12/07/2011

Um mês de ausência

Poder-vos-ia falar da angústia do escritor perante a página em branco. Mas não é verdade. É por pura preguiça, acompanhada de outras razões, algumas já várias vezes aqui invocadas por mim, como sejam as razões de saúde. Neste caso, também houve um arreliante vírus que, durante uns tempos, se instalou no computador, e que me duplicava os acentos. Apareceu como desapareceu e já não é a primeira vez. Houve também um constante nomadismo entre o Algarve, Sines e Lisboa que me dificultou a escrita. Estas foram as razões porque estive ausente tanto tempo da vossa companhia.

Durante este tempo tantas coisas aconteceram no país. Foi nomeado um dos governos mais à direita desde o 25 de Abril. Se tiver uma mãozinha do PS, pode mesmo vir a subverter os próprios princípios basilares da Constituição de Abril. Não haja oposição e muitas coisas irão mudar na nossa tão frágil República. Os seus ministros são tenebrosos, principalmente os independentes. Os outros são velhos conhecidos nossos, sempre habituados a truques e a trambiques para ver se apanham os papalvos. Os que não têm filiação partidária são técnicos formatados nas escolas americanas, prontos a executarem as ordens que o grande Satã lhes ditar. É gente do pensamento único, que não tem a mais pequena ideia do que é fazer política em Portugal e só pensa  em aplicar a cartilha que lhes ensinaram nas escolas que frequentaram. Tal como os nosso comentadores, contratados à peça, para todos em fila dizerem o mesmo, desde João Duque a Cantigas Esteves.

No PS a abolia é total, estão à espera que os dois galos de capoeira resolvam a disputa entre si. Dali pouca coisa virá. Só a Renovação Comunista é que ainda é capaz de iniciar as conclusões  do seu Conselho Nacional, do dia 25 de Junho, valorizando “as afirmações de personalidades do PS para defender a Constituição contra os propósitos descaracterizadores das propostas da direita”. Depois do discurso pífio de Maria de Belém na discussão do programa do Governo, dando a ideia que a esquerda do PS se escapuliu depois da derrota de Manuel Alegre, eis que há ainda alguém que está espera que o PS faça peito ao desvarios que este Governo de Direita irá provocar.

Para começar, o roubo de parte do nosso subsídio de Natal.

Tivemos também a classificação da nossa dívida como lixo por uma das agências de rating, a Moody’s. Maremoto nacional, com o Presidente a pôr-se em bicos dos pés para a acusar de grande malvadez, esquecendo que ainda há algum tempo achava normal as classificações que as agências de rating nos atribuíam. Deu como justificação que os tempos mudaram. Mudaram sim, caiu o Governo que ele odiava, chefiado por Sócrates, e derrotou o seu principal adversário nas eleições presidenciais e nomeou um Governo da sua confiança. Se juntarmos a isto as declarações do mais reaccionário que há sobre o Serviço Nacional de Saúde, temos um Presidente que perdeu toda vergonha e se põe declaradamente ao serviço do Governo de Direita. Hoje Governo, Presidente e provavelmente Assembleia da República formam uma tríada difícil de superar. São a direita em todo o seu despudor.

À esquerda, Bloco e PCP, penso que ainda não encontraram o tom próprio e o Bloco ainda anda a lamber as feridas da sua derrota.

Para terminar gostava de assinalar duas coisas em que participei neste interim. A primeira foi a apresentação, num sala cheia, do Livro de Domenico Losurdo, Stalin, História crítica de uma lenda negra (Editora Revan), no ISCTE. Foram seus apresentadores Miguel Urbano Rodrigues, que falou mais do autor e João Arsénio Nunes, do livro. Este é uma edição brasileira, de que alguém se encarregou de trazer para Portugal uns tantos exemplares e que estava à venda no próprio dia do lançamento. Suspeito que dificilmente encontrará esta edição numa livraria perto de si, a não ser que encomende e isso costuma demorar meses. Gostaria de falar do seu lançamento e do livro, quando o tiver lido na totalidade.

Outro aspecto importante, que não quereria deixar passar em claro, foi a realização, no dia 9 de Julho, de uma assembleia do Grupo Manifesto, uma das correntes do Bloco de Esquerda. A Assembleia era antecedida de uma reunião, aberta a quem quisesse participar, e que se chamava O Bloco e os Caminhos da Esquerda. Foi editado um texto antes da reunião, que poderão encontrar aqui .

Sobre qualquer destes eventos, elaborarei, penso eu, o respectivo post.

2 comentários:

Armando Cerqueira disse...

Caro Jorge,
eu já estava preocupado com o seu longo silêncio, temendo que isso se devesse a problemas de saúde.

Quanto ao seu 'post', não posso estar mais de acordo consigo: Cavaco Silva, o Governo da 'nova' AD, e esta maioria absoluta são a Direita em todo o seu 'esplendor', a contra-revolução prometida desde o 25 de Novembro, o sonho de Sá Carneiro.
Um abraço
Armando Cerqueira

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Obrigado pela sua atenção. Para mim Cavaco, o Governo e a maioria da Assembleia são a direita em todo o seu "despudor".
Um abraço