Vi ontem, mais uma vez, a Quadratura do Círculo. A direita está impante, parece que já tem a vitória no papo. Pacheco Pereira espera que o PSD ganhe com uma maioria folgada e Lobo Xavier acredita que o CDS vá upa! upa! a crescer. Não se querem comprometer com números, mas a felicidade assoma-lhes ao rosto. Acreditam que destas eleições irá resultar um Governo PSD-CDS e já lhe fazem recomendações. Pacheco Pereira mais prosaico, afirma que o PSD tem que descer à realidade e abandonar o seu programa. Bem intencionado, diz ele, mas inaplicável. O liberalismo não se coaduna bem com a realidade portuguesa.
Que a direita esteja satisfeita, ou queira mostrar que está, é compreensível, mas o que é mais grave é a atitude de António Costa, que já aceita como inevitável, pelo menos da sua conversa transparece isso, a derrota do PS. E depois desfia o rosário das queixas do PS em relação ao PSD. Volta com o cenário da irresponsabilidade na abertura da crise e com toda a tralha que José Sócrates nos tem andado a vender desde o princípio da mesma. Mas daquilo que ele mais se queixa é dessa intolerância da direcção do PSD ao não compreender o papel central que o PS tem no estabelecimento de consensos na sociedade portuguesa e, por isso, sente uma enorme amargura por ter sido afastado liminarmente por Passos Coelho da constituição do próximo Governo. Como injusto é aquele líder, quando o PS se ganhasse estaria na disposição de se aliar ao PSD para formar Governo, e isto foi dito com todas as letras. A vitória do PS nas próximas eleições acarretaria uma proposta de aliança ao PSD para governarem em conjunto.
Depois de ouvir isto, que já era a doutrina oficial de Sócrates, mas não tão explícita, lembrei-me de tudo aquilo que António Costa tem dito e fomentado nos seus amigos e das posições de alguma esquerda, que eu considerei que claudicou, que aconselha o voto no PS para travar a deriva neo-liberal do PSD ou o sonho de Sá Carneiro, uma maioria, um Governo e um Presidente. No primeiro caso, lembrei-me do abaixo-assinado para uma maioria de esquerda para a Câmara de Lisboa, que foi apoiado por António Costa e desencadeado por um grupo significativo de homens de esquerda e que no final serviu para Helena Roseta voltar ao redil socialista, para António Costa ganhar a Câmara e depois fazer um acordo com o PSD para dividir administrativamente a cidade de Lisboa, com claro prejuízo de um dos partidos de esquerda. O segundo caso é os apelos de alguma esquerda, mesmo que dirigidos a toda ela, mas que no fundo desejam canalizar para o PS a votação da esquerda, porque só este partido terá condições de resistir aos males que se avizinham.
Não gostaria de terminar sem assinalar que uma das causas que Pacheco Pereira atribui à subida do PSD nas sondagens é que este, na recta final, virou as suas baterias contra Sócrates, transformando estas eleições num plebiscito a favor ou contra o Primeiro-ministro. Ora este problema tem sido um pouco subestimado pela esquerda, ao considerar que o problema não está na personagem primeiro-ministro, mas sim nas políticas por ele desenvolvidas. Sendo isto verdade, não podemos esquecer a própria figura de Sócrates, dos seus casos, das suas aldrabices e invenções. Sócrates é um homem perigoso, que arrastou o PS atrás de si e que, tirando os seus apoiantes fanáticos, concita um profundo ódio em grande parte da população portuguesa e isto não se pode esquecer.
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