06/09/2008

O Tempo Desvela a Verdade


A notícia já não é de agora, tinha-a lido nos jornais sem dar grande importância. Até que li a coluna Opinião, de Eduardo Cintra Torres, no Público, de 30 de Agosto (como sempre é impossível linkar para os não assinantes), e que se intitulava O Mamilo da Verdade. Depois de a ler, fui consultar a Net para obter mais informação. Se eu não a considerasse trágica e reveladora dos tempos que vivemos, poderia tomá-la como inspiradora de um tema para uma opera buffa.
Do que estamos a falar.
O Sr. Sílvio Berlusconi escolheu para decorar a sala onde dá as suas conferências de imprensa, no Palácio Chigi, uma reprodução de um quadro do pintor barroco Gianbattista Tiepolo (1696-1770), denominado La Verita Svelata dal Tempo e que foi pintado por volta de 1743 (para mais informações ver, em italiano, aqui ). A tradução que se tem feito do nome do quadro varia entre O Tempo Desvela a Verdade, do próprio Cintra Torres, ou então O Tempo que Desvenda a Verdade, do Diário de Notícias, e de uma série de blogs brasileiros. Prefiro a primeira que corresponde mais ao significado simbólico do quadro, no sentido de o Tempo tirar o véu à Verdade. Já se sabe que ao tirar o véu à Verdade, esta fica quase nua, de seios e umbigo à mostra. Até aqui tudo normal. Se Berlusconi ganhava dinheiro mostrando nas suas televisões “gajas boas”, como escreve Cintra Torres, porque não rodear-se de belos quadros, que simbolicamente representam a mulher desvelada. Simplesmente os seus assessores não acharam graça a que o seu chefe aparece-se nas fotografias e na televisão por baixo de um farto seio da Verdade e então decidiram que deviam mandar retocar o quadro de modo a que o seio e o umbigo não fossem visíveis. Assim o “machão” Berlusconi já não aparece encimado pela auréola do mamilo da Verdade.
Como se vê, esta história só no registo da comédia poderá subsistir, porque encarada a sério revela a mentalidade ditatorial de um dos principais dirigentes desta União Europeia que se pretende apresentar ao resto do mundo como defensora da tolerância e da liberdade artística.

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