Vai na blogosfera uma farta discussão sobre os resultados do Bloco nestas eleições (ver os exemplos mais expressivos aqui, aqui e aqui). Até militantes do PCP, alguns de modo cordato, se meteram ao barulho (ver este, feito por alguém que vive longe do país, e este, fugiu-lhe, no entanto, o pé para criticar aqueles que, sendo do Bloco, abandonaram o PCP). A agitação vai tão forte que o Telejornal chega mesmo a ter uma rubrica com declarações de Daniel de Oliveira e Joana Amaral Dias sugerindo a demissão dos dirigentes do Bloco, na sequência daquilo que todos os comentadores de direita têm vindo a pedir: se saiu Sócrates, porque não Louçã.
Quanto a esta última hipótese parece-me um disparate perfeito, mas não a irei discutir aqui.
Tal como tinha prometido no meu último post achava que a estratégia seguida pelo Bloco poderia merecer críticas, mas acima de tudo alguma reflexão mais ponderada. E quanto a mim esta estratégia, no caso do Bloco, tem muito a ver com a sua política de unidade e de procura de uma saída vitoriosa para a esquerda.
Há tempos, e a pedido, escrevi um post onde afirmava: tenho para mim que o Bloco de Esquerda é, na actual conjuntura, o único partido de esquerda que manifesta uma certa preocupação com a política de unidade. E depois tentava fazer a história das relações entre Manuel Alegre e o Bloco, que culminaram na derrota eleitoral daquele. Reforçando o que aí foi dito, tentaria, baseando-me na minha parca informação e até numa visão muito própria do Bloco, já que ainda não era seu militante nessa época, dar uma ideia, a partir de 2005, do que tem sido essa política de unidade.
Nas eleições legislativas de 2005 o Bloco integrou nas suas listas vários militantes da Renovação Comunista. A iniciativa provocou na altura grande agitação naquela Associação política, dado que alguns dos seus principais dirigentes, não concordavam com essa participação e desejavam um maior afastamento em relação ao Bloco. Para ser justo, até para com a memória de alguns, não direi o que pensavam, porque nunca o expressaram publicamente. O Bloco subiu nessa eleições e dessa colaboração resultou a eleição, devido a rotação dos deputados, de João Semedo, hoje respeitado dirigente e deputado do Bloco. Mas, das ligações aí estabelecidas, e que tiveram seguimento nas duas candidaturas de Sá Fernandes à Câmara de Lisboa, não resta nada, só a entrada para o Bloco de alguns renovadores. Hoje a Direcção da Renovação Comunista afastou-se de vez do Bloco, apesar de fazer apelos patéticos, ainda antes das eleições, a um Governo de Esquerda, que englobasse o PS, o Bloco e o PCP.
Ainda em 2005, temos a eleição para vereador da Câmara de Lisboa de José Sá Fernandes, apoiado pelo Bloco. Nas intercalares de 2007, igualmente para Lisboa, novamente o apoio ao mesmo candidato. Não sei se foi nestas, se nas anteriores, que apareceu o célebre cartaz de O Zé faz falta. Mas o Zé passa rapidamente de enfant-terrible a diligente vereador de António Cota, o que torna impossível a continuação do apoio do Bloco. Mais uma tentativa unitária falhada.
Não sei se estão recordados, mas pela altura da ruptura com o Zé, Louçã ainda fala da possibilidade de Helena Roseta, nessa altura a chefiar um grupo de independentes, ser a próxima candidata à Câmara apoiada pelo Bloco. Não aceitou e depois de muitas peripécias, já por mim descritas muitas vezes, vai integrar a lista de António Costa para Lisboa. Mais uma vez a política de unidade desperdiçada.
No meio de tudo isto, temos o episódio Manuel Alegre, já acima assinalado e para o qual remeto os meus leitores. Com Manuel Alegre termina, e mal, a procura de unidade com gente que fosse ou independentes de esquerda ou da esquerda do PS. Ou seja, aquilo que a certa altura Louçã definiu como a esquerda grande, que englobava todos aqueles que eu tenho vindo a citar e as respectivas áreas políticas Esta política esgotou-se, eu diria mesmo que fracassou. E mais, bastou o Bloco apresentar uma moção de censura ao Governo PS ou ajudar a derrubar Sócrates e o PEC IV para muita desta gente, apesar dos esforços desenvolvidos de unidade com ela, que chegou à convivência na própria candidatura de Manuel Alegre, passar a reclamar a formação de um novo partido. Facto que não está esquecido e anda a aboborar numa coisa chamada Convergência e Alternativa. Nos seus escritos passaram a acusar o Bloco de ser um dos responsáveis pela direita ter ido para o poder (ver o meu post) e desse facto estar na origem dos desastrosos resultados do Bloco nestas eleições. Mesmo quando o Bloco apoiou Manuel Alegre achavam que aquele não devia ter dado tanto nas vistas, devia passar mais desapercebido, pois foi isto que matou o candidato.
Portanto, caros leitores, a unidade com as forças à direita do Bloco tem sido difícil, para não dizer quase impossível. Por isso, atendendo aos tempos que aí vinham, com o acordo entre a troika e os três partidos ditos do arco da governação, tornava-se urgente a reunião e provavelmente a colaboração estreita com as forças à sua esquerda, neste caso com o PCP. Isto foi defendido por muito boa gente, inclusive por mim.
Simplesmente, da parte do PCP houve, pelo menos de forma pública, um grande distanciamento em relação ao Bloco. Tinha-se encontrado com ele porque era um partido democrático – ainda continuam com esta designação pós-Abril. Era normal, não tinha qualquer significado. As declarações de Jerónimo vão sempre neste sentido (“Há muitos homens e mulheres, portugueses, preocupados com o futuro do país, que procuram dar uma contribuição para travar este rumo. Em relação ao BE, é preciso que clarifique os seus objectivos. Mas não temos nenhum preconceito em considerar que existam portugueses também preocupados com a situação dispostos a fazer um esforço para esse governo patriótico e de esquerda"). Mas por trás, no Avante, o insultozinho (Bloco de Elástico), e mesmo na campanha houve críticas públicas ao Bloco. Aqui também a unidade não avança muito.
Analisadas as circunstâncias, verifica-se que as propostas unitárias do Bloco com vista a uma saída de esquerda para a crise do país, encontram dificuldades. Penso que esta derrota do Bloco obriga-o pensar. Não pode estabelecer alianças a qualquer preço. Sempre na disposição de saídas rápidas e simples. A realidade obriga-nos a um trabalho de formiga, juntar os cacos que estão dispersos. Nem sempre o evento mais espectacular é a melhor saída. Por isso, tenho a ideia que nem o Bloco deve ser a muleta do PS ou, se quiserem, a boa consciência deste, nem ficar preso àquilo que o PCP faz ou defende. A sua autonomia prática é indispensável e provavelmente a unidade tem que começar na base, nos movimentos sociais, nos sindicatos, na vida associativa e local.
Por outro lado, temos que ter consciência, que mesmo uma acção consistente, como, por exemplo, foi a moção de censura, não pode ser despachada com duas tretas, tem que haver coerência nos nossos actos. O Bloco tem que voltar a ser um partido aglutinador da esquerda, contra-hegemónico e com propostas que permitam que a esquerda veja a luz ao fundo do túnel.
Tudo isto é bom de escrever, o mais difícil é pô-lo em prática.
1 comentário:
Logo que apareceu o BE serviu para dar de mão beijada a Câmara de Lisboa ao Santana.
Agora deu a maioria ao PSD. Espero que seja o sinal de que está em vias de desaparecimento sustentado.
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