07/06/2011

Análise dos resultados eleitorais

O cenário que eu propunha aos meus leitores era do que o PS perdesse por poucos, mas houvesse uma maioria de esquerda e PSD-CDS ganhassem sem maioria. Isto permitiria provavelmente afastar José Sócrates e obrigar o PS a entrar para um bloco central, fragilizando qualquer governo que se formasse nesta situação de crise. A esquerda teria tempo de repensar a sua estratégia e, a longo prazo, ou havia novas eleições ou o PS se aliava à esquerda. Isto sonhava eu acordado, baseando-me naquilo que as sondagens iam debitando.

Como se viu, nada disto sucedeu. O cenário idealizado por mim agravou-se de tal modo, que aquilo que parecia uma saída para a crise política se transformou no seu completo bloqueio. Mas passemos aos resultados.

O PSD ganhou sem qualquer dúvida estas eleições e obtém com o CDS uma maioria de direita clara. É evidente que o PSD ficou bastante longe da maioria absoluta que pedia e até dos 40% que Durão Barroso tinha obtido em 2002. É interessante, como já alguém escreveu, que neste momento nenhum partido consegue chegar aos 40% para ganhar eleições: sucedeu assim com o PS em 2009 e agora com o PSD. Isto verifica-se porque o CDS cresceu e o Bloco veio permitir um aumento da votação à esquerda.

Por outro lado, o CDS, contrariando as sondagens, teve uma votação menor do que esperava, mas mesmo assim cresceu em percentagem, mais de 1%, e em deputados, mais 3.

Quanto ao PS não teve uma derrota estrondosa, mas, como os media já foram divulgando, desde 1987 que não tinha um resultado tão mau. Mesmo quando Ferro Rodrigues perdeu com Durão Barroso teve quase 38% dos votos. Só nos tempos de Cavaco Silva e da AD, de Sá Carneiro, é que os resultados do PS foram mais baixos do que este e isso já se passou há muitos anos.

Causa desta derrota e da vitória da direita. Para mim são duas, a primeira e a principal, foram os anti-corpos que Sócrates foi criando na população portuguesa e, mais do que isso, o estado a que permitiu que o país chegasse. Provavelmente já teria perdido em 2009, se não fosse a campanha desastrosa de Manuela Ferreira Leite e do seu núcleo dirigente e a intervenção idiota do Presidente da República a propósito das escutas telefónicas. Mas, neste momento, atendendo ao estado a que o país tinha chegado, era inevitável. A segunda causa, intimamente ligada à anterior, é psicológica e encontrei-a na conversa que tive com alguém que me é chegado: a festa acabou, temos que trabalhar mais, acabar com os feriados excessivos, temos que levar isto a sério, porque agora já me foram ao bolso. Parte da população interiorizou o discurso da direita. Convenceu-se que se está a viver pior, foi porque andaram a gastar o seu dinheiro à tripa forra, porque não se trabalha o suficiente e tem-se regalias a mais. Nos tempos das vacas gordas esta gente votava PS, hoje, quando lhe mexem nos seus ordenados, pensa que é o discurso da direita que a levará a bom porto e não a contestação da esquerda.

E a esquerda! Daqui para a frente e porque penso que o PS é de centro-esquerda, referir-me-ei só ao PCP e ao Bloco. Quanto ao PCP a verdade é que não pode festejar uma grande vitória. A única que lhe valerá para alguma coisa é a ter passado à frente do Bloco. Porque quantos aos resultados não são nada de excepcional. Subiu menos do que uma décima, de 7,86, em 2009, para 7,94%, e ganhou com isso um deputado. No entanto nas três últimas eleições, 2005, 2009 e 2011, as percentagens não têm fugido aos 7 vírgula qualquer coisa, só em 2002 é que teve 6,94%.Ou seja, levou cerca de dez anos a subir 1%. Podemos também afirmar que em toda a década de 90 não fugiu aos 8 vírgula qualquer coisa. Partido mais constante que este não há. Por isso, com base nos resultados eleitorais não se pode tirar qualquer conclusão de vitória ou derrota do PCP, está sempre na mesma.

Já o mesmo não se pode dizer do Bloco, depois duma ascensão meteórica uma queda de igual valor: 2,74%, em 2002, 6,35%, em 2005, 9,82%, em 2009, e 5,19% em 2011. A derrota foi suficientemente pesada para que não se tenham que tirar rapidamente ilações.

A primeira é se alguma vez o Bloco parou para pensar e descobrir qual é o seu eleitorado. Tenho para mim que é muito diverso, fragmentado e que em alguns casos pode até chegar à direita, seduzida pelo seu discurso justiceiro. Ora numa situação destas é difícil contentar todos. Por isso, se virmos as análises que aqui e ali têm sido feitas ao Bloco as ilações são variadas. Para uns não foi suficientemente de esquerda, para outros é uma repetição do PCP, sem ter a solidez deste. Para estes, o Bloco abandonou a sua matriz inicial social-democratizante, transformando-se num puro partido de protesto.

Eu tenho para mim que o Bloco deve tentar perceber o eleitorado que vota nele, que é francamente diferente do dos seus militantes. Eu, que há muitos anos ando nisto, fui encontrar no Bloco muito dos velhos militantes da UDP com quem em tempos tinha traçado armas pelo PCP. Ora esta gente, que hoje reconheço é tão generosa e bem intencionada como os velhos militantes do PCP de quem eu ainda continuo a ser amigo, não é de certeza o votante típico do Bloco e por isso tem que haver uma apreciação crítica desta situação. Mas há mais, há os erros recentes. O primeiro foi o apoio, provavelmente já fora de horas, a Manuel Alegre. Este apoio não nos trouxe o PS de esquerda, nem alguma esquerda, que eu defini, em textos anteriores, como aquela que claudicou perante o PS, como afastou todos aqueles que não admitiam qualquer colaboração com o PS de Sócrates. Para mim, a derrocada de hoje, começou antes, com a derrota expressiva de Manuel Alegre. Este foi sem dúvida nenhuma um assunto mal resolvido. Mas, pior ainda foi a moção de censura. Não por ter sido apresentada, mas a forma atabalhoada e ziguezagueante como foi embrulhada. A ofensiva dos media e dos comentadores encartados contra o Bloco, passando por alguns militantes do mesmo, foi devastadora.

Depois, provavelmente, a não ida até à troika, trouxe o afastamento de muita gente que votava no Bloco, sensível também às críticas dos media.

O Bloco deixou criar a ideia que era um partido que não fazia parte de uma alternativa, mas um partido de protesto e para isso já tínhamos o PCP.

Estas são algumas causas políticas desta derrota, que eu diria anunciada, do Bloco de Esquerda e provavelmente de toda a estratégia ultimamente seguida por este. Porque tenho sido um defensor desta estratégia, em post posterior gostaria de fazer algumas considerações mais profundas e talvez uma auto-crítica em relação àquilo que tenho defendido. Até breve.

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