28/09/2008

O Forte de Peniche transformado em Pousada de Portugal


Já tinha lido no Público a notícia de que o Forte de Peniche, antiga prisão de anti-fascistas, se ia transformar em Pousada. Como a política normalmente seguida por este blog não é reagir de imediato ao noticiário do dia, tinha-a deixado passar. No entanto Joana Lopes, aqui, e Irene Pimentel, em Caminhos da Memória , chamam a tenção para o facto.
Há anos visitei o Forte de Peniche e lamentei a sensação de abandono a que estava votado. Percebia-se que mais uns anos e o monumento ou, pelo menos, a antiga parte celular se degradaria completamente. Simplesmente, nunca pensei que a solução fosse entregar a sua preservação às Pousadas de Portugal, que neste momento pertencem ao grupo Pestana.
Irene Pimentel perguntava, com muita graça, se está à espera que os “«clientes» bebam um copo, num hipotético bar, erguido junto ao «parlatório», onde os familiares visitavam os presos políticos com uma placa de vidro encimado por uma rede de permeio e os guardas a vigiarem? Ou que dêem um mergulho na piscina, junto à «furna» isolada em cimento, que servia de «segredo», para punir os presos políticos? Ou ainda que façam parapente para o mar, ou escalada dos muros, para reviver as fugas audaciosas dos presos políticos?” Estas perguntas eram dirigidas ao Presidente da Câmara que tinha afirmado «Com um investimento previsto de dez a 15 milhões de euros, a nova unidade deve compatibilizar a função hoteleira com a “preservação da memória da prisão política”».
Parece-me a mim, primeiro, que não será um grupo privado que melhor irá preservar um património colectivo e que representa um pouco da nossa história contemporânea. Segundo, estranha-se que um Presidente de Câmara da CDU, que estará muito mais habilitado que outros para a preservação da memória, seja o defensor de uma solução como a preconizada. Terceiro, mesmo que o grupo Pestana não pratique todas as maldades que ironicamente Irene Pimentel lhe atribui, não estou a ver como será possível este Forte ser visitado diariamente por portugueses e estrangeiros interessados em conhecer como era uma prisão do tempo do fascismo. Poderíamos ter um Forte e a sua área carcerária muito bem preservada, o que me parece desde já manifestamente impossível dada a falta de espaço para a Pousada propriamente dita, mas só visitada pelos utentes da Pousada, que provavelmente se estariam nas tintas para a sua anterior função.
Pense a Câmara, em colaboração com a entidade responsável pela gestão daquele património, em explorar aquele Forte como museu evocativo dos anos do fascismo e cumprirá de certeza uma grata aspiração dos habitantes de Peniche que foram sempre contra a utilização do seu Forte como prisão de anti-fascistas

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