde poderia recolher informação mais precisa.
Assim, começo pelo comunicado final da reunião da UNASUL, onde é dito no ponto 5: “Nesse contexto, expressa sua mais firme condenação ao massacre que se viveu no departamento de Pando, e respalda o chamado realizado pelo governo boliviano para que uma comissão da UNASUL possa se constituir nesse país irmão para realizar uma investigação imparcial que permita estabelecer e esclarecer a brevidade dessa lamentável acção, e formular recomendações de tal maneira que o mesmo não termine impune”. Estamos pois, ao contrário da voz nada inocente transmitida pelo Público, perante um massacre reconhecido oficialmente pela UNASUL, que quer investigar.
Mas as notícias vão mais longe o Governador do Departamento de Pando foi preso e acusado genocídio na forma de massacre sangrento. Pensa-se que pelo menos foram massacradas 15 pessoas. E em últimas notícias afirma-se mesmo que a UNASUL pode levar chacina boliviana a tribunal internacional, onde já são referidos 30 mortos e 100 desaparecidos.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil afirma “acusação contra Governador de Pando é "muito séria" e que "não se pode mudar a vontade do povo através de acções violentas".
Termino este conjunto de notícias com estas palavras retiradas de um blog brasileiro: “não devemos ter nenhuma dúvida sobre a gravidade da situação na Bolívia e do que são capazes as suas elites políticas de direita, seja em Santa Cruz, seja em Cobija (capital do Departamento de Pando, JNF) ou em qualquer outra região do país. São racistas e violentas. Optaram pela derrubada do governo e não respeitam nem a lei e nem a Constituição. A comunidade sul-americana tem que dar um recado duro e directo para eles, de que não vão tolerar mais as suas acções violentas e ilegais e nem a tentativa de estrangular a economia boliviana.”
Lembraria que os mortos são camponeses, provavelmente índios e daí igualmente a acusação de racismo a quem empreendeu esta acção.
Depois disto chegamos à conclusão que a imprensa portuguesa de referência vai mal e de que os nossos bloggers são vítimas da sua agenda mediática.
Como se sabe, e não vou contar a história com todos os pormenores, há alguns Governadores de Departamentos na Bolívia, os mais desenvolvidos, que não aceitam o presidente eleito, Evo Morales. Realizou-se um referendo que reafirmou a sua vitória e agora com resultados muito mais expressivos. Esses Governadores, que, ao que parece, também foram confirmados eleitoralmente no seu cargo, têm vindo a rebelar-se contra o poder central, encetando em alguns casos rebeliões violentas, com claro desrespeito das regras da legalidade democrática. Evo Morales tem tentado dialogar com eles, mas acusou o Governo dos Estados Unidos de os apoiar e fomentar um golpe de estado, expulsando por isso o seu embaixador.
O que dizem as agências internacionais que são a fonte de informação dos nossos media: Bolívia à beira de um golpe de Estado, dado por quem, não se sabe. Desacatos já causaram trinta mortos. O estado de sítio foi decretado numa das províncias. Estaríamos assim num país em revolta, com desordens nas ruas, responsáveis por aquela mortandade.
Perante este cenário, o que é que ontem nos informava o Público pela pena de um enviado especial chamado Nuno Amaral? Que o Governo estaria a negociar com chefes das províncias (departamentos) rebeldes, mas que à revelia dessas negociações o estado de sítio tinha sido proclamado na província de Pando. E o interlocutor do nosso repórter chamava ao Governo “traidores de merda” e dizia que “não se podia acreditar nessa corja”, o Governo claro. E o artigo continuava nestes termos, afirmando que foi naquela província que se registaram os piores confrontos, em que pelo menos 30 pessoas morreram. E o que diz o interlocutor do nosso repórter: “o Governo culpa o governador pelos assassinatos, diz que contratou mercenários brasileiros e peruanos. É mentira, foi o exército que matou essas pessoas” e o o nosso valente repórter continua: “Ao mesmo tempo que demonstrava disponibilidade para negociar com a oposição Morales mandou deter o governador de Pando”. Depois termina com declarações de outro dos revoltosos. “Cortámos estradas e linhas de caminho-de-ferro, invadimos aeroportos e organizações do Estado”. Era necessário, frisa. Urgente. “Só assim desmascaramos os planos desse fantoche (Morales) de Chávez, o fascismo comunista não avançará, nem que isso nos custe a vida”. E o repórter finaliza o texto afirmando “cai-lhe uma lágrima, duas”.
Vai séria a reportagem do Público. Desde quando é que se houve só uma parte, e que parte?
A seguir vem um artigo como título: Presidente chilena quer ir à Bolívia ouvir as duas partes. Referia-se à reunião que se iria realizar no Chile da União dos Países do Sul (UNASUL). Como se verá a seguir não foi essa a principal conclusão da reunião.
Ontem, durante o dia, as televisões já afirmam que o comunicado final desta reunião apoia o Governo constitucional de Evo Morales, não reconhece qualquer situação que implique uma tentativa de golpe civil e reafirma a unidade territorial do país. Contudo não deixaram de acrescentar que esta reunião não tem meios para impedir a realização de um golpe de Estado, como que a transformarem em notícia aquilo que desejariam que acontecesse.
Mas o que há de verdade nestes trinta mortos que são referidos como vítimas da convulsão que se vive a Bolívia. Fui consultar por isso os sites onde poderia recolher informação mais precisa.
Assim, começo pelo comunicado final da reunião da UNASUL, onde é dito no ponto 5: “Nesse contexto, expressa sua mais firme condenação ao massacre que se viveu no departamento de Pando, e respalda o chamado realizado pelo governo boliviano para que uma comissão da UNASUL possa se constituir nesse país irmão para realizar uma investigação imparcial que permita estabelecer e esclarecer a brevidade dessa lamentável acção, e formular recomendações de tal maneira que o mesmo não termine impune”. Estamos pois, ao contrário da voz nada inocente transmitida pelo Público, perante um massacre reconhecido oficialmente pela UNASUL, que quer investigar.
Mas as notícias vão mais longe o Governador do Departamento de Pando foi preso e acusado genocídio na forma de massacre sangrento. Pensa-se que pelo menos foram massacradas 15 pessoas. E em últimas notícias afirma-se mesmo que a UNASUL pode levar chacina boliviana a tribunal internacional, onde já são referidos 30 mortos e 100 desaparecidos.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil afirma “acusação contra Governador de Pando é "muito séria" e que "não se pode mudar a vontade do povo através de acções violentas".
Termino este conjunto de notícias com estas palavras retiradas de um blog brasileiro: “não devemos ter nenhuma dúvida sobre a gravidade da situação na Bolívia e do que são capazes as suas elites políticas de direita, seja em Santa Cruz, seja em Cobija (capital do Departamento de Pando, JNF) ou em qualquer outra região do país. São racistas e violentas. Optaram pela derrubada do governo e não respeitam nem a lei e nem a Constituição. A comunidade sul-americana tem que dar um recado duro e directo para eles, de que não vão tolerar mais as suas acções violentas e ilegais e nem a tentativa de estrangular a economia boliviana.”
Lembraria que os mortos são camponeses, provavelmente índios e daí igualmente a acusação de racismo a quem empreendeu esta acção.
Depois disto chegamos à conclusão que a imprensa portuguesa de referência vai mal e de que os nossos bloggers são vítimas da sua agenda mediática.
PS.: esta notícia foi redigida ontem dia 16. Hoje o Publico reincide e de que maneira pela pena do seu enviado especial Nuno Amaral. Mas, não são só os jornalistas, Rui Ramos em artigo de opinião no mesmo jornal pergunta a dada altura: “Estará a Bolívia já ”libertada”, daquela parte do povo que não é “povo”, porque não partilha as opiniões do Presidente?”, mistificando demagogicamente os acontecimentos e brincando com assuntos sérios.
PS (20/09/08).:Quando eu pensava que o massacre, para que tinha modestamente chamado a atenção, tinha caído no esquecimento entre os media, não é que o Expresso de hoje, com chamada na primeira página, não noticia Bolívia: a verdade sobre o massacre de Cobija. Depois, no interior, mais comedido, fala só de O massacre de Cobija. É evidente que não esclarece grande coisa sobre a quem atribui-lo, mas alerta para um problema para o qual o Público, depois de ter enviado de propósito um jornalista àquele país, vinha engonhando à quase uma semana. Nas páginas que aquele semanário dedica à situação na Bolívia um outro título chama igualmente a atenção Todos juntos… contra os EUA. Retira-se do artigo a conclusão, que eu também já tinha tirado, de que o comunicado final da UNASUL era bastante favorável a Evo Morales. Só o Público, pela pena seu enviado, continuava a não perceber isso.
É evidente, como leitor diário do Público, exijo outro comportamento do meu jornal. Não sei o que os outros jornais disseram, a televisão vinha muito na linha do Público. Ou seja, tentou-se desinformar até ao fim. O Expresso, contra a corrente, decidiu-se pela completa cobertura dos acontecimentos, dentro é evidente da análise preconceituosa e de direita de Miguel Monjardino, que assina a coluna de opinião sobre o conjunto de notícias que aquele semanário dedica à Bolívia
3 comentários:
Só agora vi o teu post. Tens razão. Isto da Bolívia passa bastante ao lado das pessoas, como já passou a Argentina. Somos bastante eurocêntricos, é o que é...
De qualquer forma, apesar de não haver muita informação disponível, parece que a comunidade internacional da américa do Sul, com o Brasil à cabeça, tem ajudado na mediação do conflito e no apoio ao governo e presidente democráticamente eleitos.
Acho que é também isto devia dar que pensar àqueles que "tão desiludidos" que estavam com o Lula, andaram a dizer que FHC, ou Lula ou outro qualquer eram iguais na presidência do Brasil...
Meus caro,
aqui estou.Disponível para debater todos esses pontos que invocam
,desde que fiquemos pelas ideias, pelas narrativas que, bem ou mal, denuncia.
Só uma nota: tento há duas semanas um interlocutor do Governo, um porta-voz, o próprio Presidente. Tento chegar a Pando e a La Paz, impossível- os bloqueios não o permitem.
Continue crítico, só é salutar.
Até quando quiserem
Nuno Amaral
namaralpublico@gmail.com
Caro Senhor
Em relação à sua notícia do dia 16 como pode reparar o senhor só dá a versão de um interlocutor, que garante que foi o exército que matou os camponeses. Um assunto que já tem repercussão internacional e que objecto de comunicado da UNASUL, fica-se na sua reportagem pela opinião de um vago interlocutor, que pelos vistas destila ódio contra o Governo da Bolívia.
O senhor aí nunca se interroga como é que é possível que grupos de populares, que cometeram aquilo de que se gabam, não estejam ainda todos na prisão, o que sucederia em Portugal, por exemplo.
No segundo dia, dia 17, reforçando os pontos de vista dos revoltosos o senhor descreve o que viu nas cidades deles. Podemos concluir que a legalidade democrática está completamente interrompida nessas cidades. Mas há mais, o senhor reproduz a notícia que eu também reproduzo, sobre a morte dos camponeses, pondo-a na boca do presidente Morales, esquecendo pelos vistos o comunicado da UNASUL, que nessa altura já era do conhecimento de todos.
Depois, uma notícia também sua, parece-me ser um claro exemplo de desinformação. Visa pôr Lula contra Chavez e amenizar um comunicado que é claramente favorável aos interesses da Bolívia e de Evo Morales. E mais uma vez o senhor transforma a expressão massacres que se viveram em Pando, e que é expressa no comunicado da UNASUL, em confrontos. A quem interessa esta expressão.
Na reportagem do dia 18 é mais uma vez apresentado o ponto de vista único dos revoltosos.
Finalmente a 19 a sua prosa é pouco mais balanceada e, pela primeira vez, ao quarto dia, o senhor finalmente fala no massacre de 16 camponeses partidários de Morales. Custou mas teve que reconhecer que a realidade é mais forte que a propaganda.
Lamento mas todas as suas reportagens transmitem unicamente os pontos de vistas da direita, e que direita, da Bolívia. Está de acordo com o ponto de vista do seu Director sobre política internacional. E mais não digo.
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